sábado, 30 de novembro de 2019

"Faded Glory Restored in Macao"


Após obras profundas de remodelação o hotel Bela Vista reabriu ao público em 1992 é é disso que trata o artigo do New York Times intitulado "Faded Glory Restored in Macao" e publicado a 27 de Fevereiro de 1994.

Reproduzo a seguir um artigo escrito na mesma altura, mas noutra publicação, da autoria de Marc A. Thiessen
Em Março de 1999 o hotel fecharia definitivamente as portas para pouco depois passar a ser a residência oficial do Cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong.

For the two centuries before the British set foot in Asia, the Portuguese colony of Macau was Europe's gateway to China. But with the establishment of Hong Kong a short distance up the Chinese coast, Macau was eclipsed as a trading post and the colony was all but forgotten by its Portuguese masters. It became a haven for spies, arms merchants, gamblers and opium dealers, and a Siberia for second-rate Portuguese civil servants.
Today, however, Macau is experiencing a sudden and dramatic resurgence. After years of neglect, Portugal has recently taken a renewed interest in its last colonial possession. New construction is everywhere, visitors from Hong Kong and the mainland are flocking to it, and the government is on a campaign to preserve the isthmus' 400-year Portuguese heritage before Macau is handed over to China on Dec. 20, 1999.
Central to the Portuguese revival is the recent restoration of the extraordinary Hotel Bela Vista. Located on Penha Hill, overlooking the captivating Praia Grande Bay, the Bela Vista (Portuguese for "beautiful view") is a spectacular Portuguese colonial mansion with a colorful history. Built in 1870, the Bela Vista has been (between stints as a hotel) a Portuguese secondary school, a billet for British civil servants studying Cantonese, a hostel for refugees escaping Japanese occupation of Hong Kong and Shanghai, and a clandestine casino. Thanks to the renovation, the hotel's graying exterior has been replaced with a bright yellow-and-white facade, and on stepping into the lobby you feel as if you are entering the foyer of an old Portuguese family home.
There is no registration counter; the receptionist sits behind a beautiful antique desk under the winding staircase. Relax in a comfortable easy chair as she checks you in, then follow her to one of the hotel's eight rooms or suites, each decorated simply but elegantly in Portuguese style, accented with Oriental antiques. After checking in, take lunch on the Bela Vista's gorgeous veranda. On an average weekday, you'll find Portuguese government officials dining around you (the governor's mansion is a stone's throw away), and on weekends you'll see many foreign expatriates escaping Hong Kong's hectic pace.
After lunch, spend the day exploring Macau's winding back streets, where you can find Chinese antiques for half the price of shops on Hong Kong's Hollywood Road. Peer out at mainland China through the old border gate. Stop by St. Paul's Cathedral (which burned in 1835 during the Opium Wars, leaving nothing but the facade standing), and then visit the wine stores near the Leal Senado, Macau's legislature, where you can buy wonderful Portuguese wines and vintage Ports for a song.
The hotel's kitchen specializes in "Macanese" cuisine, incorporating Chinese and Portuguese culinary traditions. Begin with a plate of traditional Portuguese antipasto or dim sum dumplings filled with spicy Portuguese sausage. For the main course, try the specialty of the house: African Chicken, marinated in coconut milk and grilled to perfection. The wine list offers French and Californian selections, but you're in Macau, so choose from the hotel's extensive offering of Portuguese wines--they're inexpensive and terrific.
Of course, the highlight of the evening will be an after-dinner cigar, enjoyed with a selection from the Bela Vista's considerable cellar of excellent tawny and vintage Ports. We enjoyed a velvety bottle of vintage 1963 Krohn. The Bela Vista's humidor has a small, but high quality, selection of cigars, focusing principally on Cohibas and Davidoffs. Maitre d'hotel Alain Gomis says his dream is to build a cigar room supplied with nothing but the finest Ports and cigars.
For now, sit on the veranda, where at night the lights of the two bridges connecting the Macau peninsula to Taipa Island are strung across the horizon like glowing pearls. Or relax in the bar, which evokes the hotel's colonial feel better than any other room: solid white wood bar, plush green chairs, ceiling fans, tall palms and dark wood tables fitted with large, cigar-friendly Chinese porcelain ashtrays. Or, with cigar in hand, venture out to Macau's legendary casinos, including the gaudy casino at the Hotel Lisboa.
Simply put, the Bela Vista is a romantic reminder of Portugal's colonial past, and today stands as Macau's unquestioned crown jewel--well worth a day's excursion on your next visit to Hong Kong.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

