quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Feira Industrial de 1926: discurso inaugural

No dia 7 de Novembro de 1926, um domingo, o Almirante Hugo Lacerda, governador interino de Macau na época, proferiu o discurso de abertura da da primeira Exposição Industrial e Feira de Macau. Uma ideia antiga do governador Rodrigo Rodrigues... que teria lugar em Mong-Há e esteve patente até 12 de Dezembro desse ano.
Excertos do dicurso:
"(...) Tudo o que vemos em volta, todas estas barracas vistosas e engalanadas, cheias de artigos de variado valor, partiu da ideia de se estabelecer um simples mostruário de produtos de Macau. (...) O que vemos em volta não representa um acontecimento isolado e com restrita significação como a alguns poderá parecer; liga-se fundamentalmente com todo o ressurgimento de actividades industriais e comerciais que de há tempos se notam nesta cidade, a despeito de todas as dificuldades do viver político da China; liga-se naturalmente com as previsões do aproveitamento do porto de Macau, este novo e valioso instrumento do progresso. Indústria, comércio, navegação e viação terrestre dão-se as mãos, quando há uma população obreira como a de Macau e a que há em volta de Macau. (...) Dentro do progresso material se deve contar muito em Macau com o benefício trazido por forasteiros; não basta a produção e o tráfego de mercadorias, é preciso atrair a concorrência de pessoas por todas as formas dignas de uma cidade moderna; é necessário considerar o valor do que se chama o Turismo. A Direcção das Obras dos Portos não tem descurado este importante aspecto da questão dentro dos limites das suas possibilidades, indo até ao ponto de fazer sacrifícios, como por exemplo o estabelecimento de uma pista de corridas de cavalos, nos terrenos conquistados defronte da Areia Preta, crente em que estes sacrifícios terão largas compensações indirectamente para o porto e sem dúvida mais directamente para a cidade. Pena é que não possamos fazer neste momento, também a inauguração deste melhoramento como se chegou a julgar possível. (...)
Recinto da feira
Voltando à exposição propriamente dita e atendamos também aos que nela trabalharam. O que está à vista não é mais do que uma tentativa, é certo, mas quando se considerem todas as dificuldades que resultaram dos fracos recursos, quando se considere ainda que tudo isto representa uma novidade para Macau, quando se atenda a que a maior parte do trabalho directivo e não directivo foi realizado com pessoal das Obras dos Portos, já tão sobrecarregado de serviços, fica-se defronte de qualquer coisa admirável; para cúmulo até a Natureza parece que quis experimentar a resistência do prestimoso Comissariado com um violento tufão que reduziu o que estava feito já em estado adiantado a um montão de ruínas. 
Foi esse momento crítico. Mas o momento mais crítico foi talvez aquele em que, havendo já compromissos importantes, foram negados quase totalmente os recursos ao Comissariado. Felizmente que essa enorme dificuldade foi removida, porque, a instâncias deste Governo, Sua Exa. o actual Ministro das Colónias, Capitão Tenente João Belo, autorizou que, pelos fundos do Conselho de Administração das Obras dos Portos, fosse aumentada aquela importância com $2000 (patacas). Creio que com esta experiência ficará bem vincada em todos a convicção da necessidade de nos futuros orçamentos da Colónia, ou na distribuição de verbas da Direcção das Obras dos Portos, se consignar a importância até pelo menos de $20 mil para anualmente se realizar a Feira de Macau. Aproveito ainda esta ocasião para dizer que este certame veio dar grandes facilidades para se realizar um melhoramento mais permanente – o estabelecimento dum museu comercial e etnográfico da Colónia - cuja falta se vinha fazendo sentir e mais se sentiria com o desenvolvimento da vida do porto. (...)
Não está terminada ainda a missão do Comissariado da Exposição, mas por menos que tivesse que fazer de ora avante, já se tornou digna dos maiores louvores por todo o seu trabalho e dedicação, que não poderá ser esquecido por este Governo e pela Colónia.”

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Donativo para Monumento a Alexandre Herculano

Relação nominal das personalidades de Macau que contribuíram para a construção do monumento a Alexandre Herculano (1810-1877) publicada no Boletim Oficial (de Macau) em 1881. Ao todo foram angariadas 102 patacas.
“Joaquim José da Graça, $10; o Leal Senado da Câmara, $10; Manuel Bernardo de Sousa Enes, $5; Eduardo Alfredo Braga de Oliveira, 5; José Alberto Homem da Cunha Corte Real, 4; António Emílio de Almeida Azevedo, 4; João Correia Pais d’Assumpção, 1; António Joaquim Garcia, 1; Lúcio Augusto da Silva, 3; Francisco Augusto Ferreira da Silva, 1; Raimundo José de Quintanilha, 5; Demetrio Cinatti 2 ; António Talone da Costa e Silva, 1; Barão do Cercal, 3; António Joaquim Bastos Júnior, 2; Pedro Inácio do Rio Carvalho, 2; Francisco Tomás de Brito Soares, 1; Amaro Justiniano de Azevedo Gomes, 1; Francisco Bernardino Carvalho, 1; José da Cunha Lima, 1; Malaquias António Pinto, 1; Joaquim da Silva Gomes, 1; Bernardino de Senna Fernandes, $10; Pedro Nolasco da Silva, 1; Eduardo Marques, 1; Câncio Jorge, 1 ; José Bernardo Goulart, 1 ; Evaristo Lopes, 50; Cornélio de Sousa Placé, 30; Clementino Vicente Lopes, 50; Caetano Maria Dias Azedo, 1; Iong Lim, 1; Vicente Saturninho Pereira, 1; Simplício António Tavares, 1; Francisco Pedro Marques, 50; Francisco de Paula Rodrigues, 50; Holokuae, 5; Francisco Xavier, 3; Chon Ec Chiom, 2; Carlos Alberto Feyo Folque, 1; Ricardo de Sousa, 1; Tomás de Aquino Miguéis, 1; Manuel Joaquim dos Santos, 50; Pedro Ricardo da Silva Saturninho, 2; José Maria da Luz, 20; José Manuel Sacoto Galache, 1.
Total, Patacas $102.00. Macau, 1 de Agosto de 1881. 
A soma acima de $102 foi remetida ao exmº. snr. João Maria Galhardo, tesoureiro da comissão executiva, encarregado da erecção de um monumento a Alexandre Herculano, em uma letra à vista de Hongkong & Shanghai Banking Corporation sobre Londres do valor de Libras 18,146. D. C. Pacheco, Presidente do Leal Senado”.

