Talvez seja a mais antiga imagem da península de Macau depois de consumado o estabelecimento dos portugueses em meados do século XVI... Esta planta de Macau é da autoria do cartógrafo luso-malaio Godinho de Erédia (ms. c. 1615-c. 1622). O traçado de Godinho de Erédia é pouco detalhado, tal como o confirma a ausência de casas de habitação na zona ocupada pelos europeus, as quais, mesmo que precárias, se sabe terem sido erigidas em grande número logo nas década de 1560 e 1570. Apesar disso, torna nítida a coexistência de uma cidade cristã e de uma cidade chinesa, separadas uma da outra, mas preenchendo toda a área entre a Praia Grande e a Praia Pequena. Regista ainda os perímetros murados da residência mandarinal e da cerca que os jesuítas fizeram levantar no monte de S. Paulo, a qual foi concluída por volta de 1606 e antecedeu a fortaleza do Monte (por seu turno, praticamente terminada em 1622). Marca ainda as principais igrejas, ermidas e/ou baterias nos pontos elevados (Nossa Senhora da Guia, S. Francisco, Barra), tal como o sítio do templo chinês da Barra (Ma-Kou-Miu/Ma Ge Miao, ou Templo da Deusa A-Má), encravado entre a Colina da Barra e o “sorgidoro” (Porto Interior). Na margem Norte, entre um denso arvoredo e o istmo, marca ainda algumas casas, representando a aldeia chinesa de Wangxia (Mongha).
Este esboço cartográfico está inserido numa série de cartas relativamente homogénea que é antecedida por um frontispício com o título Livro de Plataforma das Fortalezas da India. É certo que a planta de Macau desenhada por Erédia nada tem do rigor das várias plantas de fortalezas que encontramos nesta série. No entanto, pormenoriza todos os pontos da península com valia estratégica, possibilitando uma leitura eminentemente militar do conjunto. É crível que se tratasse de um apontamento para um desenho mais consistente do sistema defensivo, interrompido pela falta de elementos.
Texto de Francisco Roque de Oliveira Centro de História de Além-Mar, Universidade Nova de Lisboa.Este esboço cartográfico está inserido numa série de cartas relativamente homogénea que é antecedida por um frontispício com o título Livro de Plataforma das Fortalezas da India. É certo que a planta de Macau desenhada por Erédia nada tem do rigor das várias plantas de fortalezas que encontramos nesta série. No entanto, pormenoriza todos os pontos da península com valia estratégica, possibilitando uma leitura eminentemente militar do conjunto. É crível que se tratasse de um apontamento para um desenho mais consistente do sistema defensivo, interrompido pela falta de elementos.
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