"A Macao, le colonialisme survit, comme à Hong-Kong par la grâce de la Chine"

Excerto do artigo da autoria de Stephen Hugh-Jones intitulado "A Macao, le colonialisme survit, comme à Hong-Kong par la grâce de la Chine" e publicado em Janeiro de 1967 no Le Monde Diplomatique.

Pendant combien de temps encore la République populaire de Chine pourra-t-elle tolérer la présence du colonialisme à sa porte? Jusqu’en novembre, la colonie britannique de Hong-Kong et la colonie portugaise de Macao – toutes deux indubitablement chinoises par la géographie, la race et la culture – semblaient être les seules colonies au monde à l’abri de la virulence de l’anticolonialisme chinois. On n’en est plus aussi certain aujourd’hui.
A la mi-novembre des troubles ont éclaté à Macao, la police ayant empêché quelque peu brutalement certains Chinois (de race, il s’entend) de détruire un immeuble à la place duquel ils envisageaient de construire une école nouvelle. Des émeutes s’ensuivirent, on appela la troupe, il y eut des coups de feu, et des morts. Une foule chantant les pensées de Mao Tse-toung mit l’hôtel de ville à sac.
La réaction chinoise a été significative. Le 30 novembre, l’officielle agence d’information «Chine nouvelle» accusa les autorités portugaises de Macao de «sanglantes atrocités fascistes». Le 8 décembre, elle rapportait que les Chinois indignés condamnaient les «impérialistes» portugais, terme que Pékin avait jusqu’alors scrupuleusement évité d’utiliser en parlant des Portugais de Macao. Et le 11 décembre l’agence assimilait les Portugais aux «impérialistes anglo-américains».
Pékin pourrait s’il le voulait balayer la colonie en un éclair: et bien qu’il ait manifestement décidé de ne pas le faire, il faut tenir compte de cet avertissement. Les ennemis du colonialisme peuvent fort bien penser que le temps n’est pas encore mûr. En 1963 M. Khrouchtchev reprocha aux Chinois de ne pas vouloir libérer Hong-Kong et Macao. Ils lui rétorquèrent que ces colonies faisaient partie des territoires chinois perdus à la suite de «traités inégaux» et devant être récupérés quand les Chinois en jugeraient le moment venu – et que les Russes feraient bien de réfléchir aux conséquences qu’entraînerait une révision de tous les «traités inégaux». C’était une assez bonne réponse ad hominem, (...)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Triumph TR2

Sucessor do TR1, o TR2 foi um modelo desportivo da marca britânica Triumph produzido entre 1953 (apresentado pela primeira vez no Salão de Genebra em Março de 1953) e 1955 (quando surgiu o TR3). Tinha um motor de 4 cilindros e 1991 cc e 90 cavalos de potência. Tinha como velocidade máxima os 172.7 km/hora e demorava 12 segundos a atingir os 100 km/hora.
Na primeira edição do GP de Macau o Triumph TR2  ocupou todos os lugares do pódio. Eduardo de Carvalho (na imagem acima), por Macau, ficou em 1º, seguido de Paul Du Toit  (carro nº 8 nas imagens abaixo) e de Reginaldo da Rocha (carro nº 14). 
Os "três magníficos" do GP de 1954
Na década de 1950 o carro viria ainda a 'subir' ao pódio em 1955 e 1957. Sempre na terceira posição e com o mesmo piloto, N. C. Fullford, por Hong Kong.

