sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Envelope "correio registado": Agosto 1911

É dirigido a Graça & Co. de Hong Kong que na época publicava, entre outros, postais coloridos de Macau. A sede da empresa ficava no Hong Kong Hotel Building na Pedder Street.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

GP na Autosport: 1967

Na edição de Dezembro de 1967 desta revista britânica um dos temas é o 14º GP de Macau ganha por Tony Maw da Malásia num Lotus 20B num total de 16 carros.
Ao longo dos anos esta revista, uma das melhores nas décadas de 1950 a 1970, dedicou muitos artigos à prova macaense desde a primeira prova em 1954.

In 1967 the Grand Prix also saw its first fatality when the car driven by race favourite Dodgie Laurel crashed and caught fire. The race was not stopped, although Teddy Yip withdrew his entry in sympathy, and was eventually won by Tony Maw of Malaysia in a Lotus 20B.
The motorcycle race was introduced in 1967.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Caixas fósforos: várias décadas

Caixas de fósforos da década de 1950 aqui e de outros tempos aqui
 clicar nas imagens para ver em tamanho maior

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Praia Grande: pintura ca. 1863

Watercolour of Macao harbour and Avenida de Praia Grande created by the German artist Eduard Hildebrandt during his travel around the world in 1862-64. Hildebrandt usually made several sketches and studies of his views which he later reworked into a final version in oil. He created an almost identical oil painting: "View of Praya Grande, Macau 1863" (now in the Hong Kong Museum of Art), and almost identical chromolithograph was included into the series of his works: "Aquarelle. Auf seiner Reise um die Erde" (Berlin, 1871-4). 
Eduard Hildebrandt was a German painter. He studied in Berlin and Paris and was a friend of scientist and explorer Alexander von Humboldt. Under the latter's influence he took a voyage around the world in 1862-64, making watercolour views of many places he visited. "Fantasies in red, yellow and opal, sunset, sunrise and moonshine, distances of hundreds of miles like those of the Andes and the Himalaya, narrow streets in the bazaars of Cairo or Suez, panoramas as seen from mast-heads, wide cities like Bombay or Pekin, narrow strips of desert with measure-less expanses of sky all alike display his quality of bravura" (Wikipedia)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

102º aniversário da Tomada do Passaleão: 1951

A 25 de Agosto de 1951 tiveram lugar as comemorações do 102º aniversário da tomada do Passaleão.
Imagens cedidas por Carlos A. Dias, cujo pai, António José Dias, está nesta fotografia. Carlos A. Dias faz a legenda da foto. "Só consegui identificar 3 pessoas na foto: a partir da esquerda: Patrício Guterres; Manuel Dimas Pina (comandante do Corpo de Bombeiros Municipais); não consigo identificar o 3º, 4º e 5º. ; Rolando das Chagas Alves (se a memória não me falhar, era funcionário do BNU e o irmão dele Leonel Umberio Alves que não se encontrava na foto era dos Serviços de Saúde; e meu pai António José Dias, bombeiro (falecido aos 40 anos de idade)."
                             No século XXI e no século 19 
Sobre este episódio já coloquei diversos posts. Reproduzo o que está escrito no Vol. 3 da Cronologia da História de Macau. 
"É o único confronto significativo entre a China do Sul e Macau, durante os mais de quatro séculos de vizinhança. Tem ocasião após o assassinato do Governador Ferreira do Amaral, e consta da tomada de um forte chinês que atacava Macau com a força dos seus obuses a cerca de meia milha das Portas do Cerco. O protagonista da tomada do forte de Passaleão foi um macaense até aí desconhecido, Tenente de Infantaria, mas que viria a ser, por circunstâncias adversas, elevado a herói e promovido a tenente. Vicente Nicolau de Mesquita: avançou pelo território inimigo, sem ordem superior e apenas com o pelotão de 32 homens sob seu comando, neutralizando com uma carga de explosivo o forte que oprimia Macau. Quanto a armas, foi apoiado por 2 peças de artilharia de campanha, 1 obuz de montanha e 2 canhões da barca canhoeira e da lorcha de António Ferreira Batalha".
 No cemitério de S. Miguel e frente à Sé.
Estas fotografias foram cedidas por Carlos A. Dias e pertenceram ao seu pai (já falecido). As pessoas que consegue identificar são: "Patrício Guterres, Manuel Dimas Pina, os irmãos Alves, (um deles o pai do actual deputado Leonel Alves) e o meu pai."