A cerimónia de trasladação dos restos mortais do escritor - morreu há 140 anos - para o Mosteiro dos Jerónimos ocorreu em 1888. A subscrição para a construção do monumento, incentivada, por exemplo, pelo Diário de Notícias, foi feita não só em Portugal mas em todo o então território português. O monumento é o que está no Mosteiro dos Jerónimos e como se pode ver - face ao original em baixo - sofreu alterações em 1939. 

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Foto-Legenda: Pousada de Macau e Igreja S. Lourenço (década 1950)

Clicar na imagem para ver em tamanho maior
Foi aqui, no nº 1 da Travessa do Padre Narciso, que ficou famosa a receita de Galinha Africana do Chefe Ângelo
Na mesma época mas vendo-se do lado direito o jardim e parte do Palácio do Governo e ao fundo em cima parte da Igreja de S. Lourenço.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Portugal may have hoped for a 2004 Handover of Macau to China, instead of 1999

Um leitor do blogue Macau Antigo enviou-me um link de uma notícia publicada pelo site Hong Kong Free Press a 27 Nov. 2017 a propósito de novos documentos tornados públicos acerca do processo de transferência de soberania de Macau (que agradeço e a seguir reproduzo). No essencial refere-se ao facto de o Governo de Portugal ter sugerido à China que a transferência de soberania se efectuasse já no século XXI - 2007, por exemplo) e não no século XX como viria a acontecer. Não sendo uma novidade (já aqui o tinha escrito em 2012 e várias pessoas com ligações ao processo tinham-me garantido tais factos), tanto quanto julgo saber, é a primeira vez que são revelados documentos que provam esta pretensão.
A menos de um mês de mais um aniversário do chamado "handover" aqui fica o artigo da autoria de Kris Cheng com elementos da história recente de Macau e da RAEM.
Declassified: Portugal may have hoped for a 2004 Handover of Macau to China, instead of 1999
Donald Tsang, Hong Kong’s ex-chief executive who was deputy secretary of General Duties Branch at the time, mentioned the year in an internal report about his lunch with Barbara Schrage of the US Consulate-General in Hong Kong.
“Schrage said that she was amused by the way the Portuguese went about negotiations with the Chinese. A very short agenda – mainly the Catholic Church, the status of locally born Macanese holding Portuguese passport and 2004 instead of 1997,” he wrote on October 10, 1986.
“Schrage had also heard that the Portuguese, if pushed, would be prepared to admit the entire Macau population, including the non-Portuguese nationals, to Portugal! I did not ask Schrage to reveal her source, but she spoke with conviction.”
David Akers-Jones, the Hong Kong chief secretary at the time, also mentioned the year in a paper on November 5, 1986. “I learned yesterday from a source who had dinner with President [Mário] Soares that Portugal was still standing firm on 2004,” Akers-Jones wrote.
But he noted that the Chinese government wanted the return to be no later than 2000, when the Sino-British Joint Liaison Group would cease to operate: “[China] saying it would be very difficult to explain 2004 to the British when they had been so insistent on 1997.”
The Sino–Portuguese Joint Declaration was signed in April 1987 after four rounds of negotiations starting in late June 1986.
The records are part of a set of Foreign and Commonwealth Office documents declassified in January and April this year. They are available to the public at the National Archives in Kew, London. The 2004 date may have been proposed only in the latter half of 1986, according to the documents.
In a document dated January 6, 1986, a Foreign and Commonwealth Office official cited a China Daily report four days prior, which said a Chinese foreign ministry spokesman described media reports of a Handover of Macau in 2002 or 2004 as “totally groundless.” The spokesman also said any suggestion of Macau returning after 2000 would be unacceptable. A week later, the official was part of a group who visited Octávio Neto Valério, then-Portuguese ambassador to China. Valério said there were reports saying the Handover may occur in 2003, 2004 or 2007 – all linked to historical anniversaries – but such dates had never been advanced by members of the Portuguese government at the time.
Portuguese views
Camões Chi-keung Tam, an expert on Macau’s Handover who covered the events as a journalist and wrote his PhD thesis on the topic, told HKFP that Portugal only raised the possibility of a 2007 Handover, since it would be the 450th anniversary of Portugal renting Macau. Tam, now an assistant professor at the Faculty of Humanities and Arts of the Macau University of Science and Technology, questioned the sources cited by Akers-Jones and Tsang. “From [the 1986 negotiations] to 1987 when the agreement was signed, information from Macau was sealed off… this declassified information may not be valuable, since it is not first hand information,” he said.
He said the US Consulate-General staff members in Hong Kong did not know Cantonese and Portuguese, thus they may have received incorrect information: “Donald Tsang likely cited sources incorrectly, and Akers-Jones may have heard wrongly.” Tam said China hoped to take back Macau by 1997, but the Portuguese refused to return Macau in the same year of Hong Kong’s Handover from Britain. “Portugal said they have never invaded China, they paid an annual rent of 500 taels of silver, they tried to return Macau two times but were not accepted… They would have rather handed Macau back immediately in 1985 when negotiations started, and it scared off the Chinese side,” he said. After the democratic revolution in Portugal in 1974, its government tried to return Macau in 1975 and 1977.
‘Hopeless fantasy’
Meanwhile, a document written by John Boyd, Hong Kong government’s political adviser at the time, also shed light on the role of the Portuguese in the negotiations.
He was having dinner with Sir Roger Lobo, a Hong Kong-Macanese lawmaker, on October 7, 1986. “[Lobo said] They had a hopeless fantasy that they could ‘play the cultural card’ – i.e. that statements or demonstrations of what Portuguese culture had in the past brought to the South China would impress the Chinese. If they persisted in this line they would get two fingers from Peking.”
“Equally, they had a fantasy that they could suddenly maximise the value of Macau to China by installing such infrastructural items as an airport. There was no money for such schemes; and no requirement, given that the Chinese could do their own thing across the border at much lower cost.” “He did not exclude absolutely that the Portuguese would lose patience and leave before the end of the transitional period, when agreed.”

