segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Depósito do Governador no BNU em 1906

Recibo nº 2361 de um depósito no valor de 7.126,60 patacas feito pelo Governador de Macau - Martinho Pinto de Queirós Montenegro (1864-1919) - em Julho de 1906* na "Agência em Macau" do Banco Nacional Ultramarino. O documento inclui assinatura do gerente da agência do BNU em Macau - Félix Duarte Costa e o carimbo da agência.

Félix Duarte Costa foi primeiro gerente do BNU-Macau. Chegou ao território a 15 de Junho. O primeiro lançamento nas contas do banco foi feito por ele a 8 de Agosto: uma transferência de Londres no valor de 600 libras. A 20 de Setembro de 1902 a agência abriu com um capital de 25.119,85 patacas, através de créditos obtidos pela sede em Lisboa, em seu nome, no Hong Kong and Shangai Banking Corporation. A primeira agência do BNU-Macau funcionou no n.º 9 da Rua da Praia Grande. Para além do gerente, a agência tinha um guarda livros, dois escriturários e um servente. Os vencimentos mensais oscilavam entre as 509 patacas (gerente) e as 5 patacas (servente). Durante o mandato deste gerente foram emitidas as primeiras notas próprias de Macau e transferida a agência para o antigo Palácio das Repartições, onde se manteve até à inauguração do edifício-sede do banco em Março de 1926.

* segundo notícia de jornal de Hong Kong.

domingo, 16 de novembro de 2025

"Macao Grand Prix Winners": 1954

Na edição de 1 de Novembro de 1954 (segunda-feira) o The China Mail, jornal de Hong Kong, publicou duas fotografias onde surgem os pilotos classificados em 1º e 2º lugares na primeira edição do GPM a receberem o respectivo troféu das mãos de Laurinda Marques Esparteiro, mulher do então govermador de Macau. A cerimónia decorreu a 31 de Outubro de 1954 (ultimo dia do GPM) num jantar de gala no salão do Clube de Macau. A Taça Governador de Macau foi o nome do troféu que custou 1.200 patacas.

MACAO GRAND PRIX WINNERS
Mr Eddie Carvalho (above), winner of the Macao Grand Prix, receiving the Governor's cup from Madame Esparteiro, wife of His Excellency the Governor of Macao, at the presentation of trophies last night. Below is the runner-up, Mr Paul du Toit, receiving his trophy. Both drove Triumph TR2 sports cars. 
China Mail Photos.
VENCEDORES DO GRANDE PRÉMIO DE MACAU
O Sr. Eddie Carvalho (em cima), vencedor do Grande Prémio de Macau, a receber a taça do Governador das mãos de Madame Esparteiro, esposa de Sua Excelência o Governador de Macau, na entrega de troféus de ontem à noite. Em baixo está o segundo classificado, o Sr. Paul du Toit, a receber o seu troféu. Ambos conduziram carros desportivos Triumph TR2. Fotos do China Mail.

sábado, 15 de novembro de 2025

"Listen to Macau Grand Prix on Radio Vila Verde"

Listen to the MACAU REGULARITY SPEED TRIAL and GRAND PRIX on Radio Vila Verde 1005 k/cs 298 m.
RADIO VILA VERDE RACE COMMENTARIES
SATURDAY, OCTOBER 30th, 1954
Regularity
12:00 – 1:00 Start & Point 2 (D. Maria corner)
1:55 – 2:10 All Points
2:55 – 3:10 All Points
3:50 – 4:10 Finish
SUNDAY, OCTOBER 31st, 1954
Grand Prix
11:30 – 12:00 Start & Point 2
12:55 – 1:10 All Points
1:55 – 2:10 All Points
2:55 – 3:10 All Points
3:50 – 4:10 Finish and Point 2
BROADCAST DETAILS
Radio Vila Verde will broadcast in English at the following times on the two race days. Saturday: 12:00 to 4:00 p.m. Sunday: 11:30 to 4:00 p.m.
Commentaries will be given at the times shown in the tables opposite and progress reports will be broadcast at half past each hour.
In the intervening periods music and variety will be broadcast from the studios.
FOR COMPLETE HOUR BY HOUR COVERAGE TUNE TO RADIO VILA VERDE
The China Mail (Hong Kong): 30.10.1954

Tradução/Adaptação

Ouça a PROVA DE VELOCIDADE DE REGULARIDADE e o GRANDE PRÉMIO DE MACAU na Rádio Vila Verde 1005 kc/s 298 m.
RÁDIO VILA VERDE COMENTÁRIOS DA CORRIDA

SÁBADO, 30 DE OUTUBRO DE 1954
Regularidade
12:00 – 1:00 Início e Ponto 2 (Curva D. Maria)
1:55 – 2:10 Todos os Pontos
2:55 – 3:10 Todos os Pontos
3:50 – 4:10 Fim
DOMINGO, 31 DE OUTUBRO DE 1954
Grande Prémio
11:30 – 12:00 Partida e Ponto 2
12:55 – 1:10 Todos os Pontos
1:55 – 2:10 Todos os Pontos
2:55 – 3:10 Todos os Pontos
3:50 – 4:10 Ponto 2 e Meta 
DETALHES DA TRANSMISSÃO
A Rádio Vila Verde transmitirá em Inglês nos seguintes horários nos dois dias de corrida. Sábado: 12:00 às 16:00. Domingo: 11:30 às 16:00.
Os comentários serão feitos nos horários indicados nas tabelas ao lado e os relatórios de progresso serão transmitidos a cada meia hora.
Nos períodos intermédios, música e variedade serão transmitidas dos estúdios.
PARA COBERTURA COMPLETA HORA A HORA SINTONIZE A RÁDIO VILA VERDE

