"Ansicht von Macao nebst Camoens Wohnsitz als er die Lusiade schrieb" / "Vista de Macau e da residência de Camões quando escreveu os Lusíadas" é a legenda desta gravura incluída no livro de Gerhard Fleischer publicado em 1802 na Alemanha. A ilustração/gravura feita por Veith tem por base um desenho original de John Weber feito em 1779 (imagens abaixo).
Macau Antigo
A blog about Old Macau 美麗的舊澳門不能不看
sexta-feira, 13 de junho de 2025
quinta-feira, 12 de junho de 2025
"Macau Guide": 1985
Na época os Serviços de turismo ficavam no nº 1 da Travessa do Paiva, mesmo ao lado do Palácio do Governo.
quarta-feira, 11 de junho de 2025
O 10 de Junho e os cartazes de Vitor Marreiros
O designer gráfico macaense Victor Hugo Marreiros (n. 1960) é o autor dos cartazes alusivos ao dia de Portugal em Macau desde 1990. Os trabalhos tem como características comuns a inclusão de símbolos nacionais, portugalidade, de Macau e aspectos alusivos ao ano em curso.
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2004 |
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2025 |
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2017 |
Vitor Marreiros em entrevista ao Hoje Macau em 2017:
"Faço os cartazes do 10 de Junho desde 1990. Fiz primeiro para o Governo de Macau, quando ainda estava no Instituto Cultural (IC), e depois para a comissão organizadora das comemorações do 10 de Junho. Depois, ao fim de uns anos, voltou para o IC e passou a ser feito pelo IPOR. Ao fim de um ano, pelo facto de o IPOR ter decidido fazer um concurso, em vez de me pedir cartazes, deixei de fazer. Mas ainda assim decidi fazer sem encomenda, em 2006, quando fiz um galo de Barcelos para oferecer à comunidade portuguesa. Estava habituado. A Casa de Portugal em Macau soube da história e decidiu apadrinhar o cartaz. Até hoje."
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1990 |
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2024 |
Curiosidade:
A propósito de Victor Marreiros e portugalidade... No hotel MGM em Macau a "Grande Praça", com calçada à portuguesa, é uma réplica de vários edifícios da baixa lisboeta, sendo o edifício a norte, inspirado na fachada da Estação Rossio. Ainda no hotel podem ser vistas diversas obras da autoria do artista macaense, incluindo nos restaurantes de comida chinesa "North" e "South".
terça-feira, 10 de junho de 2025
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
10 de Junho de 1982: carimbo da "1ª Exposição filatélica Macau e Portugal" |
O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é celebrado a 10 de Junho porque essa é a data da morte do poeta Luís Vaz de Camões em 1580. O feriado remonta a 1920. Durante o Estado Novo denominava-se "Dia de Camões, de Portugal e da Raça". A partir de 1978 passou a ser "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas".
Em Macau é desde 1923 assinalada, entre outros eventos, com uma romagem à Gruta de Camões.
1983: ano da emissão deste selo (de 1 pataca) da série Edifícios e Monumentos Postal máximo: fotografia, selo e carimbo sobre o mesmo tema |
No topo do arco da Porta do Cerco a expressão "A Pátria honrai que a Pátria vos contempla", divisa da Marinha portuguesa adoptado em 1863.
Portaria de 20.3.1863:
«Manda Sua Majestade El-Rei declarar ao conselheiro inspector do arsenal da marinha, que sendo muito conveniente estimular por todos os modos os brios patrioticos e os nobres sentimentos, ha por bem ordenar que immediatamente faça apromtar e assentar nos navios que tenham tombadilho no vau d’este, e nos outros no ponto mais visível da tolda, a seguinte inscripção em letras de metal bem visíveis A PATRIA HONRAE QUE A PATRIA VOS CONTEMPLA».
PS: só o navio escola Sagres ainda cumpre esta portaria.
segunda-feira, 9 de junho de 2025
大聲公涼茶 - Tai Sing Kung Chá Medicinal
Ainda existem inúmeras lojas de chá e ervas em Macau e continuam a ser muito frequentadas tal é a popularidade da bebida, seja apenas para refrescar ou por motivos de doença. Do preto ao verde, do branco ao vermelho, a variedade de chás para experimentar é imensa. E nas lojas especializadas os mestres dão conselhos sobre os chás indicados para uma determinada maleita. 公涼茶 é esta a designação em chinês de "chá de ervas".