domingo, 26 de novembro de 2017

MSM: o cronista

Excerto de um artigo da autoria de Manuel da Silva Mendes no jornal O Macaense, de 23 de Novembro de 1919. "Os jornais publicados em Macau têm, com efeito, desaparecido quasi todos. Não há colecção nenhuma oficial, e, em mãos particulares, que nos conste, duas há apenas de valor ou importância: uma em Shamim (Cantão) pertencente ao Sr. Inácio Pereira, e outra em Shanghai pertencente ao sr. Alfredo de Sousa. A Abelha da China, que começou em 1821, a Gazeta de Macau em 1824, a Chronica de Macau em 1834, O Verdadeiro Patriota em 1838, a Gazeta de Macao em 1839 e outros jornais ainda, onde estão eles, onde podem hoje ler-se?"
Vem isto a propósito de pretender neste post referir-me, ainda que de forma breve, à faceta de cronista de Manuel da Silva Mendes.
De acordo com a professora Graciete Batalha (num texto de 1979) “os seus artigos sobre Macau, cheios de vida e de interesse, são uma das fontes mais preciosas para o conhecimento do que foi a terra no seu tempo”. Acrescenta ainda que “Silva Mendes não viveu, como parece ter vivido Camilo Pessanha, intelectualmente alheado do meio que o cercava. Mergulhando com uma curiosidade – alerta e apaixonada – no mundo cheio de meandros do foro macaense, nos problemas do ensino e outros de natureza cultural, no estudo da religião, filosofia, arte e tradições chinesas.”
MSM deixou um legado de centenas de textos nas mais diversas publicações e sobre os mais variados temas, a maioria com “críticas contundentes à administração local ou sátiras a personagens de duvidosa santidade.” Textos escritos em jeito de crónica que reflectem “a sua vivacidade de espírito e sentido de humor” e que embora não proporcionassem “uma visão completa da sociedade em que se movimentava”, são autênticas “pinceladas vivas (…) retalhos da vida portuguesa e chinesa”.
Também no final da década de 1970 o padre Manuel Teixeira escreve que “Silva Mendes era jornalista de garra e deixou dispersos pelos periódicos locais centenas de artigos. Eram, em geral, escritos ao correr da pena e focando circunstâncias do tempo, que hoje perderam todo o interesse, se exceptuarmos os referentes à arte e medicina chinesa.” Para António Conceição Júnior “os seus escritos podem complementar o que dele se disse, mas são fundamentalmente, uma matéria extraordinariamente rica para todo aquele que, lendo português, se não quer limitar, em Macau, a ser um transitório pobremente enriquecido”.
A colaboração de MSM com a imprensa macaense (ocorreu também em jornais de Portugal mas fica para um outro post) ocorreu durante praticamente os 30 anos de vida em Macau (1901-1931) e deu origem a centenas de artigos que Luís Gonzaga Gomes (que foi aluno de MSM) teve o cuidado de 'resgatar' e republicar anos mais tarde. Mas MSM não se limitou a ser redactor, também ajudou a fundar alguns jornais...
Na introdução à Nova Colectânea de Artigos de Silva Mendes, editada em 1963, Gonzaga Gomes informa que MSM foi um dos fundadores do jornal “O Progresso” onde colaborou “até à sua partida para Xangai em Abril de 1917, para advogar numa importante causa que corria pela Tribunal Consular Português donde regressou no mês seguinte.” Silva Mendes foi também um dos fundadores do semanário “O Macaense” (1919-1921), propriedade da “Empresa Jornalística Macaense". O primeiro número saiu a 11 de Maio de 1919. Damião Maximiano Rodrigues (1878-1924) era o editor e Carlos Eugénio de Almeida o administrador. Segundo LGG “raro era o número em que não aparecia um editorial que, embora não assinado, se reconhece facilmente como sendo seu, pela peculiaridade do seu estilo e pelo facto da sua persistência em conservar a ortografia antiga (…). Tinha dessas extravagâncias e outras.”
Informações adicionais na "Biografia de Manuel da Silva Mendes 1867-1931"

sábado, 25 de novembro de 2017

Flying Albatross


Em meados da década de 1960 deu-se uma pequena 'revolução' nas habituais carreiras fluviais de ligação entre Macau e Hong Kong (e o resto do mundo) com a inauguração do serviço de hydrofoil (hidroplanadores). Um deles foi o Flying Albatross (imagem abaixo) que entrou ao serviço em Dezembro de 1964.
Num folheto turístico da época pode ler-se:
"This revolutionary type of “commuter” service was inaugurated in 1964. Two companies provide a daily operation, with a total of nine hydrofoils linking Macau and Hong Kong. One company makes 17 round trips daily, by the Flying Albatross and Flying Skimmer, Flying Kingfisher, Flying Phoenix, Flying Swift and Flying Heron. The other company makes eight round trips daily, by the Guia and the Penha, the Coloane operating as a stand-by vessel, and at weekends. Jointly, the two independent companies provide a service at approximately half-hourly intervals throughout the day."
Emissão filatélica de 1986: hydrofoil

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O dom dom de Macau não é macaísta?

