quinta-feira, 29 de setembro de 2022

"A Liberdade: semanário politico, noticioso e litterario"

Em Julho de 1890 começou a ser publicado em Macau o jornal "A Liberdade: semanário político, noticioso e literário." A redacção e administração ficava no nº 3 da Rua dos Prazeres. Segundo o Senado o nome surgiu em 1847 e correspondia à "travessa desde a Porta de Mello até à escada piquena de S. Lourenço".
Em 1954 esta rua passou a designar-se Rua da Imprensa Nacional, já que nesse ano foi inaugurado o edifício da Imprensa Nacional. Actualmente existe o topónimo Travessa dos Prazeres (zona da Areia Preta). O jornal teve curta existência tendo durado até ao final de 1890.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Anúncios de imprensa: 1890

Anúncios publicados no jornal "A Liberdade" em 1890
A Praia do Manduco ficava no Porto Interior. A regularização da linha costeira com sucessivos aterros no final do século 19 e início do século 20 fizeram com que a enseada - e a praia - tenha desaparecido.
A loja de Cassam Moosa (originário da Índia) foi inaugurada em 1880 na Rua Central. Mais tarde, já na primeira metade do século 20, a família Moosa abriu um novo espaço comercial - "Moosa e Companhia" de  O. C. Moosa - na Avenida de Almeida Ribeiro. O espaço da Rua Central manteve-se em funcionamento e o edifício ainda hoje existe (fica perto do teatro D. Pedro V).
 

terça-feira, 27 de setembro de 2022

"Historia de Macao": 1845

"Historia de Macao: Recopilada de Authores Nacionais, e Estrangeiros, com acrescentamento de varias noticias collegidas de Documentos Officiaes, e manuscriptos antigos. Prespectivas, e Plantas de todos os seus Edificios publicos. Varias Pinturas curiosas sobre o costume Chinez, Por Joze Manoel de Carvalho e Souza, Capitão d’Infantaria do Batalhão Principe Regente, Macau, 1845, tipografia Silva e Souza.




A ideia inicial era publicar uma História de Macau em folhetos mensaise adquiridos por meio de subscrição (450 reis cada folheto). Apenas saíram três num total de cerca de 120 páginas. Foi feita uma reedição em 1973.
José Manuel de Carvalho e Sousa foi Capitão de Infantaria do Batalhão do Príncipe Regente da cidade de Macau, secretário do Governador de Macau, Adrião Acácio Silveira Pinto, comandante da Fortaleza da Barra (1846-1851) e Regente na cidade de Macau (mestre de 1ªs letras).


domingo, 25 de setembro de 2022

"Dia de Macau" na 1ª Exposição Colonial Portuguesa

A 16 de Junho de 1934 foi inaugurada no Porto - Palácio de Cristal - a 1.ª Exposição Colonial Portuguesa. Seguindo o modelo de exposições congéneres em Marselha (1922), Antuérpia (1930) e Paris (1931), este certame foi o "primeiro grande acto de propaganda colonial na metrópole", servindo para mostrar as realizações do império pluricontinental.
in "Ultramar: órgão oficial da I Exposição Colonial" nº 16, 15 de Setembro de 1934.

sábado, 24 de setembro de 2022

"Photographo": 1890

Notícia publicada no jornal "A Liberdade" em Julho de 1890
Lai Fong - Afong foi o nome que adoptou para fins profissionais - nasceu por volta de 1839, no distrito chinês de Gaoming (actual Foshan). No fim da década de 1850 estabeleceu-se em Hong Kong como fotógrafo, profissão que muito provavelmente terá aprendido com alguns dos fotógrafos do ocidente que visitaram a China na época - Richard Woosnam, George Malcolm, Henry Collen... Os primeiros registos do estúdio de Afong datam de 1859. 
Auto-retrato de Afong

Afong também conhecido pelas fotografias que tirou fora de estúdio registando para a posteridade como era Hong Kong, Macau e outras cidades da China continental na segunda metade do século 19, nomeadamente Pequim e Xangai. O estúdio de Hong Kong, após a  sua morte, passou a ser gerido pelo sobrinho, até à década de 1940 quando fechou portas. Lai Fong é considerado o mais importante fotógrafo chinês do século 19. John Thomson, cujo estúdio de fotografia em Hong Kong foi estabelecido mais tarde na mesma rua do de Lai Fong, disse sobre ele que era "um homem de gosto requintado" e que produzia "trabalhos que lhe permitiriam ganhar a vida mesmo em Londres".
A baía da Praia Grande ca. 1870 fotografada por Afong.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Rambles in Eastern Asia (1855)

"Rambles in Eastern Asia, Including China and Manila, During Several Years' Residence: With Notes of the Voyage to China, Excursions in Manilla, ... Amoy, Fouchow, and Macao"
é o título do livro da autoria de Benjamin Lincoln Ball (BLB), um médico norte-americano.
A primeira edição é de 1855 e a segunda edição é de 1856. São cerca de 400 páginas onde é relatada uma viagem à volta do mundo iniciada em Boston (EUA) em 1848 com passagem por Macau no início do ano seguinte. A imagem que publico abaixo, uma pintura, não faz parte do livro. Serve apenas para ilustrar a descrição que o autor faz da baía da Praia Grande.