Década 1980 |
Séc. 21 |
Localizada no nº 1 da Rua da Palha*, a minúscula "Tai Sing Kung - Chá Medicinal" é uma das casas de venda de chá mais antigas do território. Na Rua de cinco de Outubro também existem outras bastantes antigas.
* o topónimo existe desde pelo menos 1868.
domingo, 8 de junho de 2025
sábado, 7 de junho de 2025
Casa de Penhores Pou Sun / Pou San
Classificado como "edifício de interesse arquitectónico", a Casa de Penhores Pou Sun (tb conhecida por Xin Bao) fica no nº 1 da Travessa da Felicidade/Rua Correia da Silva (Governador de Macau*), na Taipa. Em registos da primeira metade do século 20 surge referida com o nome "Pou San". Como era típico destes estabelecimentos tinha uma torre prestamista. Emprestava dinheiro a juros sobre bens penhorados.
Pormenores do aspecto actual após restauro do edifício de três pisos |
當舖 - Pawn Brokers
Postal ilustrado edição ICM década 1980. Foto Eduardo Tomé. |
* Henrique Monteiro Correia da Silva nasceu em Macau a 8 de Dezembro de 1878. Filho do 1.º conde de Paço de Arcos - Carlos Eugénio Correia da Silva, na altura Governador de Macau - é também conhecido como Henrique Paço d'Arcos. Oficial da Marinha de Guerra portuguesa, foi Governador de Macau entre 1919 e 1923. Morreu em Lisboa a 2 de Novembro de 1935.
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Chan Lye Choon: carreira curta mas bem sucedida
Chan Lye Choon (L. C. Chan) estreou-se no Grande Prémio de Macau na segunda edição da prova, em 1955, com um Aston Martin verde (DB3S). Terminou em 4º lugar com problemas no motor.
Em Novembro de 1958 (5ª edição do GP) Chan seria o vencedor com um Aston Martin DB3S (o mesmo da corrida de 1955) em 3h 40m 59s a 61.99 mph (conseguiu a melhor volta em 3m 31.5s.). Voltaria a correr com o mesmo carro em 1959 (15 de Novembro) ficando em 3º lugar. A última partticipação no GP de MAcau deu-se em na edição de 1961, uma prova ganha por Peter Heath, da Tailândia, num Lotus 15.
O vencedor e 1958 a receber o troféu |
revista Autosport de Dez. de 1958 |
1961 |
SGP Lotus Climax: 1961 |
A febre pelo desporto motorizado em Singapura remonta a 1948. O pai de Chan foi um dos fundadores da Eastern Auto Company Ltd que se dedicava à importação de automóveis. É neste contexto que nasce o 'bichinho' pelas corridas. A estreia ocorreu em 1951 e Chan participou em inúmeras provas na região. Tve uma carreira curta. Retirou-se das corridas após a morte do amigo e também piloto, Yong Nam Kee, no Grande Prémio de Johor em 1963. Participou em quatro edições do GP obtendo um primeiro e um terceiro lugar.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Arrendamento do Hotel Boa Vista em 1925
Em Março de 1925 o Governo de Macau anunciava o arrendamento do Hotel Boa Vista à empresa International Traders Limited (de Hong Kong). O contrato tinha a duração de 10 anos e uma caução de 8 mil patacas. Os funcionários públicos tinha direito a 10% de desconto em estadias no hotel.
