domingo, 31 de julho de 2022

Macau no final da década de 1930

(...) Macao is extremely picturesque. The public and private buildings are gaily painted and the streets are kept very clean. In the town there are several places of interest. The Gardens and Grotto of Camões once the resort of the celebrated Portuguese poet Camões are worth seeing its also are the noble façade of the ancient Jesuit church which used to form a part of the college of San Paulo burnt in 1835 and the Avenida Vasco da Gama.
The crusading ardour of the Portuguese in all their voyages of discovery in the East is evidenced at Macao by the large number of Churches which still exist. The Cathedral is a large plain structure having no architectural pretensions and the various parish churches are stucco edifices simple without and unassuming within.
Owing to its being open to the south west breezes and to the quietude always prevailing Macao has become a frequent retreat for invalids and business men from Hongkong and other neighbouring ports and there are several good modern hotels. (...)
Fish fresh and preserved is the principal article of export as well as fire crackers tobacco and preserves. Essential oils tea and matting are also exported to some extent. Brick and cement works and other factories have been established . (...)
Another reclamation scheme has in the mean while been commenced by the filling in of a large part of the old Praia Grande Bay as the means for the linking of the old town with the reclamations of the Outer Harbour. (...)
The need for good drinking water has long been felt for the Colony's supplies of water bave all been obtained from Lappa Island and from wells within the Colony and latterly iņ very small quantities from a reservoir constructed at Guia Hill. A concession has been granted by the Municipal Council for the supply of portable water Expert engineers were invited to draw up a comprehensive scheme and the works were put in hand in November 1932. Upon completion of the Company's scheme the colony will be supplied with an abundance of water. (...)
The new Macao Shekki motor road started in 1928 has been completed. (...)
The installation of automatic telephones was inaugurated in December 1929. The Hongkong Canton and Macao Steamboat Company and it Chinese Company maintain a regular service between Macao and Hongkong and there is regular service also between Macao and Canton.
(...) Macao is connected with Hongkong by telegraph and wireless. The population of Macao with its dependencies of Taipa and Colowan is, according to the Census taken in 1927, Chinese 152,738, non Chinese mostly of Portuguese extraction 4,437 a total of 157,175~. Macao is garrisoned with Portuguese troops.
in The Directory and Chronicle for China, Japan, Corea, Indo-China, Straits ..., 1938
(...) Macau é extremamente pitoresco. Os edifícios públicos e privados são alegremente pintados e as ruas são mantidas muito limpas. Na cidade existem vários locais de interesse. Os Jardins e a Gruta de Camões, outrora estância do célebre poeta português Camões, merecem uma visita, a fachada nobre da antiga igreja jesuíta que fazia parte do colégio de São Paulo incendiado em 1835 e a Avenida Vasco da Gama .
O ardor dos portugueses nas suas viagens de descoberta no Oriente é evidenciado em Macau pelo grande número de igrejas que ainda existem. A Sé é uma grande estrutura plana sem pretensões arquitectónicas e as várias igrejas paroquiais são edifícios de estuque simples por fora e despretensiosos por dentro.
Devido à sua abertura às brisas de sudoeste e à constante tranquilidade, Macau tornou-se um refúgio frequente para inválidos e homens de negócios de Hong Kong e outros portos vizinhos existindo vários bons hotéis modernos. (...)
O peixe fresco e seco é o principal artigo de exportação, assim como o tabaco, os panchões e fogos de artifício. Óleos essenciais e chá também são exportados em certa medida. Existem fábricas de cimento e de tijolos e outras fábricas. (...)
Uma grande empreitada foi recentemente iniciada com o aterro de grande parte da antiga Baía da Praia Grande estando também planeada a ligação da cidade velha com a zona do Porto Exterior.
A necessidade de água potável é sentida há muito tempo, pois o fornecimento era feito a partir da Ilha da Lapa e com recurso a poços no território e a um pequeno reservatório construído na colina da Guia. A concessão deste serviço foi entretanto concedida pelao Senado e engenheiros especialistas foram convidados a elaborar um esquema mais abrangente (leia-se Reservatório do porto Exterior) com as obras a serem iniciadas em Novembro de 1932. Quando estiver pronto fica resolvido o problema do abastecimento de água. (...)
A construção de uma estrada entre Macau e Shekki, iniciada em 1928, foi concluída. (...)
A instalação de telefones automáticos foi concluída em Dezembro de 1929. A Companhia de Barcos a Vapor do Cantão de Hong Kong e Macau e a uma companhia chinesa mantêm um serviço regular entre Macau e Hong Kong e existe também serviço regular de transporte de passageiros também entre Macau e Cantão. (...)
Macau está ligado a Hong Kong por telégrafo sem fios. A população de Macau com as suas dependências da Taipa e Coloane é, de acordo com o Censo de 1927, de 152.738 chineses, 4.437 de origem não chinesa, num total de 157.175. Macau está guarnecido com tropas portuguesas.
Algumas curiosidades referidas nesta edição:
Em 1938 - era governador Tamagnini Barbosa - o padre Manuel Teixeira era o "encarregado" da capela de S. Tiago da Barra e "pároco" da igreja de S. Lourenço. Os principais advogados eram Adolfo Jorge, Luiz Nolasco e Damião Rodrigues. O Liceu ostentava o nome de "Liceu Nacional de Luiz de Camões". A Po Man Lau e a San Kwong eram as papelarias/livrarias de referência. 
O BNU surge assim referido:
Banco Nacional Ultramarino / Tai sai yong hoi ngoi fan cuck ngam hóng
Endereco Telegraphico Colonial
Vasco Freire Themudo de Vera era o gerente. Pedro José Pereira o contabilista e Ed. de Sena Fernandes o 'caixa'.
A mercearia A Portuguesa ficava na Rua do Campo. A "Tabaqueria Filipina" já funcionava na Av. Almeida Ribeiro (junto ao Cinema/teatro Apollo). S. Wada era o único dentista do tipo ocidental referido com consultório no nº 2D da Rua Central.
O Hou Hing Dancing Club, imagine-se o vanguardismo para a época, ficava no topo do edifício do Hotel Central.
A empresa F. Rodrigues era alvo de grande destaque no directório.