Excerto do prefácio: 
"In preparing the manuscript, which was from the notes of his private journal, it was found that all could not be contained in a single volume; accordingly this work has been confined to China and Manilla, and the other countries omitted, at least for the present."



Excerto do cap. XLIV:
Letter to sister
Macao February 28 
My dear Sister I am now located at Mr Smith's hotel in Macao. The building is very large but I can see no one about except a Chinese servant I asked him where all the people of the hotel woro and he answered: No have got n other man And under the circumstances I feel quite to lonely landed as I am in a strange place in the evening and alone.
It is dark cold and cheerless with no fires and no living thing to speak to I am also disappointed in having recently missed the Plymouth on its expedition to Cochin China. I arrived this evening by the steamer from Canton a distance of sixty miles in a little more than eight hours There are four steamers running here but none have the speed of our steamers in America. The passage money is eight dollars two dollars for the dinner twenty five cents to get aboard twenty five to get ashore and twenty five for a cooly to carry the baggage to the hotel making for the fare about eleven dollars.
To go to Hong Kong where you require tiffin it is a dollar and a half more. Macao looked very beautiful as we approached the shore forming a crescent a row of white buildings running in parallel circle with it and a hill at each extremity rising up like a pyramid and crowned with large white structures. This witn the beautiful phosphorescent state of the water like molten silver of the luminous green blue and white mixed in various shades of color displaying such lights and nashes as the heavy swell broke upon the sea wall and the moon shedding its silvery light over the whole gave Macao the prettiest appearance of any city I have seen yet.
You would be amused to see the boat girls as they come off after passengers. There were three girls to each boat the sea was rather rough and they came with such impetuosity each one striving to be first that I thought if they did not dash their boats to pieces against the steamer they would against each other As it was one boat in the strife took fire Every boat has its Josh or idol with incense sticks and sacrificial paper and this took fire and blazed away but was put out by them After the confusion was over I took a boat and came ashore The moment I landed a Chinaman harried up and said (...)

Letter to sister
Macao China March 2nd 
My dear Sister, The rooms in the hotel where I stop are large ,airy and comfortable. A fine veranda encircles the house on two sides where may be enjoyed the fresh breeze. We have a view of the harbor in front and on the other side is a large pile of disagreeable looking buildings with the top of a pretty hill rising up Macao is to the people in China something like our Nahant to tho inhabitants of Boston and vicinity.
The principal merchants keep houses here in addition to those they have at Canton or Hong Kong and they come here as often as they choose to enjoy a little quiet or catch a breath of fresh air in the hot weather. The population comprises about fifteen thousand Portuguese but how they live since business has been transferred to Hong Kong is a mystery. Many of them probably suffer. The morning after my arrival several females of forty or fifty years of age looking very respectable and as though they had seen prosperous times made their appearance beneath my window begging. 
Directly beneath tho veranda in front of the hotel is the Praya Grande a pretty street thirty or forty feet wide and stretching round upon tne edge of the water on either side in tho shape of a crescent. A line of houses fronts the harbor like those fronting Boston Common. 
The harbor looks like a beautiful lake there being no outlet visible on account of the islands in the distance. There is a harbor on the other side of the city called the inner harbor extending from this side around the point. There are no vessels here at anchor nor boats except the small ones belonging to tho boat women which they live in anchored a little way from the shore.
At each extremity of the Praya Grande is a formidable looking group of buildings consisting of churches, dwelling houses and fortifications rising up and crowning the summit of the hill. Near the centre of the Praya Grande on the sea wall and in front of the governor's house is a small battery of five or six guns. It is the one that the English took last summer in liberating a British subject who had infringed upon the Portuguese laws by keeping his head covered at one of tho Catholic ceremonies persisting in doing this after he had received several warnings (...)
From the veranda on the other side we have a view of a public square or rather of a public triangle. On its front is the Praya Grande with a row of stone seats. A few paces beyond is a fortification where sentinels may be seen keeping guard and on tho opposite wide from us are the disagreeable looking buildings spoken of before. They are separated by high brick walls plastered on tho outside and painted yellow. They are gloomy looking and I have just ascertained that they are monasteries. Just behind them rises up a pretty lull the top of which is covered with small green pines. 
As I now sit at my window and look down into the little triangular square before me I see a platoon of soldiers marching up to tho barracks and behind them a parcel of China boys straggling with the soldiers mattresses. There goes a Chinese cooly on a half run stooping under the weight of two large buckets of water. Here at the corner nearest are some goats with their kids feeding around them. A dozen dogs are gravely seated near by apparently holding a council and judging from size and color various races of them are there represented wonder are three boat girls on the stone seats and talking busily. How disgustingly their hair is dressed. (...)  Their dress is very simple but not particularly clean blue pants and blue frocks reach nearly to the knee and they have naked feet and bare heads. All the Chinese within sight just now are bare footed and bare headed. There stands a Chinaman over the way with his mouth wide open looking up at me. He sees me using my pencil but cannot imagine what I am doing astonishment and curiosity are plainly depicted in his countenance. (...)