Este anúncio da Rádio Vila Verde foi publicado na imprensa de Hong Kong a 30 de Outubro de 1954, dia da estreia da primeira edição do Grande Prémio de Macau. A estação de rádio fez uma forte aposta na transmissão dos 'relatos' da prova tendo estúdio móvel instalado juto à recta da meta (imagem) e vários pontos de transmissão ao longo do Circuito da Guia. Um deles era a zona da Curva D. Maria, uma das zonas mais sinuosas e por isso mais desafiadora.
Posto da Rádio Vila Verde na recta da meta do GPM em 1954

Vila Verde era o nome (e a cor) da moradia do proprietário da rádio, Pedro Lobo... uma residência na rua Francisco Xavier Pereira onde estavam instalados os estúdios da rádio. Após emissões experimentais em 1951  a Rádio vila Verde passou a funcionar de forma regular em 1952. Transmitia em frequência de Onda Média de 1.005 quilociclos e no comprimento de onda de 289 metros. Em Setembro de 1954 foi aumentada a potência do transmissor da rádio que passou a ser ouvida numa raio de 800 milhas.
Na prática existiam duas estações de rádio: a CR9XL, mais abrangente; e a CR9XM - desde Abril 1953 - na frequência de 1200 quilociclos e onda de 250 metros, apenas para Macau.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

72.ª edição do Grande Prémio de Macau

Começa hoje a 72.ª edição do Grande Prémio de Macau, um evento desportivo criado em 1954. Ao todo decorrem sete provas no Circuito da Guia até domingo.
Em cima a fotografia de uma edição do GPM no final da década 1960. Na imagem pode ver-se um monolugar a fazer a curva que dá acesso à rampa da Estrada de S. Francisco (que nos primeiros anos da prova não tinha alcatrão, mas sim calçada). Ao fundo início da construção do Hotel Lisboa. Pode ainda ver-se uma passagem superior para os peões. Do lado esquerdo acesso à Av. Dr. Rodrigo Rodrigues. Do lado direito, acesso ao Clube Militar.
Nota: 
A primeira edição do Grande Prémio de Macau foi em 1954, mas era uma corrida de carros esportivos (GT e Turismo).
Em 1961 o evento passou a incluir a corrida de monolugares, enquadrada nas regras da Fórmula Libre. A Fórmula Libre (ou Fórmula Any), como o nome sugere, permitia uma variedade de carros de corrida. O primeiro vencedor da corrida de Fórmula Libre no GP de Macau, em 1961, foi Peter Heath, ao volante de um Lotus 15-Climax.
Esta categoria de Fórmula Libre continuou a ser a principal prova de monolugares do GP de Macau até 1973, sendo substituída pela Fórmula Pacific em 1974.
A Fórmula 3 (F3), que se tornou a prova mais famosa, só foi introduzida em 1983 com a histórica vitória de Ayrton Senna.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

"A colina perfumada"

Pictures and Rice paper Drawings
The first few days of my sojourn at Macao convinced me of what must be evident to a visitor at any Chinese port, the native taste for pictures and the desire of shopkeepers to gratify what they well know to be a passion too among all strangers for drawings, paintings & c. But the best specimens to be obtained at Macao are not to be taken as fair samples of the native unassisted art. At Canton, Macao and Hong Kong there has been for years so much imitation of foreign productions and not a little improvement has gradually crept over the designs of the native artists from the influence of Chinnery, an Englishman now deceased. That gentleman was for many years resident in Macao and much to his credit lent his aid in suitable suggestions and instructions to some of the Canton draughtsmen; Lamqua, for instance, known to foreigners for his portrait painting and his younger brother, Tingqua, for his sketches and miniatures. The effect of this upon the native artists of Canton may easily be guessed.
Nevertheless, genuine specimens of uneducated artists are to be found in the south, but especially at the ports farther north. The rude designs of their pencillings are such as may be seen on the commonest ware, the finest porcelain, wood engravings or wall scrolls. Although the want of perspective is a glaring blunder in all their delineations, yet, from the wood engravings in their topographies, or landscape sketches in their works on husbandry which every foreigner meets with now-a-days, it is clear that experience has taught some of them that, in describing the more distant objects, these should lessen in dimensions, as they recede from the point of view. But they have not detected that the more remote the objects become to give effect to them, the more should their outlines diminish in distinctness. (...)