Um dos hotéis mencionados era o Hotel Riviera. "First class up to date Hotel. Praia Grande"
Na Avenida Almeida Ribeiro ficava a grande atracção das tarde e noites de Macau, o Hotel Central que entre a vasta oferta disponível tinha um salão de dança (o Riviera também tinha) com orquestra:
Hou Hing Dancing Club 
Every Night Dancing Refreshments Bar and Best Partners Central Hotel Top Floor 
Era gerente C. H. Cotton que, curiosamente, era também gerente da empresa Central Radio Service (electrodomésticos).
Havia também o Hotel Boa Vista (na época passou a chamar-se Bela Vista).
Numa altura em que a procura de automóveis aumentava havia a Auto-Palace e a Garage Lusitania. como principais vendedores. A Moderna e a Popular era as duas farmácias  do tipo ocidental.

sábado, 30 de julho de 2022

Rolo/Pergaminho "Landscape of Macau Island"

Com 3,18 metros de comprimento e 30 centímetros de largura esta pintura em rolo  de papel retrata uma paisagem de Macau no período do reinado de Qianlong (1736-1796). 
Faz parte do espólio do Museu da Universidade Nacional de Singapura, Singapura e é muito provavelmente a mais antiga e maior pintura de paisagem de Macau no século 18.
Feito no estilo tradicional chinês, quase se poderia considerar um mapa topográfico em forma de pintura, mas o que é na verdade é uma obra de arte.
Não sendo um especialista na matéria, remeto-me para uma interpretação o mais objectiva e nesse aspecto realço o facto do autor - desconhecido e muito provavelmente chinês - ter incluído as várias muralhas da cidade, as inúmeras igrejas católicas (incluindo a Mater Dei) , alguns templos (não consegui detectar o de A-Ma...), embarcações típicas chinesas e algumas fortificações.
Macau é visto tendo o Porto Interior em primeiro plano e do lado direito a baía da Praia Grande
A baía da Praia Grande

Igreja Mater Dei e Colégio de S. Paulo (à esq.)

Zona da Porta do Cerco e Ilha Verde

sexta-feira, 29 de julho de 2022

"Journal of a Voyage from Calcutta to China": 2ª parte

 Tradução para português do post de ontem...


"Passamos pelas ilhas de Linting e Lantau e ancoramos junto a Macau por volta do meio-dia do dia 20 de setembro. Um grande grupo de nós desembarcou carregando a nossa bagagem, totalizando cerca de cem pacotes. Ao chegarmos à água rasa sobre a qual nosso barco era grande demais para prosseguir, fomos cercados por várias sampanas, os barcos comuns do país. Eram inteiramente tripulados, se assim se pode dizer, por mulheres. (...)
Ao verem desembarcar pessoas e bagagens gritaram 'Kumshaw', 'Kumshaw', que sendo interpretado significa o mesmo que nossa frase indiana 'bukhshish'... generosidade. Mas a nossa atenção foi desviada da feira suplicante por um clamor ainda maior que surgiu da disputa entre as autoridades chinesas e portuguesas a respeito do direito de nos taxar.
A ilha de Macau pertence nominalmente aos portugueses, mas o poder dos mandarins ainda é muito considerável. Este último sempre teve o hábito de impor um dever arbitrário a todas as mulheres e carga desembarcada na alfândega, pelo que os portugueses davam instruções para que todos os passageiros e encomendas fossem enviados à chegada à Alfândega Portuguesa, no porto interior para evitar qualquer imposição por parte dos chineses. (...)
Há duas tabernas em Macau, uma perto do local onde desembarcamos, e outra cerca de trezentos metros à direita numa rua que dá acesso ao Campo; a primeira estava cheia de marinheiros, capitães e aventureiros de todas as nações; a outra estava felizmente desocupada e foi imediatamente tomado pelo nosso grupo. Quanto a mim, tive a sorte de encontrar amigos na Fábrica Inglesa, ou Albany, como é chamada.
A cidade de Macau está situada numa bela pequena baía, que se diz ser uma miniatura da Baía de Nápoles; de facto, ao comparar imagens dos dois, não é difícil imaginar a semelhança. Várias colinas que dominam a cidade em diferentes direcções são coroadas com fortes, igrejas ou conventos, aumentando muito o efeito da vista geral.
As casas são todas construídas no estilo peculiar dos portugueses. As ruas são pavimentadas e estreitas e as igrejas são numerosas, como na maioria das cidades católicas.
Dizem que há nada menos que dezasseis, dos quais a franciscana, situada na extremidade da baía é a mais bonita e a de São Paulo a mais antiga.
Na primeira está um retrato de São Francisco Xavier, aparentemente executado com um chapéu vermelho (...); na última, há um relógio que se diz ter sido enviado por Luís XIV, como presente aos jesuítas.
Macau não é propriamente uma ilha, embora seja geralmente designada assim, embora esteja ligada a outra ilha de nome diferente por uma estreita garganta de terra ou istmo com quatrocentas ou quinhentas jardas de comprimento. Na sua extremidade, os chineses construíram um muro, além do qual, se algum aventureiro ou diabo estrangeiro ousasse invadir, dificilmente escaparia sem ser bem ferido com pedras batidas com bambus e provavelmente roubado.
Este istmo é o único espaço plano dentro dos limites de Macau, excepto o campo de Cricket, que foi recortado na encosta de uma colina. O resto da Ilha, é uma sucessão perpétua de colinas e vales, pelo que há pouco espaço para exercícios equestres, embora alguns dos moradores sejam extravagantes o suficiente para manter cavalos. A ilha tem cerca de três milhas de comprimento por uma de largura.
As colinas, como já referi, são numerosas, elevando-se a uma altura considerável e em muitas partes bem arborizadas. (...)
A vista do cume de algumas das colinas é muito bonita. De um lado o oceano azul estende-se em tranquila majestade cravejado por uma centena de ilhas que se erguem a diferentes distâncias, em diferentes formas e tamanhos, pontilhadas por uma centena de velas brancas deslizando na superfície lisa das águas. Do outro lado, vê-se a cidade de Macau e todas as suas igrejas repousando nos valeso, apoiadas pelas montanhas escuras e altas das ilhas da Lepra. (...)
Macau orgulha-se de poucas atracções, sendo a principal a Gruta de Camões, situada num belo jardim anexos a uma casa que se chama por excelência A Casa. A caverna, que não é caverna, está situada no cume de uma pequena colina encravada num pequeno bosque e consiste em três enormes rochas negras com cerca de quatro metros quadrados. Uma estende-se por cima das outros duas, formando assim uma espécie de arco com cerca de um metro e meio de largura. Passando por este entra-se num pequeno espaço desimpedido rodeado de árvores onde existem bancos de pedra romanticamente dispostos.
No cume da rocha que se ergue sobre os outros dois blocos foi construído um pequeno anfiteatro que permite uma vista para quase todas as partes da ilha. A tradição conta que Camões costumava vir a este local depois das fadigas dos negócios. Neste local, diz-se que escreveu grande parte de Os Lusíadas e, verdadeiramente, a reclusão do local e a beleza da vista devem tê-lo tornado uma cena bem adaptada para a realização de sua fantasia laboriosa.
A admiração dos portugueses pelo poeta levou à colocação do seu busto na gruta e o local é mantido naquela reverência e santidade poética (...)
A outra atracção digna de nota é o Aviário do Sr. Beale. Foi lá que vi pela primeira e provavelmente última vez na vida uma Ave do Paraíso viva e em plena plumagem - uma visão tão bela quanto rara e quase digna de si mesma para ser o único objeto de uma viagem à China. Aqueles que viram apenas o pássaro empalhado podem ter apenas uma vaga ideia da beleza do original vivo. O olho está além de tudo, rico e brilhante, o pavão em plena plumagem é talvez o pássaro mais bonito e gracioso da criação, mas pode-se dizer que o pássaro do paraíso é o mais adorável pelas suas características peculiares: extrema delicadeza e suavidade. (...)
O aviário é muito extenso e contém uma imensa variedade de belas aves (...) As belas pinturas chinesas de pássaros em papel de arroz que são exportados para venda são retratos dos originais emplumados desta coleção.
Há outras duas atracções nas redondezas de Macau que, no entanto, não visitei, a saber, uma grande pedra de rocha que está debaixo de água em movimento perpétuo e o túmulo de São Francisco Xavier, o Apóstolo das Índias situado nas ilhas contíguas. (...)
A Fábrica Inglesa é chamada de Albany. São alojamentos muito confortáveis ​​e para os ocupantes possuem o charme adicional de não se pagar renda. 
Os edifícios das repartições públicas estão a cerca de trezentos ou quatrocentos metros de distância no centro do cais. São constituídos principalmente por uma grande sala de jantar, uma biblioteca, uma capela e salas de bilhar. As paredes destes, como de todos os outros edifícios da praia, são construídas com uma espessura excessiva para lhes permitir resistir à violência dos tufões. Em 1818 Macau foi visitado por um tufão formidável, o pavimento do cais foi arrancado, as casas fortemente afectadas e as pedras, telhas e barro foram soprados para dentro da cidade e diz-se que a espuma do mar foi transportada trinta milhas para o interior do continente, causando grandes danos às árvores e à vegetação. (...)"

