terça-feira, 31 de agosto de 2021

O "Sargento" Douglas Steane

All but one of the 15 cars in the inaugural Grand Prix, won by Eddie Carvalho's Triumph TR2, were from Hong Kong. Among them was newly stationed REME (Royal Electrical and Mechanical Engineer) Sergeant Douglas Steane, whose racing activities were indulgently encouraged by a far-sighted colonel, a "go-ahead guy" delighted by the ensuing newspaper publicity for his Signal Regiment.
Steane, now 83 and retired in Hereford, recalls the genesis of the event: "I had actually arrived in Hong Kong in early '54, when the people in Macau were talking about running a rally.
"A couple of chaps in Hong Kong at the Motorsport Club, of which I was a member, got to hear about this and went over to have a look. They said, 'You don't want to waste your time running a rally, you want to run a race here - you've got a natural racing circuit.'"
Cobblestones on the circuit's back-leg and a stretch of unmade road were replaced and surfaced for the '55 running, marking the start of continuous improvement and investment.
While the early Macau GP organisers may have been gratified by the boost to tourism by visitors from Hong Kong - 40,000 spectators watched the '56 race - local car dealers and importers soon came to recognise the value of the meeting.
"My best mate was Bob Ritchie, a sergeant in the RAF," continues Doug Steane. "He drove for FIAT, a dealer team, and Austin Healey, which was run by Austin dealers Metropolitan Cars. I drove for Walter Sulke, the Mercedes importer, and Walter also had the DKW franchise."
When Sulke's nominated driver for his Mercedes 190SL fell ill before final practice of the 1955 Grand Prix, Sulke handed driving duties to his DKW saloon car hotshot. The decision would reap rewards, as just 15 minutes later Steane recorded a remarkable pole against opposition that included an Aston Martin DB3S and Ferrari Mondial.
"Although I won in '56 [again from pole, in a more heavily tuned Mercedes] the '55 race when I had a ding-dong with Bob Ritchie was more rewarding," affirms Steane.
A late pitstop to remedy fuel starvation, during which an incredulous Steane was informed he had been leading, allowed Ritchie's Healey 100 into first place. Further confusion followed at the finish when ex-biker Ritchie stopped before the chequered flag, as was the norm at the Isle of Man TT. Alerted to his error by the crowd, Ritchie was jolted back into action and took a breathless victory by under two seconds.
 1956. Fotos Mercedes-Benz
The Suez crisis and an awaiting job in England prevented Doug from accepting Walter Sulke's offer to race a 300SL in 1957, but the car would win in the hands of Arthur Pateman.
Soldiers posted on sentry duty along the seafront, to stop Chinese dissidents entering Macau, may have breathed easier, though, as Doug had sent some diving into the South China Sea for cover after crashing on his way to victory in '56.
Excerto de um artigo da Autosport.com da autoria de Peter Mills em 2014.

domingo, 29 de agosto de 2021

"That quiet and fascinating bit of Portugal in the Far East"

Já aqui falei da BOAC, uma das principais companhias áereas entre as décadas de 1950 a 1970. O anúncio acima - Visit Macao via Hongkong by BOAC - é de 1966 e Macau é caracterizado como "That quiet and fascinating bit of Portugal in the Far East".
Em Macau a BOAC era representada pela empresa F. Rodrigues.
A novidade na época era o Boeing 707, o primeiro avião comercial a jato produzido pela empresa norte-americana. O 707 tinha capacidade para 166 passageiros, foi produzido entre 1958 e 1979 e foi um grande sucesso comercial e dominou o transporte aéreo de passageiros durante as décadas de 60 e o início da década de 70. Foi graças ao 707 que a Boeing se tornou o maior fabricante de aviões comerciais do mundo. Entre as variantes do modelo, o 707-420 só surgiu em 1960 com motores Rolls-Royce (como se destaca na publicidade).
Apesar do anúncio ser apenas da BOAC, na verdade os voos entre Londres e Hong Kong eram operados em parceria com a australiana Qantas.
BOAC (British Overseas Airways Corporation) was a British airline owned by the British government. It was founded in 1939 after the merger of Imperial Airways and British Airways Ltd. During WWII BOAC kept Britain connected with its colonies and the allied world. The airline travelled around the world to many destinations, the first flight to Hong Kong was carried out in 1936.The airline was operative and traveling overseas until 1974, after being merged with BEA (British European Airways) which evolved into today's British Airways.