Missa na Sé
As fotografias que se seguem poderão não ser do mesmo ano. Nestas está muito mais gente do que nas anteriores. Se o gov. estivesse presente nas cerimónias relativas às fotos de cima é de supor que apareceria nas mesmas. Repare-se ainda que no convite vem mencionado que quem vai estar presente nas cerimónias é o encarregado do governo - que substituía o gov. na sua ausência - e não o governador. 
É só mais um detalhe, mas a bandeira que cobre parte do busto tb não está da mesma forma. Por último, as fotografias tb não foram reveladas no mesmo estúdio fotográfico. Em suma, podemos estar perante as mesmas comemorações mas em anos, embora próximos, diferentes. Será 1949, no centenário? Albano de Oliveira já era governador na altura...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

23 Agosto 1849: Proclamação

Na sequência do assassinato do governador Ferreira do Amaral, a 22 de Agosto de 1849, um dia depois o Conselho do Governo entretanto constituído, fez publicar e distribuir pelos "habitantes de Macao" esta folha volante.
Garante que o território não ficou sem governo; que perante um "acto de atroz barbaridade de infame traição e cobardia" vão ser procurados os criminosos.
O conselho do governo era formado por seis pessoas: bispo D. Jerónimo José da Matta (preside), Joaquim Antonio de Morais Carneiro, Ludgero Joaquim de Faria Neves, Miguel Pereira Simões, José Bernardo Goularte e Manuel Pereira.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Macau por Vasco Callixto

Vasco Callixto nasceu em 1925 em Portugal. Jornalista e escritor nas áreas do turismo também se dedicou ao desporto automóvel e à aviação. Colaborou em diversos jornais e revistas desde a década de 1940. Tem publciados mais de 50 livros. Dois são sobre Macau. O "viagem a Macau" (na imagem) e "Os primeiros aviadores portugueses em Macau: 1924-1934", editado em 1999.
Viagem a Macau, uma relíquia de Portugal no Oriente, de Vasco Calixto, editado em Lisboa, 1978

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Bifes e caldeirada

 Receitas publicadas na "Banquete – Revista Portuguesa de Culinária”, Janeiro de 1972
Sugestões de leitura:
Cozinhados de Macau de Maria Celestina de Melo e Sena - 2.ª ed.- Macau 1969: Tip. da Missão do Padroado. - 41 p.
Bons petiscos de Maria Celestina de Melo e Sena - Centro de Informação e Turismo, 1972 - 84 p

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

António de Albuquerque Coelho: 1682-1745 (e Maria de Moura)

