Em Maio de 2004 o Museu Marítimo da Austrália Ocidental (Western Australia Museum)anunciou ter encontrado um mês antes o navio português "Correio da Ásia", afundado em 1816 ao largo daquele país quando fazia a ligação Lisboa-Macau. Juntamente com o navio (semelhante ao da imagem abaixo) foram encontradas cerca de mil moedas de prata, dois canhões, âncoras, lemes, um grande lastro e um sino de bronze.
Neste post vou contar a história do naufrágio, do dono da galera, José Nunes da Silveira, negociante de grosso trato e capitão de longo curso, e dos 188 anos que passaram entre o acidente e a descoberta dos destroços a apenas 3 metros de profundidade que contou a com preciosa colaboração do arqueólogo português Paulo Alexandre Monteiro.
Neste post vou contar a história do naufrágio, do dono da galera, José Nunes da Silveira, negociante de grosso trato e capitão de longo curso, e dos 188 anos que passaram entre o acidente e a descoberta dos destroços a apenas 3 metros de profundidade que contou a com preciosa colaboração do arqueólogo português Paulo Alexandre Monteiro.
“Pataca”ou moeda espanhola de 8 reales, em prata, recuperada do local do naufrágio do Correio da Ásia |
A 25 de Novembro de 1816 a galera Correio D'Àzia, propriedade de José Nunes da Silveira, proveniente de Lisboa para Macau naufragou nas costa da Nova holanda (actual Austrália). Nesse dia o Correio da Ásia já contava com mais de cem dias no mar desde que saiu de Lisboa. Seguindo a rota com destino a Macau, manteve-se na latitude de 40º S após ultrapassar o cabo da Boa Esperança em direcção à Nova Holanda.
Cai a noite quando a bitácula da bússola arde durante 15 minutos, privando a tripulação do precioso instrumento de navegação. Aos comandos da embarcação está o comandante João Joaquim de Freitas prestes a cair numa armadilha fatal. O casco da acaba por embater numa barreira de cora e a galera adorna para bombordo.
Os 32 tripulantes depressa iniciam a evacuação e entram na lancha de serviço permanecendo atracados aos mastros do navio até à alvorada. Ainda conseguem recuperar três barris de bolacha, uma pequena quantidade de água e cerca de seis mil das 106.500 moedas de prata que transportavam a bordo. Já se temia o pior quando são avistados pelo Caledonia, um navio norte-americano que os recolhe e leva até Macau.
No território português tratam do chamado 'protesto de naufrágio', documento essencial para apurar as circunstâncias e responsabilidades do acidente, assinado pelo capitão João Joaquim de Freitas em Janeiro de 1817:
"Em Nome de Deos Amen Saibão quantos este Instrumento de traslado em publica forma virem que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos dezessete aos vinte e cinco dias do mez de Janeiro do anno nesta Cidade do Nome de Deos de Macao na China por João Joaquim de Freitas foy entregue a mim Joze Gabriel Mendez, Tabelião publico de Notas por Sua Magestade Fedelisma, que Deos Guarde hum
Protesto requerendo me traslade em publica forma o que por mim lhe foy satisfeito. (...)"
Cai a noite quando a bitácula da bússola arde durante 15 minutos, privando a tripulação do precioso instrumento de navegação. Aos comandos da embarcação está o comandante João Joaquim de Freitas prestes a cair numa armadilha fatal. O casco da acaba por embater numa barreira de cora e a galera adorna para bombordo.
Os 32 tripulantes depressa iniciam a evacuação e entram na lancha de serviço permanecendo atracados aos mastros do navio até à alvorada. Ainda conseguem recuperar três barris de bolacha, uma pequena quantidade de água e cerca de seis mil das 106.500 moedas de prata que transportavam a bordo. Já se temia o pior quando são avistados pelo Caledonia, um navio norte-americano que os recolhe e leva até Macau.