sábado, 28 de agosto de 2021

"Portugal, China agree to talks on Macao deal" / Negociações sobre Macau começaram em Pequim

"Portugal, China agree to talks on Macao deal
The New York Times
Macao - Not quite two years after Britain and China fashioned a formula for the return of Hong Kong to China, Portugal and China have agreed to open negotiations on a similar deal for Macao, the oldest European enclave on the China coast.The talks will begin at the end of June in Peking and are expected to conckude more quickly than those on Hong Kong, which took three years. (...)

Este artigo publicado na imprensa norte-americana (edição do Ottawa Citizen de 14.6.1986) inclui declarações de reverendo Domingos Lam e diz respeito ao anúncio do início das negociações sobre a transferência de Macau entre Portugal e a China. 
As negociações começaram a 30 de Junho de 1986 e duraram nove meses.
O embaixador Rui Medina (1925-2012) chefiou a delegação, que inclui ainda: o diplomata João de Deus Ramos, Nuno Lorena, cônsul-geral em Hong Kong, José Henriques de Jesus (delegado do primeiro-ministro Cavaco Silva) e Carlos Gaspar (delegado do Presidente Mário Soares). 
Da equipa fizeram ainda parte Octávio Neto Valério, embaixador de Portugal em Pequim, como consultor, e António Vitorino, então secretário-adjunto do Governo de Macau, dando apoio jurídico.

Contexto:
Desde a subida ao poder de Mao Tsetung na China em 1949 e o 25 de Abril em Portugal no ano de 1974 as relações diplomáticas entre os dois países estiveram cortadas e só foram reatadas em 1978.
Em 1984 a China tinha negociado com o Reino Unido a transferência de Hong Kong ficando marcada para 1997. Pequim tinha pressa em resolver o dossier Macau que desde 1976 era assumido por Portugal como "território chinês sob administração portuguesa".
Na primeira ronda negocial a China propôs que a transferência de soberania de Macau fosse feita em simultâneo com Hong Kong. Portugal recusou. Surge a ideia de ser já no século 21 - nos 500 anos da chegada de Jorge Álvares a Macau - mas desta vez é Pequim que recusa.
19 de Dezembro de 1999 foi a data acordada. Um dos vários pontos da chamada Declaração Conjunta assinada a 13 de Abril de 1987 entre Portugal e a China na presença de Deng Xiaoping. O documento foi o resultado de nove meses de negociações que incluíram quatro rondas (40 horas à mesa das negociações) e 11 reuniões do grupo de trabalho (mais 440 horas).
"Negociações sobre Macau começaram em Pequim" era a manchete da primeira página da edição do Diário de Notícias a 1 de julho de 1986.
A fotografia atesta o encontro entre o chefe da delegação portuguesa, Rui Medina, e o conselheiro chinês para as questões de Hong Kong e Macau, Ji Pengfei. Na notícia dá-se conta que o Presidente da República convocara o governador de Macau para participar numa reunião do Conselho de Estado onde o tema iria ser abordado.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O raid aéreo de 1924: mais dados