António de Albuquerque Coelho (AAC) ocupou diversos cargos importantes no Império Colonial português, tendo sido Governador de Macau e depois de Timor. Tendo em conta a época, séc. XVII, o seu nome ficaria ainda mais conhecido na história pelo facto do seu subordinado, Capitão João Tavares de Velez Guerreiro, ter escrito um pequeno livro onde descreve a viagem que ambos fizeram desde Goa até Macau. Durou exactamente um ano: de 30 de Maio de 1717 a 29 de Maio de 1718.O livro - “Jornada, que Antonio de Albuquerque Coelho, Governador e Capitão General da Cidade do Nome de Deos de Macao na China, fez de Goa até chegar à dita cidade no anno de 1718” - viria a ter três edições. A de 1905 inclui um prefácio de João Feliciano Marques Pereira, em homenagem a seu pai, António Feliciano Marques Pereira que desempenhara funções administrativas e diplomáticas em Macau e noutras partes do Oriente.
AAC nasceu no Brasil no seio de uma respeitável família, embora filho ilegítimo e mestiço. Seu pai, nascido em 1655, foi nomeado Capitão-mor do Pará em 1688, alcaide-mor de Sines, Governador da Beira Baixa e mais tarde Governador de Olivença, Governador-Geral do Rio de Janeiro (1709) e depois Governador de S. Paulo; Governador de Angola em 1722, vindo a falecer em Luanda três anos depois.
AAC foi mandado para a Metrópole ainda jovem e em 1700 foi nomeado fidalgo cavaleiro da Casa Real. Em 1719 consegue o título de Cavaleiro. Embarcou com um tio para a Índia a 25 de Março de 1700 na nau S. Pedro Gonçalves. Ocupou os postos de Tenente de mar e guerra e Capitão de Infantaria do Terço do Estado. Em 1708, embarcou como Capitão de Infantaria da guarnição da fragata Nossa Senhora das Neves, que partiu para Macau, onde chegou a 23 de Agosto do mesmo ano, quase destruída, sem mastros e sem leme; ali ficou para ser concertada, o que durou cerca de dois anos. Na mesma fragata vinham o tenente Dom Henrique de Noronha e Francisco Xavier Doutel, que pouco depois seriam grandes inimigos de Albuquerque Coelho.
A partir daqui transcrevo um texto da autoria de Arlindo Correia sobre AAC em Macau.
Aconteceu então um episódio que marcou profundamente a vida dele. Deitou ele os olhos para uma menina de 9 anos, órfã de pai e de mãe, chamada Maria de Moura, ao cuidado de sua avó, Maria de Vasconcelos, viúva de Manuel Rombo de Carvalho. Era filha do falecido Francisco de Moura Bastos e de uma filha da referida Maria de Vasconcelos. Com aquela idade, não era certamente a beleza o que o seduzia, mas sim os bens da criança, que eram avultados. A avó era totalmente contrária a tal casamento, dizendo que o testamento de seu falecido genro determinara que ela ficaria a seu cargo até aos 12 anos; certamente, também não lhe agradava vê-la casada com um mestiço.
Problema ainda maior era que o Tenente Dom Henrique de Noronha também pretendia a mão da menina. O pequeno círculo dos portugueses de Macau (não mais certamente de umas 3 ou 4 mil pessoas), dividiu-se pelos dois partidos. António de Albuquerque Coelho tinha a seu favor o Bispo, D. João de Casal, tutor da menina, João Garcia Álvarez, alguns padres da Companhia de Jesus e alguns oficiais e marinheiros da fragata; mais tarde também o Governador Diogo de Pinho Teixeira. Por Dom Henrique de Noronha alinhavam o tio dela por afinidade, Francisco Leite Pereira, casado com uma irmã da mãe defunta, Francisco Xavier Doutel casado com Francisca Pereira, irmã do mesmo Francisco e a família da menina, em geral; e ainda o Juiz dos Órfãos, Manuel Vicente Rosa e o ouvidor João Carneiro Zuzarte. Dom Henrique de Noronha vivia em casa de Francisco Leite Pereira.
Valeu-se Albuquerque da protecção do Bispo e conseguiu que a questão do casamento passasse para o foro eclesiástico. Foi assim que pôde tirar a menina de casa dela e colocá-la em casa de pessoa amiga. Na data em que isso aconteceu, em 30 de Junho de 1709, realizou logo os esponsais (promessa de casamento) na Igreja de Santo António. Mas teria ainda de sofrer mais para conseguir realizar o seu intento.
A 2 de Agosto de 1709, quando ia a cavalo, António de Albuquerque Coelho foi alvejado com um tiro de bacamarte disparado por um cafre, que não lhe acertou. Logo a seguir, Dom Henrique de Noronha disparou de uma janela contra ele, ferindo-o num braço; correu ele a recolher-se no Convento de S. Francisco e ainda dispararam contra ele outro tiro que não lhe acertou. Foi curado pelo Cirurgião da fragata que desvalorizou o ferimento. Mas, ao ser visto, passados 16 dias, por um Cirurgião de um navio inglês, este disse que o braço estava gangrenado e tinha de ser cortado. Ainda antes de permitir que se efectuasse a cirurgia, Albuquerque mandou perguntar a Maria de Moura, se aceitaria casar com ele, tendo um braço a menos. A menina mandou-lhe dizer “que ainda que lhe faltassem ambas as pernas, ficando ele com vida, queria casar com ele”. Girava então em Macau uma cantiga que dizia:
