Francisco Figueira, arquitecto, chegou a Macau em 1971 motivado pelo evitamento da Guerra Colonial, já que os funcionários que fossem destacados para a então província ultramarina eram isentados da participação no conflito. Nessa altura, a única listagem de património existente datava de finais dos anos 40, quando foi nomeada uma comissão que se limitou a referenciar alguns monumentos no sentido mais tradicional do termo, tais como igrejas, fortificações e edifícios do governo.
Francisco Figueira "foi percursor nas abordagens modernas da conservação do património da cidade" ao introduzir no território as teorias do movimento preservacionista, integrando no regulamento urbanístico a classificação de zonas, sítios e conjuntos de edifícios. Dessa forma foram classificadas “áreas com edifícios não necessariamente notáveis, mas que foram importantes historicamente, tais como o bairro de S. Lázaro, zona de habitação social relevante por ter sido a primeira leprosaria construída fora das muralhas cristãs da cidade, o bairro do Lilau, área inicial da implantação dos portugueses e a zona do Porto Interior, ponto forte actividade piscatória”.
Francisco Figueira foi chefe de departamento do património e chegou a ser presidente substituto do Instituto Cultural. Era usual vê-lo nas reuniões que mantinha com o Governador calçado com sapatos chineses de pano, ou usando um nó de gravata peculiar. Costumava ostentar um colar de missangas e, nos meses mais frios, o Min-Nap, casaco típico do vestuário cínico. O seu estilo cruzava as influências oriental e ocidental, tal como a sua vida.
Considerava a vivenda modernista onde morava, localizada na colina da Penha, como “a casa mais bonita da Ásia”, pela qual sentia “um chamamento”. Remodelou o desenho inicial de Canavarro Nolasco e de Chan Kan Pui, construindo uma piscina no lugar da garagem, e recheando o espaço com artefactos que adquiria ao longo das suas viagens, tais como louça chinesa, pinturas de artistas amigos, móveis valiosos e uma colecção de esculturas revolucionárias do movimento maoísta.
A propósito património arquitectónico de Macau, Figueira escreveu, corria o ano de 1983: “O que se procura é, isso sim, manter vivos os edifícios do passado, integrados na cidade de hoje, desempenhando as mais diversas funções, na plenitude das suas capacidades, mantendo com o envolvimento urbano uma relação de vida activa. Isto requer que não se conservem somente as grandes construções monumentais mas também a arquitectura anónima, a rua de bairro comunitário, o pátio público, o pequeno jardim, enfim, tudo o que, com plena utilidade, confere à cidade a humanização que torna apetecível a vida urbana.”
Doente, regressou a Portugal nos anos 80 vindo a falecer em Setembro de 2009.
Texto elaborado a partir de diversas notícias publicadas na imprensa de Macau em Setembro de 2009Alguns livros onde FF participou:
Livro "Património Arquitectónico de Macau", de 1983 com Carlos Marreiros
"Macau visto do Céu", com Filipe Jorge... imagens aéreas, registadas em helicóptero no Verão de 1999, ou nos aviões pioneiros das décadas de 30 a 50, ilustram os quatro cantos de Macau e das ilhas da Taipa e Coloane.
Sínico, talvez...
ResponderEliminarBelíssimo blog.
cpts
RAS