Estamos no século XVI e aos portugueses já tinha sido concedido o direito de se estabelecerem em Macau. A Igreja embarcava nas naus que partiam à descoberta da outra parte do mundo, levando na bagagem a Cruz de Cristo e a ambição de doutrinar os povos desconhecidos. Ao poder político e comercial interessava arregimentar culturalmente os gentios e, daí, a consonância num projecto que singrou, até aos nossos dias, em quase toda a parte. De fora ficou a China, não tanto por omissão do Ocidente, mas sim pela relutância que ainda hoje caracteriza o enigmático Império do Meio.
Nem mesmo Francisco Xavier, o apóstolo das Índias, logrou levar a cabo os seus intentos e transportou para o outro mundo uma missão que ficou por cumprir às Portas da China quando, em 1552, morreu na Ilha de Sanchoão. Diz a Igreja que, providencialmente, no ano em que Xavier entregou a alma ao Criador nasceu em Itália o seu sucessor. Era Matteo Ricci que, desde jovem, pedia insistentemente as Missões do Oriente. Aos 19 anos entrou na Companhia de Jesus e aos 25 anos recebeu autorização para residir em Portugal, continuando os seus estudos em Coimbra. Foi nesta altura que se tornou amiga pessoal de EI-Rei D. Sebastião, conseguindo ser enviado para Goa, a Roma do Oriente, a bordo da nau S. Luis, onde ficou quatro anos.
Depois disso, já com 31 anos de idade, Ricci está finalmente em Macau para cumprir o destino imaginado: evangelizar a China.
É em Macau que Ricci inicia os seus primeiros estudos de chinês e toma contacto com as tentativas já feitas, quer pelo Governo português quer pelos sacerdotes Jesuitas, para obter junto do Vice-Rei de Guangdong e Kwang-Sai autorização de comércio e de religião naquelas duas províncias.
As delegações enviadas a Shiu-Hing, que era na época a residência do Governador e consequentemente a cidada mais importante do Sul da China, tinham sido chefiadas pelo Ouvidor de Macau Matias Penela e integradas pelo Jesuíta Miguel Ruggieri. Os primeiros contactos com o Vice-Rei não foram de todo em todo infrutíferos, mas náo surtiram o efeito desejado. O Vice-Rei estava velho e mostrava renitência aos contactos com estrangeiros. Só depois da sua morte se abriram, se bem que timidamente, as portas ao Ocidente. É nessa altura que Ricci avança, acompanhando Miguel Ruggieri- um sacerdote com experiência acumulada ao longo das negociações com o falecido Vice-Rei.
Embarcaram para Shiu-Hing nos primeiros dias de Setembro de 1583,navegando pelo Rio das Pérolas. No dia 14 do mesmo mês e ano, Ricci e Ruggieri recebem do Vice-Rei autorização de residência e prática de culto e, de imediato, iniciam a construção de uma capela e residência paroquial junto de uma Torre/Pagode que tinha sido mandada edificar para proteger a cidade de eventual má-sorte que pudesse ser trazida pela confluência dos rios do Norte e do Oeste que se cruzam em frente da cidade.
Seis anos após a fundação da primeira Missão Católica, Ricci foi obrigado a abandoná-la por ordem do mesmo Vice-Rei que lhe tinha concedido a licença de residência e de culto.
Já nessa altura Miguel Ruggieri tinha regressado a Macau devido à sua avançada idade e periclitante estade de saúde.
Na razão da expulsão estava, segundo o Vice-Rei, a vontade da população de Shiu-Hing que protestava contra a presença de estrangeiros na cidade. As casas construídas por Ricci foram confiscadas a favor do Governo e Ricci tomou rumo à Leal Cidade do Santo Nome de Deus. Atrás tinha ficado um diminuto número de convertidos.
Ainda Ricci náo tinha chegado a Cantão quando foi interceptado por emissários do Vice-Rei que lhe propunham fixar-se não em Shiu-Hing mas mais a Norte, numa zona onde a população fosse menos hostil. Ricci voltou a avistar-se com o Vice-Rei e aceitou Shiu-Chau como segunda etapa de uma rota que o levaria a Pequim. Ricci não venceu a barreira que caracteriza a impenetrabilidade da China à cultura ocidental.