Brief descriptions of Hong Kong, Canton and Macao
Any vessel bound to the port of Canton has to the delta of the Pearl River the area of which is largely occupied with isles and sandbanks This exten sive estuary forms a rough triangle measuring about 100 miles in length on each side Few rivers can be more protected than this for during the late visit of Admiral Seymour the forts along its banks amounted to thirty It is fed by large and numerous branches some of which run two and three hundred miles into the interior of the country When your ship has passed through the mouth of this wide embouchure you may if you please turn to the right to the English island of Hongkong which lies SE by E at a distance of nearly ninety five miles from Canton or to the left to the Portuguese settlement of Macao. (...)
Macao (pronounced Macow) is forty miles to the westward of Hongkong, a Portuguese settlement at precisely the same distance from Canton as Hongkong.
The position of Macao is agreeable to the English sojourner, as it has a pleasant variety of hill and dale in its little territory and is nearly surrounded with water and open to sea breezes on every side. But, apart from its having no good harbour whatever, it has the great drawback of a mongrel Portuguese society, and a low caste pig headed class of Chinese. Besides to some of the present generation of English residents in China, there can be anything but associations of a comfortable kind connected with Macao, recollecting as they must the unfriendly policy which the Portuguese on the spot pursued some sixteen or seventeen years since, and the bitterly hostile bearing which the Chinese of the settlement were encouraged to assume towards 'the red haired English'.
Macao is a peninsula not more than eight miles in circuit. It is attached to the south east point of a large island called in the Chinese tongue, Hiangshan, or as if again to delude the fancy 'the fragrant hill'.
The connecting band is a narrow isthmus which in the native topography is designated 'the stalk of a water lily.'! In 1840, a low wall stretched across this isthmus, the foundation stones of which had been laid about three hundred years ago, with the undisguised object of limiting the movements of foreigners, pedestrian or equestrian. This was the 'notorious barrier' which during the Chinese war of 1840 and 1841 was a source of great uneasiness to the Portuguese settlers of Macao, and the occasion of repeated fits of jealousy between Chinese and English.
As large numbers of the peasantry had to pass the 'barrier gates' with provisions for the mixed population at Macao, it was a frequent manœuvre with the Chinese authorities, out of revenge on the English, to stop the market supplies by closing this gate and setting over it a guard of half-starved and ravenous militia. But to leave Macao and make for Canton, your ship starts and glides by the notorious Bogue Forts threads her course through an involved network islets and mudbanks, and at last drops anchor twelve miles from Canton off the small island of Whampoo.
At Whampoo our near approach to the city of Canton is indicated by the numerous and grotesque egg boats, sampans, bumboats and other small fry of that class which are constantly ferrying between the two places, not to mention the mastheads of junks lying abreast of Canton and the flagstaffs of Chinese, British and other ensigns, which on a clear day are visible at some distance. (...) 
Excertos de "Life in China - Fourtheen Years among the Chinese" de William Charles Milne, 1857


Tradulão/Adaptação:
Quadros e Desenhos em Papel de Arroz
Os primeiros dias da minha estada em Macau convenceram-me do que deve ser evidente para um visitante em qualquer porto chinês: o gosto nativo por quadros e o desejo dos lojistas de satisfazer o que bem sabem ser também uma paixão de todos os forasteiros por desenhos, pinturas, etc. Contudo, os melhores exemplares que se podem obter em Macau não devem ser tomados como amostras justas da arte nativa não assistida.
Em Cantão, Macau e Hong Kong tem havido, durante anos, tanta imitação de produções estrangeiras, e uma melhoria não negligenciável infiltrou-se gradualmente nos desenhos dos artistas nativos por influência de Chinnery*, um inglês já falecido. Esse cavalheiro residiu em Macau durante muitos anos e, para seu grande mérito, prestou a sua ajuda através de sugestões e instruções adequadas a alguns dos artistas de Cantão; Lamqua, por exemplo, conhecido entre os estrangeiros pelos seus retratos, e o seu irmão mais novo, Tingqua, pelos seus esboços e miniaturas. O efeito disto sobre os artistas nativos de Cantão pode ser facilmente imaginado.
Não obstante, no sul, mas especialmente nos portos mais a norte, encontram-se espécimes genuínos de artistas não instruídos. Os traços rudimentares dos seus desenhos a lápis são semelhantes aos que se podem ver na louça mais comum, na porcelana mais fina, em gravuras em madeira ou em pergaminhos de parede.
Embora a falta de perspectiva seja um erro gritante em todas as suas representações, contudo, a partir das gravuras em madeira nas suas topografias, ou dos esboços de paisagens nas suas obras sobre agricultura, com que qualquer estrangeiro se depara actualmente, é claro que a experiência ensinou a alguns deles que, ao descreverem os objectos mais distantes, estes devem diminuir de dimensão à medida que se afastam do ponto de vista. Mas não detectaram que, quanto mais remotos os objetos se tornam para lhes dar efeito, mais as suas linhas de contorno devem diminuir em distinção. (...)
