A notícia da revolução dos cravos em Portugal chegou em primeira mão a Macau através da BBC (via Hong Kong). Na imprensa escrita foi preciso esperar mais dois dias... por causa da censura e das distâncias. No dia 26 os jornais Notícias de Macau e Gazeta Macaense ainda vieram para a rua sob o singo do antigo regime... a censura local actuava a partir dos envios das agências ANI e Lusitânia que chegavam com muito atraso. Só a imprensa de Hong Kong não deixava passar o acontecimento em claro.
A 27 de Abril de 1974, ainda com censura, os jornais locais aludem à vitória do MFA e ao novo personagem que emerge na cena política nacional, o general Spínola.
Da Junta Militar de Salvação Nacional, composta por 7 elementos, 3 tinham passado por Macau antes: Jaime Silvério Marques (antigo Gov.), Costa Gomes (tinha sido Chefe do Estado Maior em Macau) e Rosa Coutinho (a bordo do Gonçalves Zaro fizera comissão em Macau na década de 60).
Ao nível do governo local, a revolução não poderia ter surgido em pior altura. O Gov. Nobre de Carvalho enviara poucos dias antes uma mensagem de apoio a Américo Thomáz e Marcelo Caetano. Numa viragem de 180 graus, o mesmo gov. envia uma nova mensagem, deste vez, de apoio à Junta de Salvação Nacional. Rezam as crónicas que só Graciete Batalha, vogal da assembleia legislativa, se recusou a assinar a mensagem, devido a esta incongruência.
Ao continente chinês o "Diário do Povo", órgão oficial, noticia o evento somente a 28 de Abril, numa página interior, a nº 6, e sem direito a fotografia, com o título "golpe de estado em portugal". Sem grandes alaridos, claro está, já que o regime comunista apoiava os diversos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas em África.
Refira-se que o 25 de abril ocorre em plena revolução cultural chinesa (1966-1976) onde terão morrido 2 milhões de chineses.
Spínola vai manter no cargo de Gov. o general Nobre de Carvalho mas por pouco tempo. A informação é enviada por telegrama pelo último ministro do Ultramar, Rebello de Sousa, a 29 de Abril.
Sem comentários:
Enviar um comentário