“Não é tão, não tão parecida Maria que pelo seu dinheiro arma tanta briga.”
Para fugir à prisão, Dom Henrique de Noronha refugiou-se em casa do Patriarca de Antioquia, Embaixador Papal, (de que falaremos a seguir), onde gozava de imunidade. Mais tarde, em 18 de Fevereiro de 1711 (já o Patriarca tinha falecido) foi enviado prisioneiro para Goa a bordo do navio Sta. Ana.O casamento foi celebrado a 22 de Agosto de 1710; assistiu a tripulação da fragata, para protecção, bem necessária, pois Francisco Leite Pereira, pensando que o casamento seria celebrado na Igreja de Santo António, para ali foi esperar o noivo a fim de o matar.Albuquerque deverá ter abandonado o serviço público naqueles anos, passando a viver dos rendimentos. Foi nomeado Vereador do Leal Senado, presidindo à mesa da Vereação no ano de 1712. As suas relações com a família da noiva amaciaram um pouco e em 1713, contribuiu com duzentos pardais para o tio mais novo da esposa, Francisco Rombo de Carvalho, que então foi ordenado sacerdote. De sua mulher teve uma filha em 1712, que morreu ao fim de 7 dias. Em 20 de Julho de 1714, deu ela à luz um filho, que foi baptizado a 27 do mesmo mês; mas logo a 31, faleceu, das sequelas do parto.
(Nota do autor do blog Macau Antigo: Entre as pessoas sepultadas na igreja de Santa Agostinho conta-se Maria de Moura, uma heroína romântica que em 1710 casou com o capitão António Albuquerque Coelho, apesar de este ter perdido um braço quando foi atacado por um pretendente de Maria, mal sucedido. Ela morreu de parto e jaz com a criança e o braço do marido.)
Não foi fácil a vida de António de Albuquerque Coelho em Macau; podemos concluir de vários episódios da sua vida, que tinha um feitio bastante conflituoso e que criava inimigos com facilidade. Entre os seus adversários, merecem realce as relações com Manuel Vicente Rosa. A 22 de Setembro de 1714, escreve uma reclamação contra ele, que então era Ouvidor, em que diz “é seu inimigo declarado já de cinco anos a esta parte” (Paulo Miguel Pinto, Percorrendo o Oriente). Mas quando tinha sido Juiz Ordinário (1712-1713), Albuquerque Coelho tinha mandado prender Vicente Rosa por se ter recusado a pagar certas dívidas de um cunhado que falecera e de cujos filhos era tutor. As dívidas foram depois pagas e Vicente Rosa libertado, mas a raiva mútua aumentou.
Manuel Vicente Rosa e os seus partidários queixavam-se para Goa ao Vice-Rei, D. Vasco Fernandes César de Menezes, que a certa altura as transmitiu para Lisboa (10-1-1715) e mandou que Albuquerque viesse para Goa a fim de se averiguarem as suas culpas. Mas ele não partiu, porque entretanto Manuel Vicente Rosa ordenou a sua prisão. Da cadeia, escreveu a 3 de Outubro de 1714 uma carta ao Senado e dez dias mais tarde, ainda preso, uma outra carta à Câmara da Cidade. Alegava ele que o Juiz Ordinário da cidade não tinha jurisdição sobre os Vereadores do Senado, que cabia à Relação de Goa. A Câmara deu-lhe razão e ele foi solto.
Deverá ter ido para Goa no final de 1714 ou princípio de 1715, depois de vender os seus bens; não levou consigo o seu filho bebé, tendo-o depois o Vice-Rei autorizado a ir buscá-lo
Pouco antes de embarcar para a Metrópole, findo o seu mandado, escreveu o Vice-Rei:”António de Albuquerque Coelho fica já com o seu domicílio nesta cidade e com isso evitadas as perturbações de que se queixavam os moradores de Macau, mas como seja neles natural a sua insaciedade, entendo fará pouco efeito a ausência do mesmo António de Albuquerque que, pelo sossego com que vive, me parece eram mais encarecidas as queixas dos macaenses”. (Paulo Miguel Pinto, ob. citada). Como Vereador do Senado, Albuquerque participou nas decisões colegiais tomadas no seu mandato, parecendo tê-lo feito com competência, embora não conste que tenha realizado actos heróicos.