* Chinnery viveu em Macau entre 1827 e 1852, quando morreu
Breves Descrições de Hong Kong, Cantão e Macau
Qualquer navio com destino ao porto de Cantão tem, no delta do Rio das Pérolas, uma área largamente ocupada por ilhas e bancos de areia. Este extenso estuário forma um triângulo imperfeito com cerca de 100 milhas de comprimento em cada lado. Poucos rios podem ser mais protegidos do que este, pois durante a recente visita do Almirante Seymour, as fortalezas ao longo das suas margens ascendiam a trinta. É alimentado por grandes e numerosos afluentes, alguns dos quais se estendem por duzentas e trezentas milhas para o interior do país.
Quando o seu navio tiver passado pela boca desta ampla foz, pode, se assim o desejar, virar para a direita em direção à ilha inglesa de Hong Kong, que fica a Sudeste por Este, a uma distância de quase noventa e cinco milhas de Cantão, ou para a esquerda em direção ao estabelecimento português de Macau. (...)
Macau
Macau (pronuncia-se Macáu) fica quarenta milhas a oeste de Hong Kong, um estabelecimento português à mesma distância exacta de Cantão que Hong Kong.
A localização de Macau é agradável para o residente inglês, pois o seu pequeno território possui uma variedade aprazível de colinas e vales, estando quase totalmente rodeado por água e aberto às brisas marítimas em todas as direcções. No entanto, para além de não possuir nenhum bom porto, tem a grande desvantagem de uma sociedade portuguesa mestiça e uma classe de chineses teimosos e de baixa casta. Além disso, para alguns da actual geração de residentes ingleses na China, as associações a Macau não podem ser de natureza confortável, lembrando-se, como devem, da política hostil que os portugueses no local seguiram há cerca de dezasseis ou dezassete anos, e da postura amargamente hostil que os chineses do estabelecimento foram encorajados a assumir para com 'o inglês de cabelo vermelho'.
Macau é uma península com não mais de oito milhas de perímetro. Está ligada ao ponto sudeste de uma grande ilha chamada, na língua chinesa, Hiangshan, ou, como se para iludir novamente a fantasia, 'a colina perfumada'.
A faixa de ligação é um istmo estreito que, na topografia nativa, é designado 'o caule de um lírio-de-água'!** Em 1840, um muro estendia-se por este istmo, cujas pedras de fundação tinham sido colocadas há cerca de trezentos anos, com o objetivo não dissimulado de limitar os movimentos de estrangeiros, a pé ou a cavalo. Esta era a 'notória barreira' que, durante a guerra chinesa de 1840 e 1841, foi motivo de grande incómodo para os colonos portugueses de Macau e a causa de repetidos acessos de ciúmes entre chineses e ingleses.
Uma vez que um grande número de camponeses tinha de passar pelos 'portões da barreira' com provisões para a população mista de Macau, era uma manobra frequente das autoridades chinesas, por vingança contra os ingleses, parar os abastecimentos do mercado fechando este portão*** e colocando de guarda uma milícia faminta e voraz.
Cantão
Mas para deixar Macau e seguir para Cantão, o seu navio arranca e desliza pelas notórias Fortalezas da Boca do Tigre, abre caminho através de uma complexa rede de ilhéus e bancos de lama, e finalmente larga âncora a doze milhas de Cantão, ao largo da pequena ilha de Whampoa.
Em Whampoa, a nossa aproximação à cidade de Cantão é indicada pelos numerosos e pitorescos tancares, sampanas, barcos de provisões e outras pequenas embarcações daquela classe que estão constantemente a fazer a travessia entre os dois locais, para não mencionar os mastros dos juncos atracados ao lado de Cantão e os mastros de bandeira chineses, britânicos e de outras insígnias, que num dia claro são visíveis a alguma distância. (...)
** metáfora poética: caule de lírio-de-água; em chinês 蓮花/蓮葉 - Flor de Lótus.
*** Porta do Cerco (ver pintura acima)
Filho do missionário William Milne, William Charles Milne (1815-1863) chegou à China com apenas dois anos. A mãe morreu em 1819 e o pai em 1822. Nesse ano regressa a Inglaterra onde completa os estudos e integra como missionário a London Missionary Society que o envia para a China em 1839, tendo passado por Macau a 18 de Dezembro desse ano.  Ali vai viver até 1854. Durante esse tempo viveu largos períodos em Macau, nomeadamente entre 1840 e 1841. Apenas de ausente entre 1844 e 1846 quando está em Inglaterra e se casa.
Voltou à China com a mulher em 1846 fixando-se em Xangai. Com a morte de um delegado de Ningpo que fazia parte da comissão encarregue da tradução da Bíblia foi eleito para preencher a vaga. Finalizada a tradução do Novo Testamento, foi eleito para continuar como delegado para a tradução do Antigo Testamento, tarefa concluída em 1852. Regressou a Inglaterra por motivos de saúde mas em 1856 estava de novo na China como intérprete do consulado em Fuzhou. Com o estabelecimento da Legação Britânica em Pequim, Milne actuou como tutor de intérpretes no serviço público britânico. Viria a morrer a 15 de Maio de 1863 e foi sepultado numa área não consagrada do cemitério russo nos arredores de Pequim.
O livro foi primeiro publicado em Londres em 1857. No ano seguinte teve uma edição em francês - "La vie réelle en Chine".