Tripulado pelos oficiais da Aeronáutica Militar, Sarmento de Beires e Brito Pais, grandes impulsionadores dos “raids” aéreos portugueses nos anos 20 do século passado, o “Pátria”, um avião Breguet XVI com motor de 300cv, descolou de Vila Nova de Milfontes a 7 de Abril de 1924, rumo a Macau, que apenas acabou por sobrevoar devido a um tufão que obrigou a uma aterragem forçada na vizinha Hong Kong. 
Na viagem, os dois pilotos estiveram acompanhados pelo mecânico Manuel Gouveia que, no entanto, só se juntou à tripulação em Tunes, para onde viajara de barco. O início da viagem ficou marcado por um forte temporal que obrigou os aviadores a efectuarem escalas em Málaga e Oran, antes da chegada a Tunes. Já com Manuel Gouveia a bordo, a ligação prosseguiu sem contratempos de maior, passando por Tripoli, Homs, Benghazi, Cairo, Rayak, Bagdad, Bushire, Bender Abbas e Dsjask. Em contrapartida, na etapa até Karachi, uma montanha não registada nas cartas de navegação causou alguns calafrios aos tripulantes. A etapa seguinte, com destino a Agria, não foi mais tranquila devido a um problema grave que levaria à substituição do aparelho, depois do voo ter sido interrompido na aldeia de Budana, no percurso para Jodhpur, a 7 de Maio de 1924.
Correio da Manhã (Brasil): edição 10 Maio 1924

Após 22 dias em terra, a ligação foi retomada graças à aquisição de um aparelho, o De Haviland Liberty 9A, de 450 cv, baptizado de “Pátria II”. Na passagem por Ambala, Boumari, Calcutá, Akiab, Rangum, Banguecoque, Oubon e Hanói, a tripulação não encontrou quaisquer problemas que, ironicamente, só voltaram a aparecer na derradeira parte da viagem, rumo a Macau.
Afectado por um violento tufão, o “Pátria II” acabou por aterrar de emergência num cemitério perto de Shum-Chum, nos arredores de Hong Kong, sem que tal tenha inviabilizado o objectivo de sobrevoar efectivamente Macau, facto que aconteceu no mesmo dia - 20 de Junho. Quatro dias depois - dia de Macau, Sarmento de Beires e Brito Pais embarcaram num navio de guerra português e pisaram Macau onde tiveram uma recepção apoteótica. 
José Manuel Sarmento de Beires nasceu em Lisboa a 4 de Setembro de 1892. Frequentou o Colégio Militar e em 1916, concluiu o curso de engenheiro militar na Escola de Guerra. No ano seguinte, com a patente de alferes, terminou o primeiro curso de pilotagem militar efectuado em Portugal, e recebeu o diploma da Sociedade de Geografia de Lisboa. Após a promoção a tenente, partiu para França, integrando os Serviços de Aviação do Corpo Expedicionário Português. Em terras gaulesas, frequenta cursos de aperfeiçoamento e especializou-se em aviação de caça para regressar a Portugal em 1919, vindo a integrar o Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República. Foi o primeiro piloto a efectuar uma missão de voo nocturno em Portugal (1920). O aviador esteve também ligado ao grupo da “Seara Nova”, sendo afastado por motivos políticos, devido à oposição a Salazar, mas seria reintegrado com a patente de coronel em 1972. Foi também escritor e jornalista. O homem que um dia escreveu “a aeronáutica militar tem uma missão histórica a cumprir”, morreu em Vila Nova de Gaia a 8 de Junho de 1974.
Em cima: aterragem na Índia e vista da Praia Grande (Macau)

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Fotos de Benoit Gysemberg em Janeiro de 1988

Em 1986 os fotógrafos Benoit Gysembergh e Olivier Royant - ao serviço da revista Paris Macht - fizeram uma volta ao mundo em 40 dias e passaram por Macau nos meses de Maio e Junho. Em Janeiro de 1988 Benoit voltaria ao território onde registou para a posteridade vários aspectos da vida local a cores e a preto e branco.










terça-feira, 24 de agosto de 2021

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

"Macao Still Outpost of Capitalism"