Um acontecimento de importância foi a questão da compatibilidade de certos ritos chineses com a religião católica, nomeadamente a designação em chinês de Deus, as honras prestadas ao filósofo Confúcio e os ritos com que eram honrados os defuntos. Os Jesuítas começaram por ser muito tolerantes, nomeadamente o Padre Matteo Ricci (1552-1610), mas já outras Ordens, como os Franciscanos e os Dominicanos, eram muito mais rigorosos e reticentes, classificando aqueles ritos como superstições.
A certa altura o Papa Clemente XI decidiu enviar à China como Legado a latere um jovem Fidalgo, Charles-Thomas Maillard De Tournon (1668-1710), que nomeou Patriarca de Antioquia e depois promoveu a Cardeal. Possivelmente de saúde frágil, ao fim de muitos conflitos, o Prelado acabou por falecer em 1710, sem nada ter resolvido. Há muitas dezenas de livros sobre o assunto, alguns dos quais indico na bibliografia, e seria muito longo expor aqui todas as disputas. Constata-se nesta época que todas as relações da Europa com a China, seja de natureza religiosa (missionários) como comercial, tinham como ponto de passagem obrigatória a cidade de Macau, embora o domínio português fosse, já naquela altura, mais aparente do que real.
Jornada que Antonio de Albuquerque Coelho, Governador e Capitão General da Cidade do Nome de Deos de Macao na China fez de Goa até chegar à dita cidade no anno de 1718, Lisboa Occidental, 1732
Governador de Macau
Em Maio de 1717, o Arcebispo Primaz de Goa, D. Sebastião de Andrade Pessanha, substituto legal do Vice-Rei, Vasco Fernandes César de Menezes, que partira para o Reino, nomeou António de Albuquerque Coelho Governador de Macau. Quis este embarcar no único navio que estava para partir; mas o capitão deste era o seu inimigo Francisco Xavier Doutel, que levantou vela e se fez ao mar na noite de 22 de Maio, sem o avisar e em segredo. Sem meio de transporte, decidiu Albuquerque partir a pé com a sua comitiva até à outra costa da Índia, onde pensava encontrar um barco. Na comitiva, o Capitão João Tavares de Velez Guerreiro, que mais tarde descreveu a viagem, o Ajudante Inácio Lobo de Menezes, mais dois portugueses, João Nunes e Pascoal Ribeiro, cinco cafres cativos e dois clarins.
Poupo a descrição da viagem, bem contada com todos os detalhes pelo Capitão, sendo pena só que não haja uma edição recente. Na sua tese, Paulo Miguel Martins faz um bom resumo de 17 páginas no livro tirado da sua tese.
Chegaram a S. Tomé de Meliapor, então ocupada pelos Portugueses a 16 de Julho. Uma velocidade razoável, pois a distância percorrida fora de cerca de 2 600 km. Não conseguindo encontrar um navio que os levasse, Albuquerque tratou de comprar um, iniciando a viagem a 5 de Agosto. Em Malaca, teve o percalço de lhe fugir o piloto, tendo de prosseguir dirigindo ele mesmo o barco. Ao fim de dois meses, arribou a Johor (no sul da Malásia) para invernar. Teve um papel activo na pacificação do Reino, onde pululavam lutas internas. Em Março de 1718, foi-lhe doado um terreno para a construção de uma Igreja; prosseguiu a viagem em 18 de Abril. Todos adoeceram a bordo incluindo o próprio Albuquerque. Muito doente com béri-béri, foi obrigado a desembarcar na ilha de São João (Shangchuan). Fora nesta ilha, hoje distante 270 km. por estrada de Macau, que havia falecido S. Francisco Xavier em 1552. Os chineses trataram-no bem e levaram-no depois num dos seus barcos a Macau, onde chegou a 29 de Maio.
Tomou posse do cargo no dia seguinte, 30 de Maio de 1718. Nessa altura já em Goa se encontrava um novo Vice-Rei, D. Luis de Menezes, 5.º conde da Ericeira e 1.º Marquês do Louriçal (o qual não tinha ainda 30 anos), que lhe escreveu uma carta datada de 6 de Maio confirmando-o no cargo, mas lembrando-lhe também os conflitos do passado e advertindo-o para que não exercesse vinganças sobre Francisco Leite Pereira e Xavier Doutel. Aparentemente, Albuquerque assim fez, pois não há notícia de conflitos nesta altura com estes personagens.
O governo de Albuquerque Coelho decorreu até a contento dos moradores de Macau, mas foi bastante curto, pois terminou a 9 de Setembro de 1719. Foi o caso que o Vice-Rei recebera indicação da Corte de Lisboa para um novo Governador, António da Silva Tello de Menezes. É o que consta de uma carta dirigida pelo Vice-Rei ao Padre João Mourão da Companhia de Jesus em 21 de Abril de 1720. Albuquerque Coelho tinha sido prejudicado por o seu antecessor D. Francisco de Alarcão ter ficado um ano a mais no posto e ainda por ter gasto um outro ano na viagem de Goa para Macau. Ficou em Macau até 18 de Janeiro de 1720, data em que embarcou para Goa na fragata Nossa Senhora das Brotas, que chegou a Goa a 20 de Maio seguinte.