Quando se pede a alguém de Macau, geralmente pessoa de idade, que cante ou recite velhos cantares ou versos de Macau, é quase certo ouvir-se a seguinte quadra no crioulo macaísta:
Dom dom dom dom
Sium capitám,
Cô espada na cinta
Cô rota na mám.
Foi das primeiras que ouvi quando cheguei a Macau, cantada com a música dum antigo naná ou canção de embalar, no qual se incluíam outras quadras ainda bem conhecidas, como:
Ade pidíchua (pato pede chuva)
Sapo pidí vento.
Nhonhonha bunita (meninas bonitas)
Pidí casamento.
Uma coisa que, no entanto, sempre estranhei, desde que comecei a fazer estudos sobre o crioulo de Macau, foi que a primeira destas quadras, aparentemente popular e bem macaísta, com a alusão aos senhores capitães (sium capitám) que andariam pela cidade exibindo perante as meninas casadoiras a sua elegância, de espada à cinta e rota (chibatinha) na mão, não fosse incluída num Cancioneiro Musical Crioulo - Cantilenas macaístas - publicado por J. F. Marques Pereira em Ta-Ssi-Yang-Kuo (II, 703).
Desse Cancioneiro consta uma longa série de quadras, entre as quais a acima citada, que Marques Pereira obteve, conforme suas próprias palavras, "directamente da boca de pessoa sem educação literária", o que lhes confere genuinidade, pelos fins do século passado ou princípios deste. Mas o certo é que não inclui o conhecido e popular dom dom.
Recentemente, tive o prazer de falar em Lisboa com o Sr. Dr. Leopoldo Danilo Barreiros que muito se interessa pelos assuntos de Macau e, de modo especial, pelo português do Oriente, tendo coligido e publicado na revista "Renascimento" (Macau, 1943-45), pois que ao tempo aqui vivia, um bom número de textos em crioulo. Entre eles o referido naná, que já não coincidia exactamente com o de Marques Pereira, e que incluía desta vez a quadra em questão. Mas, compreensivelmente, numa versão mais moderna:
Dom, dom, dom, dom
Sinhô capitão
Espada na cinta
Rota na mão.
Dessa conversa em Lisboa resultou este artigo, pois que o Dr. Danilo Barreiros me deu, a respeito da quadra "de Macau", uma informação muito curiosa e que me parece merecer divulgação: segundo um brasileiro que foi há anos professor de música de seu filho, o senhor capitão cantava-se também no Brasil, apenas com ligeiras diferenças. Até a música era semelhante! A confirmar esta informação, facultou-me gentilmente a fotocópia dum documento que possui - a primeira página do jornal infantil brasileiro "Pernalonga" (n° 8, Novembro de 1961), que apresenta o desenho do famoso coelho de Walt Disney com a sua cenoura numa bolsa à cinta, cavalgando um cavalo de pau, e tendo ao lado uma quadra:
Bão, balalão!
Senhor capitão!
Cenoura na cinta!
E rédeas na mão! 
É evidente que os termos cenoura e rédeas são adaptações ao desenho e talvez a uma correspondente história para crianças. Todavia a quadra de Macau é imediatamente reconhecível. Tentando investigar um pouco mais a curiosa coincidência (e digo um pouco mais porque não tenho, de momento, dados para ir muito além), perguntei em carta a pessoa de minha família, há muitos anos radicada no Rio de Janeiro, se acaso ouvira cantar no Brasil algo de semelhante. Respondeu-me imediatamente a pessoa solicitada que se canta aí popularmente a quadra em questão em duas cantigas diferentes, cuja pronúncia não será a da escrita, mas a brasileira:
1 - Bão balalão,
Senhor capitão!
Espada na cinta,
Ginete na mão.
Em terras distantes
Morreu seu irmão
Cozido e assado
No seu caldeirão. 
2 - Bão balalão
Senhor capitão!
Espada na cinta,
Ginete na mão. 
Aí vai a senhora abadessa
Sentada na sua cadeira,
Capitão não estava em casa,
Atiremos com ela no chão! (1)
Reparando nestas duas cantigas, vemos que a primeira, ao interesse da quadra semelhante à de Macau apenas acrescenta o que parece ser uma reminiscência da história da carochinha: Cozido e assado / No seu caldeirão. A segunda, com os versos Aí vai a senhora abadessa / Sentada na sua cadeira, dá ideia de que remonta à época em que as pessoas abastadas se faziam transportar de "cadeirinha". Esta referência, conjugada com o ginete do Senhor capitão, sendo ginete o nome antigo do "bastão dos capitães", segundo o Dicionário de Morais e Silva, leva-nos a atribuir à quadra uma relativa antiguidade. A aceitar-se esta suposição, poderá inferir-se que a cantiga terá sido criada ou importada pelo Brasil por alturas do século passado.
Quanto à quadra "de Macau", tudo são também hipóteses, mas parece que não devia ser cantada ainda na data da publicação do referido Cancioneiro Musical Crioulo, pois que não foi citada por Marques Pereira, o que situa a sua criação ou importação na primeira década do século actual.
Como explicar a coincidência de duas quadras em terras tão distantes como o Brasil e Macau? Não sendo provável que a cantiga transitasse do Brasil a Macau nem vice-versa, só poderemos supor, creio, que irradiou de Portugal nas duas direcções opostas. Seria interessante saber se teria sido ou é cantada ainda noutros territórios de língua portuguesa.
De qualquer modo, julgo poder afirmar-se com segurança que a quadra de Macau não é criação do povo macaense. Mas, como tantas vezes tem acontecido, este povo, ao "adoptá-la", deu-lhe um cunho de paternidade local, não só pela pronúncia do crioulo em que passou a cantá-la (sium 'senhor', capitám, mám), como pelos termos aqui introduzidos, dom dom e rota.
Dom-dom, no papiá cristão de Malaca, significa 'levar ao colo' (um bebé, por exemplo) e em Macau foi usado no naná, em vez do bão balalão do Brasil, certamente no sentido de 'embalar'. A rota, espécie de cana fina ou junco, chamada em Portugal junco da índia, mas sendo a palavra de origem malaia (rotan) e muito divulgada no português do Oriente, seria em Macau o pingalim ou chibatinha dos oficiais portugueses, (2) substituindo o termo ginete . menos compreensível da quadra original. Esta parece ser uma prova de como, apesar do conhecido espírito criativo brasileiro, o de Macau foi neste ponto mais longe, adaptando e macaizando, aliás como em tantos outros casos, um elemento folclórico vindo do exterior.
Notas:
(1) As cantigas brasileiras apresentam também pequenas variantes, mas não são significativas, como Bom balalão e Bam balalão, sinete por ginete, senhora madeira por senhora abadessa e atirarmos com ela no chão em vez de atiremos.
(2) A espada e a chibata ou pequeno bastão terão sido usados em tempos mais antigos por todos os cavalheiros portugueses de Macau, "tanto reinóis como seus descendentes", "como emblema de prestígio que não podiam dispensar" (Ana Maria Amaro, Filhos da terra, Macau 1988, p. 80). Isso mesmo se confirma no desenho de Um estrangeiro (português) do séc. XVlll, em Ou-Mun Kei Lèok, trad. de Luís G. Gomes, Macau 1950, p. 133. Contudo, na data da introdução da quadra em Macau, já a referência à espada, à cinta e à rota na mão seria aplicável, suponho, apenas aos oficiais do exército português.
Graciete Batalha in Revista Cultura, nº 7/8, Macau, 1988