O Triumph TR2 de Eddie Carvalho no Museu do GPM
O Triumph TR2 à e vencedor do GP de 1954 à escala 1/43

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Refugiados chineses

(...) Macau tornou-se num abrigo para os refugiados, não apenas durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Japão ocupou as áreas vizinhas de Macau, mas também depois da guerra, quando os tumultos sociais no Sudeste Asiático e na África forçaram os chineses do ultramar a deixarem os seus países e a tornarem-se «chineses repatriados» em Macau, juntamente com os repatriados vindos do continente após os vários tumultos sociais. É por isso que os repatriados vindos da Birmânia, Indonésia, Indochina, Moçambique e de outros países, constituem uma grande percentagem da população de Macau e que fazem com que a sua cultura ultramarina seja mais forte. Muitos deles ainda mantêm a nacionalidade do país de onde vieram, enquanto muitos dos seus descendentes emigraram para outros lugares e adoptaram a nacionalidade de um país terceiro.
Nos anos 50, na República Popular da China, foram tomadas medidas diplomáticas para diminuir a tensão. Eliminou-se a possibilidade de dupla nacionalidade por parte de muitos dos chineses do ultramar residentes nos países do Sudeste Asiático. (...)
Excerto de artigo da autoria da Gary Ngai.

Distribuição de arroz aos refugiados no Campo dos Operários no final da década 1950

Excerto de documento assinado por Richard Brown, responsável pelo departamento de refugiados e migrações dos EUA, em 1962, dando conta da situação dos refugiados em Macau na época e do auxílio prestado pelo país.
Hon Philip A Hart, US Senate 
Dear Senator Hart 
I refer to your letter of July 25 1962 requesting a report of the refugee situation in the Portugese Province of Macau and a description of Far East refugee program FERP activities Since the occupation of mainland China in 1949 by the Communists.
Macau like Hong Kong has seen an almost continuous influx of refugees escaping from Communist tyranny. The refugee problem in Macau has however taken a different aspect from that in Hong Kong. This difference is due in part to basic differences between the two areas and until recently to the relatively easy movement of people between the two oversea possessions.
The British Colony of Hong Kong is roughly 20 times larger in area and its population of about 3.3 million is 16 times that of Macau. The annual Government revenue for Macau in 1960 was US $4 million while that of Hong Kong for the same year was US $151 million.
Hong Kong depends for its wealth on its industries and commerce while Macau has little of either and derives most of its income from import duties and the granting of concession licenses for gold importation and gambling.
In view of its larger size Hong Kong has offered far greater opportunities to refugees than Macau. This combined with easy movement between the two areas has resulted in a very high proportion of the refugees entering Macau moving onward in a short time to Hong Kong. 
Indicative of this is the fact that while the population of Hong Kong has mushroomed since 1949 and includes over 1 million refugees that of Macau has remained fairly static during the same period. Since Hong Kong was the final destination of almost all refugees fleeing Red China the FERP relief efforts were centered there until 1960. Late in 1959 attention was focused on Macau because of the condition of those refugees remaining there instead of proceeding to Hong Kong. These were blind refugees who after fleeing or being forced to leave Communist China were found to be living in great squalor and want on the streets of Macau.
In 1960 the American Foundation for Overseas Blind AFOB with the help of FERP funds began the construction of a center for blind refugees where they could be registered cared for and given vocational training and classes in braille. At about the same time as the AFOB commenced its program in Macau the National Catholic Welfare Conference NCWC started several projects for the relief of other refugees remaining in Macau. These included a nursery and clinic for refugee children a small housing project of 80 cottages and with funds made available by the US contribution to World Refugee Year a community center where vocational training and other services could be made available to refugees. In addition to these projects American surplus agricultural commodities were distributed in Macau by the NCWC and CARE.
During 1960 FERP contracts in the amount of $96,000 were signed for relief projects in Macau. This amounted to nearly 10 percent of the total FERP program for that year. In 1961 increasingly strict controls were placed by the British on travel from Macau culminating in September with the virtual halting of legal immigration to Hong Kong from Macau.
The great influx of refugees into Hong Kong from China in May of 1962 was matched by a proportionate increase for Macau. With the halting of legal migration to Hong Kong this influx has led to an unprecedented increase in the number of refugees staying in Macau Illegal smuggling of refugees from Macau to Hong Kong carried on with great energy and no small profit by small boat owners in both colonies has maintained to a considerable extent the flow of refugees from Macau to Hong Kong and while causing concern to the British authorities has helped to keep the situation in Macau from becoming more serious than it otherwise might have been (...)
Excerto de um memorandum de Martin J. Forman que esteve em Macau para se inteirar sobre o problema dos refugiados nos primeiros na década de 1960.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Museu Marítimo: tudo começou há 100 anos

