Antes do Café Ruby, nos anos 50, o ponto de encontro dos militares da Metrópole era o Café Cecília, situado na R. Pedro Nolasco e propriedade da família Quevedo da Silva. Lá comia-se um bom bife com batatas fritas e tomava-se um bom vinho tinto. Na época, os jovens macaenses preferiam o Café Imperial...
Na década “dourada” de Macau – os anos cinquenta do século passado – um dos “ornamentos” da cidade era, para o bem e para algumas maldades inconsequentes, a profusão de fardas de caqui dos militares do exército português. Os oficiais, sargentos e praças, classes bem distintas e compartimentadas, depois das suas obrigações de serviço cumpridas, espalhavam-se pelos quatro cantos do burgo e tinham sítios certos como pontos de encontro.
Para encontrar “todo o mundo” servia o Largo do Leal Senado e a Avenida Almeida Ribeiro, mas para um determinado tipo de interesses comuns a grupos mais ou menos restritos havia os Cafés e Restaurantes. Eram autênticas “tertúlias” onde o estar e conversar se sobrepunha ao comer e beber.
Um desses lugares de eleição, para praças e alguns sargentos, era o Restaurante Cecília, situado na parte mais alta da Rua Pedro Nolasco da Silva, logo a seguir e do lado contrário ao Hospital de S. Rafael, para quem vai da Rua do Campo.
Era propriedade da família Quevedo da Silva e o nome do estabelecimento vinha da filha mais velha, a D. Cecília, que era funcionária pública e só lá aparecia de vez em quando. Tal como um irmão Roberto que andava na marinha mercante.
O “Papá e a Mamã” (era assim que eram tratados pelos frequentadores) geriam com infinita paciência o negócio de comidas e bebidas retintamente portuguesas. O cliente mais ilustre e estimado da casa era o senhor Padre Sarmento.
Ao cair da tarde apeava-se do “riquexó”, tirava o seu capacete de “caçador de leões” e, enquanto saboreava o chá, conversava com a rapaziada evidenciando uma jovialidade digna de inveja. Divertia-se imenso a desmontar e contrapor os subentendidos maliciosos das conversas dos mais atrevidos que o acicatavam, só para o ouvir.
A Fina (Delfina) tomava conta da escrita, um tanto trabalhosa porque a maior parte da clientela utilizava o “aponta’í” e pagava no fim do mês. Além disso escolhia a música ambiente (era mais Pat Boone que Elvis Presley) e aturava, com uma delicadeza muito própria e dissuasora, os dichotes da meia dúzia de paixões serôdias que eram conhecidas e “gozadas” pela malta.
O maior acontecimento do restaurante foi a aquisição e instalação da primeira “mesa de matraquilhos” em toda a Ásia. (O Guiness não regista o facto, mas aqui fica o testemunho para a posteridade). Não é só para que conste que trago os “matraquilhos” à conversa.
Os outros dois irmãos da Fina, o Johny (João) e o Tchito (Gilberto), na altura jovens estudantes, em pouco tempo tornaram-se imbatíveis naquele jogo. Apareciam os maiores “craques”, campeões da Mouraria e arredores, com truques complicados e anos de treino na Feira Popular de Lisboa, e levavam cada “cabazada”!!!
A sua táctica consistia em fazer perder a paciência aos impetuosos adversários e, com a habilidade característica do “seu lado chinês”, empurrar a bola de mansinho para o golo. Bons tempos, meus amigos… Que saudades!!!
Para encontrar “todo o mundo” servia o Largo do Leal Senado e a Avenida Almeida Ribeiro, mas para um determinado tipo de interesses comuns a grupos mais ou menos restritos havia os Cafés e Restaurantes. Eram autênticas “tertúlias” onde o estar e conversar se sobrepunha ao comer e beber.
Um desses lugares de eleição, para praças e alguns sargentos, era o Restaurante Cecília, situado na parte mais alta da Rua Pedro Nolasco da Silva, logo a seguir e do lado contrário ao Hospital de S. Rafael, para quem vai da Rua do Campo.
Era propriedade da família Quevedo da Silva e o nome do estabelecimento vinha da filha mais velha, a D. Cecília, que era funcionária pública e só lá aparecia de vez em quando. Tal como um irmão Roberto que andava na marinha mercante.
O “Papá e a Mamã” (era assim que eram tratados pelos frequentadores) geriam com infinita paciência o negócio de comidas e bebidas retintamente portuguesas. O cliente mais ilustre e estimado da casa era o senhor Padre Sarmento.
Ao cair da tarde apeava-se do “riquexó”, tirava o seu capacete de “caçador de leões” e, enquanto saboreava o chá, conversava com a rapaziada evidenciando uma jovialidade digna de inveja. Divertia-se imenso a desmontar e contrapor os subentendidos maliciosos das conversas dos mais atrevidos que o acicatavam, só para o ouvir.
A Fina (Delfina) tomava conta da escrita, um tanto trabalhosa porque a maior parte da clientela utilizava o “aponta’í” e pagava no fim do mês. Além disso escolhia a música ambiente (era mais Pat Boone que Elvis Presley) e aturava, com uma delicadeza muito própria e dissuasora, os dichotes da meia dúzia de paixões serôdias que eram conhecidas e “gozadas” pela malta.
O maior acontecimento do restaurante foi a aquisição e instalação da primeira “mesa de matraquilhos” em toda a Ásia. (O Guiness não regista o facto, mas aqui fica o testemunho para a posteridade). Não é só para que conste que trago os “matraquilhos” à conversa.
Os outros dois irmãos da Fina, o Johny (João) e o Tchito (Gilberto), na altura jovens estudantes, em pouco tempo tornaram-se imbatíveis naquele jogo. Apareciam os maiores “craques”, campeões da Mouraria e arredores, com truques complicados e anos de treino na Feira Popular de Lisboa, e levavam cada “cabazada”!!!
A sua táctica consistia em fazer perder a paciência aos impetuosos adversários e, com a habilidade característica do “seu lado chinês”, empurrar a bola de mansinho para o golo. Bons tempos, meus amigos… Que saudades!!!
Texto de José A. S. Neto
Nota: enviado por Carlos Charlie Santos que acrescenta: "O amigo Zé Neto comete apenas um pequeno equívoco.... menciona a Cecília como a irmã mais velha da família, quando, na verdade, a irmã mais velha da família Quevedo da Silva é a minha mãe, Maria Quevedo."
Grupo de Militares em Dezembro de 1955
Admiro imenso este blog. Admiro também todo o seu trabalho e paciência para nos presentear com o "passado" que só através destas fotos e postais podemos imaginar e recrear. Vivo em Macau desde 1992. Como era diferente do que é hoje, e... que saudades das hortas da Taipa...
ResponderEliminarObrigada por mostrar estas belas pérolas do passado, bem haja pelo seu excelente trabalho. Abraço.
Olá Irene, chegou a Macau pouco depois de eu partir de regresso a Portugal depois de quase 10 anos. Não bebi da fonte do Lilau (já não existia...) mas fiquei para sempre ligado a essa terra... a minha segunda pátria.. ou "mátria". Bem haja!
ResponderEliminarQue bom haver quem se dedique a fazer-nos lembrar coisas de Macau antigo. Não sei a história do restaurante Cecília, mas estou a vê-lo comi lá algumas vezes a 1ª no dia 12 de Maio de 1956, jantei como meu marido e filhos,o dia em que cheguei a Macau. Tantas saudades
ResponderEliminarE não quer partilhar essas suas memórias?
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