sábado, 18 de agosto de 2012

Porta da China: Banda Desenhada

Álbum em formato A3 (jornal) assinado por Paulo Carmo para o Diário de Noticias. Publicado nos dias 24 e 31 Julho 1999. BD inédita e exclusiva - 52 páginas - passada no último ano da administração portuguesa do território.
O autor foi Paulo Carmo, na altura um pintor na casa dos 30 anos. Esta foi a sua estreia junto do grande público numa obra que já tinha pronta desde 1992.
A história é contada em dois episódios - Macau, parte I e A Porta da China, parte II. O herói é o jornalista Reinaldo Neves que, de súbito, se deixa envolver numa trama policial onde entra a máfia que domina o sub-mundo do jogo, e onde se movem algumas interessantes personagens que vale a pena conhecer: Laura Lay Lee, uma charmosa morena; Suzana, uma outra rapariga, desta vez loura (com um rosto e um cabelo que lembra o estilo de Milo Manara), esta desaparecida e que é preciso encontrar; James Ray, um americano, conhecimento recente do nosso amigo jornalista, que o ajuda a desembaraçar-se de furiosos perseguidores; e, como não podia deixar de ser, também participa um adivinho, que sabe muita coisa, mas que se chama Nou Sei.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Igreja de N. Sra. do Rosário e Convento de S. Domingos