quinta-feira, 28 de julho de 2022

"Journal of a Voyage from Calcutta to China": 1ª parte

Os diários de bordo dos navios que sulcaram os mares do Sul da Ásia e que por norma faziam escala em Macau são uma fonte preciosa de informação em termos históricos.
Para o post de hoje seleccionei excertos de um desses diários, neste caso o de uma viagem ocorrida em 1827 entre Calcutá e a China. Tem como título "Journal of a Voyage from Calcutta to China" e foi publicado na época no "The Quarterly Oriental Magazine, Review, and Register" (de Calcutá).
Entre outros detalhes, destaco a descrição da Gruta de Camões, os aposentos para viajantes na Praia Grande, a Porta do Cerco e o aviário do Sr. Beale que entre as dezenas de pássaros tinha um exemplar raro do Pássaro do Paraíso. São registos raros de como era Macau no primeiro quartel do século 19...

Alfândega chinesa de Macau. Ilustração incluída no livro Ou-Mun-Kei-Leok


"We passed the Islands of Linting and Lantow and anchored in the Macao roads about noon on the 20th September. A large party of us went on shore together carrying with us our baggage amounting in all to about a hundred packages. On our reaching the shallow water over which our boat was too large to proceed we were surrounded by a number of sampans, the common boats of the country. They were entirely manned, if it may be so said, by women. (...)
Upon landing our persons and baggage they lifted up their voices and cried 'Kumshaw', 'Kumshaw', which being interpreted signifies the same as our Indian phrase 'bukhshish' anglice largess. But our attention was drawn from the supplicating fair by a still greater clamour which arose from the wrangling of the Chinese and Portuguese authorities with respect to the right of squeezing us.
The Island of Macao belongs nominally to the Portuguese, but the power of the Mandarins is still very considerable. The latter had always been in the habit of imposing an arbitrary duty upon all women and bandboxes landed at the Chophouse stairs in consequence of which the Portuguese issued directions that all passengers and packages should on their arrival be sent to the Portuguese Custom house in the inner harbour so that all imposition on the part of the Chinese might be avoided. (...)
There are two taverns at Macao, one close to the place where we landed, and the other about three hundred yards to the right in a street leading to the Campo; the first was filled with shippies, skippers, mates & c of country Ships sundry Yankies and adventurers of all nations;  the other was fortunately unoccupied and was immediately taken possession of by our party. For myself I was fortunate in finding friends among the English Factory with whom I accordingly took up my quarters at the Albany as it is called.
The town of Macao is situated in a beautiful little Bay, which is said to be a miniature resemblance of the Bay of Naples; indeed in comparing pictures of the two it is not difficult to faney a likeness. Several hills which overlook the town in different directions are crowned with forts churches or convents adding greatly to the effect of the general view.
The houses are all constructed in the peculiar style of the Portuguese. The streets are paved and narrow and the churches are numerous, as in most catholic towns.
There are said indeed to be no less than sixteen of which the Franciscan situated at the extremity of the Bay is the handsomest and St Paul's the oldest.
In the first is a picture of St Francis Xavier apparently executed with a red hat and doubtless holy Poker; in the latter is a clock said to have been sent out by Louis the XIVth, as a present to the Jesuits.
Macao is not strictly speaking an Island of itself though generally termed so at least it is connected with another Island of a different name by a narrow gut of land or isthmus which is four or five hundred yards in length. At the futher extremity of it the Chinese have built a barrier wall beyond which if any adventurous Fauqui or foreign devil should dare to trespass he would scarcely escape without being well bruised with stones thumped with bamboos and probably robbed into the bargain.
This isthmus is the only level space within the limits of Macao, except the Cricket ground, which has been cut out on the side of a hill the rest of the Island for such we will still call it is a perpetual succession of hill and hollow so that there is little room for equestrian exercise though some of the residents are extravagant enough to keep horses for the name of the thing. The Island is about three miles long by one broad.
The hills, as I have before observed, are numerous rising to a considerable height and in many parts well wooded It is therefore an admirable place for pedestrians for the lovers of long walks and of scrambling up the precipices of Heaven kissing hill & c
The view from the summit of some of the hills is very beautiful. On one side the blue ocean spreads itself in tranquil majesty studded by a hundred isles rising at different distances in different forms and different sizes dotted by a hundred white sails gliding to and for over the smooth surface of the waters. On the other, you look down upon the town of Macao and all it's churches reposing in the vale beneath, backed by the dark and lofty mountains of the Leper isles. (...)
Macao boasts of but few lions, the principal one is the Cave of Camoens situated in some very pretty gardens attached to a house which is called par excellence The Casa. The cave, which is no cave, is situated on the summit of a small hill embosomed in a little wood and consists of three huge black rocks about fourteen feet square. One lays across on the top of the two others thus forming a sort of arch or passage about four feet wide. Passing through this you enter a small clear space surrounded with trees where there are stone seats erected for the romantically disposed.