Numa publicação da época pode ler-se: "Boa Vista Hotel, occupies an ideal situation. Rooms may be reserved at the Metropole Hotel, Hongkong. Rates $ 8 to $ 12 per day." Depreende-se que a empresa mencionada acima era a proprietária do Metropole Hotel em Hong Kong. Nesta altura o outro hotel do tipo ocidental na cidade era o New Macao Hotel, na Praia Grande.
quarta-feira, 4 de junho de 2025
Um pintor genial
Em 1825, faz agora 200 anos, chegava a Macau oriundo da Índia o pintor inglês George Chinnery (1774-1852). Embora seja dado como certo que George Chinnery chegou a Macau a 29 de Setembro de 1825, detectei um documento que poderá colocar em causa esta versão. Num artigo intitulado “Foreign Art in China”, publicado em Janeiro de 1885 no “Journal of the China Branch of the Royal Asiatic Society”, Gideon Nye afirma ter tido nas suas mãos “um esboço da Gruta de Camões no jardim de James Bannerman’ com a inscrição ‘Macau, 11 de agosto de 1825’ […] na conhecida caligrafia do Sr. Chinnery”.*
Para assinalar a efeméride, neste pequeno artigo vou abordar aspectos porventura menos conhecidos de Chinnery relacionados com Macau, a terra onde viveu 27 anos até à morte em 1852.
Nascido em Londres, Chinnery partiu em 1802 rumo a Madras (actual Chennai) deixando a mulher e duas filhas. Na Índia britânica teve o apoio do irmão que trabalhava para a EIC, a Companhia Britânica das Índias Orientais. Foi a elite desta firma e dos demais abastados comerciantes que seriam a fonte de sustento do pintor a quem eram encomendadas obras de arte, sobretudo retratos. Apesar disso, acumulou dívidas e para fugir dos credores procuraria refúgio em Macau. Na época a cidade era um entreposto comercial efervescente onde Chinnery também teve o apoio dos homens de negócios estrangeiros que viviam no território nos meses em que estavam obrigados a sair de Cantão e até de alguns comerciantes chineses.
Em Macau Chinnery viveu no bairro de S. Lourenço, a meio caminho entre o Porto Interior e a baía da Praia Grande. Segundo o próprio, era a paisagem – e não tanto os retratos – que mais o atraíam enquanto artista. Ainda antes de tomar o pequeno-almoço, deambulava pela cidade em busca de um motivo de desenho. Munido de lápis e papel fazia esboços com inúmeras anotações que depois, já no atelier que tinha em casa, transformava em desenhos a tinta-da-china, aguarelas ou óleos sobre tela (onde sobressarem as cores em tons vibrantes). Tudo num traço ímpar que muitos tentaram imitar.
Autor profícuo, Chinnery produziu milhares de obras e, contrariando a lei da oferta e da procura, ainda hoje muitas são leiloadas por milhares de euros. Em 2006 uma conhecida leiloeira inglesa vendeu um caderno com cerca de 200 esboços feitos em 1836-37 por mais de 300 mil libras!
As obras de Chinnery são uma autêntica janela para um passado longínquo onde a fotografia era ainda incipiente. Os primeiros registos fotográficos que se conhecem feitos em Macau datam de 1844.
Quando morreu em Macau em 1852, com 78 anos, Chinnery deixou para a posteridade milhares de registos iconográficos de Macau que são uma preciosa fonte de informação para a história do território na primeira metade do século 19. O templo de A-Ma, as ruínas de S. Paulo, as inúmeras enseadas no Porto Interior, as várias igrejas e fortalezas da cidade e a baía da Praia Grande estão entre os motivos mais conhecidos da sua vasta obra que inclui ainda múltiplas reproduções de cenas do quotidiano. Entre os motivos menos conhecidos contam-se registos iconográficos únicos. Só para mencionar alguns exemplos, refiro o pelourinho do Largo do Senado, a igreja Mater Dei antes e poucos dias após o fatídico incêndio de 1835 (vulgo Ruínas de S. Paulo), a igreja e mosteiro de S. Francisco (demolidos em 1864), a fachada de estilo rococó da igreja de Santo Agostinho, a igreja da Santa Casa da Misericórdia, etc...
*Original: "before us (…) a sketch of ‘Camoens Cave in the Garden of James Bannerman, Esq., Macao’, dated ‘August 11 1825’, (…) in the well-known hand writing of Mr Chinnery".