Macao China March 3d 
My dear Sister, This morning according to previous arrangement I breakfasted with the French gentleman Monsieur L. 
Breakfast being over not withstanding the rain I sallied out to a view of the cathedral which stands conspicuously in the midst of other buildings crowning the hill near by. As the Portuguese are Roman Catholics this of course is a Roman Catholio church. It's very handsome and I am told cost forty six thousand dollars. Catholics are the most zealous of professed Christians and have most splendid churches. 
We went immediately inside where a of candles were burning all around the walls. At the further end the altar glittering with images. Above these were suspended on walls paintings of Christ on the cross of the Virgin Mary and of some of the saints. 
The bishop, a large fat man, sat in a little recess with a show of pomp covered with sparkling robes. The priests chanting and going through their forms of worship which reminded me much of the ceremonies in several monasteries of the which I have visited. There were no seats and the floor of the church that was filled with females on their knees their long shawls thrown over their heads and their appearance generally reminding me of nuns convents confessionals veils and lady superiors. When they arose to go out an opportunity presented of seeing their faces which were anything but attractive. There were the black, brown, red, yellow and white and all the intermediate shades with very few comely looking ones among them though in Macao notwithstanding there are many good looking and some handsome ladies (...)
Leaving the church we went to the Catholic cemetery on a neighboring eminence in the midst of the city which we ascended by a long flight of stone steps. As I looked up I thought we were about to enter another church but it proved to be only the front and sides of a former church fashioned into a cemetery. We entered by an iron gate which was opened by the sexton. What had been the body of the church was now laid out with gravel walks and rows of trees. In the sides were rows of shelves for the coffins six tiers high and sealed up from the air with plaster.  
In the floor formerly under the galleries were sealed vaults and at the further end were the vaults of three bishops whose bodies there repose. The slabs covering them were full of inscriptions. We passed from this into an open space which was the cemetery for the poor.
Adjoining was a private enclosure belonging to the family of a wealthy merchant. This seemed to close up another communication between the two cemeteries. Here is a handsome monument on which the family name is inscribed. The two entrances are closed by large iron gates. The whole space is paved with solid granite blocks and beneath is the vault. From this place we extended our walk to the Protestant cemetery. A dead house is connected with it and a Chinaman is constantly in charge. The ground is low containing I should say half an acre. (...) 
There are a number of monuments but the graves are mostly with granite slabs placed horizontally with sides and end pieces supports. One of the first that attracted my attention was the of Dr Brooks, surgeon of the United States navy. He was from Philadelphia and attached to the Plymouth. I was very acquainted with him having lived at the same house and pleasant excursions in his company. There was one larger than this but none so chaste and well proportioned. It was by the officers of the United States navy of the China squadron is about four feet square but in height a little more with a shaped piece rising pyramidically upon the top It stands on a about five feet square and fifteen inches thick all of granite. (...)
Our walk next took us to the garden of Mr Marques, a Portuguese gentleman situated on a considerable eminence at other side of the city. It was quite extensive and filled with shade and fruit trees flowers arbors retreats etc. There are small eminences in the grounds from one of which is a view of inner harbor where ships of any size may anchor. On this is a kind of tower with a terrace on the top surrounded by a railing with seats where may be enjoyed the cool sea breezes another hill were lodged several immense rock boulders a romantic spot which in its wild state was the favorite of a Portuguese poet of the fifteenth century. The boulders are fitted up by bricks and plaster into a kind of grotto in which the bust of Camoes,  the poet. Upon the walls are various inscriptions and on the top of all is built a place of resort for a hot evening.
Macao is a peninsula much like Boston and has a narrow neck uniting it to the rest of China. Towards this we directed our steps to go a little way into the country. We walked leisurely along enjoying the fresh air viewing the hills valeys, people houses etc with nothing to disturb us excepting once when a number large blue buffaloes came chasing after us puffing and blowing within a few rods of us when like their Chinese masters they and stared at us.
After a few minutes they came on galloping again stopping at intervals until their keeper came and took charge them. We were very glad of this for we expected to have to battle to them before they would leave us.
On the neck is the Barrier stretching entirely across separating the Chinese from the Portuguese and forms the frontier between the two nations. In the centre is a gateway called the Barrier Gate. The barrier is a wall about four feet thick, fifteen high and built of brick earthen ware stones and mortar. A rods before reaching it there is a stone post marking the place Governor Amaral was murdered by the Chinese last summer of the Chinese part are the ruins of houses which the Portuguese soldiers destroyed and about half a mile beyond upon a hill is (...)