On the summit of the rock which stands upon the two other blocks a small room or bungalow has been built which commands a view of nearly all parts of the Island. To this spot tradition relates that Camoens was wont to resort after the fatigues of business and relax his mind in the cultivation of his muse. In this spot he is said to have written a great part of the Lusiad and truly the seclusion of the place and the beauty of the view must have rendered it a scene well adapted for the accouchement of his laboring Fancy.
The admiration of the Portuguese for their poet has placed his bust in the passage or cave as it is termed abovementioned and the spot is held in that reverence and poetical sanctity (...)
The next lion worthy of remark is the Aviary of Mr Beale. It was there that I saw for the first and probably last time in my life a bird of Paradise alive and in full plumage_a sight as beautiful as rare and almost worthy of itself to be the sole object of a trip to China. Those who have only seen the stuffed bird can have but a faint conception of the beauty of the living original. The eye is beyond every thing rich and brilliant the peacock in full plumage is perhaps the handsomest and most graceful bird in creation but the bird of Paradise may be said to be the loveliest for it's peculiar features are extreme delicacy and softness. (...)
The Aviary is very extensive and contains an immense variety of beautiful birds. (...) In the garden Mr Beale has constructed a large wire or trellis work cage which encloses two or three small trees and a spring of water so that the birds have the advantage of fresh air and are at the same time protected from the sun by the shade of the branches and from thirst by the cool beverage of the well. The beautiful Chinese paintings of birds on rice paper which are exported for sale are portraits of the feathered originals of this collection.
There are two other lions in the neighbourhood of Macao which however I did not visit viz, a large rockingstone which being under the water is in perpetual motion and the tomb of St Francis Xavier, the Apostle of the Indies situated on of the contiguous Islands the very earth of which is held sacred by the Portuguese and believed to possess the miraculous power of healing alike the diseases of the mind and those of the body one.
The English Factory the batchelor portion at least live in a row of buildings facing the Sea which is called the Albany. They are very comfortable quarters and to the occupants possess the additional charm of there being no rent to pay for them.
The public rooms are about three or four hundred yards distant in the centre of the quay. They consist principally of a large dining room, a library, a chapel and billiard rooms The walls of these, as of all the other buildings on the beach, are built exceedingly thick to enable them to resist the violence of the Typhoons. In 1818 Macao was visited by a most formidable one the pave ment of the quay was torn up the houses unroofed and the stones tiles and mud were blown over into the town and it is said that the spray of the sea was carried thirty miles inland of the continent of course causing great injury to the trees and vegetation. (...) 

terça-feira, 26 de julho de 2022

Primórdios do Rotary Club

A ideia de criar um Rotary​ Club​ em Macau surgiu no final da década de 1930 mas por causa do agudizar da guerra sino-japonesa a ideia foi sendo adiada à espera de melhores dias.
No final da segunda guerra mundial Henrique Nolasco Júnior partiu de Macau e participou numa reunião do Rotary de Hong Kong. Pouco tempo depois, era fundado o Rotary Club de Macau. 
Para além de Henrique, entre o grupo de 36 elementos fundadores contam-se nomes como o advogador Adolfo Aldroado Jorge, o professor Lara Reis e Arthur Woo. A primeira reunião oficial ocorreu a 11 de Janeiro de 1947. Num jantar no restaurante Fat Siu Lau (junto à Rua da Felicidade) são eleitos os primeiros corpos sociais. O clube local viria a ser reconhecido oficialmente pelo Rotary International a 16 de Junho de 1947 com o número 6662 passando a fazer parte do District 57 que incluía ainda as delegações de Hong Kong, Kowloon e Taiwan.
Nas décadas seguintes as reuniões regulares do Rotary Clube de Macau tiveram lugar no Hotel Rivera e o jornal Notícias de Macau publicava sempre com grande destaque o que se passava nesses encontros.

Notícias de Macau: 24 Maio 1951:
notícia sobre reunião semanal do Rotary Club

Actualmente o Rotary Club de Macau actual faz parte do District 3450 que inclui ainda Hong Kong, Mongólia e Cantão.
Um das obras mais significativas dos primeiros anos de actividade foi a abertura da Clínica Lara Reis (actual sede da Cruz Vermelha). Um dos sócios fundadores do Rotary local, Lara Reis deixou em testamento a sua casa, a vivenda Sol Poente (na Av. da República) à Santa Casa da Misericórdia mas seria o Rotary Club a transformar o espaç no primeiro centro e luta anti-cancerosa do Sul da China a 15 de Abril de 1951
O Rotary tem actualmente mais de um milhão de associados e foi criado no início do século XX. A 23 de Fevereiro de 1905, Paul P. Harris, advogado de Chicago criou o primeiro Rotary, “um lugar onde profissionais com conhecimentos distintos poderiam trocar ideias e fazer amizades significativas e duradouras”. O nome surgiu da prática inicial de fazer um rodízio das reuniões entre os escritórios de cada associado.
No Distrito 3450, de que Macau faz parte, estão registados actualmente 72 clubes, sendo os mais recentes os que surgiram na província de Cantão (desde 2013). No território existem seis clubes: Rotary Club de Macau (fundado em 1947), Rotary Club de Hou Kuong (1978), Rotary Club de Macau Central (1984), Rotary Club da Guia (1993), Rotary Club das Ilhas de Macau (1997) e Rotary Club da Amizade (2003)
, Rotary Club da Penha e Rotary Club da Pérola Oriental.


