Em 1936 Fausto Sampaio viaja até Macau a convite do irmão que então ocupava o cargo de Chefe de Serviços de Administração Civil do Território. Durante os treze meses de estadia, organiza uma escola gratuita de desenho e pintura num primeiro andar da Rua do Campo, pinta uma pouco por toda a cidade e faz uma exposição do trabalho realizado.
Lopo Vaz de Sampaio e Melo refere no artigo "A arte ao serviço do império" incluído no livro "Fausto Sampaio: Pintor do Ultramar Português" (Agência Geral das Colónias, 1942) que os artistas locais ficaram impressionados com a presença de Fausto Sampaio em Macau "não só as telas (...) que ali pintou, mas nomeadamente o processo de pintar, as combinações de tintas a efectuar para obter esta ou aquela tonalidade, e a técnica mediante a qual se obtém a ilusão óptica do relevo ou da perspectiva. Cansavam o artista com perguntas e era tal a atenção com que escutavam as suas respostas e com que seguiam a sua maneira de pintar (…)".
Em Macau, Fausto Sampaio deixou o traço impressionista em paisagens, templos, pessoas, costumes, ruas, embarcações... e também começou a assinar os quadros com um pincel de caligrafia chinesa. O livro referido inclui também um texto de Jaime do Inso. Sobre o quadro "Vista da ilha de Coloane" - imagem acima - escreve: "Macau visto de Coloane, revela-nos um dos aspectos de Macau observado de longe, aspectos que, por vezes, mal deixam suspeitar a existência da cidade, dominada e escondida pelas altas terras da China que a sobrepujam. A velha peça é como um símbolo da nossa soberania numa ilha, onde pela última vez se afirmou, em 1910, a nossa acção ininterrupta, através os séculos, na repressão da pirataria nos mares da China, na campanha de Coloane, em que operaram forças de terra e mar, estas constituídas pela canhoneira Pátria e pela lancha-canhoneira Macau. Um pequeno monumento que há na ilha, comemora aquele feito".
Américo Pacheco Jorge, no artigo "A China que Fausto Sampaio sentiu" (no mesmo livro referido anteriormente) refere:
"A China viu-se maravilhosamente retratada e compreendida e a sua gratidão manifestou-se na forma como foi acolhido o artista. Quando, em Macau, Fausto Sampaio nas suas ruas pintava alguns dos seus quadros, (…) era extremamente consolador para os nossos corações de portugueses, ver a admiração e respeito e o carinho que os chineses lhe testemunhavam. Era como que a expressão do reconhecimento de um povo para com um artista que tão bem o compreendia. E, por isso, a Fausto Sampaio nunca faltaram modelos; e por isso Fausto Sampaio deixou um amigo em cada chinês que o conheceu".
Em 1937 Fausto Sampaio viria expor em Macau, quarenta e duas obras a óleo e seis retratos a carvão. O evento foi inaugurado a 28 de Maio numa das salas do Hotel Riviera (no cruzamento da Av. Almeida Ribeiro com a Rua da Praia Grande - frente ao actual BNU) teve grande afluência do público.
D. João Mesquitela (1889-1957) - chegado a Macau em 1911 - fala sobre a exposição num artigo publicado na edição de 31 de Maio de 1937 do jornal A Pátria. Por essa altura o jornal publicou vários artigos sobre a mostra, nomeadamente textos de opinião que elogiavam a obra de Fausto Sampaio. Entre os quadros presentes contam-se: "Velho Pescador", "Farmácia China", "Faianças chinas", "Porto Interior", "Beco das Galinhas", "Porcelanas e sêdas", "Fumatório de ópio", "Entrada do Pagode da Barra", "Tancareiras","Ruínas da Catedral de S. Paulo", "Lorchas e Tancares", "Superior da bonzaria", "Velha rua no bairro china", "Rua 5 de Outubro", "Vista da ilha de Coloane", etc...
Excerto do artigo de Mesquitela (imagem ao lado - clicar para ver em tamanho maior) que classifica Fausto Sampaio como um "escultor da arte":
"Metam V. Exas. num cadinho, segredo da côr, golpe de vista, sensibilidade, naturalidade, modéstia, e um sentimento de verdadeiro artista; misturem bem, juntem-lhe uma quantidade, quanto baste, de um relâmpago de génio, deixam que tudo se funda, e vejam o que sai desse cadinho: Fausto Sampaio".