Pequeno artigo da minha autoria - correspondendo a um pedido da FJA - publicado na Newsletter da FJA em Junho de 2025.
terça-feira, 3 de junho de 2025
Recorde de leitores
No passado mês de Maio o blogue Macau Antigo registo o melhor registo mensal de sempre com um total de 166.564 visitantes. Ainda de acordo com a plataforma onde o projecto está alojado - Blogger - em Maio, a maioria dos leitores era oriunda do Vietname, Singapura, EUA, França, Hong Kong, Brasil, Portugal, Macau e Alemanha.
Criado em Novembro de 2008 o blogue tem até agora mais de 6 mil publicações e está muito perto de atingir os 3 milhões de visitantes, consolidando-se como o maior acervo online sobre a história de Macau.
segunda-feira, 2 de junho de 2025
"Just arrived and for sale"
Anúncio publicado numa edição do Boletim da Província de Macau em Timor em Setembro de 1870. Entre os produtos anunciados para venda estão champanhe, cerveja, vinho, brandy e charutos.
Não se refere a morada da firma A. Muller localizada na "Praya Grande". Mas num directório de 1876 fica-se a saber que ficava no nº 75: "A. Müller & Co. - naval and general store keepers and commission agents. 75, Praya Grande."
Muller tinha sido sócio de J. H. Smith que também teve um espaço comercial nesta morada. Corresponde sensivelmente à actual localização do BNU.
domingo, 1 de junho de 2025
Tarrafeiro: enseada, bairro, mercado, rua, beco...
Rua e Beco do Tarrafeiro são topónimos em Macau desde pelo menos 1868. A origem do termo “tarrafeiro” remete para o pescador que utilizava uma “tarrafa” - rede de pesca circular, de malha fina, com pesos na periferia e um cabo fino no centro, pelo qual é puxada - muito popular em Macau.
O traçado da Rua do Tarrafeiro vai desde o Porto Interior até à Praça de Luís de Camões/Largo da Igreja de Santo António. Nas imediações ao longo dos tempo foi crescendo um núcleo habitacional.
No Boletim da Província de Macau e Timor de 13.1.1868 pode ler-se: "As obras publicas tem andado ultimamente activas na extremidade do Patane a fim de communicar o bairro de Santo Antonio, o Tarrafeiro e a Palanchica, com aquella localidade acabando com o immundo labyrintho de beccos e travessinhas que tornavam impossivel a viação publica n'aquelle importante districto da cidade. Na extremidade do Patane foi ainda lançada uma ponte sobre o canal para se não interromper a estrada marginal."
No final de 1868 foi inaugurado um teatro chinês na zona. A 7 de Dezembro de 1868 o Boletim da Província de Macau e Timor informa que "O theatro novo erigido ao Tarrafeiro deu na sexta feira á noite a sua primeira representação. O theatro está bem arranjado e é muito espaçoso."
No "Diccionario Popular", publicado em 1880, Manuel Pinheiro Chagas escreve:
"Alem dos bairros christãos em torno tres freguezias ha bairros chinezes como são o Basar, o Basarinho, Tarrafeiro, Barra e os bairros de Patano e Monghá. Ahi a população chineza agglomera.se por forma que cada casa é um verdadeiro formigueiro."
José dos Santos Vaquinhas, major e segundo comandante da guarda policial de Macau em 1883 e sócio correspondente da sociedade de Geografia de Lisboa refere nesse ano:
"Do lado do porto interior está a margem toda corrida de muralha tendo se ultimamente conquistado ao rio uma enseada no sitio do Tarrafeiro que hoje se acha aterrada n'uma area de 20 000 metros".
Adolpho Loureiro, um relatório de 1884 confirma a dimensão do aterro nesta zona:
"(...) as modificações que têm soffrido os contornos da peninsula são pouco importantes limitando-se do lado da Praia Grande á con stucção de um pequeno reducto na ponte de S Francisco e a alguns lanços de muralha; e do lado do porto interior a conquista de um pequeno terreno de 20 000 m2 na enseada do Tarrafeiro, lamentando com muita razão que neste muro de caes se tivessem estabelecido quatro rampas salientes de alvenaria que funccionam como esporões e perturbam o livre curso das marés."
