sexta-feira, 1 de maio de 2009

Raid aéreo Lisboa - Macau em 1987

Sagres faz-se à pista e aterra Relato de Jorge Cruz Galego:
"OK! Está autorizado a descer para 800 pés e reporte com Macau à vista. (...) Decidido, meti o nariz em baixo para perder rapidamente os 200 pés e surpresa das surpresas, saí da camada e ali bem à minha frente estava uma ponte com uma enorme boça.
Gritei e eles também: É a ponte, é inconfundível, já a vi em montes de fotografias, é Macau! Entretanto continuei a descer e o cenário completou-se com uma linda e enorme cidade à nossa direita e à esquerda umas ilhas. Era mesmo MACAU ! Em voo timidamente baixo, sobrevoámos a cidade e as ilhas, agora mais calmos e confiantes, olhámo-nos sem coragem para falar tentando a todo custo reter aquelas lágrimas que me turvavam a vista e com voz embargada disse: "Arnaldo a aterragem é tua ! És o mais velho e bem mereces esta honra!" Sem flaps mas com muita experiência, o Arnaldo aterrou o seu avião, o nosso Sagres, no aterro da Concórdia em Macau.


Rota do raid aéreo Portugal - Macau no Sagres, um avião de 1965!
Foram percorridos 15 mil Kms e feitas 23 aterragens
 
Com o título "Recepção carinhosa aos homens do 'Sagres' o "Jornal de Macau" e o Tribuna de Macau" noticiaram assim o evento:
Eram precisamente 12:45 horas quando o monomotor “Sagres” tocou a pista da Concórdia terminando assim uma aventura de 27 dias e cumprindo a promessa de ligar o passado ao presente evocando a memória de Brito Pais, Sarmento Beires e Manuel Gouveia que em 1924 empreenderam a primeira ligação aérea entre Portugal e Macau. À chegada, Jorge Cruz, Prata Mendes e Arnaldo Leal, os três tripulantes do “Sagres”, foram recebidos por uma multidão e pelo secretário-adjunto Mário Cordeiro que em nome do Governador de Macau apresentou aos aviadores os cumprimentos de boas vindas. Na recepção não faltaram a tradicional dança do leão e o não menos tradicional champanhe a celebrar a missão cumprida. Mais tarde, no Palácio da Praia Grande, o Governador Pinto Machado atribuiu aos aviadores a mais alta condecoração do território no campo desportivo -a Medalha de Mérito Desportivo de Macau. Na ocasião, o Governador afirmou que a travessia que agora terminou, “reeditando a proeza semelhante levada a cabo há 63 anos também por aviadores portugueses, constitui não apenas um memorável acontecimento em termos desportivos mas também uma forma brilhante de enaltecer o território de Macau e a sua população”. Mesmo que chegassem em 1988, isso acabaria por ser secundário. “O que importa”, acrescentou Pinto Machado, “foi acabar uma tarefa que consideramos essencial”. Jorge Cruz, em representação dos três aviadores, leu então a mensagem em que Camões afirmou “esta é a minha ditosa pátria minha amada- sentiu-o aqui Camões e nós compreendemo-lo”. Terminando, e numa referência ao regresso a Portugal, o comandante do “Sagres” disse que “vamos pôr os olhos em Lisboa. Regressamos plenos de determinação e energia, conscientes de que daqui a alguns meses no nosso dia a dia não existirão cicatrizes, mas antes recordações de uma missão.In “Jornal de Macau” e “Tribuna de Macau” 6.2.1987

Sem comentários:

Enviar um comentário