terça-feira, 13 de maio de 2025

Emissão selos para Macau: década 1950

Ministério do Ultramar - Direcção Geral de Fomento - Serviços de Valores Postais
Emissão de selos para Macau na década de 1950 executados na Suíça e na Holanda 
 




 Emissão de 1950: "Encerramento do ano santo - Fátima 1951" em 8 colónias portuguesas.
O selo de Macau (ao meio à esq.) tem o valor facial de 50 avos.
Álbum criado na década de 1950

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Quadro de 'Gentiloni' visto ao detalhe

Noutro post já abordei esta aguarela e guache sobre papel que é uma representação de Macau no final do século 18. Vejamos agora com mais detalhe esta obra que faz parte de um conjunto de quatro, cada uma representando uma cidade costeira: Cantão, Whampoa e Zhaoqing e que podem ser vistas no Museu Marítimo de Hong Kong.
Fortaleza de S. Francisco

Ermida da Penha e Fort. do Bomparto
Fortaleza do Monte e Igreja Mater Dei



Estão representadas 10 igrejas (mais a do Seminário de S. José) bem como várias embarcações: na imagem acima uma galera portuguesa e um tancar com vela. Identifiquei como templos chineses o de Lin Fong, perto da Porta do Cerco/Limite, e o de A-Ma, na entrada da barra do Porto Interior.

Templo de A-Ma e Forte de S. Tiago

Hopu (alfândega chinesa) no Porto Interior

Todo o conjunto faz uma representação de uma cidade com muita actividade. Ao centro um grupo de mulheres em passeio; a que está vestida de preto - o dó - está protegido do sol com um chapéu, sendo acompanhado por outras mulheres vestidas de saraça; mais abaixo, corresponde sensivelmente ao actual Largo do Pagode/Rua de 5 de Outubro está representado um mercado e ao lado uma vara de porcos; em vários locais podem ver-se cadeirinhas/liteiras e pessoas transportando cargas com varas de bambú, os chamados tám kón (擔桿)/pinga...

domingo, 11 de maio de 2025

A exposição de Fausto Sampaio em 1937

Em 1936 Fausto Sampaio viaja até Macau a convite do irmão que então ocupava o cargo de Chefe de Serviços de Administração Civil do Território. Durante os treze meses de estadia, organiza uma escola gratuita de desenho e pintura num primeiro andar da Rua do Campo, pinta uma pouco por toda a cidade e faz uma exposição do trabalho realizado.
Lopo Vaz de Sampaio e Melo refere no artigo "A arte ao serviço do império" incluído no livro "Fausto Sampaio: Pintor do Ultramar Português" (Agência Geral das Colónias, 1942) que os artistas locais ficaram impressionados com a presença de Fausto Sampaio em Macau "não só as telas (...) que ali pintou, mas nomeadamente o processo de pintar, as combinações de tintas a efectuar para obter esta ou aquela tonalidade, e a técnica mediante a qual se obtém a ilusão óptica do relevo ou da perspectiva. Cansavam o artista com perguntas e era tal a atenção com que escutavam as suas respostas e com que seguiam a sua maneira de pintar (…)".
Em Macau, Fausto Sampaio deixou o traço impressionista em paisagens, templos, pessoas, costumes, ruas, embarcações... e também começou a assinar os quadros com um pincel de caligrafia chinesa.
O livro referido inclui também um texto de Jaime do Inso. Sobre o quadro "Vista da ilha de Coloane" - imagem acima - escreve: "Macau visto de Coloane, revela-nos um dos aspectos de Macau observado de longe, aspectos que, por vezes, mal deixam suspeitar a existência da cidade, dominada e escondida pelas altas terras da China que a sobrepujam. A velha peça é como um símbolo da nossa soberania numa ilha, onde pela última vez se afirmou, em 1910, a nossa acção ininterrupta, através os séculos, na repressão da pirataria nos mares da China, na campanha de Coloane, em que operaram forças de terra e mar, estas constituídas pela canhoneira Pátria e pela lancha-canhoneira Macau. Um pequeno monumento que há na ilha, comemora aquele feito".
Américo Pacheco Jorge, no artigo "A China que Fausto Sampaio sentiu" (no mesmo livro referido anteriormente) refere:
"A China viu-se maravilhosamente retratada e compreendida e a sua gratidão manifestou-se na forma como foi acolhido o artista. Quando, em Macau, Fausto Sampaio nas suas ruas pintava alguns dos seus quadros, (…) era extremamente consolador para os nossos corações de portugueses, ver a admiração e respeito e o carinho que os chineses lhe testemunhavam. Era como que a expressão do reconhecimento de um povo para com um artista que tão bem o compreendia. E, por isso, a Fausto Sampaio nunca faltaram modelos; e por isso Fausto Sampaio deixou um amigo em cada chinês que o conheceu".

