Os pais de Sun Yat-sen (1866-1925) viveram em Macau, terra que os acolheu numa fase conturbadíssima da China, após a eclosão do movimento Taiping, liderado por Hong Xinquan, revolucionário lendário admirado pelo jovem Sun. Foi em Macau que o director duma missão protestante americana conheceu o pai de Sun e se ofereceu para ensinar inglês e religião ao filho, na aldeia natal. Macau foi a porta de acesso de Sun ao ocidente, quando daqui partiu para Honolulu, onde o seu irmão Mei já residia. A sua primeira mulher, Lu Muzhen, morreu em Macau.
O seu grande amigo macaense Francisco Hermenegildo Fernandes, proprietário da Tipografia Mercantil e do jornal Echo Macaense, apoiou-o em vários momentos cruciais da sua vida. Impedido de exercer em Hong Kong, o Hospital Kiang Wu, de Macau, aceitou a sua colaboração como médico. Macau proporcionou-lhe todas as condições para preparar a sua acção política. Depois de criar no Japão a Liga Unida, de que se tornou presidente, organizou oito insurreições armadas, de 1907 a 1911, e a filial da Liga em Macau, no nº 21 da Rua de Volong, foi um importante centro de recrutamento de novos membros e de angariação de fundos.
Três meses depois de abdicar da sua curtíssima presidência da República voltou a Macau, onde foi recebido pelo Governador Melo Machado, por Lou Lim Ioc, chinês riquíssimo residente em Macau, e por dirigentes da maçonaria local, de todos obtendo expressões vivas de apoio.
Voltou a Macau pela última vez em Maio de 1913. Exilado no Japão, após a eleição definitiva do General Yuan Shikai no dia 6 de Outubro de 1913, muitos dos seus partidários refugiaram-se em Macau, entre os quais membros da seita “Lobo Branco”.
O Governador José Carlos da Maia assumiu funções no dia 10 de Junho de 1914 e recusou a extradição dos membros do “Lobo Branco”, solicitada pelas autoridades chinesas. Com data de 23 de Junho de 1916, Sun Yat-sen escreveu uma carta de agradecimento, em francês, a José Carlos da Maia, cuja tradução se transcreve a seguir:
"Xangai, 23 de Junho de 1916 Meu caro Governador, é com verdadeiro prazer que venho expressar-lhe os meus sinceros agradecimentos pela extrema bondade que testemunhou, em repetidas circunstâncias, a todos os meus amigos políticos, sobretudo durante os últimos acontecimentos que tiveram lugar não longe de Macau. Não tenho palavras para vos expressar o reconhecimento profundo que dedico a tantos testemunhos de simpatia da vossa parte. Transmitindo-vos assim estes sentimentos, estou certo de ser o intérprete fiel de todos os republicanos chineses. Formulo ardentes votos, meu caro Governador, para que a ordem e a paz sejam rapidamente restabelecidas na China, a fim de que possamos, com a ajuda e o exemplo da República Portuguesa, instaurar na China os princípios e as bases de uma administração que traduza as aspirações do povo. Receba, meu caro Governador, a expressão da minha mais distinta consideração. Sun Yat-sen"
Sem comentários:
Enviar um comentário