O artigo é da agência Newsweek e foi reproduzido em inúmeros jornais um pouco porto todo o mundo, mas sobretudo nos EUA. Com o título "Macao Still Outpost of Capitalism" (ponto avançado do capitalismo), dá conta das particularidades do território no início da década de 1970, uma 'lança' do capitalismo vizinho da China comunista, um paradoxo que parecia resultar após as dificuldades das manifestações anti-imperialismo de meados da década de 1960. A fotografia, uma panorâmica da baía da Praia Grande em 1969, não faz parte do artigo.
"The most startling fact about this tiny Portuguese colony 40 miles southwest of Hong Kong is that it still exists at all. Perched on a 6 1/2 square mile penisula that juts out toward the South China Sea, it is a remote outpost of capitalism that sits vulnerably right under the massive presence of communist China.
"The Chinese,", says onde resident, "could take this place with one phone call any time". But hey haven't taken Macao and the reason, ironically enough for disciples of Karl Marx, is purely and simply crass materialism. The little colony is a fiscal gold mine and Peking would surely lose much more that it could possibly gain by swalling it up.
As the Monte Carlo of the East, Macao attracts thousands og eager gamblers and tourists from all over the world to its casinos and famous dog track. And as the behind-the-scenes power, the Communists rake in millions of dollars a year from the money these visitors shell out at roulette tables, betting spots and tourists shops.
There are few places in the world, in fact, whre capitalism and communism coexist quite as peacefully now as they do in Macao. But his tranquility is a recent phenomenom.
Only three years ago, it appeared to the tourists and gamblers who walked its cobled streets and sipped Portguese wine at its sidewalk cafes that Macao was finished.
Taking there cue from cultural Revolution on Mainland China, hundreds of local Red guards swarmed through the colony In a series of violent street demonsgtrations coupied with the presence of Chinese gunshots and clandestine political maneuvering the Communists stripped the Portuguese of all but the trappings of power. (...)
Finally Peking that the local Red Guards excesses were serving only to ruin things. (...) Nothing is done without Peking's permission. this power is exercised chiefly through the local chamber of commerce which is dominated by a mysterious millionaire named Ho Yin.
Ho has the unique distinction of being a practicing capitalist and a dedicated Communist. (...)
With the new rapproachement, a Riviera-like calm once again prevails in Macao. And the colony is enjoying a general economic boom, epitomized by the new, high-rising, 333-room Lisboa luxury hotel. (...)
209 new businesses were started last year most of them shops and small factories making and selling everything from binoculars to insense. (...)
When the two-mile bridge is completed from Macao to the islands of Taipa and Coloane, some 4 1/2 square miles of underpopulated land will be available for business, residential and resort development. (...) Probably nowhere else in the world can signs advertising American cars, English cigarettes and Japanese watches be seen interspersed with official posters proclaiming "Long Live The communist Party" and "Long Live Chaiman Mao".
Reading Eagle - ‎22.07.1970

sábado, 21 de agosto de 2021

Emissões do BNU 1981 e 1984: Notas de Substituição e Notas com erro (2ª parte)

