Partida de Lisboa para Macau a bordo do Niassa a 26 de Abril de 1960
Testemunho (da parte final da viagem) de J Matos Silva que viajou no Niassa até Macau...
Testemunho (da parte final da viagem) de J Matos Silva que viajou no Niassa até Macau...
"Ao mesmo tempo que nós nos despedíamos do Nyassa, outro Batelão se aprestava para lhe ligar seus "braços" com a missão de recolher não só as bagagens impossíveis de transportar em mão, Mas também toda a carga que compunha o conjunto de materiais ao equipamento total do Destacamento, tais como: viaturas, armamento, munições e todos os equipamentos necessários à vida e acção diária de mais de um milhar de homens, que se desejavam prontos para cumprirem, a cada dia, todas as tarefas de paz e outras que viessem a surgir-lhes.- Todos desejavam, antes de mais nada, viver com a possível tranquilidade, o dia-a-dia diferente que os esperavam; mas queriam também, se a tanto viessem a ser obrigados, dispôrem de meios que os deixassem dar resposta pronta a qualquer "picadela" de que se sentissem como alvos privilegiados. (...)
Estamos a cada momento mais perto do ponto que é, desde há 34 dias, o verdadeiro objectivo desta longa viagem e já se distinguem bem, as várias formas dos edifícios mais próximos do cais onde, dentro de pouco tempo, o nosso transporte irá atracar. E na direcção em que seguimos, bem se distingue já, a sobrepôr-se ao compacto casarío que se estende ao longo da costa, um enorme edifício que terá, sem sombra de erro, uns bons dez andares, sendo assim, segundo creio, uma das mais altas construções de todo o território nacional. Soubemos depois tratar-se do Hotel Kuoc Chai. É muito próximo do local onde se instala esse "monstro" (porque diferente de todas as construções que podemos mirar) , que vai processar-se o desembarque de quantos vieram em viagem desde Lisboa, para uma demorada estadia em Macau, que irá ter a demora mínima de dois anos.
Em terra e ao longo da Avenida Marginal, já se distinguem, alinhadas frente ao cais, enorme fila de viaturas, que têm por missão transportar todas aquelas "visitas" aos alojamentos que a cada Sub Unidade ou Destacamento, vão ser atribuidos. E estamos no momento em que os primeiros homens do Contingente, descem do Batelão para o cais e seguindo plano prèviamente elaborado, vão sendo acompanhados por elementos da Secção de Desembarque, até aos transportes que, aos poucos, vão iniciando o arranque da marcha que irá levar, cada um dos viajantes, à sua nova "casinha".- Quando arribamos à nossa vez, recebe-nos uma camioneta de transporte militar, onde se colocam dois bancos laterais e um central, onde se sentam duas filas de passageiros, costas com costas, o que permite que um transporte deste tipo leve consigo, em cada viagem, entre 36 e 40 militares.- Iniciada a viagem em direcção ao aquartelamento que será o nosso habitat temporário, acaba por estacionar a viatura que nos transporta em Mong Ha, onde estarão previstos dois quarteis, sendo um ao lado da estrada de acesso que percorremos há momentos e outro, subindo a um morro que se designa por Mong Ha Pol Toi, a uns bons vinte metros de altitude em relação ao primeiro.
É esta, aquela que vai ser a nossa "casa", a nossa primeira casa da permanência que vamos cumprir em Macau, portanto o Quartel da Companhia Independente Anti-Carro, à qual pertenço. Ali escolhemos a nossa cama, ocupamos um Armário guarda-roupa e preparamo-nos para a primeira refeição em terra de chineses, que vai ter lugar no velho Aquartemento de S.Francisco, onde se situa a principal Messe de Sargentos da Colónia. (...)
a bordo do Niassa
Fotografia de Eduardo Oliveira
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