Em 1937 Fausto Sampaio viria expor em Macau, quarenta e duas obras a óleo e seis retratos a carvão. O evento foi inaugurado a 28 de Maio numa das salas do Hotel Riviera (no cruzamento da Av. Almeida Ribeiro com a Rua da Praia Grande - frente ao actual BNU) teve grande afluência do público. 

D. João Mesquitela (1889-1957) - chegado a Macau em 1911 - fala sobre a exposição num artigo publicado na edição de 31 de Maio de 1937 do jornal A Pátria. Por essa altura o jornal publicou vários artigos sobre a mostra, nomeadamente textos de opinião que elogiavam a obra de Fausto Sampaio. Entre os quadros presentes contam-se: "Velho Pescador", "Farmácia China", "Faianças chinas", "Porto Interior", "Beco das Galinhas", "Porcelanas e sêdas", "Fumatório de ópio", "Entrada do Pagode da Barra", "Tancareiras","Ruínas da Catedral de S. Paulo", "Lorchas e Tancares", "Superior da bonzaria", "Velha rua no bairro china", "Rua 5 de Outubro", "Vista da ilha de Coloane", etc...

Excerto do artigo de Mesquitela (imagem ao lado - clicar para ver em tamanho maior) que classifica Fausto Sampaio como um "escultor da arte":

"Metam V. Exas. num cadinho, segredo da côr, golpe de vista, sensibilidade, naturalidade, modéstia, e um sentimento de verdadeiro artista; misturem bem, juntem-lhe uma quantidade, quanto baste, de um relâmpago de génio, deixam que tudo se funda, e vejam o que sai desse cadinho: Fausto Sampaio".

sábado, 10 de maio de 2025

Ilustres desportistas macaenses

Este post foi inspirado num leitor do blogue que me enviou duas fotografias de macaenses que foram futebolistas da Académica de Coimbra.
Dito isto, falemos então de quatro ilustres futebolistas macaenses da primeira metade do século 20: António Maria da Conceição (n. 1910), Vítor Augusto de Sousa (n.1918), Joaquim Pacheco (n. 1926) e Augusto Rocha (n. 1935).

António da Conceição
Nascido em Macau em 1910, António Maria da Conceição foi no território, ainda jovem, atleta de várias modalidades, com maior destaque no atletismo sendo várias vezes campeão pelo Liceu. 
No final da década de 1920 foi para Portugal tirar o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa. No clube do coração, o Sporting, singrou não só no atletismo ( campeão nacional de estafetas 5 x 80m em 1928 e 1930), como também no futebol chegado a alinhar pelas reservas do Sporting. 
Regressado à terra natal em 1939 tornou-se seleccionador e treinador da Selecção de Macau, foi presidente da filial do Sporting para além de professor e jornalista.
Morreu em 1985. Em 1991, pelo seu desempenho em prol do desporto local, foi condecorado a título póstumo com a Medalha de Mérito de Macau.