Reemissão das notas de 50 patacas

No início de 1987, constatou-se que a quantidade de notas de 50 patacas em posse do banco era de apenas cerca de 100.000 notas e diminuía rapidamente, prevendo-se que a esse ritmo poderia haver rotura na altura do Ano Novo Chinês de 1988.
Foi portanto iniciado um processo de pedido de um reforço da emissão. Verificou-se então que o Decreto nº 39/84/M de 12 de Maio de 1984, que tinha autorizado um aumento dos limites de circulação comtemplava unicamente as notas de 10,100 e 500 patacas, tornando-se necessário para efectuar o reforço pedido, promover nova alteração legislativa o que exigia um período de tempo incompatível com o desejado.
Acontece que entretanto, em 13-04-1987 tinha sido assinada a chamada Declaração Conjunta Sino - Portuguesa sobre a questão de Macau que definia os termos da transferência da sua soberania para a China em 20-12-1999 e que no seu artigo XI do Anexo I previa:
As moedas e notas de Macau portadoras de sinais inadequados ao estatuto de Macau como Região Administrativa Especial da República Popular da China serão progressivamente substituídas e retiradas da circulação.
Ponto XI do anexo I da Declaração Conjunta sobre a questão de Macau de 13 de Abril de 1987
Era possível o entendimento que estas disposições deveriam ser aplicadas a emissões de notas com data posterior à da  Declaração. Este reforço da nota de 50 patacas estava a ser tratado conjuntamente com a criação da nova nota de 1000 patacas que seria datada de 08-08-1988 e donde os símbolos portugueses já foram retirados em virtude dessas disposições.
No entanto foi encontrada outra solução. Como o limite de circulação autorizado em 1981 era de 1 milhão de notas, em vez de um pedido de reforço de emissão, foi pedido ao IEM, sem necessidade da autorização legislativa, a reimpressão do outro milhão de notas, condicionando-se a sua entrada em circulação de modo a que o total a circular nunca ultrapassasse o autorizado, tal como se tratasse de notas de substituição.
Foi mantida a data de 1981 e foram utilizadas as assinaturas da então Presidente do Conselho de Gestão, Maria Manuela Morgado Batista (1987-1988) e de Abel Repolho Correia (1982- 1988) e a do Director Geral Eduardo Rocha.
Séries e assinaturas usadas no reforço de emissão das notas de 50 patacas em 1987

A dimensão e a numeração das séries seguiram a norma estabelecida para as anteriores, sendo as KQ a KW assinadas pela Presidente e as KX a LD pelo Gestor, presumo, sem confirmação, cada assinatura correspondendo a 500.000 notas, sendo portanto muito mais vulgares que as primeiras.
Como acima referido, estas notas foram sendo postas emcirculação à medida que as anteriores voltavam à caixa do banco e eram retiradas.
Este facto, mais evidencia a raridade das primeiras notas, embora até agora o mercado não tenha muito em conta a valorização mais correcta a cada uma das emissões.
Como em 1986 a Bradbury Wilkinson foi comprada pela sua concorrente De La Rue, foi esta a responsável por este contrato, tendo a impressão sido efectuada na sua fábrica de Hong Kong. Nestas notas a impressão fluorescentes é perfeitamente visível. 

Os reforços de 1984

Como seria de esperar, uns anos passados após a entrada em circulação das notas datadas de 1981 foi necessário pensar nos inevitáveis reforços. Nesse sentido foi publicado o atrás citado Decreto 39/84/M de 12 de Maio que aumentou os limites de circulação das notas de 
10,100 e 500 patacas.
Os novos limites de circulação estipulados pelo citado decreto nada têm a ver com os totais de notas emitidos, tendo sido fonte de más informações em alguns catálogos. Embora tenham sido impressas mais notas do que o total do limite de circulação, era responsabilidade do banco que, considerando as notas retiradas de circulação, esse limite nunca fosse ultrapassado.

Resumidamente:
Para as notas de 10 patacas o total foi elevado de 11 para 20 milhões de notas, ou seja mais 9 milhões, mas foram emitidas 15 milhões de notas datadas de 1984.
Para as notas de 100 patacas o total foi elevado de 3,5 para 4,5 milhões de notas, ou seja mais 1 milhão, mas foram emitidas 6,3 milhões de notas datadas de 1984.
Para as notas de 500 patacas o total foi elevado de 0,7 para 1,1 milhões de notas, ou seja mais 0,4 milhões, mas foram emitidas 0,5 milhões de notas datadas de 1984.

Notas de 10 patacas
Foram impressas 200 séries de 75.000 notas numeradas de JN 00.001 a SQ 75.000, sendo as primeiras 100 séries impressas na INCM em Lisboa e as restantes impressas pela BW na sua fábrica da Nova Zelândia. Estas notas entraram em circulação logo no início de 1985.

Notas de 100 patacas
A nota de 100 patacas teve em 1986 uma primeira impressão de 2,8 milhões de notas, distribuídas pelas séries MZ a PN, impressas na INCM e posteriormente em 1989 um reforço de 3,5 milhões, séries PP a RM impresso na TDLR Hong Kong.