PS March 12th
It rains here almost incessantly at this season of the year which makes my stay in Macao not a very agreeable one. There are very few but Portuguese in Macao during the cool season. This afternoon I have heard of a vessel bound for Java and this evening I have been aboard with Monsieur Lafon to ascertain alxnit her She is a Dutch vessel the Macao commanded by Capt De Groot and is going to Batavia in the morning It seems a rather sudden move for me at so short a notice to think of leaving China. But taking all things into consideration the changing of the monsoon next mont. I have concluded to leave with the vessel. (...)

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Os "retratos" de Chinnery

À semelhança de outros artistas do seu tempo, George Chinnery vivida dos rendimentos que obtia com a venda dos quadros que pintava, não só de paisagens, mas sobretudo e em especial, retratos das pessoas mais abastadas e até de famílias: desde os mandarins e comerciantes chinese smais abastados, aos comerciantes estrangeiros que viviam alguns meses em Macau até poderem ir fazer negócios a Cantão, bem como alguns macaenses mais ricos.
Segundo testemunhos da época, Chinnery era considerado um 'bon vivant' e até extravagante, tinha um excelente sentido de humor e era bom conversador.
O comerciante de ópio António Pereira (imagem acima) foi um dos retratados por G. Chinnery. Outros: William Jardine (médico escocês que abandonou a medicina para dedicar ao comérico do ópio e co-fundador da Jardine Matheson & Co.) James Matheson (o sócio de Jardine), Thomas Colledge (médico especialista em oftalmologia), Harriet Low, Mow Qua, Hou Qua, Robert Morrisson, etc...
The Revd. Robert Morrison D.D. and his assistants 
in the translation of the bible into Chinese. ca. 1835

Harriet Low por Chinnery
Em cima, um retrato de Wu Bingjian/Mow Qua (Qua significa Oficial em mandarim) datadop de 1828. Foi o mais importante comerciante de Cantão no tempo das feitorias estrangeiras. Morreu em 1839.
Um dos discípulos de Chinnery, Lam Qua, também fez o retrato deste comerciante (imagem abaixo). Lam Qua era criado de Christopher Fearon, um comerciante estrangeiro para cuja casa Chinnery foi viver nos primeiros tempos em Macau. Ali, Lam Qua viu e aprendeu a arte e técnica da pintura ocidental com George Chinnery
Em baixo um dos retratos mais conhecidos de Chinnery: "Dr. Thomas Richardson Colledge and his assistant Afun in their Ophthalmic Hospital, Macao, 1833". Ou seja, o Dr. Thomas Richardson e o seu assistente a tratar pacientes no hospital oftalmológico em Macau em 1833.
A pintura de Chinnery foi encomendada pela East India Company (EIC) e custou cerca de 500 libras, uma grande soma de dinheiro. A pintura foi enviada para a Inglaterra após a conclusão e uma impressão da tela foi gravada por William Daniell em 1834 com o título "Thomas Colledge Esq’re, Member of the Royal College of Surgeons, London, and Surgeon to the British Factory in China, attending at his private Opthalmic (sic) Infirmary in Macao."
Pintura com o título "An English Family in Macao"

PS: Sobre praticamente todos os retratos referidos existem publicações aqui no blogue pelo que sugiro a utilização do 'motor de pesquisa' a quem pretender mais informações.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Carimbos Raros de Macau

"Nas capas dos nros 80 e 81 deste Boletim, publicamos as reproduções de dois belos sobrescritos com carimbos raros de Macau. Na capa do presente numero, reproduzimos outros carimbos raros daquela nossa província ultramarina. Uns e outros, foram-nos amavelmente emprestados pelo distinto filatelista inglês e nosso prezado amigo sr. P. A. Wilde, de Cardiff, que está preparando um estudo, profusamente ilustrado, a publicar brevemente, sobre os primeiros carimbos de Macau. (...)."
in Boletim do CFP nº 85, Julho de 1958
Estamos perante carimbos do início do século 19, anteriores à criação do serviço de correios em Macau por parte do governo local, o que só ocorreu na segunda metade do século 19. Foi pois uma época em que o serviço era assegurado, primeiro por mercadores britânicos e depois, após a fundação de Hong Kong (1842), por funcionários da colónia britânica. Repare-se que o nome do território surge sempre na designação inglesa: "Macao".
Num deles pode ler-se "British Agency Government Office - Macao"; noutro "Pago em Macao".
Curiosidade: remonta ao final do século 18 a criação do Correio Marítimo em Macau.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Pintura miniatura da Praia Grande