Sobre Vitor Augusto de Sousa, nascido em Macau em 1918, só tenho a informação que jogou na Académica de Coimbra.
Joaquim Pacheco

Joaquim Pacheco nasceu em Macau a 30 de Março de 1926. Começou por jogar no Argonauta e depois no grupo Desportivo da Polícia de Macau onde esteve entre 1946 e 1949. Um ano depois, em Abril de 1950, recomendado por António da Conceição (dirigente do Sporting de Macau) chegava ao Sporting (de Lisboa) com 24 anos O primeiro jogo, como avançado, foi a a 17 de Setembro desse ano, no Estádio Nacional, frente ao Benfica. A partir de 1952 fixou-se na linha de defesa.
Consta que recebeu convites do Benfica, Desportivo de Lourenço Marques e do Eastern Sports de Hong Kong. 
Jogou oito épocas no Sporting (156 jogos e 8 golos) e foi quatro vezes campeão nacional. Foi chamado uma vez a representar a Selecção Nacional, a 21 de Dezembro de 1957, em Milão, em jogo de apuramento para o Campeonato do Mundo. No final da temporada de 1958/59, com 33 anos, saiu do Sporting e regressou a Macau onde trabalhou muitos anos no Hotel Lisboa. Em 2006 foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria Saudade.
Sporting de Macau 1953/54: Rocha é o 1º da esquerda em baixo

Augusto Rocha nasceu em Macau a 7 de Fevereiro de 1935. Chamavam-lhe “Lou Fu Chai”, o “Pequeno Tigre”, alcunha do pai. Começou a jogar futebol no Negro Rubro em 1952 e na época seguinte transferiu-se para o Sporting de Macau na altura dirigido por António da Conceição que em 1954 será o grande responsável pela ida de Rocha para o Sporting Clube de Portugal.
Rocha era avançado e acabou por não vingar em Alvalade transferindo-se em 1956 para a Académica de Coimbra treinada na altura por Cândido de Oliveira. Em Coimbra teve sucesso a ponto de em 1958 os leões pretenderam contratá-lo de novo (Travassos estava no final da carreira). O que acabou por acontecer mas apenas em treinos já que a transferência não seria concluída. Em Coimbra jogou até 1971 num total de 373 jogos e marcou 59 golos.
Curiosidade:
O Restaurante Lung Wah que abriu em 1976 no nº 155 da Rua Cidade de Poitiers, Monformoso, Coimbra, é propriedade de Augusto Rocha.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Novo recorde de visitantes

No passado dia 7 de Maio o blogue Macau Antigo registou um novo recorde diário de visitantes com um total de 71 mil leitores. 

De acordo com a Blogger - plataforma onde o blogue está alojado - nesse dia a  maioria dos leitores teve origem no Vietname, Singapura, Hong Kong, EUA, Brasil, Macau, Portugal, Países Baixos e França.

Para se ter uma ideia do que este novo recorde representa, recordo que mensalmente o número de leitores do blogue ronda os 30 mil (cerca de mil por dia). Assim, e com apenas nove dias passados no mês de Maio é já certo que haverá um novo recorde de visitantes/mês. Nesta altura já são mais de 100 mil. Grato pela preferência!