A criação em Macau de um museu dedicado ao estudo e divulgação das actividades relacionadas com o mar remonta ao ano de 1919. Por iniciativa do então adjunto do capitão dos Portos de Macau, primeiro-tenente Artur Leonel Barbosa Carmona, foi criado o espaço no Quartel dos Mouros. O Museu Marítimo e de Pescarias ficou instalado na Capitania dos Portos até ser mudado, em 1934, para o Hangar da Aviação Naval que viria a ser bombardeado em Fevereiro de 1945.
Em 1986, por iniciativa do Comandante António Martins Soares, então capitão dos portos de Macau, uma antiga moradia (de cor verde construída na década 1950) localizada no Largo do Pagode da Barra, foi adaptada para albergar o espólio do Museu. Este espaço foi inaugurado em 1987 (7 de Novembro) com o nome de Museu Marítimo de Macau  e Centro de Estudos Marítimos de Macau mas depressa se tornou pequeno. 
Assim a 24 de Junho de 1990 inaugurava-se um edifício construído de raiz - autoria do arquitecto Carlos Bonina Moreno - que ainda hoje alberga o Museu Marítimo de Macau.
Pode ver um exemplar de um bilhete de entrada no museu na década de 1980 aqui.

Curiosidade: 
Na Exposição Universal de Paris de 1900, foram exibidos cinco modelos à escala de embarcações chinesas que seriam agraciados com Grand Prix na mostra e que faziam parte do espólio do primeiro museu marítimo de Macau, datado de 1919, mas que foram destruídos aquando do bombardeamento do hangar do Porto Exterior em 1945. *
Um desses modelos pode ver-se na imagem do lado esquerdo.

* Em 1950, reconhecendo o erro, o Governo dos EUA indemnizou Portugal num montante superior a 50 milhões de Dólares

The history of the Macau maritime museum dates back to 1919, where the Marine Department had a room of exhibits in what is now its headquarters, in the Moorish Barracks.
In 1934 pieces belonging to the museum were moved to a hangar in the Naval Aviation Centre (outer harbour) destroyed by the attack of the U.S. Navy airplanes in the beggining of 1945.
In 1986, Commander António Martins Soares, the Macao harbour master, proposed the idea of a museum. It opened in a two-storey colonial house from 1950's (green - see photo)  in the Largo do Pagode de Barra in 1987. Because the space was too small, the government decided that they needed a larger area and a new building was built and opened on 24th June 1990.
Sugestão de leitura:
"Museu Marítimo de Macau": de Manuel Bairrão Oleiro e Rui Brito Peixoto, Macau , 1992.

domingo, 24 de novembro de 2019

Anne Wong: a 'estrela' do GP de 1970


Anne Wong Holloway, nascida em Singapura em 1949, foi a grande 'estrela' da edição de 1970 (28 e 29 de Novembro) do GP ao vencer a prova de produção (carros de turismo) ao volante de um Mini depois de partir da última posição na grelha de partida. Também participou nas provas do Troféu ACP. Tinha 21 anos e tornou-se na primeira mulher a vencer uma prova do GP de Macau.
Em 1971 regressou a Macau com um Mini Cooper S e ficou em sétimo lugar. No ano seguinte fez apenas uma volta, também ao volante de um Mini, já que o carro se incendiou devido a um curto-circuito.
Retirou-se das corridas em 1974. Ficou conhecida como "Queen of Speed", "Rainha da Velocidade".
Born in Singapure in 1949 Anne wong was the 'star' of 1970 Macau Grand Prix edition. She got the name "Queen of Speed" as she was the first female to win a Macau's Grand Prix race.