As pinturas de dimensões reduzidas eram uma das características da chamada 'escola chinesa' e a razão principal tem a ver com o facto dos comerciantes estarem normalmente pouco tempo em Cantão pelo que as pinturas mais pequenas faziam-se com maior rapidez.
Neste caso, uma vista da baía da Praia Grande, a pintura tem apenas 8.3 x 12.7cm. Ao fundo, do lado esquerdo está a Ermida da Penha no topo da colina com o mesmo nome. Em primeiro plano, um grande número de pessoas num areal junto à água onde podem ver-se diversos tipos de embarcações, nomeadamente tancares e sampanas, as únicas que se adaptavam à pouca profundidade das águas junto à costa. Estamos perante uma pintura a óleo sobre tela de meados do século 19.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Os Pang Tang

Os chamados cheques-prata ou Pang Tang eram títulos fiduciários (garantidos por depósitos de moeda de prata) emitidos por empresas e bancos privados na primeira metade do século 20. Sendo ilegais eram tolerados pelas autoridades locais.
Po Hang Bank (Rua dos Mercadores)

Estes títulos circulavam paralelamente à moeda oficial de Macau cujas primeiras notas só foram emitidas em 1905 e que nos primeiros anos não tiveram a confiança da população. A desconfiança era de tal ordem, que mesmo tendo de pagar uma taxa de câmbio, as pessoas preferiam os Pang Tang à pataca de Macau e, na verdade, em certas lojas nem sequer se aceitava a moeda pataca. Foi este o cenário durante cerca de 40 anos.
Banco Pou Seng (valor facial 50)

A partir do final da década de 1930, com a invasão da China pelo Japão e depois com o alastrar da segunda guerra mundial à Ásia, estes bancos privados começaram a não ter reservas em prata para cobrir as responsabilidades dos pang tang emitidos. A confiança nesta modalidade de dinheiro paralela foi diminuindo e acabou em desuso.
Yau Sun Bank (valor facial 50)

Mas nos tempos áureos chegaram a existir dezenas destes bancos privados: Chin Fong, Hang Heng, Hang Fat, Po Hang (um dos mais importantes), Pou Seng, Tin Lee, Yau Sun, etc...
Tin Lee Co

domingo, 18 de setembro de 2022

"Visits to Macao" em 1835

Visits to Macao are often made by the residents in Canton. The passage-boats, viz: Union, Sylph, and St. George, in comparison with the inside chop-boats of the last century, afford strong inducements to try a change of air and place. By circular it is announced that the "Union" will leave for Kumsing moon and Macao tomorrow at 5 p. m. precisely.” Wednesday , August 12 th.
The passage down the river brings the traveler in view of sights and wonders which can be known only by ocular demonstration. The two Follies, with heads of tigers; the boats of many sorts and sizes; the imperial navy yard ; men-of-war, with barn-doors for helms; fish-stakes; Howqua’s fort, built like a hencoop; the half-way pagoda, &c.; form the landmarks to Whampoa, which we reached in one hour from Canton; having passed in the mean¬ time one of his Siamese majesty's ships bearing tribute.
At 11 o'clock the wind failed, the tide turned, and brought us to an anchor, two miles above Tiger island. Under weigh at 5 in the morning: at half-past 3 p.m. met the Sylph, and exchanged letters; at 4, had a smuggler alongside, with sixty oars and eighty men: wrecks aud relics of the typhoon; a human body floating down the river; anchor in the moon; the fankwci neujin, alias, foreign ladies; an arrival; news; reach Macao; tankea lasses; Chinese custom-house. Friday , August 14 th.

Walks about Macao: Praya Grande; Bishop's walk; bathing in the great ocean; groupers and sole fish; awful havoc made by the late gale; unroofed houses; beggars; ride to the barrier; the Manila and Java ponies; an Arabian horse; Chinese horsemanship. Saturday , August 15th .
The extent of the settlement is less than three miles in length and one in breadth: its topography; how obtained by the Portuguese; its early history ; character of the first adventurers; inner harbor; Typa; Green island. Monday , August 17 th.