Membros fundadores do RCM em 1947 ano do reconhecimento oficial
Rotary Club of Guia: 1993

Na imagem acima pode ver-se o governador Albano Rodrigues de Oliveira num encontro do Rotary Club de Macau em 1948 no restaurante do hotel Riviera. O hotel, demolido na década de 1970, ficava na Av. Almeida Ribeiro, frente ao BNU. Imediatamente antes um envelope timbrado do RCM circulado em 1953.
O Rotary Club comemorou recentemente o 75º aniversário em Macau.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

"The China Pilot" (1861)

Macao Harbour
Macao, a Portuguese settlement in China stands on a small peninsula projecting from the south east end of the island of Macao on the south west side of the entrance of Canton river. The peninsula is nearly 2 miles long and less than a mile wide at its broadest part and is connected with the island by a low narrow sandy isthmus across which extends a barrier wall to exclude foreigners from the interior of the island.
The town is built on the declivities round the harbour, the shore beneath being embanked, so as to form a marine parade backed by a terrace of white houses. (...)
The harbour is formed between the peninsula and the large island of Patera to the westward. Its entrance is narrow but the depths are 26 feet at low water close to fort San Iago which is built on the east point and from thence the soundings are 21 and 20 feet along the eastern shore to the town.
Pilots
The river pilots are procured at Macao and each receives a chop from the residing mandarin to deliver to the officer stationed at the Boca Tigris describing the force of the ship and to what nation she belongs
in The China Pilot: The Coasts of China, Korea and Tartary; the Sea of Japan (...), 3ª edição, Londres, 1861
Nota: imagem não incluída no livro referido que trata sobretudo de indicações sobre navegação náutica; trata-se de uma pintura a óleo - do século 19 de autor anónimo - com uma vista da baía da Praia Grande.

domingo, 24 de julho de 2022

"Sciences et Voyages": Abril 1955

Bernard-Philippe Groslier (1926-1986) assina o artigo "Macao, la portugaise de Chine" na edição de Abril de 1955 da conceituada revista francesa Sciences et Voyages". 
Criada em 1919 a Sciences et Voyages durou até à década de 1970. Intitulava-se na altura como "revista de reportagem documental ilustrada".
Na capa uma foto de uma movimentada Rua de S. Paulo com a fachada das Igreja Mater Dei (Ruínas de S: Paulo) ao fundo.
O autor do artigo sobre Macau era um académico com vasta experiência e conhecimentos sobre a presença portuguesa e espanhola na Ásia desde os tempos dos descobrimentos. Viveu durante muitos anos no Camboja.

Curiosidade: Macau foi um tema muitas vezes abordado neste título tendo sido motivo de capa várias vezes, incluindo na década 1930.

sábado, 23 de julho de 2022

Afonso Correia

Afonso Correia foi um funcionário público. Pertenceu ao quadro do Ministério do Ultramar e esteve vários anos em Cabo Verde (fez a primeira viagem em 1912) antes de rumar a Macau  em 1948 onde exerceu funções na Repartição da Fazenda e Tesouraria até 1954. No território foi um dos fundadores do Círculo Cultural de Macau. Na faceta de 'jornalista', escreveu e publicou inúmeras crónicas no jornal "Notícias de Macau", incluindo o teor das palestras proferidas em Portugal sobre Macau - por exemplo, no Rotary Club de Viseu em Outubro de 1952. O essencial do que foi publicando seria editado dois livros:
"Macau terra nossa - solar de Portugal no Oriente", Imprensa Nacional de Macau (INM), 1951; e "Um céu e três mundos", INM, 1954.

Excertos:
A ti, Macau, antes de pôr fim a esta pobre inscrição, quero dizer-te mais algumas palavras de amizade:
Nasceste, promissora e feliz, sob o ideal protector, próprio necessariamente de quem crê, da Santíssima Trindade. “Santo Nome de Deus” é o teu lema dignificador e eternizante. Não sei porque nem como, mas descobri, na tua vida, no teu ser, nos teus segredos, no teu clima nacional e internacional, no teu poder e no teu inconfundível posto de província portuguesa, bem portuguesa, uma, influência decisiva do número três para os teus destinos, em paralelo débil e longínquo com a já por mim invocada de ti e para ti Santíssima, Trindade.
Vê e considera o quadro que te confio, expresso nas seguintes pala­vras, que julgo dignas de atenção:
Em Macau são faladas três línguas — a portuguesa, a chinesa e a inglesa. A cidade é dominada por três colinas mestras — a da Guia, a do Monte e a da Penha. Apresenta três colégios de considerável frequência — Santa Rosa de Lima, Sagrado Coração de Jesus e S. José. Possui três hospitais, a saber: Conde de S. Januário, S. Rafael e Keang-Vu. E servida por três templos de capital importância — o da Sé, o de Sto. Antônio e o de S. Lourenço, que, por sua vez, dão os nomes às três freguesias existentes na cidade. Possui três grandes e predominantes artérias de trânsito constante —Avenida Almeida Ribeiro, Avenida da República e Avenida Marginal. Oferta aos budistas chineses três pagodes principais – o da Barra, Mong-Há e Bazar. Segue constantemente três rumos — Norte, Oriente e Ocidente. Alimenta, decisivamente, três civilizações — a portuguesa, a chinesa e a anglo-saxónica. Ostenta três imponentes arranha-céus — o Central, o Kuok Chai e o Oriental. Segue três religiões — a cristã, a protestante e a budista.
Dispõe de três territórios distintos, como capital da província que e, — o da península, o da ilha da Taipa e o da ilha de Coloane. Enamora-se de três cores fundamentais — a verde, a encarnada e a amarela. Mostra três jardins públicos ou publicitados — o de S. Francisco, o de Camões e o de Vasco da Gama; três estátuas, embora a última não figure ainda em lugar público — a de Ferreira do Amaral, a do Coronel Vicente Mesquita e a do Conde de Sena Fernandes; três cinemas, de melhor frequência — Capitol, Apolo e Vitória; três padroeiras a que todos os crentes rendem particular devoção — Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora de Lurdes e Nossa Senhora de Fátima. Observa três mundos distintos — o oriental, o ocidental e o austral. Dispõe de três meios de transporte — o automóvel, o riquechó e a bicicleta; três climas — o frio, o moderado e o quente. Aborrecem-na três barreiras —o mar, a China e as ilhas. Apresenta, como figuras predominantes do seu meio social e económico, três capitalistas chineses — Fu Tak Iam, Kou Ho Neng e Ho Yin. Conta três fases, na sua existência histórica — a construtiva, a expansiva e a evolutiva e segue à risca, no geral, as três grandes virtudes teologais — Fé, Esperança e Caridade.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