quinta-feira, 8 de maio de 2025

D. João de Casal: 1641-1735

Dom João de Casal foi o bispo de Macau de 1690 a 1735, sendo o bispado mais longo da história da diocese (45 anos).
Nascido em Castelo de Vide em 1641 formou-se na Ordem de Santo Agostinho, doutorou-se em Teologia pela Universidade de Évora e foi nomeado bispo de Macau em 1690, com 49 anos. A nomeação foi feita pelo Papa Alexandre VIII a 10 de Abril de 1690. Pouco tempo depois, a 25 de Julho do mesmo ano, foi consagrado bispo em Lisboa, numa cerimónia que contou com a presença de figuras eclesiásticas importantes como o Arcebispo Emérito de Braga, Dom Veríssimo de Lencastre, o Arcebispo de Goa, Dom Agostinho da Anunciação, e o Bispo de Funchal, Dom José Saldanha.
Chegou a Macau em 1692, sendo o primeiro a usar o título de Bispo de Macau. Tomou posse da Diocese de Macau em 20 de Junho de 1692, após um período de cerca de 80 anos em que a diocese havia ficado sem bispo devido às tensões entre Portugal e Espanha
Em 1706 foi provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Durante o seu bispado reorganizou a Diocese e fundou em 1698 o Cabido da Sé, uma medida importante para fortalecer a estrutura administrativa da Igreja local. Durante o seu tempo houve ainda um conflito com o Patriarca Tournon sobre a proibição de certos rituais chineses, levando a um período de tensões e excomunhões entre os diferentes grupos religiosos, com a expulsão dos agostinhos de Macau em 1712 e o regresso em 1721. Em 1715, o Papa Clemente XI, um apoiante de Tournon, emitiu a bula papal "Ex illa die", que condenava os ritos chineses como supersticiosos e incompatíveis com o catolicismo. Em 1720, D. João de Casal  teve que obedecer à bula papal, mediante a realização de um juramento nas mãos do legado papal Mezzabarba, que foi enviado à China para notificar oficialmente o Imperador e a Igreja chinesa sobre a decisão papa.
D. João de Casal exerceu ainda interinamente as funções de governador de Macau em 1735 (tomou posse a 15 de Janeiro), ano em que morreu no território, a 20 de Setembro. Tinha 94 anos. Foi sepultado na Sé, conhecida por Tai Miu Téng” (大廟頂)
Neste esboço - espólio do Museu de Arte de Macau - da autoria de George Chinnery (1774-1852), feito em Macau entre 1825 e 1852, pode ver-se a fachada lateral da igreja da Sé (Igreja da Natividade de Nossa Senhora). O esboço tem como legenda, escrita por Chinnery, "entry of Dr. Watson's house". Trata-se de Thomas Boswell Watson (1815-1860), médico (incluindo de Chinnery) e também pintor. Chinnery chegou a Macau em 1825 e Thomas Watson em 1845. A localização da cruz de pedra pode ser uma 'composição' do pintor inglês.
A cruz de pedra no largo frente à Sé numa foto ca. 1870

quarta-feira, 7 de maio de 2025

"Escola Pública de primeiras letras no Collégio de S. Jozé"

São raros os momentos em que os bens mais preciosos são oferecidos, principalmente a quem deles mais necessita. Por entre todas as riquezas que mais ambicionamos talvez encontremos a arte de ler e escrever.
Consta que, no início do século XIX, o Colégio de S. José, em Macau, tinha falta de mestres, estando assim impedido de cumprir uma das suas mais nobres missões. Ao mesmo tempo, na mesma época, do outro lado do mundo, alguém criava um novo método de ensino, sem professores, e a pensar em todas as crianças que poucos meios possuíam para além dos que garantiam a sua mínima subsistência, fazendo da escola uma miragem.
Joseph Lancaster, na longínqua Bretanha, lançava as sementes de um novo método de ensino que germinava em diferentes terras espalhadas pelo mundo, incluindo a pequena península de Macau.
O Colégio de S. José fez publicar um breve aviso nas últimas linhas, da última página, do jornal de 30 de maio de 1823. Era quase uma breve nota de rodapé que A Abelha da China transportava pela Cidade, um jornal que poucos saberiam ler e muitos, quando o miravam, apenas vislumbravam linhas indecifráveis e colunas que se confundiam com manchas negras sem significado. Eram as últimas linhas de um conjunto de notícias sobre Macau, dirigidas aos que, também no último degrau, aguardavam a oportunidade, quiçá única, de serem os primeiros.
Com este aviso, o Colégio anunciava mais uma tentativa para cumprir a sua missão de ensinar e Joseph Lancaster oferecia o caminho que haveria de ser seguido. No dia 2 de junho, daquele ano de 1823, Macau iria conhecer uma segunda-feira diferente, por certo mais iluminada. Avisavam-se os habitantes da Cidade que iria abrir uma Escola Publica de primeiras letras, recorrendo ao methodo de Ensino Mutuo: um professor ensinava um conjunto de alunos que, por sua vez, levavam a lição a outros alunos, dando origem a uma aprendizagem em cadeia, que procurava chegar a um número, sempre crescente, de crianças.
A escola era aberta a todos os meninos da Cidade, e sem nada contribuir para o Professor, porque o Governo disso se encarregaria. Excecionalmente, cada aluno apenas tinha de contribuir com uma simples pataca no início de cada trimestre, a começar no mês de julho, para suportar as despesas como cartas, papel, &a.. Mas, porque esta simples pataca significava riqueza para muitos, esta exceção tinha, também ela, uma outra exceção: Dos meninos pobres nada se exigirá.
Seguindo os ventos que sopravam do ocidente, aportava a Macau o ensino das primeiras letras, que iria agora chegar a todas as crianças da Cidade. Era o momento que lhes iria oferecer a possibilidade de lerem a sua terra, interpretarem a sua vida e escreverem a sua página no livro do mundo, daquele mundo que as aguardava num futuro próximo.
Texto de Alfredo Gomes Dias publicado na Newsletter de Maio de 2025 da Fundação Jorge Álvares.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Emissão do BNU com referências históricas