O Convento de S. Domingos foi fundado pelos dominicanos espanhóis, juntamente com a igreja de N. Sra. do Rosário. Os fundadores António de Arcediano, Alonso Delgado e Bartolomeu Lopes embarcaram a 3 de Abril de 1587 nas Filipinas no S. Martinho, comandado pelo capitão português D. Lopes de Palácio, indo ter a Amoy; só chegaram a Macau a 1 de Setembro ficando hospedados no convento de S. Agostinho.
Em 1587-1588, fundaram a Casa de N. Senhora do Rosário numas casas que haviam sido do provisor do bispado; a capela de N. Senhora do Rosário, feita de ripas de madeira, veio mais tarde a transformar-se num templo majestoso feito de tijolo; mas ainda hoje é chamada pelos chineses Pán chong miu (板樟廟), i. é., «templo de tabique».
O Concílio Provincial de Manila de 16 de Junho de 1588 declarava: «Aceitamos a casa de S. Maria do Rosário de Macau, à qual damos por vigário o Pe. António de Arcediano».
Em Março de 1588, o vice-rei D. Duarte de Meneses obrigou os dominicanos espanhóis a sair de Macau para a Índia; assim fizeram o Pe. Arcediano e o P. Delgado; mas o Pe. Lopes ainda se demorou em Macau três anos.
Nas Mitras Lusitanas, p. 349, diz-se que, depois que S. Domingos foi entregue aos dominicanos portugueses, «ficou sendo esta casa um hospício onde se recolhem os religiosos da Índia, que passam para as Missões de Timor e Malaca: houve nela pública escola em que os padres ensinavam a ler, escrever e também latim, e ainda houve algum dia um curso de artes que deu Fr. Gaspar de Macedo e depois Fr. Tomé da Purificação».
D. Jerónimo de Azevedo, vice-rei da Índia, em resposta à carta régia de 26 de Janeiro de 1612, diz que avisou o vigário da Ordem de S. Domingos na China, sobre as ordens que el-rei enviara acerca da informação que obtivera de que o geral da dita Ordem mandara entregar o convento que tinham na China aos Castelhanos das Filipinas (Filmoteca, n.º 4, p. 753). Esta ordem nunca se cumpriu, pois noutra carta o mesmo D. Jerónimo afirma que tomará todas as cautelas para nunca se entregar o mosteiro de S. Domingos de Macau a religiosos espanhóis da mesma ordem.
Como os dominicanos seguiram o partido do patriarca Tourmon, foram presos em Setembro de 1709 com o seu vigário, Fr. Pedro do Amaral, e levados para as fortalezas; a pedido do bispo D. João de Casal a 24 desse mês, foram soltos, regressando ao convento.

Foto de Man Took. Arquivo IICT. Aqui funcionaram os bombeiros
A 6 de Maio de 1714, o vice-rei de Goa, Vasco Fernandes Cesar de Meneses, ordenou ao Capitão-Geral de Macau, António de Siqueira de Noronha, que remetesse para a Índia o Pe. Fr. Tomás do Sacramento, «procurando que nella tenha o castigo muito a proporção da sua culpa» (Arq. de Macau, Fevereiro de 1968, p. 85). Em 1721, era vigário do convento Fr. José da Cruz, que, a 21 de Novembro desse ano, escreveu uma carta ao Senado. Foi ele que reedificou o convento. Em fins de 1726, deram-se distúrbios entre o vigário de S. Domingos, Fr. Custódio da Madre de Deus e o visitador Fr. Amaro da Conceição, «mandando (as autoridades) impedir-lhe algumas boticas para dellas se lhe não vendesse couza alguma, em tempo que o G.or por Precatoria do Bispo, lhe tinha o Convento sercado de soldados (Arq. de Macau, Março de 1968, p. 170).
Por aviso régio de 16 de Junho de 1814, mandou-se criar em S. Domingos uma escola de educação religiosa para cinco alunos destinados às missões de Timor. Em 1822, surgem dois partidos em Macau: o dos conservadores, chefiados pelo Ouvidor Miguel de Arriaga e o dos liberais, pelo ten. coronel Paulino da Silva Barbosa. Os Dominicanos colocam-se ao lado deste último e fundam o primeiro jornal em Macau, Abelha da China, dirigido por Fr. António de S. Gonçalo de Amarante; o 1.º número apareceu a 12 de Setembro de 1822; em 28 de Agosto de 1823 foi queimado à porta da Ouvidoria por ordem do Governo Provisório. Depois de 23-9-1823, a Abelha passou a ser dirigida pelos Agostinhos e a defender o governo provisório; só a 3 de Janeiro de 1824 é que mudou para o nome de Gazeta de Macau.
O decreto de 28 de Maio de 1834 extinguindo as Ordens Religiosas foi executado em Macau no ano seguinte. Nessa data viviam no convento apenas quatro Dominicanos: o vigário João Xavier da Trindade e Sousa, que faleceu em Lisboa com 63 anos de idade, a 22 de Janeiro de 1864; Tomás de Aquino, que foi nomeado coadjutor do vigário de S. António; Agostinho Borges, capelão do Batalhão Príncipe Regente; e João de S. Teresa, confessor das clarissas, que faleceu em Macau com 75 anos, no dia 1 de Dezembro de 1868.