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Macao’s Inner Harbor by "chinese school"

Most western style ship portraits and harbor views created by 19th century Chinese artists for export to foreign markets are unsigned. Identifying individual China Trade artists with specific paintings is made more difficult by the fact that many examples were produced by studios of artists with several different craftsmen working on the same painting. 
This view is a particularly unusual one of the inner barbour of Macao. The more typical view is one of the Praya Grande which is situated behind the hills seen in this picture.
The European style buildings along the shore are fronted by Chinese junks, several large European sailing and steam driven ships from the United States, England and Portugal, according to the several flags. The version of the Portuguese flag shown was in use only between 1830 and 1910.
In the harbor, amid numerous local craft, are a British and American paddle steamer underway close to shore; also a British steam-sailer and a Portugese man of war.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Os contadores de histórias


"Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem: só essa de contar histórias se dedica amoravelmente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo". (Eça de Queirós, Correspondência, Porto, 1928; carta datada de Paris, 8 de Fevereiro de 1895).
Quando falamos em literatura, somos muitas vezes levados a esquecer que existem literaturas ditas marginais, e entre estas a literatura oral, literatura popular de transmissão não escrita que, na China, atingiu o seu ponto alto no espírito criativo dos contadores de histórias. Nos aterros novos da Praia Grande, em Macau, ouvimos, nos anos 60, um destes velhos contadores chineses.
À luz dos petromax, ou de pequenos candeeiros de luz vermelha e frouxa, nas cálidas noites de Verão, muitos eram os moradores que procuravam, na Praia Grande, a brisa fresca, vinda do rio, brisa às vezes morna, como o ar quente que as ventoinhas de tecto agitavam nas casas pequenas e mal ventiladas. Estacionavam, ali, vendilhões de achares, de sopas de fitas, de frutas, de chás frescos, de mil e uma quinquilharias. Porém, era o contador de histórias o pólo atractivo da multidão. Um grande leque preto, onde duas borboletas sobre peónias pareciam volitar; uma pequena esteira e, sobre ela, o homem feito de sombra e luz. Era um ancião de barbas brancas e ralas, de mãos esguias e nodosas, de faces vincadas por rugas, que o tempo e a adversidade haviam desenhado. Viera, há muito, da China. O contador de histórias, ao falar, movia as mãos num ritmo rápido ou lento, ora em gestos de quem abraça ora de quem repele. Mãos de actor de ópera, mãos de poeta ou de letrado ou mãos de asceta... E ficávamos ali, sentados nos calcanhares, a ouvi-lo contar lendas da China milenária, histórias da História do grande Império do Meio, histórias de kwâi, que empolgavam sempre os seus ouvintes e histórias de alguém, que talvez tivesse vivido apenas na sua imaginação.
Hoje, Macau já não tem quem saiba contar; quem saiba mergulhar no mundo da fantasia, no mundo do irreal, só realizável no acto de dizer. Para onde foram os últimos contadores de histórias chineses de Macau?
Contar histórias, é tradição talvez tão antiga como a própria Humanidade. Na China, porém, o contador foi, de todo o sempre, o animador do povo humilde das aldeias, indispensável na arcaica casa dos Homens, durante a Estação morta. (1)
Se o contador era, por vezes, um letrado que falhara num exame, outras vezes era um homem do povo, de espírito criativo, de imaginação fértil, que à maneira dos nossos jograis medievos percorria a China a vender fantasia, a vender a ingénua distracção de contar histórias. E, muitas vezes, não a vendia; oferecia, apenas, a sua arte. E isto porque, para os chineses, toda e qualquer criação não tem preço. (2) Para dar uma ideia do que contava um contador de histórias em Macau, apresentaremos apenas um exemplo: A história do gato do Magistrado Lei. Esta história é, ao que supomos, uma adaptação de uma antiga narrativa clássica da velha China, que parece datar da Dinastia Ming. (3) Escolhemo-la, porque a ouvimos a um contador de histórias de Macau, tendo passado ao povo, talvez por esta via e também porque constitui um exemplo típico do carácter cíclico do pensamento chinês, o que distingue a sua filosofia da lógica linear dos gregos, modelo típico do pensamento clássico ocidental. Nesta história nada se passa. E no entanto é profundo o pensamento que ela consubstancia.
Um alto funcionário chinês, letrado de grande renome, adquiriu, por elevada soma, um gato maravilhoso. De olhos verde-opala, corpo dourado felpudo, orelhas rebatidas, cauda reduzida, patas fortes e duas grandes asas de borboleta desenhadas no dorso em tom mais escuro, aquele gato, irregularmente listrado, era, realmente, um belo exemplar de felino doméstico. Orgulhoso de possuir gato tão lindo, o dono deu-lhe o nome de Tigre e convidou alguns letrados seus amigos para versejarem, jogarem xadrez e admirarem o novo "bibelot" vivo, que adquirira havia pouco. À sombra de um fresco bambual no extremo do jardim da grande e faustosa moradia, onde uma mesa de pedra tinha gravado no tampo um tabuleiro de chéong kei (xadrez chinês) os letrados, envergando cabaias compridas de boa seda, conversavam na sua maneira erudita de homens cultos e de bom gosto.