Era de facto uma zona com grande densidade populacional e sem as mínimas condições de higiéne. No relatório de 1895 sobre a peste bubónica em Macau o médico J. Gomes da Silva refere:
"(...) a grande maioria da população chineza habita justamente a planicie marginal onde se comprehendem os bairros de Mom ha, Sa kom, Lontinchin, San kiu, Tarrafeiro, Bazar, Bazarinho e Barra. Nenhum d'estes bairros é susceptivel de melhorar as suas condições hygienicas por uma boa canalisação destinada a receber toda a especie de excreta. Faltam-lhes duas condições essenciaes à proficuidade do systema: inclinação sufficiente e agua em abundancia." (...) Notavel coincidencia que referirei de passagem o bairro do Tarrafeiro populoso como é e a respeito do qual se levantou o primeiro boato de peste em Macau, foi dos sitios mais poupados depois pela epidemia que só fez em todo o bairro 6 víctimas."
No recenseamento de 1896 refere-se a existência de 29 casas na Rua do Tarrafeiro e cerca de 180 habitantes, todos chineses. Já no Beco do Tarrafeiro existiam 5 fogos habitados por 38 chineses.
A forte concentração populacional fez com que também na zona do Tarrafeiro surgissem pequenos mercados, primeiro de forma improvisada e depois com algum tipo de construção por iniciativa do Leal Senado. É desses tempos remotos que hoje se fala do "Antigo Mercado do Tarrafeiro, localizado na Travessa das Galinholas e na Travessa do Alpendre", referindo-se à única marca física que resta desse espaço, um dos dois pórticos que lhe dava acesso.
Acesso à Travessa das Galinholas pela Rua de 5 de Outubro
As origens do mercado do Tarrafeiro remontam provavelmente ao final do século 18. Da documentação que sobreviveu até hoje temos as referências “Mercado Simão” e “Mercado Kong Iec” e destinava-se sobretudo à venda de peixe fresco.
Manuel Simão dos Santos era mercador e no final do século 18 (1771) elaborou um relatório sobre o comércio local destinado à coroa portuguesa. Kong Iec Kai SI (significa mercado de caridade) Um dos primeiros exploradores do mercado foi APong (Peng Yu), vice-comandante do governador das províncias de Guangdong e Guangxi. O alargamento do espaço ocupado para as vias públicas levou o Leal Senado a ordenar a extinção do mercado em 1884 sendo os vendedores transferidos para o mercado municipal que ficava perto do Templo de Hong Chan Kuan na Rua de Cinco de Outubro. Em 1907, face ao estado de ruína dos antigos edifícios do mercado, a Direcção das Obras Públicas intimou o proprietário, Chou-sin-hyp, a demolição e reconstrução. Nesse mesmo ano o proprietário apresentou um projecto de reconstrução cuja obra foi concluída em Janeiro de 1909. É nessa altura que são edificados dois pórticos (actualmente resta apenas um) que delimitavam o espaço e assinalavam as entradas pela Travessa das Galinholas e pela Travessa do Alpendre. No pórtico - pode ver-se numa fotografia no início da década de 1920 - estavam os carateres chineses 公益街市 que correspondem a Kông Yêk Kai Si.
O mercado funcionaria até Janeiro de 1928, altura em que fechou devido às más condições de salubridade.
Nota: este post resulta da investigação sumária que fiz sobre o assunto a pedido de uma estudante universitária em Macau.
sábado, 31 de maio de 2025
O sino da igreja de Santa Clara
Recorro a um texto de Monsenhor Manuel Teixeira (A Voz das Pedras) para referir o sino do campanário da igreja de Santa Clara que, segundo monsenhor, era o mais antigo de Macau, com origens no século 17. Manuel Teixeira conta que no seu tempo o sino estava ao abandono no jardim (do antigo convento de Santa Clara) "junto a um cruzeiro centenário"...
"Pobre sino! Ele ali está há dezenas de anos, ao canto de um jardim, junto a um cruzeiro tricentenário, ao sol, à chuva e ao vento, sem que ninguém lhe deite a mão e o recolha num albergue, ou seja, num museu. Eu saúdo-o todos os dias , às 6h30, pis ali o encontro sempre no jardim de S. Clara, antes da minha missa na Igreja do Convento. Merecia melhor sorte, pois é o mais antigo sino de Macau, como se vê das inscrições que o rodeiam.