Os fundadores da Casa de S. Maria do Rosário de Macau, chamada depois Convento de S. Domingos, estabeleceram na sua igreja a Confraria de N. Senhora do Rosário. Esta Confraria trissecular, tem mantido o culto de N. Sra. do Rosário nesta igreja e celebrado com grande pompa a sua festa.
N. Senhora de Fátima em S. Domingos
O Pe. Manuel Joaquim Pintado era o director da Catequese em Macau, que se ensinava não nas paróquias, mas na igreja de S. Domingos; as crianças chinesas tinham a sua em S Lázaro. O P. Pintado, que havido sido o promotor do culto do beato Nuno, foi também o introdutor do culto de N. Sra. de Fátima em Macau. Para afervorar as crianchinhas, ele narrava-lhes os sucessos maravilhosos em Fátima. Em 1929, inaugurou ele na igreja de S. Domingos a devoção de N. Sra. de Fátima com um tríduo de 10 a 12 de Maio e uma procissão no dia 13. O pregador, Pe. António Maria Alves, S. J. fez prometer ao povo que todos os anos nesse dia levaria a estátua de N. Sra. de Fátima em procissão de S. Domingos à Penha. E assim se tem feito até hoje.A igreja de S. Domingos tornou-se a Cova da Iria no Extremo Oriente; e os missionários de Macau, que foram depois evangelizar Shiu-Hing, Timor, Singapura e Malaca, levaram consigo esta devoção e introduziram-na nessas Missões. Das Missões Portuguesas irradiou para as estrangeiras e assim se estendeu pelo Extremo-Oriente.
Para a manutenção e esplendor do culto de N. Sra. de Fátima em Macau, fundou-se entre as raparigas a Congregação de N. Sra. de Fátima em 13 de Dezembro de 1929 e organizou-se a Capela musical do mesmo nome. Em Singapura, fundou-se também a Congregação masculina de N. Sra. de Fátima e editou-se em 1948 a revista «Rally», que desde o início até hoje tem feito intensa propaganda de N. Sra. de Fátima. Esta devoção a N. Sra. do Rosário de Fátima continua a tradição da igreja de S. Domingos, que desde a sua fundação pelos dominicanos foi o centro do culto de N. Sra. do SSmo. Rosário.
Litogravura séc. 19
O Filho do Imperador de Monomotapa no Convento de S. Domingos
Na Brotéria de Maio-Junho de 1974 publicou Leopoldo da Rocha um artigo que vamos resumir. Intitula-se: «O Filho do Imperador de Monomotapa, D. Frei Constantino do Rosário (C. 1700-1721) e o Rei de Portugal».
O Império de Monomotapa compreendia a Rodésia, uma parcela da Zâmbia e grande parte da região central da província de Moçambique. Os portugueses pretendiam a conversão do imperador para facilitar a penetração lusa no seu reino. Em 1693, deflagraram guerras e revoltas pela chefia do reino. Pela morte de Monomota, o trono foi usurpado por seu irmão Nhacunimbiri, sendo preferido o filho e legítimo herdeiro Nhenheenza, o qual fora educado em Tete por um frade agostinho e recebera no baptismo o nome de Pedro. Nhacunimbiri, suspeitoso de que os Portugueses pretendiam elevar D. Pedro ao trono, induziu o régulo Changanire a atacá-los. Em 1696, D. Pedro conseguiu ocupar o trono devido às ar-mas portuguesas. Este, quando faleceu, deixou um filho, que foi baptizado pelo Comissário Visitador dos dominicanos Frei Francisco de Trindade, segundo relata Frei Luís de Cácegas na História de S. Domingos: «Passou o Comissário a Tete aonde, compondo novo cathecismo na lingua da terra, fez fruto de inumeraveis almas, catequisando assim meninos como adultos. Foi um destes o Príncipe de de Monomotapa, filho do Imperador D. Pedro já defunto e da Imperatriz Vondoto; poz-lhe por nome D. Constantino e voltando de Tete o trouxe para India e no convento de Goa com o nome de Frei Constantino do Rosário tomou o hábito de S. Domingos em que depois o acompanhou outro Príncipe, seu irmão, por nome Frei João (de que se perdeo o cognome) que tinha bautisado Pedro Filipe da Assunção. Ao tempo que isto escrevemos (1706), assistem ambos no Convento de Santa Bárbara de Goa».
Desterrado para Macau
Em 1709 tinha frei Constantino 14 ou 15 anos de idade, sendo noviço dominicano. «Sucedeo por mal aconselhado de alguns escravos, sair hua noite de quinta feira mayor entre elles disfarçado sem habito a visitar as igrejas para que não fosse conhecido». Esta pequena falta mereceu-lhe tremendo castigo do rígido e austero vigário geral Frei António da Trindade, que lhe mandou despir o hábito e «não contente com isto, o revestio de Donato por despreso, e com elle o degradou para Macao e dahi o intenta lançar mais longe para Timor o que não podia fazer por nenhum direito, por ser já secular principe sobrerano cujo desamparo põe aos Reaes pés de V. Majestade».
D. Frei Constantino mandou de Macau um protesto ao Rei de Portugal, que lhe mereceu a libertação:«(pede) confiado em Sua Real clemencia e justiça para que atendendo a grande pax e amizade que os Reis seus ascendentes tiveram sempre cõ os Serenissimos Reys deste Reino, largando lhe boa parte de seus dominios e não pequena dos seus thesouros, Seja servido ordenar ao V. Rei da India o mande retirar daquele degredo injusto e restituilo a Goa na primeira ocazião à companhia de seu irmão, obrigando aos Religiosos de S. Domingos que o professem e tratem e a seu irmão como se deve às suas peçoas, dandolhe estudos e o necessario como convem e hé rezão e quando esta não seja já a sua vocação, para não experimentar mais injustiças, o mesmo V. Rey o mande para os seus Reinos entregue a Governador dos Rios de Senna para que o ajude com todas as forças a restituição do seu usurpado throno quando se offerecer opportuno, para que assim se consiga felizmente a converção do seu Imperio, pois este he o unico prompto meio. Ao que, vendo-se este Principe assim de V. Magestade favorecido, como estiver na posse dos seus estados, agradecido lhe pode patentear a muita riqueza dos seus thesouros, e pelo contrario, vendo-se vexado e aflito, se poderá passar às nações estranhas e da Europa, e demitir-lhe seu direito enganado e assim virá a conquistar os Rios mui facilmente por não terem deffeza alguã e por consequencia acabar-se a India, pois de suas decimas se sustenta: isto he o que representa a V. Magestade a que fará o que for servido».
Temendo que frei Constantino não fosse bem tratado no Convento de S. Domingos em Macau, deliberou-se a 26 de Março de 1709 que ele fosse recolhido no Colégio de S. Paulo, devendo dar-se-lhe bom acolhimento. O Rei, logo que recebeu a Representação de frei Constantino, despachou-a favoravelmente e ele pôde regressar a Goa e professar na Ordem Dominicana. A 7 de Abril de 1714, o Rei ordenou ao seu Vice-rei da India, Vasco Fernandes César de Meneses que lhe desse 200 xerafins por ano para as suas necessidades religiosas. Sofrendo novos castigos, frei Constantino fez nova Representação ao Rei que, a 28 de Março de 1718, ordenou que se pagasse pontualmente a terça e se não molestasse nem se desse ocasião a que ele se desconsolasse. Tendo caído em culpas graves, frei Constantino foi punido pelo vigário geral dos dominicanos em Goa, frei Manuel do Espírito Santo, que o prendeu no cárcere privativo do convento. Queixou-se ao Rei pedindo-lhe que o mandasse transferir para Portugal. Assim se fez e ele partiu na monção de 1721 com os cómodos e uma ajuda de custo de 200 xerafins.
Texto da autoria do Padre Manuel Teixeira