O dono da casa, apontando para o gato que dormia molemente ao sol sobre um velho banco, exclamou:
- Vejam como é belo o meu gato! Não é certo que lhe fica bem o nome de Tigre, que lhe pus?
Um dos presentes exclamou:
- É certo que o tigre é belo e é poderoso, mas o dragão é bem mais forte e tem ainda mais poder... Porque não lhe puseste o nome de Dragão?
Outro amigo interveio:
- Sem dúvida que o dragão é mais poderoso do que o tigre, mas não é menos certo que, ao elevar-se ao Céu, é encoberto pelas nuvens. Porque não chamas, tu, Nuvem ao teu gato? Nuvem dourada seria um nome lindo!
Um terceiro conviva tomou a palavra para dizer:
- Vejam bem; se as nuvens são capazes de cobrir todo o Céu, são menos fortes do que o vento, que pode dispersá-las. A meu ver, o nome mais próprio para o teu gato, será Vento.
- Vento? - interrogou um outro visitante. Que poder tem o vento contra uma forte palissada de bambu? Bambu seria o nome certo. Só Bambu.
O quinto letrado que até ali se mantivera mudo a observar o lindo felino, opinou então:
- Se a palissada de bambu resiste ao vento, os ratos podem roe-la, perfurá-la e passar através dela... Porque não se chamará Rato o teu gato tão lindo?
Um velho camponês que em silêncio escutava atento, desde o início, a conversa plena de erudição dos seis letrados, perguntou-lhes, então, com humildade, logo que eles acabaram de falar:
- Veneráveis Mestres pensai: quem é o mais forte porque pode matar os ratos? Não é o gato?
A forma cíclica desta verdadeira parábola mostra, também, até que ponto é frágil e relativa toda a noção de poder.... Além de historietas como esta, o contador de Macau narrava histórias muito longas ao gosto popular chinês, histórias que podiam demorar a contar horas a fio. Contava, também, anedotas e propunha adivinhas… um mundo de imaginação e de memórias! Diz uma antiga máxima chinesa: "Os meus livros falam ao meu espírito; os meus amigos ao meu coração; o Céu à minha alma. Tudo o mais aos meus ouvidos..." Mas certo é que o contador chinês de histórias, de Macau, falou ao meu espírito, ao meu coração e à minha alma através dos meus ouvidos.
Notas:

(1) Marcel Granet - La Civilization Chinoise; Col. "L'Évolution de l'Humanité", Albin Michel, Paris, 1968 (Reed. da ed. "La Renaissance du Livre" 1929).
(2) Sabe-se a partir de esculturas em terracota encontradas recentemente na China, que já desde a Dinastia Hón (漢) havia contadores de histórias que se faziam acompanhar pelo seu pequeno tamborim, como acontecia em Macau ainda nas primeiras décadas do século XX.
(3) O Nome do gato é um texto semelhante a esta historieta que se atribui a Yuan King, ensaísta chinês da Dinastia Ming.
Texto de Ana Maria Amaro in Revista Cultura, nº 7/8, Macau, 1988

domingo, 19 de novembro de 2017

Praya Grande S.S. "Heungshan" leaving for Hong Kong at 7.30 a.m.


Este postal ilustrado circulou em 1904. Na imagem vê-se uma embarcação vapor a sair do Porto Interior navegando frente à baía da Praia Grande (do lado direito ao fundo está o então denominado hotel Boa Vista).
Num anuário escrito em inglês de 1908 pode ler-se: "Macau is 40 miles south west of Hongkong. One steamer SS Heungshan 1,055 tons daily to and from Hongkong and two steamers to and from Canton give easy communication with both these centres. Travellers to the East should not leave Hongkong without paying a visit to Macao. This historical and Portuguese Colony founded in 1557 is sufficiently important and interesting to deserve a portion of the tourist's time The approach to Macao is exceedingly beautiful and has often been spoken of as a miniature Bay of Naples. A day may be pleasantly (...)"
O postal feito em Hong Kong tem como título "Praya Grande s.s. "Heungshan" leaving for Hong Kong at 7.30 a.m. Macao"

sábado, 18 de novembro de 2017

Ruínas de S. Paulo: estátuas da fachada

Na fachada da antiga Igreja Mater Dei (23 metros de largura e 25,5 metros de altura), conhecida por Ruínas de S. Paulo,  por entre colunas jónicas e janelas podem ver-se sete estátuas de bronze, muito provavelmente criadas na fundição de Manuel Tavares Bocarro que, na primeira metade do séc. XVII, época da construção da igreja, fabricava em Macau canhões de ferro e de bronze.
No nível três destacam-se as estátuas dos fundadores da Companhia de Jesus: S. Francisco Xavier(1506-1552), Sto. Inácio de Loyola (1491-1556) - este dois canonizados na época, estão ao centro da entrada; S. Luís Gonzaga (1568-1591) e S. Francisco de Borja (1510 – 1572), este dois últimos, era beatos na época, e estão nas extremidades.
Já na parte do frontão triangular, estão as estátuas da Virgem Maria e do Menino Jesus. No topo, está a pomba que representa o "Espírito Santo".
Mais sobre as "ruínas" aqui ou seguindo as 'etiquetas'