Anne Wong ao lado de Dieter Quester o vencedor da prova rainha do GP em 1970

Telex da agência noticiosa Associated Press de 29 Novembro de 1970 reproduzido, entre outros, no jornal dos EUA, The New York Times,, no dia seguinte.
Macao, Nov. 29 (AP) - Dieter Quester of Austria drove a German BMW 2000 c.c. formula racer to victory today in the Macao Grand Prix, but it was a petite 21‐ year‐old Chinese* girl who won the hearts of the 20,000 spectators.
Anne Wong of Singapore, the only woman driving in the 1970 race meeting and racing only since April, outlasted 31 men competitors to win the 76‐mile main preliminary event for production, touring and sports cars in her 1293 c.c. Mini Cooper S. She drove the same car to a second‐place finish earlier in the Automobile Club of Portugal Trophy race.
Quester finished 3½ laps in front of Albert Poon, of Hong Kong, in a 1589 c.c. Brabham BT‐21, in the 17th running of the 45‐lap, 171 mile Grand Prix. Quester was clocked in 2 hours 6 minutes 2.46 seconds and set a lap record of 2:35.7 on the fourth lap of the 3.8‐mile circuit.
in The New York Times, 30.11.1970
* na verdade era natural de Singapura.

sábado, 23 de novembro de 2019

Ligações fluviais entre a península e as ilhas

As carreiras fluviais entre Macau e Ilhas foram iniciadas a 4 de Fevereiro de 1950 de acordo com o Diploma Legislativo 1:112. Estas ligações eram feitas em regime de exclusivo durante um determinado número de anos.
A 1 de Setembro de 1950 era colocada ao serviço uma nova lancha - imagem acima - para assegurar as carreiras fluviais entre as ilhas da Taipa e Coloane.
Rotas das embarcações que asseguravam o transporte de passageiros entre a península de Macau e as ilhas da Taipa e de Coloane.

Coloane (1º plano) e Taipa na década 1940/50
Taipa e Coloane só ficaram ligadas em 1968 quando foi inaugurado o istmo.
A primeira ligação entre  a península de Macau e uma das ilhas, a Taipa, só foi feita por ponte em Outubro de 1974.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Macau no "Edle nacktheit in China" de 1928

Foi via Macau que a fotografia chegou à China pela primeira vez em 1844 com Jules Itier.

O território viria ainda a ser pioneiro nos nus artísticos na China. Foi na década de 1920 com as mulheres chineses a serem fotografadas nos bordéis da Rua da Felicidade. O feito deve-se ao alemão Heinz von Perckhammer que esteve no território e passou tudo parta livro editado em 1928 com o título "Edle Nacktheit in China" (A Cultura do Nú na China).
Perckhammer nasceu em Merano, no então império austro-húngaro (hoje cidade italiana), a 3 de Março de 1895. Na Primeira Grande Guerra integrou a guarnição do vapor “SMS Kaiserin Elisabeth” que participou no cerco de Tsingtao, tendo sido feito prisioneiro de guerra pelos japoneses. Libertado em 1919, Perckhammer permaneceu na China durante alguns anos e foi nessa época que visitou Macau onde tirou o que se pode classificar como 'arrojadas fotos' para época de mulheres chinesas bastante jovens, muito provavelmente as chamadas jovens cortesãs (pei pa chai, em cantonense*) que viviam na Rua da Felicidade, uma zona de prostituição.**
As fotos seriam publicadas num livro polémico em 1928. No ano seguinte Perckhammer assume-se como fotojornalista no semanário ilustrado berlinense “Die Woche” e acompanha o dirigível LZ 127 Graf Zeppelin na sua volta ao mundo. Em 1932 tem estúdio próprio em Berlim e volta a focar-se nos nus e no que hoje se pode classificar como fotografia de moda. No final da década de 1930 algumas das suas fotos são usadas na propaganda do KdF (Kraft Durch Freude), movimento de massas patrocinado pelo partido nazi, e durante a Segunda Guerra Mundial Perckahmmer serve nas Waffen-SS como fotógrafo de guerra.
Paradoxalmente os nacional-socialistas colocariam a sua obra de 1928 na denominada “lista de escritos nocivos e indesejáveis”, fazendo com que hoje em dia restem poucos exemplares. O estúdio de fotografia seria bombardeado em 1942 e depois da guerra Perckhammer regressa a Merano onde vive até morrer à sua morte, a 3 de Fevereiro de 1965. Actualmente, Heinz von Perckhammer é considerado um dos “grandes fotógrafos alemães desconhecidos”.