Population: Portuguese, say from 4600 a 4700, of these 2600 a 2700 are females, 800 a 900 are slaves, and 300 are soldiers; Chinese population 30,000; education ; great want of good schools ; the newspaper; lack of enterprise, and the causes of it; masquerade; a Caffre with a Jews-harp; vespers. Thursday, August 20 th.

Government of Macao: its precarious footing; its relation to the Chinese and foreign powers not well defined; advantages of being independent of the Chinese and of maintaining amicable feelings towards foreigners; the governor; judge; senate; the king of England’s commissioners. Monday, August 24 th.

The public buildings are old and decayed, and some of them are in ruins. Forts and churches are numerous, and a numerous clergy is connected with the former. The college of St. Joseph has seen its best days; the 'British museum’is defunct; and the cave of Camoens deserted. The aviary and ‘humerous Elogart ’ are not to be forgotten: nevertheless the lions are soon ‘ exhaust,’ and ‘ Macao after all is a dull place,’—not so to me. I shall start for Canton early Monday morning.

Artigo publicado no jornal The Chinese Repository em Outubro de 1835 embora sejam uma compilação de pequenas notícias de Agosto desse ano. Na verdade são excertos de um diário. Segue-se uma tradução/adaptação.
Praia Grande em meados do séc. 19. Espólio S.G.L.

Os residentes de Macau viajam frequentemente até Macau. Os barcos de passagem, a saber: Union, Sylph e St. George, em comparação com os chop-boats domésticos do século passado, são um grande atractivo para mudar de ares. Por circular é anunciado que o "Union" partirá para Kumsing e Macau amanhã às 17h.  precisamente.” Quarta-feira, 12 de agosto.
A passagem pelo rio proporciona ao viajante paisagens e maravilhas que só podem ser apreciadas in loco. As duas Follies, com cabeças de tigres; os barcos de vários tipos e tamanhos; o estaleiro da marinha imperial; navios de guerra, com portas de celeiro para leme; estacas de peixe; o forte de Howqua, construído como um galinheiro; o pagode a meio caminho, etc.; desde as 'marcas' até Whampoa, chegamos em uma hora a Cantão; tendo passado nesse percurso um dos navios de sua majestade do Sião carregando tributo.
Às 11 horas o vento parou, a maré virou e baixamos âncora, duas milhas acima da ilha do Tigre. Mais leves às 5 da manhã, às 15h30 encontramos o Sylph, e houve troca de correspondência entre as duas embarcações; às 4 da tarde, tinhamos um contrabandista ao lado, com sessenta remos e oitenta homens: destroços e relíquias do tufão; um corpo humano flutuando rio abaixo; âncora na lua; a fankwci neujin, aliás, senhoras estrangeiras; uma chegada; notícia; chegar a Macau; moças dos tancares; Alfândega chinesa. Sexta-feira, 14 de agosto.

Passeios por Macau: Praia Grande; passeio do bispo; banho no grande oceano; garoupas e linguados; terrível estrago feito pelo vendaval tardio; casas sem teto; mendigos; passeio até à Porta do Cerco; os pôneis de Manila e Java; um cavalo árabe; equitação chinesa. Sábado, 15 de agosto.
A extensão do território de Macau é inferior a três milhas de comprimento e uma de largura: a topografia; como obtido pelos portugueses; sua história inicial; caráter dos primeiros aventureiros; porto interno; Tipo; Ilha Verde. Segunda-feira, 17 de agosto.

População: portugueses, digamos de 4600 a 4700, destes 2600 a 2700 são mulheres, 800 a 900 são escravos e 300 são soldados; população chinesa 30.000; Educação; grande falta de boas escolas; o jornal; falta de empreendimento e suas causas; mascarada; um Caffre com uma harpa judia; vésperas. Quinta-feira, 20 de agosto.

Governo de Macau: a sua situação precária; sua relação com as potências chinesas e estrangeiras não está bem definida; vantagens de ser independente dos chineses e de manter sentimentos amigáveis ​​em relação aos estrangeiros; o governador; juiz; senado; os comissários do rei da Inglaterra. Segunda-feira, 24 de agosto.

Os edifícios públicos são antigos e decadentes, e alguns deles estão em ruínas. Fortes e igrejas são numerosos, bem como o clero. O colégio de São José já viu melhores dias; o 'Museu Britânico' está extinto; e a gruta de Camões deserta. O aviário e o “humero Elogart” não devem ser esquecidos: no entanto, as grandes atracções depressa se esgotam e “Macau afinal é um lugar monótono” – não para mim. Vou partir para Cantão na manhã de segunda-feira.


sábado, 17 de setembro de 2022

Os "reis" e os "avos"

A 1 de Setembro de 1894, através da Portaria n° 172 (31.8.1894) do Governo da Província de Macau e Timor, toda a contabilidade oficial de Macau passou a ser elaborada com base na moeda local, ou seja, patacas, substituindo assim moeda oficial portuguesa, o real, que embora nunca tivesse circulado no território, era a moeda de referência utilizada nas contas públicas.
Esta profunda alteração teve reflexos em múltiplas situações, nomeadamente nos selos e bilhetes postais, que tiveram de ser alterados para avos de pataca. Assim, o governo de Macau (Portaria nº189 de 14.9.1894) determina que os selos em curso na época (os de D Luís fita direita) fossem 'sobrecarregados' na moeda local publicando para o efeito uma tabela de equivalência feita tendo por base o câmbio que então vigorava que era de 1 avo para 6.40 reis.