A licença concedida pelo Vice-Rei assentava no pressuposto da aquisição de conhecimentos que os Jesuítas detinham no campo da astronomia, cartografia, geografia e matemáticas. Essa a razão fundamental do «salvo-conduto» que Ricci bem entendeu a determinado ponto da sua cruzada, expressando o seguinte:
«(...) Os chineses não acreditam em nenhum país estrangeiro e, por isso, não deixam que nenhum estrangeiro entre ou resida na China a não ser que esses estrangeiros garantam que jamais regressarão aos seus países de origem».
Ricci equacionou sabiamente o objectivo do Vice-Rei e assumiu em pleno o destino que lhe estava traçado.
Numa primeira fase do seu apostolado vestiu os hábitos dos monges budistas e tentou aproximar A Palavra de Deus aos usos e costumes das populações locais. A medida que melhor ía conhecendo a estrutura social apurava a sua táctica, se bem que mantivesse a estratégia inicialmente definida. Foi assim que no seu percurso para Pequim trocou as vestes de monges pela dos letrados, assumindo desta forma maior respeitabilidade junto das populações e dos governantes locais. Usando os seus conhecimentos da ciência ocidental Ricci foi subindo degrau a degrau até entrar na corte Imperial, onde morreu com 58 anos de idade, no gozo de reconhecido prestigio.
Nem mesmo Francisco Xavier, o apóstolo das Índias, logrou levar a cabo os seus intentos e transportou para o outro mundo uma missão que ficou por cumprir às Portas da China quando, em 1552, morreu na Ilha de Sanchoão. Diz a Igreja que, providencialmente, no ano em que Xavier entregou a alma ao Criador nasceu em Itália o seu sucessor. Era Matteo Ricci que, desde jovem, pedia insistentemente as Missões do Oriente. Aos 19 anos entrou na Companhia de Jesus e aos 25 anos recebeu autorização para residir em Portugal, continuando os seus estudos em Coimbra. Foi nesta altura que se tornou amiga pessoal de EI-Rei D. Sebastião, conseguindo ser enviado para Goa, a Roma do Oriente, a bordo da nau S. Luis, onde ficou quatro anos.
Depois disso, já com 31 anos de idade, Ricci está finalmente em Macau para cumprir o destino imaginado: evangelizar a China.
É em Macau que Ricci inicia os seus primeiros estudos de chinês e toma contacto com as tentativas já feitas, quer pelo Governo português quer pelos sacerdotes Jesuitas, para obter junto do Vice-Rei de Guangdong e Kwang-Sai autorização de comércio e de religião naquelas duas províncias.
As delegações enviadas a Shiu-Hing, que era na época a residência do Governador e consequentemente a cidada mais importante do Sul da China, tinham sido chefiadas pelo Ouvidor de Macau Matias Penela e integradas pelo Jesuíta Miguel Ruggieri. Os primeiros contactos com o Vice-Rei não foram de todo em todo infrutíferos, mas náo surtiram o efeito desejado. O Vice-Rei estava velho e mostrava renitência aos contactos com estrangeiros. Só depois da sua morte se abriram, se bem que timidamente, as portas ao Ocidente. É nessa altura que Ricci avança, acompanhando Miguel Ruggieri- um sacerdote com experiência acumulada ao longo das negociações com o falecido Vice-Rei.
Embarcaram para Shiu-Hing nos primeiros dias de Setembro de 1583,navegando pelo Rio das Pérolas. No dia 14 do mesmo mês e ano, Ricci e Ruggieri recebem do Vice-Rei autorização de residência e prática de culto e, de imediato, iniciam a construção de uma capela e residência paroquial junto de uma Torre/Pagode que tinha sido mandada edificar para proteger a cidade de eventual má-sorte que pudesse ser trazida pela confluência dos rios do Norte e do Oeste que se cruzam em frente da cidade.
Seis anos após a fundação da primeira Missão Católica, Ricci foi obrigado a abandoná-la por ordem do mesmo Vice-Rei que lhe tinha concedido a licença de residência e de culto.
Já nessa altura Miguel Ruggieri tinha regressado a Macau devido à sua avançada idade e periclitante estade de saúde.
Na razão da expulsão estava, segundo o Vice-Rei, a vontade da população de Shiu-Hing que protestava contra a presença de estrangeiros na cidade. As casas construídas por Ricci foram confiscadas a favor do Governo e Ricci tomou rumo à Leal Cidade do Santo Nome de Deus. Atrás tinha ficado um diminuto número de convertidos.