Aro pro nobis Beata Mater Clara
O chinês que alterou a primeira palavra, escrevendo aro por ora. Quer dizer:
Roga por nós Mãe S. Clara
No meio lê-se: "Ano D. 1674."
No fundo, a toda a volta: "Francisco Tavares o fes por mandado do muito R.e Pe. Consº Fr. Manoel da Madalena"
Frei Manuel da Madalena de Lampreia era natural de Macau, e descendia dos duques de Aveiro; foi várias vezes guardião ou superior do Convento de S. Francisco e em 1674 era comissário das clarissas. Quanto a Francisco Tavares, deve ser irmão de Jerónimo Tavares Bocarro, mestre de fundição de artilharia da Índia e capitão de artilharia de Goa, do Hábito de Cristo. Francisco e Jerónimo devem ser filhos do fundidor Manuel Tavares Bocarro e netos de outro fundidor, Pedro Dias Bocarro. Manuel Bocarro era natural de Goa e trabalhou em Macau como fundidor de canhões, sinos e âncoras de 1625 a 1656; de 1657 a 1664 foi capitão-geral, ou seja, governador de Macau."
A igreja de Santa Clara foi construída em 1634 (logo após a construção do mosteiro) e reconstruída em 1827 e 1936. Localizada ao lado do Colégio de Santa Rosa de Lima e no interior deste espaço afastado da rua e sem acesso público é uma igreja que pouca gente conhece. Imagens de diferentes épocas podem ser vistas aqui.
Curiosidade: É muito semelhante à Igreja de Nossa Senhora da Assunção localizada em Taiwan.
sexta-feira, 30 de maio de 2025
Comércio do Chá em Maio de 1878
Canton: Messrs Deacon and Co's Market Report says: - Congous: During the past fortnight some further transactions in New Teas have taken place, and market settlements and private contracts are estimated at 2,700 boxes. Prices have ranged from Tls 23 to 30 and at these rates there seems to be a fair demand for Teas Shipments from this port and Macao amount to about 6,500 boxes. Later arrivals bear out the opinion expressed in our last report regarding the quality of the crop; the Teas are decidedly preferable in appearance and out turn than those of the previous season but in liquor they are generally deficient in strength and flavour; at the present range of prices the Teas may be considered fully one tael dearer than settlements at the commencement of last season. Shipments to date are: March 21, ss Amazone 7,770 lbs; March 23, ss Ajax 4,494 lbs; March 28, ss Khiva 12,542 lbs"
in The London and China Telegraph 20.5.1878
quinta-feira, 29 de maio de 2025
"Barbearia Filipina": anúncio de 1922
O anúncio é de 1922. Nesta época o gerente da conhecida "Barbearia Filipina" era Cornélio Banhares. Localizada no nº 71 da Rua Central - a artéria predominantemente comercial da cidade que passava então a ter a 'concorrência' da Av. de Almeida Ribeiro - a barbearia, como era hábito na época, não se dedicava apenas ao corte de barba e cabelo como também vendia cigarros e charutos.
quarta-feira, 28 de maio de 2025
História do túmulo de um português em Pequim
Emil Bretschneider (1833-1901), sinólogo de origem báltico-germânica, assina a autoria de um artigo na edição The China Review vol. 6 (1877-1878) intitulado "Portuguese from Macao in Peking in the First Quarter of the 17th Century". Na altura Emil era médico-cirurgião da legação russa em Pequim (1866-1883).
O artigo é sobre o túmulo do português João Correa (Correia), que, morreu por acidente em 1624, devido à explosão de uma peça de um dos quatro canhões que Macau enviou ao Império Ming - em guerra com os tártaros - respondendo ao pedido de auxílio feito pelo próprio imperador. Emil recorre ao livro "Relação da Grande Monarquia da China", escrito pelo padre Álvaro Semedo (1585-1658) e publicado em 1642 para explicar a história do túmulo. Em 1645 já tinha sido traduzido para francês (foi esta versão que Emil consultou) e em 1655 para inglês.