terça-feira, 11 de novembro de 2025

"Para além do jogo"

Com diferentes títulos, este artigo da agência noticiosa United Press internationl (UPI) foi publicado em inúmeros jornais um pouco todo o mundo em Novembro de 1975. Foi há 50 anos, quando Macau dava os primeiros anos na indústria do jogo e do turismo. Os turistas vinham maioritariamente de Hong Kong, sendo jogo o principal motivo da visita. Do estrangeiro, eram os japoneses que dominavam e era a história dos primeiros tempos do território que os atraía... 
Turistas do Canadá e Estados Unidos também visitavam  cidade, muitas vezes, aproveitando a escala em Hong Kong.  O Centro de Informação e Turismo funcionava no piso térreo do Palácio do Governo. Para além do Porto Interior, a nova porta de entrada em Macau funcionava então nos aterros do Porto Exterior, onde atracavam os novíssimos jatoplanadores e os hidroplanadores da empresa Shun Tak. O que também era novo em 1975 era a ponte Macau-Taipa, inaugurada em Outubro do ano anterior.
Roteiro da cidade em 1975
Other Macao Than Gambling
Macao (UPI) – An undistinguished granite table with four simple stools stands among the flowers, fountains and trees of Kun Iam Tong, the Temple of the Goddess of Mercy. These days it serves as a convenient resting spot for tired tourists. But on July 3, 1843, Chinese Viceroy Yi and U.S. Ambassador Caleb Cushing used the table to sign a friendship treaty opening formal relations between China and the United States. The table, moved to the temple in this Portuguese colony from the southern Chinese treaty town of Wanghia, has stood up well to decades of exposure but the “undying friendship” pledged in the document has died.
This is the “other Macao,” a century away in time but only a short walk past the famed gambling spots that many visitors never leave. Away from the tables, a visitor looking for an inexpensive vacation can trace moments in the histories of the many nations that left permanent marks on the landscape.
And Macao's secluded sandy beaches, winding streets, pastel homes and low price accommodations and food provide other discoveries. One pretty American student said that “vacationwise, I don't think you could have a cheaper eight days.” “We don't gamble, but we picnic, stay in a small inn with only 10 rooms, walk everywhere and get kicks taking pictures of Macao’s border crossing into China with cameras under our coats” despite the signs prohibiting photographs, she said. The 20-year-old visitor from California said she came to Macao with $100 and expects to leave with $20. Her “old but really charming inn” charged $6 a day and her meals cost $37. She admitted “I did drop one dollar in a slot machine.” Another college student from New Jersey said Buddhists monks allowed her to sleep in the monastery for free as long as she attended early morning services.
The Macao government is anxious for visitors to gamble, since the tables are the city's largest source of income, but it is just as concerned that Macao represent something more than an Asian Las Vegas.
Joao Reis*, the marketing director of the colony on the South China coast, said the government plays down gambling in its tourist publications “because it is always for visitors to see the ‘whole Macao.’” He said Macao leaves promotion of the casinos, dog races and jai alai pretty much to the Chinese syndicate that controls them. “We want the foreigner to absorb at least some of the history,” Reis said.
The government spends thousands of dollars yearly to maintain the historical monuments in top condition. All of the popular attractions are free.
Accommodations range from $10 a night for a double in a small inn to $42 in the most expensive hotel, but three meals can cost as little as $12 a day per couple at many small restaurants offering a variety of international menus. Visitors can easily hire an English-speaking tour driver for $3 an hour, but energetic travelers can rent a bicycle for 50 cents. The city bus costs a flat six cents a ride, and the 10-mile-square city can easily be seen on foot.
Just as Americans are drawn to the treaty table and the vast views of China, Japanese visitors are intrigued to learn that Macao served as a vital base for the introduction of Christianity to Japan. Japanese Christian artisans fled feudal persecution in the early 18th century to help build St. Paul’s Church, Macao's most famous land-mark. Designed by an Italian Jesuit, the church in 1835 caught fire during a typhoon, leaving only the front façade and stairs standing.
Macao, officially established as a Portuguese possession in 1557, soon became headquarters for a number of trading houses that virtually monopolized the Japan-China trade and trade between between both countries and Europe. But mud from the Pearl River silted up the harbor and Macao began to lose its wealth. The trade center moved to Hong Kong 45 miles away. At Fort Monte visitors can get an overall view of Macao and China. The ancient carved stones and cannon still remain, but the government has added a weather observatory.

Inaugurado em 1974 o Jai Alai era a grande novidade em 1975

Tradução/Adaptação
Macau Para Além do Jogo
MACAO (UPI) – Uma mesa de granito desinteressante com quatro bancos simples encontra-se entre as flores, fontes e árvores de Kun Iam Tong, o Templo da Deusa da Misericórdia. Hoje em dia, serve como um local de descanso para turistas cansados. Mas a 3 de Julho de 1843, o Vice-Rei chinês Yi e o Embaixador dos EUA Caleb Cushing usaram a mesa para assinar um tratado de amizade que inaugurou as relações formais entre a China e os Estados Unidos. A mesa, transferida para o templo nesta colónia portuguesa da cidade de Wanghia, no sul da China, resistiu bem a décadas de exposição, mas a “amizade indestrutível” prometida no documento morreu. Este é o “outro Macau”, um século atrás no tempo, mas apenas a uma curta caminhada dos famosos locais de jogo que muitos visitantes nunca abandonam. 
Longe das mesas, um visitante que procure férias baratas pode traçar momentos na história das muitas nações que deixaram marcas permanentes na paisagem. E as praias isoladas de Macau, as ruas sinuosas, as casas de cores pastel e os alojamentos e comida a preços baixos proporcionam outras descobertas. Uma jovem estudante americana disse que “em termos de férias, não creio que se consiga ter oito dias mais baratos.” “Não jogamos, mas fazemos piqueniques, ficamos numa pequena estalagem com apenas 10 quartos, andamos por todo o lado e divertimo-nos a tirar fotografias da fronteira de Macau com a China com máquinas fotográficas debaixo dos casacos”, apesar dos avisos que proíbem as fotografias, disse ela. A visitante de 20 anos da Califórnia disse que veio a Macau com 100 dólares e espera sair com 20. A sua “estalagem antiga, mas realmente encantadora” custa 6 dólares por dia e as suas refeições custavam 37 dólares. Ela admitiu: “Gastei um dólar numa slot machine.” Outra estudante universitária de Nova Jérsia disse que os monges budistas a deixaram dormir no mosteiro de graça, desde que ela assistisse aos serviços matinais.
O governo de Macau está ansioso por receber visitantes para jogar, uma vez que as mesas são a maior fonte de rendimento da cidade, mas está igualmente preocupado que Macau represente algo mais do que uma Las Vegas asiática.
João Reis*, funcionário do Centro de Informação e Turismo da colónia na costa sul da China, disse que o governo minimiza o jogo nas suas publicações turísticas “porque é sempre para os visitantes verem o ‘Macau na íntegra’”. Ele disse que Macau deixa a promoção dos casinos, corridas de cães e jai alai praticamente para o sindicato chinês que os controla. “Queremos que o estrangeiro absorva pelo menos um pouco da história”, disse Reis.
O governo gasta milhares de dólares anualmente para manter os monumentos históricos em perfeitas condições. Todas as atrações populares são gratuitas. 
Os alojamentos variam entre 10 dólares por noite por um quarto duplo numa pequena estalagem e 42 dólares no hotel mais caro, mas três refeições podem custar apenas 12 dólares por dia por casal em muitos pequenos restaurantes que oferecem uma variedade de menus internacionais. Os visitantes podem contratar facilmente um motorista turístico falante de inglês por 3 dólares à hora, mas os viajantes mais aventureiros podem alugar uma bicicleta por 50 cêntimos. O autocarro urbano custa seis cêntimos por viagem, e a cidade de 10 milhas quadradas pode ser facilmente percorrida a pé.
Assim como os americanos são atraídos pela mesa do tratado e pelas vastas vistas da China, os visitantes japoneses ficam intrigados ao saber que Macau serviu como uma base vital para a introdução do Cristianismo no Japão. Artesãos cristãos japoneses fugiram da perseguição feudal no início do século XVIII para ajudar a construir a Igreja de São Paulo, o monumento mais famoso de Macau. Projetada por um Jesuíta Italiano, a igreja foi incendiada em 1835 durante um tufão, deixando apenas a fachada frontal e as escadaria de pé.
Macau, oficialmente estabelecida como uma possessão portuguesa em 1557, tornou-se rapidamente sede de várias casas comerciais que praticamente monopolizaram o comércio Japão-China e o comércio entre ambos os países e a Europa. Mas o lodo do Rio das Pérolas assoreou o porto e Macau começou a perder a sua riqueza. O centro comercial mudou-se para Hong Kong, a 45 milhas de distância.
Na Fortaleza do Monte, os visitantes podem ter uma vista geral de Macau e da China. As antigas pedras esculpidas e canhões ainda permanecem, mas o governo instalou ali um observatório meteorológico.
Emissão de 1975