Capa do livro editado em 1928: "A Cultura do Nú na China":
considerada a primeira publicação de fotografias eróticas da China
Perckhammer was born in Merano, Austria-Hungary (now Italy) on 3 March 1895. In the First World War he served aboard the SMS Kaiserin Elisabeth during the Siege of Tsingtao and from 1917 to 1919 was a Japanese prisoner of war. He remained in China for several years after his release. In 1928 two volumes of his photographs were published in Berlin: one of carefully posed Chinese nudes, many taken in Macao brothels, under the title "Edle nacktheit in China" (The Culture of the Nude in China), and one of Beijing street photography, as Peking. In 1929 he accompanied the airship LZ 127 Graf Zeppelin on its round-the-world tour, as a photojournalist for the Berlin illustrated weekly Die Woche.

By 1932 Perckhammer had established a studio in Berlin, where his work included nudes and fashion photography. In the late 1930s some of his images were used as propaganda for the Strength Through Joy movement, and during the Second World War he served as a war photographer attached to the Waffen-SS. His studio in Berlin was bombed out in 1942, and after the war he returned to Merano. He died on 3 February 1965.
* Literalmente, pei pa chai significa jovem rapariga que toca pipa, instrumento musical tradicional chinês de quatro cordas. Estas raparigas eram ensinadas desde muito novas a entreter, de forma elegante, os convidados, mas também aprendiam poesia, desenho e xadrez. Após a adolescência e depois da aprendizagem tornavam-se cortesãs acompanhando os clientes.
** Em cantonense, Fa Kai, bairro vermelho ou, no sentido literal, a Rua das Flores.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

John MacDonald, o "rei" de Macau

John MacDonald nasceu em Inglaterra em 1936 e foi ali que ganhou o 'bichinho' das corridas de motos e de carros. Chegou a Hong Kong em 1963 onde integrou a Real Polícia de Hong Kong. A estreia em Macau aconteceu em 1964 com um Lotus Elan emprestado que terminou no 6º lugar. No ano seguinte compra um Lotus 18 e venceu o Grande Prémio de Macau logo à segunda tentativa.
Em 1968 tornou-se proprietário de uma oficina de automóveis na ex-colónia britânica e passou a preparar os seus carros, nomeadamente os Fórmula Atlantic e Fórmula Junior. 
John MacDonald (n. 1936), piloto britânico que correu pelas cores de Hong Kong, é o maior caso de sucesso no Circuito da Guia e com a curiosidade de ter ganho em carros e motos sendo por isso apelidado de "rei" de Macau. Tem também o recorde de maior número de participações em provas do GPM.
Em carros ganhou em 1965, 1972, 1973 e 1975 (incluindo Corrida da Guia em 1972); em Motos venceu em 1969, mesmo depois de um aparatoso acidente.
No GP de 1972 MacDonald venceu no sábado a Corrida da Guia e no domingo o Grande Prémio. No ano seguinte, no XX Grande Prémio de Macau, o "Big John" venceria pela 3ª vez o Grande Prémio de Macau. Em 1975 foi a Inglaterra comprar um Ralt RT1 construído para ele com que venceu, entre outros, o último Grande Prémio de Macau em que participou.
Vitória no GPM de 1965 ao volante de um Lotus
John MacDonald (born 27 May 1936 in Worcester) is a racing car driver and a motor-cycle racer of Hong Kong. He was originally from England, where he started his career racing motorcycles, then cars until he served at the National service. He then lived in Hong Kong and raced as a competitor of Hong Kong, where he owned a garage business. He is best known as the most successful driver in the Macau Grand Prix during late 60's and the early 1970s. 
Vencedor da Corrida da Guia em 1972 - na 1ª edição da prova - num Austin Cooper S
He is the only person to have won all the international races of Macau; Macau Grand Prix (1965, 1972, 1973 and 1975), Macau Motorcycle Grand Prix (1969) and Guia Touring Car Race (1972).  In addition to his Macau victories, MacDonald won the Malaysian Grand Prix four times, Philipines Grand Prix two times and  the 1976 Indonesian Grand Prix.
Na vitória de 1973
Em 1992, no 25º aniversário do GP Motos John regressou a Macau fazendo parte da parada comemorativa ao volante da ‘velhinha’ Yamaha 250.
Em 12 anos de carreira John Macdonald venceu 14 Grandes Prémios, incluindo 4 vezes na Malásia, duas vezes nas Filipinas e uma vez na Indonésia.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O "cidadão benemérito" António Joaquim Basto (1848-1912)