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Grande Prémio: lendas e curiosidades

Já arrancou a 64ª edição do Grande Prémio de Macau, um dos mais importantes cartazes turísticos de Macau. Até 19 de Novembro a cidade 'rende-se à vibração dos motores e à adrenalina da velocidade para viver e sentir as emoções daquela que é considerada a maior prova ...desportiva motorizada da Ásia e que ao longo de décadas tem revelado e confirmado o nome de alguns pilotos que se tornariam campeões do Mundo de F1, como Ayrton Senna, Michael Schumacher e Lewis Hamilton.
Na edição deste ano o GPM é o único evento internacional de automobilismo no mundo a receber duas Taças do Mundo oficiais da FIA - Taça do Mundo de F3 e Taça do Mundo de GT, e ainda uma ronda do Campeonato do Mundo de Carros de Turismo da FIA (WTCC), fazendo ainda parte do cartaz o Grande Prémio de Motos, que contará com a participação pelo segundo ano consecutivo do piloto português André Pires, a Taça de Carros de Turismo de Macau e a Taça da Corrida Chinesa Grupo Suncity.
1954: a estreia do GPM num registo da zona da meta com bancadas de bambu improvisadas para a organização e para a Rádio Vila Verde.
1960: Martin Redfern ao volante do icónico Jaguar XKSS foi o grande herói desse ano.
1967: estreia do GP Motos ganha pelo japonês Hiroshi Hasegawa numa Yamaha RD 56.
1973: John Macdonald vencedor de seis provas em Macau, recorde absoluto. (na foto está ao lado de Teddy Yip, outra lenda do GPM)
1974: O australiano Vern Schuppan foi o vencedor batendo o recorde da volta mais rápida com 2:30.96, num March 722; David Purley, a 4 voltas ficou em 2º e Herb Adamczyk foi 3º.
1983: a prova de Macau para a contar para a Taça do Mundo da FIA e na estreia na modalidade, o brasileiro Ayrton Senna venceu a primeira prova de F3.
1984: A edição 31 seria ganha pelo dinamarquês John Nielsen; nas Motos Mick Grant venceu com uma Suzuki 500; Tom Walkinshaw venceu a Corrida da Guia num Jaguar XJS.
1990: deste ano fica para a história o acidente entre Hakkinen e Shumacher. No pódio: Michael Shumacker (1º) Mika Salo (2º) Eddie Irvine(3º), todos chegariam à F1 e à Ferrari.
1999: o GPM dotado do que de mais moderno existia para a organização e realização da prova; Jenson Button, ficou em segundo lugar, atrás do britânico Darren Manning.
O Circuito da Guia actualmente e que praticamente não sofreu alterações desde 1954

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Património cultural intangível

Foto agência Lusa
Há algumas semanas o Instituto Cultural actualizou a lista do Património Cultural intangível com cinco novas entradas: as procissões católicas do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos e de Nossa Senhora de Fátima, a 'Crença e Costumes de Tou Tei', 'Crença e Costumes de Chu Tai Sin' e a 'Arte dos Andaimes de Bambu'.
Ao todo, a lista inclui 15 manifestações: Ópera Yueju (Ópera Cantonense), preparação do chá de ervas, escultura de imagens sagradas em madeira, Naamyam Cantonense (Canções narrativas), música de ritual taoista, Festival do Dragão Embriagado, Crença e costumes ligados à adoração a A-Ma, Crença e os costumes de Na Tcha, Teatro em patuá, Gastronomia macaense, Crença e costumes de Tou Tei, Crença e costumes de Chu Tai Sin, Arte dos andaimes de bambu, Procissão do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos e Procissão de Nossa Senhora de Fátima.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