No artigo Emil transcreve o que estava inscrito no túmulo (em português arcaico):
“Qqui descança Joao Correa que com ontros seis Portuges no An 1624 vierao de Macao xeste Pekin llamados del Rei Tien-ki pera naren aos Chinas quzoda arfelharia com que morreo coolne huy rega que aerebe love poz orde del rei foe eneste lugar seruta.”
Numa tradução/adaptação para português actual:
"Aqui descansa João Correa (Correia), que com outros seis portugueses no ano de 1624 vieram de Macau a Pequim chamados pelo Imperador Tien-Ki (天啓 1621-28) para ensinar aos chinas o uso da artilharia com que morreu Correa de uma peça que rebentou e por ordem do Imperador foi neste local sepultado."
A pedra sepulcral (túmulo) seria destruída na guerra dos boxers em 1900 e os ossos foram removidos para uma nova sepultura. Este novo local seria descoberto a 11 de Julho de 1940 por dois religiosos lazaristas, Chala Maia e José Van Den Brandt, no cemitério de Ching Lung Chiao de Pequim.
Publicidade ao The China Review - onde se refere o artigo de Emil - publicada na edição de 17.5.1878 do jornal de Hong Kong, The China Mail. |
No artigo - escrito em jeito de carta ao editor - Emil escreve:
"Permit me to send you a copy taken from an ancient inscription of the year A.D. 1624, found on the gravestone of some Portuguese, who died in the Chinese capital and have been buried near the western wall of Peking in a small Christian cemetery, whioh, though long since abandoned as a place of interment, still belongs to the Catholio mission. This cemetery, not to be confounded with the so-called Portuguese cemetery, situated about two miles further northward, is easily found, for it lies nearly opposite the British cemetery, on the other side of the stone road leading from the Sipien gate to the P'ing-tze gate. It is known under the name of (caracteres chineses) Ts'ing-lung k'iao, which is properly the name of a bridge on the stone road near the places mentioned.
The monument erected on the tomb of the aforesaid Portuguese is a simple square stone about two feet high. The inscription on it is in Portuguese and in part difficult to be deciphered. One of the Lazarist mis sionaries in Peking has had the kindness to copy it for me. Although among the European residents at Peking there is no one who is acquainted with the Portuguese language, we can however understand in a general way that the inscription refers to a certain Correa and six other Portuguese, who had come from Macao to Peking by order of the Chinese Emperor, and that they died there in the year 1624. But unhappily the words explaining for what purpose they had been called to Peking and how they died, are not well preserved on the monument. I leave it therefore for readers acquainted with the Portuguese language to till up the inscription, but may venture here to suggest, that probably these Portuguese had been invited to cast cannon, as the Chinese government (Ming dynasty) at the time here spoken of was at war with the Manchoos. It is not without interest to notice, that among the Chinese Catholics at Peking there is a tradition, that the foreigners here buried had been poisoned and perished on the same day.
The inscription reads as follows: “Qqui descança Joao Correa que com ontros seis Portuges no ko 1624 vierao de Macao xeste Pekin llamados del Rei Tien-ki Sera naren aos Chinas quzoda arfelhariaf com que morreo ocolne huy rega que aerebe love poz orde del rei foe eneste lugar seruta.”
I have not been able to find any direct corroboration for the facts here recorded either in the records of the ancient Jesuit missionaries or in Chinese books, but on turning over the pages of Semedo’s History of China I met with some interesting accounts referring to the relations between the Portuguese at Macao and the Chinese Court in the first quarter of the 17th century. As Semedo’s History of China is quite a rare book now, may be allowed to copy from it the pages referring to the Portuguese intercourse with China.
Pater Alvarez de Semedo was bom in Portugal 1585, he arrived in China 1613 and died at Macao 1658. It appears from his book that about 1621 he resided at Peking. He wrote his memoirs about 1635. His book seems to have been originally written in Italian, as appears from the French translation I quote and of which I shall give here the whole title, as it does not agree with the accounts given of Semedo’s works in Mess. P. and 0. von Moellendorffs Manual of Chinese Bibliography."