Ainda Ricci náo tinha chegado a Cantão quando foi interceptado por emissários do Vice-Rei que lhe propunham fixar-se não em Shiu-Hing mas mais a Norte, numa zona onde a população fosse menos hostil. Ricci voltou a avistar-se com o Vice-Rei e aceitou Shiu-Chau como segunda etapa de uma rota que o levaria a Pequim. Ricci não venceu a barreira que caracteriza a impenetrabilidade da China à cultura ocidental.
A licença concedida pelo Vice-Rei assentava no pressuposto da aquisição de conhecimentos que os Jesuítas detinham no campo da astronomia, cartografia, geografia e matemáticas. Essa a razão fundamental do «salvo-conduto» que Ricci bem entendeu a determinado ponto da sua cruzada, expressando o seguinte:
«(...) Os chineses não acreditam em nenhum país estrangeiro e, por isso, não deixam que nenhum estrangeiro entre ou resida na China a não ser que esses estrangeiros garantam que jamais regressarão aos seus países de origem».
Ricci equacionou sabiamente o objectivo do Vice-Rei e assumiu em pleno o destino que lhe estava traçado.
Numa primeira fase do seu apostolado vestiu os hábitos dos monges budistas e tentou aproximar A Palavra de Deus aos usos e costumes das populações locais. A medida que melhor ía conhecendo a estrutura social apurava a sua táctica, se bem que mantivesse a estratégia inicialmente definida. Foi assim que no seu percurso para Pequim trocou as vestes de monges pela dos letrados, assumindo desta forma maior respeitabilidade junto das populações e dos governantes locais. Usando os seus conhecimentos da ciência ocidental Ricci foi subindo degrau a degrau até entrar na corte Imperial, onde morreu com 58 anos de idade, no gozo de reconhecido prestigio.
Túmulo de Matteo Ricci em Pequim
Recebeu a sua primeira formação na cidade natal, partindo depois para Roma onde estudou Humanidades, Leis e Ciências. A 15 de Agosto de 1571 ingressou na Companhia de Jesus. No Colégio Romano estudou Teologia e Filosofia, ao mesmo tempo que se dedicou ao estudo de Astronomia e das Matemáticas.
Aconselhado pelo padre Alexandre Valignano, visitador da Companhia nas missões da Índia e do Japão, partiu para Lisboa, onde terminou os estudos na Universidade de Coimbra. A 24 de Março de 1578, partiu da capital portuguesa para Goa, na nau São Luís. Após ter terminado os estudos em Teologia, ordenou-se sacerdote a 26 de Julho de 1580. A 7 de Agosto de 1582, entrou no porto da colónia portuguesa de Macau com o fim de atingir a China sob a dinastia Ming. A entrada neste país por um Ocidental não era muito facilitada, pois eram tomados como feiticeiros e intrusos de índole perigosa.
No Verão de 1583, juntamente com o padre Miguel Ruggieri, penetrou no Império Celeste. Dirigiram-se à residência do vice-rei de Kuangtong e Kuangsi, onde o padre Ruggieri já havia estado em 1581 e 1582. A 14 de Setembro recebe as devidas autorizações para permanecer naquele território. Catorze meses mais tarde, inauguraram a primeira casa da missão portuguesa na China, com a assistência do padre Francisco Cabral, reitor do Colégio de Macau. Em 1589, foram despojados da residência pelo novo vice-rei português da Índia. Mas receando algumas complicações com os missionários portugueses que se encontravam em Macau, o vice-rei autorizou os missionários a residirem em Siu-chau.
Ao longo dos tempos, fez algumas modificações na apresentação de indumentária e atitudes dos missionários, com o fim de melhorar as relações com os chineses e de melhorar os resultados das missões. Vestia-se à chinês, observando os ritos e costumes chineses que não colidiam com o dogma católico. Depois de assegurar a eficácia do seu apostolado, decidiu atingir Pequim, para poder irradiar o Cristianismo a partir desta grande cidade. A 7 de Setembro de 1595 alcançou a cidade. Três anos depois foi para Nanquim, onde foi tratado com grande cortesia pelo vice-rei. Aí instaurou uma nova comunidade cristã. De Nanquim saíram grandes mandarins cristãos como Paulo Siu, Inácio Keui-taisou, Paulo-Chiu, entre outros. De Macau saíram novos reforços para a missão de Ricci, com presentes para o imperador. Os fiéis de Nanquim ficaram entregues ao padre João Rocha. Pela terceira vez, Ricci partiu para Pequim, agora com o padre Diogo de Pantoja.