Nota: Em 1975 entre os hotéis do tipo ocidental contavam-se a Pousada Macau Inn, Vila Tai Yip, Bela Vista, Estoril, Lisboa, Sintra, Matsuya, etc... Do tipo chinês destacam-se o Kuok Chai e o Central, ambos na Av. de Almeida Ribeiro. Entre os casinos contavam-se o Lisboa, o Estoril, o Macau Palace (flutuante), etc... Mas o jogo não de limitava aos casinos da STDM, a concessionária em exclusivo desde os primeiros anos da década 1960. Havia ainda as casas de fantan e as apostas nas corridas de galgos no Canídromo ou nos jogos de pelota basca, a grande novidade do Jai Alai.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Grande Prémio de Macau – Colecção Pessoal de Victor H. de Lemos (1967-1978): 2º volume

Recortes de jornais, fotos e cartazes relativos às edições do Grande Prémio de Macau entre 1967 e 1978 são a base do livro publicado por estes dias em Macau - Grande Prémio de Macau – Colecção Pessoal de Victor H. de Lemos (1967-1978): 2º volume - por Carlos Lemos, filho de Victor H. Lemos, um grande coleccionador de imagens e materiais relacionados com o GPM.
A obra editada com o apoio da APOMC tem 356 páginas e cerca de 400 fotografias. O primeiro volume, publicado em 2023, aborda os anos de 1954 a 1966.
A primeira edição do GPM decorreu em 1954

domingo, 9 de novembro de 2025

Postal do "Boa Vista Hotel, Macao" circulado em 1910

Postal do "Boa Vista Hotel, Macao" impresso em Hong Kong. De acordo com os carimbos, foi enviado de Macau a 7.11.1910. Chegou a Lisboa um mês depois, a 8.12.1910, e ao destinatário em Montalegre, dois dias depois, a 12.10.1910.

sábado, 8 de novembro de 2025

Dois postais ilustrados da Praia Grande no início da década 1970

 
Têm por base fotografias feitas na Av. da República na zona conhecida como "Meia-Laranja" / "Sam Ka Tchun", junto ao edifício da Cruz Vermelha. A zona era uma reentrância semicircular que se estendia para o mar semelhante a metade de uma laranja (ou de um círculo).
Na baía podem ver-se algumas estruturas relacionadas com a construção da primeira ponte Macau-Taipa (inaugurada em Outubro de 1974). Ao fundo, entre outros edifícios, o Liceu e o Hotel Lisboa inaugurado em Fevereiro de 1970.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Foto-legenda: Correios e Hotel na Praia Grande início séc. 20

A fotografia - colorida com recurso a IA - mostra uma vista parcial da Praia Grande no início do século 20. Corresponde à zona que actualmente vai do Hotel Metrópole ao Banco da China (cruzamento da Praia Grande com a Av. Almeida Ribeiro, frente ao BNU). 
O edifício à esquerda albergava na altura o serviço de Correios (construído em 1881 e demolido em 1916) e onde está actualmente o Hotel Metrópole. A palavra Correios em português e chinês está inscrita ao centro desta forma -邮 Correios 局, logo abaixo do símbolo da monarquia portuguesa. 
No edifício à direita funcionou desde a segunda metade do século 19 um hotel que ao longo dos tempos foi tendo vários nomes: Hing Kee Hotel, Macao Hotel (desde 1903), New Macao Hotel (desde 1914) e Hotel Riviera (desde 1928). Encerrou em 1969 e foi demolido em 1971. Por cima de uma das arcadas no piso térreo pode ver-se a placa que identifica o hotel.