Estes selos entram em circulação a 1 de Novembro de 1894 

Refira-se que nessa altura chegaram a Macau os selos de D. Carlos I (tipo Diogo Neto), impressos muitos antes das alterações serem decretadas e expressos em reis, a moeda portuguesa. Para poderem circular em Macau o governo decidiu também sobretaxa-los na moeda local. Só que no final de 1894, um decreto do governo de Lisboa (nº 646 de 28.12.1894) proibiu os governos provinciais de sobrecarregar selos e outras fórmulas de franquia, devido aos abusos praticados.
47 avos, equivalente a 300 reis

Francisco Sousa, filho e sucessor de Ricardo de Sousa na direcção dos Correios de Macau, no seu relatório anual de 1896 escreve a este propósito: "Os bilhetes postaes de resposta paga, alterados para provisórios foram todos vendidos em mui pouco tempo, e como foi prohibido fazer mais alferações nos sellos, o correio não tem bilhetes de resposta paga para fornecer ao público".
Esta falta de selos seria recorrente, originando anos mais tarde, já no início do século 20, muitas queixas, nomeadamente do professor do Liceu e advogado Manuel da Silva Mendes.

O único selo de D. Carlos que foi alterado para avos foi o de 2.5 reis (0.5 avos), que servia essencialmente para a franquia de jornais, por ter entrado em circulação a 30 de Junho de 1893. Em suma, sem poderem ser alterados, os selos de D. Carlos continuaram a circular em Macau em simultâneo com os de D. Luís alterados, durante 4 anos até que ambos foram substituídos a 1 de Outubro de 1898, pelos selos de de D. Carlos (tipo Mouchon).

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Casa da Literatura da Macau / 澳門文學館拍攝

Numa das 10 moradias da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida - nº 95 A/B - junto ao Tap Seac, é inaugurada este sábado a Casa da Literatura de Macau. Segundo o IC o espaço "tem como objectivo divulgar a produção literária local e construir uma plataforma de permuta na área da escrita através de um variado leque de exposições e eventos, promovendo assim o espírito criativo da literatura e impulsionando um desenvolvimento cultural inovador."
A Casa da Literatura (Foto IC)

A Casa foi construída nos anos 20 do século passado e inicialmente era utilizada como residência de funcionários públicos, contando-se actualmente entre os bens imóveis classificados de Macau. O edifício de dois pisos apresenta características típicas de estilo português, dispondo de uma sala de exposições permanente, uma sala de leitura, uma sala de exposições temáticas, salas polivalentes, um jardim interior e um jardim exterior.
A sala de exposições permanente apresenta a evolução da literatura local, exibindo as obras e os manuscritos originais de vários escritores influentes e poetas chineses e portugueses, nomeadamente, Tang Xianzu, Wu Li, Luís Vaz de Camões e Camilo Pessanha.
Segundo alguns historiadores Luís Vaz de Camões (1524-1580) terá passado por Macau e escrito na cidade parte da obra "Os Lusíadas". O poeta Camilo Pessanha (1867-1926) viveu quase 30 anos em Macau, onde morreu e está sepultado.
Tang Xianzu (1550-1616), conhecido como o Shakespeare chinês, cuja maior obra, "O Pavilhão das Peónias", inclui uma cena inspirada em Macau; o poeta e pintor Wu Li (1632-1718), foi um dos primeiros padres jesuítas chineses, após estudar no Colégio de São Paulo, em Macau.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Factura da Farmácia de Macau/Macao Dispensary: 1919

Em baixo uma factura da Farmácia de Macau / Macao Dispensary, de Elysio Neves* (o próprio assina o documento), localizada nos números 6, 8 e 10 do Largo do Senado. A mesma - referente a 6 garrafas de água oxigenada - foi passada à Casernaria da Fazenda no valor de 10,50 patacas.
A factura tem ainda a particularidade de ter um selo (emissão D. Carlos I) de 1902, com sobretaxa e sobrecarga "Imposto do Sello", ou seja, reutilizado para fins fiscais: 2 avos s/ 18 avos s/ 50 reis.
* Trata-se de Elysio Fernandes das Neves Tavares que no final do século 19 foi editor do jornal O Lusitano. Por volta de 1908 a farmácia ficava na Rua Central.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