A Complete Pronouncing Gazetteer or Geographical Dictionary of the World: 1855

Macao, mÅ ków, a seaport town and settlement of the Portuguese in China province of Quangtong on a peninsula of the island of Macao at the S W entrance of the Canton River 70 miles S S E of Canton. Lat of flag staff 22 11 4 N lon 113 32 E. 
Pop between 30 000 and 40 000 mostly Chinese. The peninsula, 2,5 miles in length, by less than a mile in breadth, is connected with the mainland by a narrow low and sandy isthmus. The town stands on around a semicircular harbor the shore being lined by an embanked parade and a terrace of white houses above which Chinese and European residences are curiously intermingled.
Principal edifices the collegiate church of St Joseph, 11 other churches and the senate house besides some Chinese temples and, at the end of the town, is a mansion where Camoens composed a great part of his Lusiad.
Six forts defend the harbor N and W of the town which is fit only for small vessels and large ships anchor in a roadstead E of the island. All the trade of Macao is nominally restricted to Portuguese and Spanish shipping. The educational seminaries are the College of St Joseph, a royal grammar school and female orphan asylum. The Portuguese authorities and others form a senate but the government is substantially vested in a Chinese Mandarin. Macao was given to the Portuguese by the Chinese emperor in 1586 in return for assistance against pirates.

Lippincott's Pronouncing Gazetteer: A Complete Pronouncing Gazetteer Or Geographical Dictionary of the World containing a notice and pronounciation of the names. Editado por J. Thomas e T. Baldwin. 1855
Tradução
Macau, má ków, cidade portuária e assentamento dos portugueses na província chinesa de Quang tong, numa península da ilha de Macau, à entrada SO do Rio Cantão, 70 milhas ao S SE de Cantão. Latitude do mastro da bandeira 22 11 4 N Longitude 113 32 E. 
População entre 30.000 e 40.000, principalmente chineses. A península, de 2,5 milhas de comprimento, por menos de uma milha de largura, está ligada ao continente por um istmo estreito, baixo e arenoso. A cidade ergue-se em torno de um porto semicircular, sendo a costa ladeada por um desfile de socalcos e um conjunto de casas brancas bem como residências chinesas e europeias curiosamente misturadas. 
Os edifícios principais são o Seminário de São José, 11 outras igrejas e o Senado, além de alguns templos chineses e, no extremo da cidade, encontra-se um casarão onde Camões compôs grande parte dos Lusíadas. Seis fortes defendem o porto a N. e O. da cidade, que dá  apenas para embarcações pequenas e os navios maiores ancoram a E. da ilha. Todo o comércio de Macau está acessível apenas à navegação portuguesa e espanhola. Os seminários educacionais são o Colégio de São José, uma escola secundária real e um asilo para mulheres órfãs. As autoridades portuguesas e outros formam um senado, mas o governo está substancialmente nas mãos de um mandarim chinês. Macau foi entregue aos portugueses pelo imperador chinês em 1586 em troca de ajuda no combate aos piratas.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

"Macao: at the casinos"

Em 1966 está em curso a Revolução Cultural na China cujos efeitos haveriam de se fazer sentir em Macau no final desse ano.
Antes, a 3 de Janeiro, chega a Macau o casino flutuante "Macau Palace" que ficará ancorado no Porto Interior.  É mais um activo para a indústria do jogo da STDM, Sociedade de Turismo e Diversões de Macau SARL, empresa que desde 1962 tinha o exclusivo do jogo em Macau. A juntar ao Hotel Estoril, inaugurado em 1963.
Em Agosto de 1966 a conceituada revista norte-americana Esquire - na capa Cassius Clay - dedicava um artigo ao jogo em Macau: "Macau: at the casinos".
Excertos: Most of the blackjack dealers at the Hotel Estoril casino are women (...) The Chinese are serious gamblers so there's little small talk , and the noise level is low.
No início da década de 1970 a STDM já operava 5 casinos, cinco hotéis, agências de viagens e o transporte marítimo de passageiros entre Macau e Hong Kong.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Piratas a bordo do vapor Sui An

Chinese Pirates Lose 13 Hour Fight For Ship
Hong Kong, Nov. 20 (Associated Press). 
Sixty-five Chinese buccaneers who might have stepped from some ancient log of the Spanish Main traveled as passengers aboard the British steamer Sui an when she left Macao for Hong Kong yesterday afternoon. Seizing the ship a few miles out, the pirates held her for thirteen hours, and the crew and passengers made Hong Kong today, with their captors driven away in sampans, only after a fierce battle in which two were killed and several wounded, including the captain of the Sui-an, a French priest and another European passenger. The British steamer was carrying a large number of European and Chinese passengers. 
The pirates, heavily armed, were disguised as first or second class passengers. When the Europeans showed resistance, the pirates threatened to beach and burn the vessel. In the fighting that followed two Indies watchmen were killed and two others of the crew were wounded. The captain's wound is serious. 
The invaders then got the upper hand and locked up passengers and crew. The pirates passed Hong Kong, out at sea. and began to steam in the direction of Swatow. Finally, thirteen hours later, a European shot and wounded the pirate chief. The chief’s wife then directed that the excursion be abandoned. Midway between Hong Kong and Swatow the outlaws escaped in sampans. The Sui-an reached Hong Kong at noon today. 
The Sui-an is listed as a ship of 1265 tons, owned by the The Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Company. Ltd. Macao is across the mouth of the Canton river from Hong Kong and about fifty miles distant.
Notícia da Associated Press de 20 de Novembro de 1922
Imagem e legenda Boletim Geral das Colónias, 1929