 

PS: Em breve publicarei imagens inéditas e exclusivas de Pedro Leong Hing Kee, o homem que mais tempo esteve à frente dos destinos deste hotel, cerca de 25 anos entre o final do seculo 19 e os primeiros anos do século 20.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Ernesto Gherzi (1886-1973): o jesuíta cientista

Nascido em Sanremo, Itália, em 1886, Ernesto Gherzi, foi um padre jesuíta que se dedicou à ciência, em especial aos fenómenos meteorológicos. Viveu a maior parte da sua vida na China (a partir de 1910) tendo uma breve passagem por Macau na década de 1950.
Entrou para a Companhia de Jesus em 1903 em França. Enquanto missionário esteve pela primeira vez na China (Shangai) entre 1910 e 1913 onde deu aulas de Física na Universidade de Aurora (dos jesuítas). Em 1916 foi nomeado sacerdote em Inglaterra . Regressou à China em 1920 onde ficou cerca de 30 anos a trabalhar no Observatório de Zikawei. Nomeado responsável pelas secções de Sismologia e Meteorologia, é de destacar o eficiente sistema de aviso de tufões que ele criou, entre outros notáveis contributos que lhe valeram o reconhecimento da comunidade científica.
Nesta área realce para os seus estudos sobre a natureza dos tufões na climatologia da China onde relacionou as previsões meteorológicas com as mudanças ocorridas nas diferentes camadas da ionosfera. Na sismologia foi pioneiro ao estabelecer uma relação entre a origem dos micro-sismos e as oscilação da pressão atmosférica provocada pelas tempestades.

Serviços de Meteorologia na Fortaleza do Monte década 1960

Em 1949, quando regressava de um congresso nas Filipinas, não foi autorizado a entrar na China cujo regime político mudara entretanto com a subida ao poder do partido comunista. Numa primeira fase ficou em Hong Kong sendo depois convidado para reorganizar os serviços de meteorologia de Macau. O Bispo de Macau era Dom João de Deus Ramalho e o Governador de Macau, Albano Rodrigues de Oliveira. Entre 1950 e 1954 viveu no Seminário de São José e trabalhou como director adjunto do Observatório de Macau.
Ernesto Gherzi com o governador Joaquim Marques Esparteiro (1951-56) e a mulher

Publicou algumas obras relacionadas com os fenómenos meteorológicos de Macau e viu ainda editada, porventura a sua obra maior, os dois volumes de The Meteorology of China, mais de 600 páginas, com milhares de dados e dezenas de mapas.
Depois de Macau passou pelos EUA onde deu aulas nas universidades de Saint Louis e Loyola seguindo depois para o Geophysical Observatory of collége Jean-de-Brébeuf, no Canadá, onde estudou a radiação solar, propagação das ondas rádio, ionosfera, entre outras matérias.
Foi membro da Academia das Ciências do Vaticano (1936) e da Academia das Ciências de Lisboa e Nova Iorque. Morreu a 6 de Dezembro de 1973, no Canadá, com 87 anos.

Deixou mais de uma centena de livros e artigos das quais seleccionei alguns sobre Macau:
- The meteorology of China: Serviço meteorológico, Vol. 1 e Vol. 2. Macau, 1951.
- A ionosfera e o tempo (Ionosphere and weather), and, Aguaceiros em Macau durante a monção de sudoeste (Showers at Macao during the S.W. monsoon), Macau, 1952.
- Note on the forecasting of the times of the maxima and minima temperatures and of the lowest daily relative humidity, Macau 1953.


Em Macau, muito provavelmente nas traseiras do Hospital S. Januário.
Foto AJC, Fonds du Père Ernesto Gherzi, s.j.

Nota: O primeiro posto meteorológico de Macau foi criado em 1900 junto à Ermida da Penha. Em 1904 foi transferido para o antigo fortim de S. Jerónimo, localizado nas traseiras do Hospital do Governo/S. Januário. Só na década de 1960 passou para a Fortaleza do Monte.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Identificar/Datar uma fotografia antiga

Na falta de elementos que me permitissem identificar/datar esta fotografia procurei à lupa e cheguei à conclusão que se trata da Fonte da Vitória. Com o nº 1 assinalei D. José Manuel de Carvalho, bispo de Macau entre 1897 e 1901. Ao lado, com o nº 2, está Eduardo Galhardo, governador entre 1897 e 1901. Não tendo conseguido identificar o evento que proporcionou a fotografia de grupo, posso garantir que se trata da Fonte da Vitória, uma praça circular com 57 metros de raio inaugurada em 1871 e que fazia parte do complexo mais largado que incluía o Monumento da Vitória, inaugurado pouco tempo antes. Esta fonte foi posteriormente mudada para o Jardim da Flora.
A fotografia de grupo - onde estarão certamente membros do Leal Senado - terá de ser do período entre Março de 1898 (o bispo chegou a Macau no dia 1 desse mês) e Março de 1900 (Galhardo deixou de ser governador no dia 23 desse mês). Talvez um evento relacionado com o IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia que se celebrou em 1898.
Monumento e Fonte da Vitória: foto do início do séc. 20

terça-feira, 4 de novembro de 2025

"O Hotel sem igual em Macau"


Publicado nas páginas do jornal O Clarim em 1948 este anúncio ao "Hotel sem igual em Macau" não terá sido dos mais eficazes... Ou talvez fosse. Trata-se do Hotel Carmen e que anos mais tarde viria a denominar-se Pousada Macau Inn. Ficava no nº 1 da Travessa do Padre Narciso na esquina com a Rua da Praia Grande, ao lado do jardim do Palácio do Governo. Uma versão diferente foi publicada posteriormente. (imagem abaixo) 
No nro 1 da Travessa do Padre Narciso está actualmente o The Macau Chinese Bank.
Hotel Carmen no início da década 1950. Foto Angie R.