Deram entrada na corte imperial chinesa a 24 de Janeiro de 1601. O Imperador Manlik ficou maravilhado com os presentes que os missionários levaram. Concedeu permissão para fundarem uma missão em Pequim, tal como já tinha sido feito em Cantão e Chincheu. Matteo Ricci captou a simpatia do Imperador com os seus livros, Livro de 25 Palavras e Tien-Chush'ei (obra prima da Metafísica). Ricci morreu com 58 anos incompletos, corria o ano de 1610. Depois de fundar cinco residências, baptizou mais de 700 fiéis e encarnou a metodologia jesuítica de missionação tendo em conta os costumes, a língua e os preceitos religiosos dos lugares onde actuavam. Conseguiu, para além de todo esse labor missionar, arranjar ainda tempo para escrever e viajar no Império do Meio.
Aconselhado pelo padre Alexandre Valignano, visitador da Companhia nas missões da Índia e do Japão, partiu para Lisboa, onde terminou os estudos na Universidade de Coimbra. A 24 de Março de 1578, partiu da capital portuguesa para Goa, na nau São Luís. Após ter terminado os estudos em Teologia, ordenou-se sacerdote a 26 de Julho de 1580. A 7 de Agosto de 1582, entrou no porto da colónia portuguesa de Macau com o fim de atingir a China sob a dinastia Ming. A entrada neste país por um Ocidental não era muito facilitada, pois eram tomados como feiticeiros e intrusos de índole perigosa.
No Verão de 1583, juntamente com o padre Miguel Ruggieri, penetrou no Império Celeste. Dirigiram-se à residência do vice-rei de Kuangtong e Kuangsi, onde o padre Ruggieri já havia estado em 1581 e 1582. A 14 de Setembro recebe as devidas autorizações para permanecer naquele território. Catorze meses mais tarde, inauguraram a primeira casa da missão portuguesa na China, com a assistência do padre Francisco Cabral, reitor do Colégio de Macau. Em 1589, foram despojados da residência pelo novo vice-rei português da Índia. Mas receando algumas complicações com os missionários portugueses que se encontravam em Macau, o vice-rei autorizou os missionários a residirem em Siu-chau.
Ao longo dos tempos, fez algumas modificações na apresentação de indumentária e atitudes dos missionários, com o fim de melhorar as relações com os chineses e de melhorar os resultados das missões. Vestia-se à chinês, observando os ritos e costumes chineses que não colidiam com o dogma católico. Depois de assegurar a eficácia do seu apostolado, decidiu atingir Pequim, para poder irradiar o Cristianismo a partir desta grande cidade. A 7 de Setembro de 1595 alcançou a cidade. Três anos depois foi para Nanquim, onde foi tratado com grande cortesia pelo vice-rei. Aí instaurou uma nova comunidade cristã. De Nanquim saíram grandes mandarins cristãos como Paulo Siu, Inácio Keui-taisou, Paulo-Chiu, entre outros. De Macau saíram novos reforços para a missão de Ricci, com presentes para o imperador. Os fiéis de Nanquim ficaram entregues ao padre João Rocha. Pela terceira vez, Ricci partiu para Pequim, agora com o padre Diogo de Pantoja.
Deram entrada na corte imperial chinesa a 24 de Janeiro de 1601. O Imperador Manlik ficou maravilhado com os presentes que os missionários levaram. Concedeu permissão para fundarem uma missão em Pequim, tal como já tinha sido feito em Cantão e Chincheu. Matteo Ricci captou a simpatia do Imperador com os seus livros, Livro de 25 Palavras e Tien-Chush'ei (obra prima da Metafísica). Ricci morreu com 58 anos incompletos, corria o ano de 1610. Depois de fundar cinco residências, baptizou mais de 700 fiéis e encarnou a metodologia jesuítica de missionação tendo em conta os costumes, a língua e os preceitos religiosos dos lugares onde actuavam. Conseguiu, para além de todo esse labor missionar, arranjar ainda tempo para escrever e viajar no Império do Meio.
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