No início de 2025 o BNU de Macau colocou a circular novas notas que incluem no design referências históricas, neste caso mapas antigos (do século 17 ao séc. 20). Segundo o banco, o design das notas "foi inspirado na história e evolução de Macau, mostrando o mapa do território durante diferentes eras e gerações". Com diferentes valores faciais, cada nota "conta uma história relacionada com a transformação da cidade, reflectindo a herança cultural única e o significado histórico que Macau representa".
Referência a 1635

Referência a 1780

Referência a 1869

Referência a 1949

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Aguarelas "Camoens Cave": original e cópia

A aguarela acima é do início do século 19 e foi vendida recentemente num leilão. Tem por base uma obra original que Thomas e William Daniell incluiram no livro "A Picturesque Voyage to India by the Way of China", publicado em Londres em 1810 (imagem abaixo). Os dois ingleses estiveram em Macau na década de 1790. Esta ilustração tem uma história muito curiosa que conto numa edição deste ano da Revista de Cultura.

Excerto do livro referido:

"Camoens Cave, Macao: It is delightful to discover in a remote corner of Asia an object like Camoens’ cave, consecrated to the memory of European genius. It is well known that the adventurous bard having too freely indulged his wit in satire, was disgraced by Francisco Barreto, the viceroy of Goa, and banished to Macao. Tradition still preserves some records of his residence. The stranger is still led to the top of the rock where he was accustomed to walk, and where the summer-house is now erected, commanding a view of the harbour of Macao: but it was in this romantic cave that he delighted to spend his leisure hours, forgetting past and present hardships in the luxurious exercise of his imagination. His exile was softened by the kindness he experienced; and he obtained a lucrative appointment, which enabled him in five years to realize a considerable fortune: but, like Spenser, he lost his all in shipwreck; and finally returned to Portugal as poor as he left it. He died at Lisbon in 1679, in his sixty-second year. (...)"

domingo, 4 de maio de 2025

Diário de Bordo do "Earl of Balcarras": 1840

A imagem é a reprodução da capa do diário de bordo do navio "Earls of Balcarras" durante a primeira guerra do ópio entre ingleses e chineses.

Com o conflito iniciado em 1839 vários navios partem de Inglaterra para se juntar à frota inglesa na China. O Earl of Balcarras, da EIC - Companhia Britânica das Índias Orientais - foi um deles. Partiu de Londres em Setembro de 1840 e chega a Bombaim apenas a 25 de Maio de 1841. Em Julho já está junto ao que viria a ser Hong Kong. No diário de bordo o comandante Alexander Bayne regista um tufão:
"(...) one of the severest typhoons ever felt in China, the whole fleet of ships driving about in all directions, some without masts which had been cut away & others flying to the shore as if they were tired of the tempest & there lodging ... on the rocks ... next morning the sight was horrible dead bodies floating about in all directions & several noble ships on shore ... had the typhoon lasted 20 minutes more we would have all been on shore (...)"