Curiosidade: hoje em dia existe uma Pensão Carmen na Rua da Madeira.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

"Escola de Piano" em 1894

Este anúncio foi publicado na edição de 25 de Abril de 1894 do jornal Echo Macaense. O autor, Francisco Xavier dos Remédios, informa "que se promptifica a dar lições de piano" aguardando "as ordens no Hotel Boa Vista". 

O hotel começou a funcionar quatro anos antes, em Julho de 1890, tendo sido adquirido por um capitão inglês da marinha mercante à família Remédios, que ali continuou a viver. William E. Clarke comandava o navio Heungshan que fazia a carreira entre Macau e Hong Kong. Francisco (1867-1932) era um dos 10 filhos do casal Maximiano António dos Remédios (1808-1875) e Maria Bernardina dos Remédios (1829-1903), proprietários do edifício construído ca. de 1870 para fins residenciais. Apesar da venda ao inglês a família continuou ali a viver.

domingo, 2 de novembro de 2025

Ballad of a Small Player / Balada de um pequeno jogador

Fundado no final do século 19, o antigo hotel Boa/Bela Vista - residência oficial do Cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong desde 1999 - tem sido 'protagonista' em vários filmes e séries de televisão ao longos dos tempos: Around the World in 80 Days, Return to Paradise, etc. 
O exemplo mais recente é o filme Ballad of a Small Player (2025), protagonizado por Colin Farrel, realização de Edward Berger e argumento de Rowan Joffé baseado no livro de Lawrence Osborne. 


Para além da escadaria e divisões no interior do edifício da segunda metade do século 19, destaco as cenas filmadas na varanda - três imagens acima - onde imperam arcadas estilizadas, colunas e balaustradas. A varanda oferece uma perspectiva sobre dois lados da baía: para o lado norte (onde se pode ver o Hotel Grand Lisboa) e para o Sul, a entrada para o Porto Interior.
Curiosidade: Parte do antigo hotel Boa/Bela Vista foi replicada no actual hotel Grand Lapa no espaço denominado "Café BelaVista". A varanda é copiada quase na perfeição. Os pilares, por exemplo, são diferentes...
Assinalado o pormenor na varanda do edifício original

A 'cópia' no Grand Lapa Hotel

sábado, 1 de novembro de 2025

"Macau Antigo" celebra 17º aniversário

Este mês o blogue Macau Antigo celebra o 17º aniversário. 
Dados estatísticos: Jan - Out 2025 
(da plataforma Blogger)

Janeiro: 40,225
Fevereiro: 41,351
Março: 32,242
Abril: 166,564
Maio: 58,246
Junho: 37,668
Julho: 43,463
Agosto: 46,350
Setembro: 120,837
Outubro: 147,460

Total: 719.783 Pageviews

Com elevados picos de 'audiência' em Abril, Setembro e Outubro, no período de 10 meses (Janeiro a Outubro) o projecto registou uma média mensal de 71.978 pageviews. 2025 foi também o ano em que o projecto ultrapassou a marca dos 3 milhões de visitantes.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

"S.S. Macau" na ponte-cais do porto Exterior

 

A par das 'velhinhas' pontes-cais no Porto Interior, nomeadamente as nros 12 e 16, que serviam de terminal de passageiros nas ligações com Hong Kong e Cantão, a partir de meados da década 1960, passou a funcionar a ponte-cais do Porto Exterior. Com um pouco menos de assoreamento, permitia a acostagem navios de maior calado, e passaria também a ser usada pelos novos hydrofoil e mais tarde os jetfoil.
Construído em 1931 (a carvão) sob o nome de Princess Margaret para operar nos portos do Reino Unido tinha quase 100 metros de comprimento e uma velocidade máxima de 20,5 nós. Em 1952 foi reconvertido para usar óleo e em 1962 foi vendido à Shun Tak Shipping Co. Ltd. que o adaptou para as viagens locais. Entrou ao serviço em Novembro de 1964 estando activo até ao final da década 1980.
O S.S. Macau fazia a ligação com Hong Kong em 2,5 horas (incluindo viagens nocturnas) e tinha capacidade para cerca de mil passageiros. O preço dos bilhetes no "Macau" eram mais elevados do que o dos vapores que atracavam no Porto Interior e demoravam cerca do dobro do tempo na viagem.
O terminal marítimo de passageiros foi uma das contrapartidas exigidas à STDM no âmbito da concessão da exploração em exclusivo do jogo em Macau. Começou por ser uma simples ponte-cais em madeira. A primeira estrutura foi feita por fases tendo ficado pronta já no final da década de 1960. Sempre em constantes obras de ampliação duraria até ao início da década de 1990 quando foi construído um novo terminal. Este seria substituído já no início do século 21.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

"Os Pescadores de Amangau": 1958

"Os Pescadores de Amangau" é um documentário de 1958, com 15 minutos de duração, a cores, sem diálogos e sem narração. Realizado por Miguel Spiguel o documentário retrata a vida dos pescadores de Macau.
Spiguel foi um realizador turco radicado em Portugal depois da Segunda Guerra Mundial. É autor dezenas de documentários e filmes de actualidades, nomeadamente das então colónias portuguesas em África e na Ásia: Índia, Macau e Timor.
Na edição de 4.5.1958 o Notícias de Macau publica uma grande reportagem sobre a exibição do documentário no V Festival Asiático de Filmes que decorreu em Manila (Filipinas).
Notícias de Macau 4.5.1958

Em 2023 o documentário foi restaurado e digitalizado a partir de uma cópia conservada no arquivo da Cinemateca Portuguesa (Museu do Cinema).