O jornal tinha instalações no velho casarão na íngreme Calçada do Tronco Velho. "Olhar os velhos tipógrafos chineses que, logo na sala da esquerda, à entrada, compunham à mão e em tipos móveis, textos cujo conteúdo desconheciam - milagre dos milagres - e poder subir as escadas para a Redacção e Administração onde, invariavelmente, encontrava a grande mas fugidia figura de Luís Gonzaga Gomes, e o mitico "Monteiro das barbas", Hermman Machado Monteiro, que me dava cinquenta avos para os rebuçados, enquanto era recebido com um "ora viva" de Patrício Guterres, ou com um sorriso de Raúl da Rosa Duque. Aí me ficava a ver o Sr. Anízio, me espantava com as máquinas velhíssimas, já sem letras nas teclas gastas, e olhava o velho Jacob que, com ar sério por detrás das grossas lentes, trazia para a revisão os linguados de papel impresso, a tinta ainda fresca, para revisão. As velhas secretárias, com candeeiros de mesa de abat-jours verdes em forma de concha, tresandavam a tempo. Muitas vezes acendi e apaguei aquelas luzes, pensando qual seria a que iluminara a mesa de minha Mãe. Recordo-me de um dia ter ido ao Hotel Riviera com o meu Pai, e com ele subi ao quarto onde vivia Hermman Machado Monteiro, proprietário do jornal, que naquele seu modo tranquilo e quase silencioso, por detrás das barbas já grisalhas, me perguntou, com ar cúmplice, se queria um charuto. (...) Meu pai foi o último director do "Notícias de Macau", e viu fecharem-se as portas quando, ironicamente, a liberdade do 25 de Abril, por via de uma estranha comissão ad hoc, desferiu o golpe final a um jornal que tinha por tradição juntar Administração, Direcção, Redacção, Tipógrafos, todos sem distinção, à mesma mesa. Meu pai escreveu o último editorial, à guiza de saudação final, Spartacus - morituri te salutant." Excertos da autoria de António Conceição Júnior.
Pelo Notícias de Macau passaram nomes como Luís Gonzaga Gomes, Deolinda da Conceição, Hermman Monteiro, Cassiano da Fonseca, Raul Rosa Duque, Patrício Guterres, José dos Santos Ferreira, António Maria da Conceição, Adelino Barbosa da Conceição, entre outros.
Deolinda Conceição e o marido na redacção do NM
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