Nascido a 12 de Julho de 1848 António Joaquim Basto morreu a 20 de Maio de 1912 com 63 anos na sua casa na Rua da Calçada da Paz. 
in Galeria de Macaenses Ilustres do século XIX, Padre Manuel Teixeira, IN, Macau, 1942
Começou por estudar em Macau com os Jesuítas e em Goa 'tirou' advocacia. Par além de causídico de excelência, era republicano e teve um papal essencial no estabelecimento de Sun Iat Sen (futuro fundador da república na China) em Macau. Segundo o investigador/jornalista João Guedes: “Os bons ofícios de Bastos contribuíram também para que a Misericórdia arrendasse a Sun a casa que seria a sua residência nos anos de Macau, situada precisamente na Travessa da Misericórdia, a poucos passos da Praça do Leal Senado."
Refere-se a AJB enquanto provedor da SCM.
Foi Vogal do Conselho do Governo de Macau, Delegado do Procurador da Coroa, Agente-delegado do Ministério Público, Representante da Coroa no Tribunal dos Negócios Sínicos, Juiz substituto, Procurador dos Negócios Sínicos, Membro do Corpo Diplomático junto das Cortes do Japão, China e Sião,  Vereador e Presidente do Leal Senado, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau, Membro da Real Sociedade de Geografia de Londres e Director do jornal "O Macaense: jornal politico, litterario e noticioso" (1882-1891).
Foi agraciado com várias comendas e títulos honoríficos:  Comendador da Ordem Militar de Cristo; Cavaleiro da Legião de Honra de França e Vice-Cônsul Honorário de França em Macau; Comendador da Ordem do Sol Nascente (Japão); Comendador da Ordem do Elefante Branco (Sião); Comendador da Ordem de S. Silvestre (Vaticano); Comendador da Ordem de Redenção (Libéria).
Em sessão de 27 de Dezembro de 1922, o Leal Senado declarou António Joaquim Basto 'Cidadão Benemérito de Macau' e deliberou atribuir o seu nome a uma rua. 
O seu retrato figura na Galeria de Retratos do Leal Senado.

Entre as obras que escreveu estão:

O futuro de Macau ou as vantagens que hão de resultar da admissão d'uma delegação da Alfandega Chineza em Macau, Typographia Mercantil, 1873.


- A justificacao d'uma desobediencia ou a causa d'uma demissao immerecida, 1881

- Impressões d’Uma Viagem de Macau a Bangkok. Macau: Typographia do “Echo Macaense”, 1896
Taata-se da crónica de uma viagem diplomática empreendida pelo autor com o Governador de Macau e Timor, José Maria de Souza Horta e Costa, às cortes da China e do Sião.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Circuito da Guia: curiosidades


Desde a edição inaugural em 1954 o traçado do icónico Circuito da Guia - com 6,2 Km de extensão - do Grande Prémio de Macau sofreu poucas alterações.
- A Curva Melco é uma das 19 curvas do circuito e a mais estreita - apenas 7 metros - onde se atingem as menores velocidades.
- Rivaliza com a denominada curva do hotel Lisboa, de 90 graus, onde por norma ocorrem acidentes.
- A parte mais larga - 14 metros - é na recta da meta ou das boxes.
 - O Circuito da Guia surge em vários videojogos: Project Gotham Racing 4 (2007), Race Pro (2009) e RaceRoom Racing Experience (2013).
- A estreia da Fórmula 3 no GPM ocorreu em 1983;
Ayrton Senna foi o vencedor ao volante de um Ralt Toyota.
- Michael Schumacher venceu o GPM de 1990 com um Reynard 903 VW, um ano antes de se estrear na F1.
 - No GPM não se realizam provas de F1 mas em 2003 um desses carros deu umas voltas no circuito. O antigo vencedor do GPM de F3 Ralph Firman fez uma demonstração ao volante de um Jordan.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Travessa da Saudade

A Travessa da Saudade fica na zona do Porto interior entre a Rua do Visconde Paço D'Arcos e a Rua da Ribeira do Patane.
Tal como noutros casos, também aqui o significado dos caracteres chineses não corresponde na íntegra à expressão em português: 仁 Benevolência, 慕 Admirar/adorar, 巷 Travessa.