Piratas Chineses Perdem 13 Horas de Luta por Navio
Hong Kong, 20 de Novembro (Associated Press).—Sessenta e cinco piratas chineses viajaram como passageiros a bordo do navio britânico Sui an quando este partiu de Macau para Hong Kong na tarde de ontem.
Apoderando-se do navio a algumas milhas de distância, os piratas detiveram-no durante treze horas, e a tripulação e os passageiros chegaram hoje a Hong Kong, depois dos captores terem fugido em sampanas e após uma feroz batalha em que dois morreram e vários ficaram feridos, incluindo o capitão do Sui-an, um padre francês e outro passageiro europeu.
O vapor britânico transportava um grande número de passageiros europeus e chineses. Os piratas, fortemente armados, estavam disfarçados de passageiros de primeira ou segunda classe. Quando os europeus mostraram resistência, os piratas ameaçaram encalhar e queimar o navio. Nos combates que se seguiram dois vigias indianos foram mortos e outros dois tripulantes ficaram feridos. O ferimento do capitão é grave. 
Os invasores chegaram a levar a melhor e prenderam passageiros e tripulantes. (...) Finalmente, treze horas depois, um europeu atirou e feriu o chefe dos piratas. A mulher do chefe acabou por ordenar o fim das hostilidades e abandonaram o navio. A meio caminho entre Hong Kong e Swatow, os bandidos escaparam em sampanas. O Sui-an chegou a Hong Kong ao meio-dia de hoje.
O Sui-an está listado como um navio de 1265 toneladas, propriedade da The Hong Kong, Canton and Macau Steamboat Company Ltd. Macau fica do outro lado da foz do rio Cantão e dista cerca de cinquenta milhas de Hong Kong.

PS: O Sui An foi construído em 1899 em Xangai. Tinha dois decks e navegava com a bandeira da então colónia britânica de Hong Kong.

terça-feira, 19 de julho de 2022

Um "avizo" curioso no "Boletim Official" de 1838

 

Na edição de 3 de Outubro de 1838 o governador Adriano Acácio de Oliveira Pinto publica um "avizo" onde informa que "nam obstante o Periódico semanal, que hoje se imprime nesta Cidade ter o Título de Boletim Official do Governo de Macao o Governo nam concorre para a sua redacçam com outros trabalhos, além das Peças Officiaes, que julga devêr mandar publicar, e que nada tem a ver com a redacçam, nem com as doutrinas no mesmo Boletim".

A 7 de Dezembro de 1836, o Governo português em Lisboa decretou que nas províncias ultramarinas se imprimisse um Boletim, cuja redacção ficasse a cargo do secretário do governo.  Só em 1838 o decreto foi aplicado em Macau. O primeiro número do "Boletim Official do Governo de Macao" saiu a 12 de Setembro desse ano. 
Até 1843, a administração colonial portuguesa de Timor e Solor, conjuntamente com a de Macau, fazia-se através do governo do Estado da Índia portuguesa sediado em Goa. A partir de 1844, Solor e Timor passam a depender administrativamente de Macau que deixa de fazer parte do Estado da Índia, passando Macau, Timor e Solor a ser uma única província ultramarina. O governador de Macau passa a ter o título de governador de Macau e Timor.
Entre 1856 e 1863, Solor e Timor voltaram a depender administrativamente do Estado da Índia e em 1866 retomaram o elo administrativo com Macau. Em 1896, a administração de Timor autonomizou-se da de Macau.
No primeiro número surge a informação de que era "impresso e publicado por M. M. D. Pegado na Typographia Macaense", que na verdade pertencia ao Dr. Wells Williams (1812-1884), missionário protestante, linguista e sinólogo americano. Ou seja, é de admitir que o nome de Pegado fosse utilizado apenas para o cumprimento da lei.
Número do final de 1838 com o símbolo da monarquia ligeiramente diferente

O Vol. 1 Nº1 de 8 de Janeiro de 1846 do "Boletim do Governo da Província de Macao, Timor e Solor" e o 'anúncio' do fim de dependência de Macau do "Governo Geral do Estado da  Índia" e a criação da "Província de Macao, Timor e Solor"

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Pousada Macau Inn: Junho de 1962

Detalhe do terraço da Pousada Macau Inn com vista para a baía da Praia Grande

Entre os convivas destaco a presença de Pedro Lobo, do lado direito
A "galinha africana" confeccionada pelo Chefe Américo Ângelo com um molho picante de 52 ingredientes era uma das atracções do restaurante da pousada.

domingo, 17 de julho de 2022

An Epitome of Universal Geography: 1830

Em baixo um dos 60 mapas incluídos na obre de Nathan Hale, intitulada An Epitome of Universal Geography, e publicada em Boston (EUA) no ano de 1830. No caso, um mapa da China e do Japão onde assinalei a localização de Macau. O território surge também no "Mapa da Ásia".

Título da obra: "An Epitome of Universal Geography: Or a Description of the Various Countries of the Globe With a View of Their Political Condition at the Present Time. With Sixty Maps"

Excertos:
Portuguese Hindostan 
The Portuguese government posSkesses in India the city and territory of Goa Daman and Diu These possessions with the colonies of Timor and Macao form a general government which is administered by a viceroy who resides at Goa and maintains a considerable military establishment The revenue which falls short of the expenses of administration amounts to 360,000. (...)
Foreign Possessions 
Portugal since the independence of Brazil has no colonies in America Her most valuable foreign possessions are the Azore Madeira and Cape Verd Islands in Africa She has also some trading ports on the continent of Africa at Mozambique and at Angola and in Asia the government of Goa the town of Macao and part of the island of Timor These foreign possessions have together about 550,000 inhabitants. 

sábado, 16 de julho de 2022

Lista da carga da nau portuguesa "Nossa Senhora do Bom Despacho"

Em baixo a "Lista da carga da nau portuguesa Nossa Senhora do Bom Despacho", um documento de 1755.
No caso, trata-se de uma viagem Lisboa - Macau - Lisboa com duração de 18 meses, de Fevereiro de 1754 a Julho de 1755.
Cetim, damasco, chá, louças, leques, charões, almíscar, pimenta, anis, madeiras, pimenta são apenas alguns dos produtos mencionados que seriam depois vendidos em "leilão público".
Era uma "Nau de licença do Porto" (a Santa é padroeira do concelho da Maia), pertencente à companhia de Feliciano Velho de Oldenburgo, um 'cristão-novo', comerciante e armador de origem alemã (pai alemão e mãe portuguesa).
Tudo começa quando o Marquês do Pombal aboliu o monopólio real do comércio, iniciado para Macau nos anos 50 do século XVI. Assim, a 16 de Março de 1753, Feliciano Velho Oldenberg foi autorizado a enviar a Macau a nau Nossa Sra. do Bom Despacho e por Decreto de 11 de Agosto de 1753 foi-lhe concedido o monopólio por um prazo de dez anos da navegação portuguesa entre Lisboa e Macau. Para isso, Feliciano criou com mais cinco sócios a Companhia de Navegação da Ásia Portuguesa, com sede em Lisboa.
O Secretário do Conselho Ultramarino, Joaquim Miguel Lopes do Lavre a 31 de Janeiro de 1754 enviou-lhe um bilhete onde referia o pagamento dos direitos correspondentes à pensão para mandar a sua nau “Nossa Senhora do Bom Despacho” para Macau. O Decreto de D. José, Rei de Portugal, sobre a criação da Real Companhia Portuguesa da Ásia é de 1754. 
O terramoto, seguido de maremoto, a 1 de Novembro de 1755 destruiria as embarcações que a empresa tinha adquirido com empréstimos do Estado e ao ter que reembolsar esse dinheiro, Feliciano Velho Oldenberg entrou em falência em 1760 tal como a empresa.
Por esta altura, em 1755, foi fundada no Brasil, uma outra empresa, a Companhia do Grão-Pará e Maranhão com o patrocínio do Marquês de Pombal e também lhe foi permitido o envio de um navio de Lisboa a Macau em Janeiro de 1759. Com a chegada ao poder de D. Maria I (1777-1791), a Companhia foi extinta em 25 de Fevereiro de 1778.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Fortaleza do Monte: Património Mundial da Humanidade