"The Wickedest City"

Na edição de Fevereiro de 1955 da revista de turismo e viagens "Holiday" (EUA) um dos destaques é Macau com um artigo da autoria de Christopher Rand (pp. 46-48) intitulado:
 "The Wickedest City, Macao. The ancient Portuguese colony of Macau, in the shadow of red China, exists gaily and exotically on the fringe of legality".
"A cidade mais perversa, Macau. A antiga colónia portuguesa de Macau, à sombra da China vermelha, vive alegre e exoticamente à margem da legalidade".
Nesta década Christopher esteve várias vezes no território. Desta vez chega a Macau a bordo do ferry Fat Shan que atracava no Porto Interior.
O adjectivo wicked significa perversa/imoral... (cidade do pecado) qualificativos associados ao jogo, ao ópio e à prostituição. Na década de 1950, finalizada a guerra, o Ocidente começava a 'redescobrir' o Oriente e o cinema ajudou a catapultar o nome do território como destino exótico. A baía da Praia Grande fazia lembrar uma paisagem mediterrânica (Monte Carlo, Mónaco) em plena China.
 
No jornal Pittsburg Post Gazette de 13 de Janeiro avança-se com os destaques desta edição da Holiday e escreve-se: 
"Macao has the name of an Oriental pleasure garden where girls, gambling and opium are available round the clock. The reputation has been earned. A thrilling different article that you really want to read." 
"Macau tem o nome de um jardim de prazer oriental onde as raparigas, o jogo e o ópio estão disponíveis 24 horas por dia. A reputação foi conquistada. Um artigo diferente e emocionante que vai realmente desejar ler."
No filme "The Lady from Shangai," de 1948, o termo "wickedest" já tinha sido usado a propósito de Macau num dos diálogos:
Michael: I'll bet you a dollar I've been to the place where you were born.
Elsa: Chifu.
Michael: It's on the China coast. Chifu. It's the second wickedest city in the world.
Elsa: What's the first?
Michael: Macao. Wouldn't you say so?
Elsa: I would. I worked there...
 
E se regressarmos à década de 1920 voltamos a ver  o termo "wickedest" associado a Macau. 
No jornal The Evening Independent a 10 de Novembro de 1921: "This is a view of one of the main streets in the Portuguese city of Macao, which is proud of its reputation as the wickedest city in the Far East", é a legenda de uma fotografia do Largo do Senado vendo-se à direita os edifícios onde hoje existem os Correios e logo a seguir a Santa Casa da Misericórdia.
Antes, a 3 de Outubro de 1921, o mesmo jornal publica um artigo mais longo, assinado por Philip Simms. "This dying city of 75,000 souls is the wickedest town in the Far East and is proud of it. In facti since Hong Kong set itself up as a port, sin has come more and more Macao's stock in trade, until now gambling and opium-making and smoking are the city's mainstay and pastime. (...) The beautiful crescent-shaped harbor is silting up and all one sees there nowadays is a flatbottomed steamer or so from Hong Kong, or Chinese junks. Approached from the sea, the city looks deserted. But it isn't quiet. Ashore the streets are clean and unusually pretty, and very quiet. Great avenues of trees, centuires old, and beautiful parks, together with an architecture reminiscent of old Spain, make the place onde of the pearls of the Orient, different from anything else in China, or for thst matter, in the world. Under this calm old world exterior, lies exotic sins, unaldulterated and unsashamed. (...) gambling houses (...) Opium farms (...)

Na edição de 4 de Setembro de 1921 o jornal Richmond Times Dispatch também recorre ao termo "wickedest". O título é "Visit to wockedest city of east gives Monte Carlo's Air", Segue-se "Macau China holds title and town is proud of fact. Gambling and opiumdens open to world. City of 75,000 declared to be most immoral municipality in eastern hemisphere."

terça-feira, 13 de setembro de 2022

The casino ship moored in the harbour

"The Macau Palace (the casino ship moored in the harbour) has Macao's only round-the-clock restaurant. (...)" 
in Golden Guide to South and East Asia, 1963
"Macao is a great gambling town. There are two casinos, one on a boat (the Macau Palace) much like the floating restaurants in Aberdeen, the other is the casino at the Hotel Estoril. (...)"
Myra Waldo in Travel Guide to the Orient and the Pacific, 1965
"The floating casino "Macao Palace" is an old converted ferry decorated with all the curlicues , golden panels, red banners and fripperies of modern Chinoiserie. (...)"
Joseph H. Bain in "Casinos: The International Casino Guide", 1995