Como em Julho de 1988 o BNU sofreu uma alteração estatutária, deixando de ser uma Empresa Pública e passando a Sociedade Anónima, embora com todo o capital pertencendo ao Estado, este facto foi reflectido na emissão com a alteração da designação "Conselho de Gestão" para "Conselho de Administração", o que se impõe seja referido na sua catalogação.
São os membros do novo Conselho de Administração que assinam as notas, mas de novo com o Director Geral Abílio Dengucho entretanto regressado a essas funções.
Por uma questão de segurança foi introduzida uma distribuição aleatória das assinaturas pelas séries, ao contrário do que se verificava anteriormente.
Séries e assinaturas do reforço de emissão das 100 patacas de 1984

Notas de 500 patacas

Ao contrário do que é referido em alguns catálogos, foram só impressas 500.000 notas das séries NL a NS e assinadas apenas pelo Presidente e Vice-Presidente, tal como ocorreu em 1981. Impressão efectuada na INCM e enviada para Macau em 1985, juntamente com as 140.000 notas de substituição de 500 patacas datadas de 1981.
A tentativa de encontrar uma explicação para o facto de notas da mesma série terem assinaturas diferentes resultou na identificação de um erro no fabrico das notas, evento sempre apreciado por coleccionadores e levou ao conhecimento da existência de notas de substituição, facto que era desconhecido.
Agradecimento: ao Parcídio Matos, autor deste artigo e que amavelmente o disponibilizou ao blogue Macau Antigo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Emissões do BNU 1981 e 1984: Notas de Substituição e Notas com erro (1ª parte)

O novo regime político instaurado em Portugal em 1974, reconheceu o direito à independência das suas Colónias africanas e passou a olhar para o Território de Macau de modo diferente, criando as condições para implementar o seu auto governo.
Tal passo foi concretizado pela promulgação em 1976 da legislação que ficou conhecida como o “Estatuto Orgânico de Macau”.
A autonomia financeira e administrativa aí comtemplada levou à criação de uma instituição do tipo de Banco Central que foi designada de IEM-Instituto Emissor de Macau, tendo funcionado entre 1980 e 1989.
Para o IEM foi então transferido o privilégio de emissão de notas. Porém, por contracto de 15-10-1981 o BNU foi designado o seu Agente exclusivo e seu Banqueiro, continuando a emitir notas, já não em seu nome, mas por conta e ordem desse Instituto.
A primeira emissão de notas criada nesse regime foi datada de 8 de Agosto de 1981, com denominações de 5,10,50,100 e 500 patacas e foi adjudicada a um consórcio entre a INCM –
Imprensa Nacional Casa da Moeda e a Bradbury Wilkinson, em 07-04-1981.
Como sempre acontece, pedia-se urgência na estrega das notas. Para encurtar o prazo, foi dispensada a utilização de papel com marca de água nas denominações mais baixas, 5 e 10 patacas, e utilizou-se a mesma marca de água “Luís de Camões” da anterior nota de 50 patacas de 1976 nas restantes.
Emissão de 1976