Emil recorre à tradução francesa - “Histoire universelle du grand Royaume de la Chine oomposee en Italien par le P. Alvarez Semedo, Portugais, dela Compagnie de Jesus et traduite en notre langue par Louis Coulon P. Divisee en deux parties. A Paris MDCXLV. Sebastien Cramoisy.” - e inclui no artigo vários excertos da obra para contextualizar a ida dos canhões para Pequim.
Conclui afirmando que confirmou em fontes chinesas a versão do padre Semedo: "Semedo’s records are corroborated in the Chinese annals, for we read in the Ming his tory (see my translation China Review, IV., p. 393) that during the reigns of T'ien ki (1621-28) and Ch'ung cheng (1628-44) men from Macao came to the capital, and as they proved to be very clever in military arts, they were employed in the war in the northeast (against the Manchoos)."
terça-feira, 27 de maio de 2025
Sugestões para visitar museus
O bom tempo convida a uma ida à praia mas para quem não aprecia aqui fica uma sugestão diferente. Aproveitar o tempo livre para visitar museus em Portugal que incluem no espólio colecções relacionadas com a Ásia, nomeadamente sobre Macau.
Em Lisboa a oferta inclui espaços como o Museu do Oriente, Museu da Farmácia (imagem acima), Museu de Marinha, Palácio Nacional da Ajuda, Museu Nacional de Etnologia, Museu do CCCM, Jardim Botânico Tropical (imagem abaixo), Museu Medeiros de Almeida, etc...
Fora de Lisboa, sugiro uma visita ao Horto de Camões (Constância) - imagem abaixo, Portugal dos Pequeninos (Coimbra), Museu dos Fósforos (Tomar), Museu do Ar (Alverca e Pêro Pinheiro), Museu/Fundação Eça de Queirós (Tormes), etc...
Para quem está em Macau não falta oferta museológica: Museu de Macau, Museu de Arte de Macau, Museu do Grande Prémio, Casa Cultural do Chá, Museu Marítimo, Casa do Mandarim, Museu da História da Taipa e Coloane, Núcleo museológico da SCM, Museu dos Bombeiros, Museu das Comunicações, Museu de Arte Sacra e Cripta, Museu das Forças de Segurança, Casa de Penhores Tak Seng On, Casa de Lou Kao, Casa Memorial Dr. Sun Iat Sen, etc...
segunda-feira, 26 de maio de 2025
The Portuguese Overseas Province Of Macau
The Portuguese Overseas Province Of Macau - conjunto de 4 postais ilustrados com texto em inglês e japonês. Edição da década 1960.
"Macau is just 40 miles from Hongkong island - but he distance can also be measured in centuries. This is the oldes European settlement in the Orient, founded shortly by the firts Portuguese explorers reached China in 1513. Today it wears the monuments of its glorious, and somestimes tempestuous past like precious jewels. Rococo churches, fortresses bristling with cannon, winding coble-stone streets lined with stucco houses in greens, blues, pinks and lined lavenders; these are the essence of Macau, the gentle quiet way of life that speaks more of the siesta thant the lunch-hour rush of other Asian cities".
Uma fotografia das Ruínas de S. Paulo é a capa deste conjunto de postais ilustrados acompanhados de um pequeno texto em inglês e japonês, a pensar nos turistas que visitavam Macau na época. Entre aos postais estão fotografias da Ermida da Penha, Hotel Estoril, Gruta de Camões e Fortaleza do Monte.
Tradução/Adaptação:
"Macau fica a apenas 64 quilómetros da ilha de Hong Kong — mas a distância também pode ser medida em séculos. Este é o mais antigo povoado europeu do Oriente, fundado pouco depois de os primeiros exploradores portugueses terem chegado à China em 1513. Hoje Macau ostenta os monumentos do seu passado glorioso, e por vezes tempestuoso, como jóias preciosas. Igrejas rococó, fortalezas repletas de canhões, ruas sinuosas com pedras de calçadas ladeadas por casas de estuque em tons de verde, azul, rosa e lilás: tudo isto é a essência de Macau, o estilo de vida tranquilo e pacífico que lembra mais a sesta do que a correria da hora do almoço de outras cidades asiáticas."
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