domingo, 17 de novembro de 2019

Memórias do 10º GPM de Edward (Ted) Carter

A história do Grande Prémio de Macau está recheada de histórias. A que escolhi para hoje é a do norte-americano Edward (Ted) Carter. Participou em apenas uma corrida como piloto. Onde? Em Macau.
Descreve-a como sendo a sua "experiência mais memorável". Ainda em declarações exclusivas ao blogue Macau Antigo disse: "It was a great adventure, exciting, exotic, and fun. It was professionally run but, at the same time, informal - more like a club event than an international grand prix."
Ted Carter com o seu Brahham nº 27
Ted terminaria na 10ª posição.
Ficha técnica do Brabham - enquanto "carro histórico" - que Ted Carter comprou quando estava em Okinawa em 1963 para participar na edição desse ano do GP de Macau.
Agradecimento: A Edward G.L. Carter pela disponibilidade e cedência das imagens. 
Grelha de Partida do 10º GPM
Da esq. para a dta. na primeira fila: Dodgie Laurel, Ted Carter, Albert Poon in the Lotus 23.
Segunda fila: Steve Holland e Bill Baxter com o E-Type Jaguar (ficou em 2º).
Teddy Yip com o mesmo modelo de carro ficou em 3º.

Ted Carter e Arsenio Laurel vencedor da prova com um Lotus 22 FJ (Ford)

(...) "Getting to Macau from Hong Kong was a long, languid ferry trip interspersed with sepia-colored junks plying the sepia sea as Chinese gun boats wallowed in watch. (Today one travels First Class on Boeing-powered Jet-foils which skim this now gauntlet-less velvet water in 55 minutes.)
Macau, once Portuguese, now officially the Macau Special Administrative Region of the People's Republic of China, is an autonomous territory on the western side of the Pearl River Delta some 40 miles west-southwest of Hong Kong.
In 1963, I see it as a very cultured, un-cultured pearl. A grain-of-sand-sized colony nestled almost unnoticed in the rough oyster of China that edges the South China Sea, Macau is the mecca of all gamblers and a watering hole for many idiosyncratic characters who ride the jet streams of the world. I was here for a little more serious gambling—to challenge the best of the East in the 10th Macau Grand Prix to be held Sunday, November 17.
We had a week to prepare me and the car. The Formula Junior Class Race was to be on Saturday, the 16th. There weren’t very many actual race cars entered and, numbered 27 - very lucky to the Chinese - my Brabham BT2 was the 'dark horse' favorite; the betting was especially heavy.
I walked the 3.8-mile circuit, studying every curve and straight, every camber, angle, and elevation. It was going to be challenging. There weren’t any escape areas either, mistakes wouldn’t be forgiven.
I did a lot of practice laps – as I had learned from my walk, it’s not a simple circuit. Below is Turn 19 on the red map above – the Melco Hairpin; it is the tightest hairpin of any race track in the world. The first time I came around, I hit the apex with my rear tire. You can see the dark, round mark below.
The Class Race was more like a parade. Arsenio "Dodgie" Laurel was first in his Lotus 22 Formula Junior. I came in 2nd. My new friend, Steve Holland (who worked for Harper Ford in Hong Kong), in a Lotus 18 Ford Formula Junior, didn’t finish. Another new friend, Albert Poon, a cute Hong Kong police detective, won his class in a beautiful Lotus 23. He is now Sir Albert and is 81 years old!
Sunday, November 18, 1963 - The X Macau Grand Prix 1963
I got a good start in the 60-lap Grand Prix.
Suddenly, on the 19th lap, just past Reservoir Bend, I lost oil pressure and the engine blew! “27” didn’t turn out to be so lucky after all.
Dodgie Laurel, the son of former President Jose P. Laurel the of the Philippines, had a great start, took the lead, and held it all the way. With his victory, he became the first driver to win two consecutive Macau Grands Prix. His Lotus also became the fastest car ever on the Guia circuit when it hit a top speed of 73.38 mph mid-way through the race. The Jaguar E-types of Bill Baxter (see Chapter Two) and Teddy Yip, although four laps behind, were second and third respectively. (...)"

Excertos da biografia "The Amazing Life and Times of Edward Carter - Unique Entrepreneur".