domingo, 26 de abril de 2009

Anos quentes: 1974-1975

Gazeta Macaense, 24 Abril 1974
Gov. Nobre de Carvalho em 1974 aos microfones da Emissora de Radiodifusão de Macau

A 22 de Outubro de 1974, no regresso da sua viagem ao Oriente o ministro da Coordenação interterritorial, Almeida Santos, afirma que "Timor optará pela manutenção de laços estreitos com Portugal e Macau quer continuar a ser administrado pelos Portugueses".
No dia 29 de Setembro de 1974, o general Nobre de Carvalho deixa o seu cargo no Governo de Macau. A 10 de Outubro Almeida Santos reúne-se com um emissário de Pequim para tomar consciência do panorama económico da colónia e, no dia 22 do referido mês , anuncia que é sua vontade continuar sob a governação de Portugal.
O coronel Garcia Leandro ocupa o cargo de novo governador de Macau no dia 13 de Novembro de 1974 saindo ao fim de 51 meses, em 1979.
Responsável pelo processo de descolonização, Almeida Santos, terá de em 1975 colocar alguma água na fervura após a publicação no New York Times de uma notícia que dava conta de que o MFA teria tentado entregar Macau à China.

Notícias de Macau, 26 Abril 1974

Dizia o jornal que os militares teriam atribuído a tarefa ao coronel graduado Garcia Leandro quando da sua deslocação ao território em Junho de 1974 - cerca de cinco meses antes da sua designação como governador – de “fazer a primeira oferta de transferência de soberania e de eliminação da guarnição militar portuguesa de Macau”. No mesmo artigo, o jornalista acrescentava que “o coronel Leandro foi então informado de que Pequim não desejava alterar o Estatuto. Os diplomatas revelaram ainda que o coronel Leandro recebeu esta informação de Ho Yin, um homem de negócios milionário que, na qualidade de presidente da Associação Comercial Chinesa de Macau, actua como representante de Pequim em Macau”.
A notícia foi depois reproduzida em Lisboa pelo vespertino Diário Popular e prontamente desmentida, um dia depois, no Diário de Notícias por Almeida Santos, o responsável pelo processo de descolonização.
“A notícia não tem qualquer fundamento”, disse. “De resto ela aparece não só desgarrada, mas ao arrepio de afirmações feitas e repetidas pelas autoridades militares e civis portuguesas, do mais baixo ao alto nível, que sempre enfaticamente acentuaram o facto de, em relação a Macau, se não pôr o problema das alterações estruturais. (...) “O Governo Português não considera Macau um colónia, nem aplicável a este território o processo de descolonização em curso. (...) Trata-se de pura e decerto mal intencionada especulação, a partir de coisa nenhuma Devemos estar atentos e premunidos contra este tipo de campanha visando o novo regime português, em geral, e o processo de descolonização, em especial”.
No mesmo dia em que o Diário de Notícias publicou as declarações de Almeida Santos, em Macau, o Centro de Informação e Turismo (CIT) da administração portuguesa, divulgou um comunicado em que rejeitava “energicamente” o conteúdo do artigo publicados pelo New York Times “refutando na totalidade essas afirmações que só podem ser lançadas por quem esteja interessado em turvar um ambiente perfeitamente clarificado”. O CIT reafirmava ainda “o respeito total pela vontade das populações quanto à definição do seu próprio futuro” e fazia notar que a notícia tinha sido publicada no dia das mentiras e, como tal, só podia ser “uma brincadeira de mau gosto”.

Gazeta Macaense, 30 Abril 1974

Almeida Santos viria ainda a reiterar o desmentido numa entrevista a 9 de Abril à Emissora de Radiodifusão de Macau, e a 13, o próprio governador Garcia Leandro voltava falar no assunto.

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