Como novidade, todas as notas eram também assinadas pelo Director Geral do Departamento de Macau, neste caso Abílio Dengucho. Também, o nome do banco em língua chinesa foi substancialmente abreviado.
Foram acordadas duas entregas, uma em finais de 1981 e a segunda em meados de 1982.
A primeira entrega chegou por via aérea a Hong Kong em 15-12-1981, tendo as notas entrado em circulação em 11-01-1982.
Porém, logo um mês depois, em 19-02-1982 o BNU informava o seu fornecedor ter identificado anomalias no fornecimento das notas das mais altas denominações.
Tratava-se de deficiências na visualização de elementos de segurança, apenas visíveis sob luz ultra violeta. Já antes dessa data a imprensa local fazia eco dessa situação. O alarme era reforçado pela existência à data de falsificações muito perfeitas de notas de Hong Kong que levava a que todo o comércio utilizasse a luz ultra violeta nas notas que recebia transferindo o mesmo procedimento para estas novas notas de Macau.
As notas de 50, 100 e 500 patacas deveriam apresentar no canto superior esquerdo, no centro e no canto inferior direito a numeração correspondente à sua denominação, quando exposta a esse tipo de luz. Acontece que na realidade, nessas condições, esses números ou simplesmente não eram total ou parcialmente visíveis, ou quando apareciam só com muita dificuldade eram detectados.
Curiosamente, nos espécimes que conheço, esses elementos são também dificilmente visíveis, mas numa fase anterior, numa prova da nota de 500 patacas com data provisória de 26-02-1981 e com indicação manuscrita de “Approved telex 31.7.81” esses elementos são muito bem visíveis, exactamente como viria a acontecer a partir de 1984.
Os fabricantes assumiram de imediato as suas responsabilidades e logo em Março foram iniciadas negociações para resolver o problema, tendo sido acordado:
- Nada fazer relativamente às notas já em circulação
- Promover a antecipação do envio de parte da segunda entrega (900.000 notas) e assumindo o fabricante o custo do envio por via aérea.
- Destruir as notas de 50,100 e 500 patacas ainda não postas em circulação (558.000 notas)
- Imprimir notas de substituição com as mesmas numerações e assinaturas, a fornecer na data da impressão de um próximo reforço da emissão.
- Assumir as penalizações contratuais.
Nos cofres do BNU em Macau estavam nessa altura:
- 168.000 notas de 50 patacas
- 250.000 notas de 100 patacas
- 140.000 notas de 500 patacas
Notas de Substituição e notas com erro

No decorrer dessa negociação, a Bradbury Wilkinson informou que os seus serviços de controlo interno não autorizavam a atribuição a notas de substituição das mesmas numerações das notas que vão substituir a não ser que estas lhe fossem devolvidas.
Como, em resposta, o BNU fez notar que os custos desse reenvio seriam suportados pelo fabricante, foi acordado fazer a incineração das notas em Macau e lavrar o respectivo auto, o
que foi feito, com a presença de representante do IEM em 15-10-1982 e dele enviada cópia aos fabricantes.

Telex de 17.2.82
Telex de 18.6.82

Acontece que, quando finalmente se deu início ao fabrico dessas notas, no que se refere às notas de 50 patacas, ocorreu um lapso nas instruções transmitidas como se pode constatar pelo documento abaixo.

Foi indicado que as 71.000 notas de substituição do intervalo KC 01001 - KC 72000 fossem ser assinadas pelo Presidente, quando na realidade deveriam ser assinadas pelo Vice-Presidente. Estas notas são portanto notas com erro o que as torna das mais apetecíveis destas séries. No entanto, muito mais raras são as notas originais desta série KC assinadas pelo Vice-Presidente, visto que foram apenas emitidas 4.000 notas, as que constam dos intervalos KC 00001 - KC 01000 e KC 72001 – KC 75000.
Acredito que muito poucas destas 4.000 notas tenham sobrevivido, pois não me lembro de ter visto no mercado mais que 2 exemplares. Estranhamente, mesmo nas notas de substituição o efeito da fluorescência não é muito evidente.
Continua...
A Série KC assinada por “Presidente” (1ª imagem) é um erro.

Nota de substituição: nota impressa para substituir outra com algum defeito, com o objetivo de manter em circulação um certo montante autorizado. Normalmente a sua numeração é diferente e identificada por um asterisco (star notes) ou diferentes letras, normalmente Z ou ZZ. Por serem mais raras são normalmente mais valiosas para os colecionadores
Emissões de notas do BNU: décadas 1980 e 1990

Nota: versão em língua portuguesa do artigo da autoria de Parcídio Matos publicado no Nº 57.4 da revista da INBS – International Bank Note Society intitulado “MACAU The 1981/1984 BNU issues. Replacement and Error notes”