"(...)um dos tufões mais severos alguma vez sentidos na China, toda a frota de navios a navegar em todas as direções, alguns sem mastros que tinham sido cortados e outros a voar para a costa como se estivessem cansados ​​da tempestade e ali alojados... nas rochas... na manhã seguinte a visão foi horrível: corpos a flutuar em todas as direções e vários navios na costa... se o tufão tivesse durado mais 20 minutos, estaríamos todos na costa (...)"

Passada a tempestade, a viagem prossegue rumo a Whampoa, uma pequena ilha já muito perto de Cantão:
"(...) moored ship at the new anchorage close by the 1st bar large ships not being able to pass over on account of the Chinese having sunk Junks with stones in them in order to block the passage up so as to make themselves secure from the infuriated Barbarians as they are graciously pleased to call us ... during our stay here we remain in constant dread of the Chinese fearing that they might break their good faith with us but no such thing ... however they had plenty of troops stationed round us to see that we did the same (...)"

" (...) navio atracado no novo ancoradouro junto à primeira barra, os navios de grande porte não conseguiam passar porque os chineses tinham afundado juncos com pedras para bloquear a passagem e se protegerem dos bárbaros enraivecidos, como gentilmente nos chamam... durante a nossa estadia aqui, mantivemo-nos em constante medo dos chineses, temendo que quebrassem a sua boa-fé connosco, mas tal não aconteceu... no entanto, tinham muitas tropas estacionadas à nossa volta para garantir que fazíamos o mesmo (...)"

Earl of Balcarras ca. 1811 - 1488 toneladas

Nesta altura a guerra ainda existia mas só no papel, porque na prática os combates já tinham terminado quase todos. Em Janeiro de 1841 foi assinada a chamada Convenção de Chuenpi, documento em que a China cede a ilha de Hong Kong à Grã-Bretanha. Este acordo seria posteriormente formalizado no Tratado de Nanquim em 1842. Os britânicos tomaram posse formal de Hong Kong a 26 de Janeiro de 1841, hasteando nesse dia a bandeira da Union Jack na ilha de Hong Kong. A zona costeira de Kowloon seria 'conquistada' na segunda guerra do ópio.

sábado, 3 de maio de 2025

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Fotografia na década 1920

Inaugurada em 1918 a Av. Almeida RIbeiro/San Ma Lou depressa se consolidou como 'alternativa' na oferta comercial à Rua Central, concentrando grande parte da oferta da cidade. No caso da fotografia em 11 espaços comerciais, seis estavam localizados nesta avenida que atravessa o centro histórico e liga os portos interior e exterior.
1926

1926
Outros fotógrafos/lojas de fotografia:
Cheang Kei (Rua da Cadeia); Tong Fong (Rua da Palha); Kai Chong (Av. Almeida Ribeiro); Iun Chun (Av. Almeida Ribeiro), Bright Star Studio (Av. Alm. Ribeiro); Meng Hut Ian (Av. Alm. Ribeiro); Iun Sang (Travessa Auto Novo); Lai Va (Largo do Senado); Man Fok (Av. Alm. Ribeiro), Loo Chan (Av. Almeida Ribeiro); Neves Catela.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Antes e Depois: troço da rua do Almirante Sérgio

 

Detalhe da fotografia: viatura com a matrícula M-20-90; placards publicitários de marcas como Sprite, Ice Cream Soda e a conhecida marca de bebida de leite de soja, a Vitasoy (caracteres brancos sobre fundo vermelho) criada em Hong Kong em 1940.
Anúncios semelhantes existiam noutras zonas da cidade: Rua do Campo, Largo do Senado, Av. Almeida Ribeiro, etc..

Troço da Rua do Almirante Sérgio num fotografia de John Hansen em 1967. Junto à estrada, para além das embarcações pode ver-se o processo de secagem do peixe. Do lado esquerdo ficava a ponte-cais nº 5 (da empresa Nam Kwong) e a Fábrica de Águas Gasosas Asia (assinalada na imagem).
Em 2021
Mapa actual da zona