No contexto dos ataques da Companhia Neerlandesa das Índias Orientais (VOC) a Macau entre 1603 e 1622, esta fortificação remonta a uma cerca erguida pelos religiosos da Companhia de Jesus para defesa do monte de São Paulo, e estava concluída por volta de 1606. Posteriormente, entre 1617 e 1626, em posição dominante sobre o seu cume, foi erguida a chamada Fortaleza do Monte, como parte de um vasto complexo que integrava o Colégio de São Paulo e a Igreja da Madre de Deus.
Este complexo era denominado como "Acrópole" e constituiu a principal estrutura defensiva da cidade, tendo-se destacado quando da tentativa de invasão Neerlandesa em 1622.
Entre 1623 (ano da chegada do primeiro Governador de Macau, D. Francisco Mascarenhas) e 1746, a fortaleza tornou-se a residência governamental e um importante centro político e militar. A partir de 1746, como consequência da mudança de residência do Governador para o Palácio do Governador (situado na Praia Grande), ela foi virtualmente abandonada.
Em Setembro de 1808 foi ocupada, juntamente com a Fortaleza da Guia, por tropas da força expedicionária sob o comando do contra-almirante William O'Brien Drury, comandante-chefe das Forças Navais Britânicas nos mares da Ásia, a pretexto de protecção contra a ameaça francesa. Esse efectivo foi reembarcado no final desse mesmo ano, por força de uma concentração de cerca de 80.000 homens do exército chinês diante das portas da cidade.
Em 1835 um grande incêndio destruiu o Colégio e a Igreja, da qual apenas permaneceu a fachada de pedra, hoje vulgarmente designada por Ruínas de São Paulo, mas que também causou danos irreparáveis aos edifícios da fortaleza, que não mais foram reconstruídos. Décadas mais tarde, a Fortaleza do Monte foi transformada num parque público devido à vegetação que cresceu naturalmente nos terrenos em que a fortaleza se inscreve. Actualmente é um espaço muito popular entre os residentes e turistas devido à vista panorâmica que ali se descortina de Macau.
O único edifício da fortaleza que escapou ao grande incêndio foi um escritório do Departamento Meteorológico. Foi neste edifício, composto por dois níveis subterrâneos e um terceiro acima da plataforma no topo da fortaleza, que, em 18 de Abril de 1998, instalou-se o Museu de Macau que tem como principal vocação contar a história do território. Foi classificada como Monumento Nacional desde 30 de Dezembro de 1976.
Exemplar de arquitetura militar, abaluartado, na cota de 52 metros acima do nível do mar.
Apresenta planta no formato quadrangular, com baluartes nos vértices. As muralhas possuem 9 metros de altura e 2,7 metros de largura, erguidas em uma mistura de terra e argamassa de cal, onde se rasgam 36 canhoneiras. As muralhas voltadas para o lado de terra não possuem merlões, indicando que a fortaleza foi erguida para defesa contra os ataques oriundos do mar. Ocupa uma área de 8.000 metros quadrados. Estava equipada com canhões (que apenas entraram em combate uma única vez, em 1622), casernas, poços e um arsenal com munições e mantimentos para sustentar um assédio de até dois anos. Na entrada da fortificação uma inscrição reza: “Alto! Sentido! Recorda por uns instantes a história linda da nossa pátria. Entra altivo e de cabeça erguida porque és soldado dessa pátria.”
Armando Cação in "A Fortaleza do Monte: esboço histórico." 
Macau: Comando das Forças de Segurança, 1985.

É a mais importante fortificação de Macau e tem várias designações, desde Forte do Monte, Forte Grande ou de São Paulo. Situada a cinquenta e cinco metros de altitude, num morro, foram os jesuítas que iniciaram a primeira construção. As fontes divergem quanto à autoria, desde Inácio Moreira, padre Jerónimo Rho ou Francisco Lopes Carrasco.
A construção sob ordens da companhia de Jesus custou 40.000 xerafins à Fazenda Real e ficou pronta em 1626 com os 4 baluartes já edificados, juntamente com a casa da pólvora e plataformas para dez canhões.
O forte ocupa uma área de quase 2.000 metros quadrados, formados segundo uma planta em quadrilátero irregular, com quatro baluartes poligonais nos cantos em forma de espigão.
A especificidade do terreno fez com que a construção se ajustasse às suas formas pelo que os baluartes têm dimensões diferentes, os muros laterais vão dos 3 metros de largura aos dez metros de altura.
A praça de armas tinha quatro fileiras de casas, separadas para comandantes e para os soldados, depósito de armamento, paióis com munições no subsolo, em cisternas.
Por ser único no mundo, pela sua beleza e valor na história universal, o Centro Histórico de Macau foi incluído pela UNESCO a 15 de Julho de 2005 na Lista do Património Mundial da Humanidade, como o 31º sítio do Património Mundial da China. numa decisão aprovada por unanimidade pelo Comité do Património Mundial, cuja 29ª Sessão decorreu em Durban, na África do Sul.
Para além da Fortaleza do Monte, referida neste post, fazem parte da lista o Templo de A-Má, as Ruínas de S. Paulo, o Edifício do Leal Senado, o Seminário e Igreja de S. José, a Fortaleza da Guia (incluindo a Capela e o Farol), o Templo de Sam Kai Vui Kun, a Santa Casa da Misericórdia, a Biblioteca de Sir Robert Ho Tung, a Casa Garden, etc.