A China na Grande Guerra

No próximo ano assinalam-se os 100 anos passados sobre o fim da primeira guerra mundial. O conflito iniciado em 1914 terminou simbolicamente a 11 de Novembro de 1918, sendo conhecido pelo Dia do Armistício (de Compiègne), assinado entre os Aliados e o Império Alemão naquela localidade francesa, pelo fim das hostilidades na Frente Ocidental, o qual teve efeito às 11 horas da manhã, ou seja, a "undécima hora do undécimo dia do undécimo mês". Na chamada Frente Oriental as hostilidades prosseguiriam... Facto pouco conhecido foi a 'participação' da China.
Membros do CLC junto a fábrica de munições em Vonges, França
A imagem abaixo é de um mapa chinês de 1918 onde são assinaladas a diferentes cores a posição dos diferentes países face ao conflito. A vermelho estão os aliados e a azul os 'inimigos'. A bandeira de Portugal - que tal como a China também por ter uma posição neutral no conflito - está do lado direito.
A primeira guerra mundial teve início em 1914 e só terminou em 1918. Facto pouco conhecido foi a participação chinesa no conflito que oficialmente só ocorreu a partir de meados de 1917, mas antes disso, em meados de 1916, já milhares de chineses tinham chegado à Europa - provenientes sobretudo do Norte mas também de Hong Kong - para ajudar no esforço de guerra ao lado dos aliados - enterravam os mortos, cavavam trincheiras, trabalharam em fábricas de munições, como tradutores, etc - num grupo que ficou conhecido por Chinese Labour Corps (símbolo em baixo). Ao todo foram mais de 500 mil sobretudo em Inglaterra e França (e dali para os EUA), mas também na frente russa. Muitos voltariam a casa - o última contingente voltou já em 1920 - com a primeira experiência do mundo ocidental ajudando a construir a China do século XX (o partido comunista subiu ao poder em 1949). Outros, cerca de dois mil, morreram...
A China, tal como Portugal, era, na época uma jovem república. O período da dinastia imperial tinha chegado ao fim e o país vivia em guerra civil, com dois governos, um a Norte e outro a Sul. Vários países do Ocidente, mas também o Japão tinham importantes interesses comerciais e estratégicos na China com especial predominância em algumas cidades, como Xangai, Pequim ou Tsingtao. E os alemães tinha ocupado a província de Shandong em 1898.
Numa primeira fase da guerra, Sun Yat Sem, fundador da República chinesa, manifestou-se contra a participação no conflito, mas em Agosto de 1917 vir-se-ia a juntar aos aliados cojtra os japoneses e alemães. Implicitamente a ideia era, como a potencial vitória aliada, conseguir para a China alguns proveitos e o fim do que se denominava "exploração colonialista". Na prática acabou por não ser assim, após a Conferência de Paz e só no final da década de 1940 o cenário político iria mudar... Mas antes, ainda ocorreu a segunda guerra sino-japonesa (1937-1945), uma espécie de 'guerra esquecida' da segunda guerra mundial, mas que deixou marcas profundas. Dos 60 milhões de mortos registados no conflito mundial, um terço, 20 milhões, eram chineses. 
Existe abundante bibliografia em inglês sobre o tema mas muito pouca em português. Um desses raros exemplos é de 2014. Tem como título  "China na Grande Guerra - A conquista da Nova Identidade Internacional", e é da autoria de Luís Cunha com edição do IIM.
Curiosidade:
Em Hong Kong existe desde 1923 um monumento denominado - The Cenotaph - que começou por ser uma forma de homenagear os membros das forças armadas britânicas que ao serviço da então colónia britânica morreram na guerra. O memorial, réplica do que existe em Whitehall, Londres, passou também a servir para lembrar e homenagear as vítimas da segunda guerra mundial, um conflito com consequência bem mais nefastas para esta zona do mundo. Hong Kong foi invadido pelo exército japonês em Dezembro de 1941. Com uma forte comunidade portuguesa e macaense a residir na então colónia britânica foram muitos os portugueses e macaenses que sucumbiram na defesa do território. Ainda assim milhares conseguiram escapar encontrando um porto de abrigo a menos de 100 quilómetros de distância, em Macau.

domingo, 12 de novembro de 2017

9º aniversário do blogue na Macau News Agency

Macau | Connecting memories on and offline - Macau Antigo
The website ‘Macau Antigo,’ a blog created and maintained by João Botas, a Portuguese journalist who has lived in the city, is celebrating nine years this month
Macau (MNA) – A blog focusing on the history and social memory of Macau, named ‘Macau Antigo,’ is celebrating nine years this month, with more than 30,000 images and 4,000 posts uploaded since its inception, its founder, João Botas, told Macau News Agency (MNA).
‘I believe that one of the main assets of the project is to promote the history of Macau in an attractive way by using accessible language supported whenever possible by illustrations,’ Mr. Botas told us in an email.
The Portuguese journalist, who has lived in the city for ten years, told MNA that he launched the project following research carried out to write his first book, Liceu de Macau 1893-1999, in 2007.
‘I found so much material that I thought it was a waste not to share it,’ he claims.
The sources providing substance to the website are ‘the most varied,’ Mr. Botas noted, but consist primarily of two types, namely, a collection of personal objects he has accumulated throughout the years, and the Internet.
The ‘memorabilia related to Macau,’ which the journalist claims to be ‘one of the most important sources’ of the project, comprises more than 5,000 objects.
Those include coins, magazines, ‘lai sis,’ movie and jet-foil tickets, stamps, postcards, maps, matches, and books, which amount to nearly a thousand copies.
He pointed out that several of them were procured at auctions and antiquity fairs.
Regarding the Internet, Mr. Botas said the ‘nearly inexhaustible source’ enables him to search and collect material, as well as establish connections with readers, who also send him documents.
‘I recall a former military [officer] who offered me a 1950 mah-jong set, and another who gave me more than 20 old maps,’ he explains, adding that some people also offer him objects left by deceased family members.
‘They ask me if I want to “make good use” of them so that they can continue to tell stories of Macau’s history,’ he told MNA.
The blog, which the journalist claims to be ‘probably the biggest online documental archive about the history of Macau,’ has received more than one million page views since its creation in 2008.
By country of origin, the largest number of readers comes from Portugal, followed by Macau, U.S., Brazil, Russia, Germany, Hong Kong, China, France, and Canada, according to the owner of ‘
Macau Antigo‘.
Text by Sheyla Zandonai in Macau News Agency

sábado, 11 de novembro de 2017

Pan Am timetable San Francisco-Manila-Macao-Hong Kong route


 Pan Am timetable for the San Francisco-Manila-Macao-Hong Kong route
Departure from San Francisco was on Wednesday afternoon, and arrivals were:
Manila 5PM Tuesday
Macao 1:50PM Wednesday
Hong Kong 3PM Wednesday
Along the way, stops were made at Honolulu, Midway, Wake and Guam.

Mais sobre o China Clipper aqui

Para além do transporte de passageiros
esta ligação assegurou pela primeira vez o correio aéreo