No território português tratam do chamado 'protesto de naufrágio', documento essencial para apurar as circunstâncias e responsabilidades do acidente, assinado pelo capitão João Joaquim de Freitas em Janeiro de 1817:
"Em Nome de Deos Amen Saibão quantos este Instrumento de traslado em publica forma virem que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos dezessete aos vinte e cinco dias do mez de Janeiro do anno nesta Cidade do Nome de Deos de Macao na China por João Joaquim de Freitas foy entregue a mim Joze Gabriel Mendez, Tabelião publico de Notas por Sua Magestade Fedelisma, que Deos Guarde hum
Protesto requerendo me traslade em publica forma o que por mim lhe foy satisfeito. (...)"
Com cerca de três toneladas de prata a bordo equaciona-se tentar a recuperação da carga. A missão era arriscada e sem lucro garantido mas seria concretizada em Março, com a partida do brigue Emília, financiado com as moedas recuperadas pelos náufragos por ordem do ouvidor Arriaga a 17 de Fevereiro de 1817. Na sua missão o Emília nada encontrou na zona do recife de Ningaloo mas a esta viagem viria a ser fundamental para a redescoberta dos destroços quase 200 anos depois.
Esta foi a história que se conheceu durante vários séculos. Até que em 1987 o relato detalhado do piloto Luís Beltrão (a bordo do Emilia) foi comprado num leilão na Índia. Investigado o documento estavam criadas as condições para tentar encontrar o Correio da Ázia, o que veio a acontecer em Abril de 2004 quando uma escavação comprovou a posição do navio e identificou parte importante do lastro de ferro, bem como algumas centenas de moedas de prata (ver imagem).
Esta foi a história que se conheceu durante vários séculos. Até que em 1987 o relato detalhado do piloto Luís Beltrão (a bordo do Emilia) foi comprado num leilão na Índia. Investigado o documento estavam criadas as condições para tentar encontrar o Correio da Ázia, o que veio a acontecer em Abril de 2004 quando uma escavação comprovou a posição do navio e identificou parte importante do lastro de ferro, bem como algumas centenas de moedas de prata (ver imagem).
Sabe-se hoje que já existiam na época cartas náuticas rigorosas que poderiam ter evitado o naufrágio... Mas os tempos eram outros e a distribuição das cartas mais actualizadas era difícil demorando por vezes décadas. Aliás, foram vários os naufrágios ocorridos quer nesta zona.
Zona do naufrágio |
José Nunes da Silveira (Madalena do Pico, Açores 24 Junho 1754 - Lisboa, 16 Junho 1833) foi um negociante de grosso trata, armador e político que se destacou como membro da Junta Provisional do Supremo Governo do Reino saída da Revolução Liberal do Porto de 24 de Agosto de 1820. Foi marinheiro, piloto e em seguida capitão e co-proprietário, com o mariense José Inácio de Andrade, de navios da carreira entre Lisboa e Macau.
Com este comércio fez uma fortuna notável, tendo-se estabelecido como comerciante de grosso trato na cidade de Lisboa. No período de 1786 a 1832 Silveira chegou a ter uma frota de 20 navios (brigues, galeras e escunas), treze deles afectos a viagens ao Oriente entre eles o Temerário e o Correio d’Azia.
Jozé, como era escrito na época, chegou a Macau pela primeira vez em 1780. Voltou a Lisboa como capitão do navio «Santa Cruz» em 1785. Volta a Macau em 1786 (o filho, Joaquim Nunes da Silveira, nasceu em Macau nesse ano).
Em 1818 comprou os navios Delfim e Golfinho S. Filipe de Nery para comércio de escravatura (África – Brasil), mas viria a desistir porque um tratado com a Inglaterra proibiu tal negócio.
Em 1818 comprou os navios Delfim e Golfinho S. Filipe de Nery para comércio de escravatura (África – Brasil), mas viria a desistir porque um tratado com a Inglaterra proibiu tal negócio.
Na revolução liberal do Porto de 24 de Agosto de 1820, integrou a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino. Foi ainda Governador do Reino e fez parte da Junta Preparatória das Cortes, mas não foi eleito deputado, muito provavelmente devido a um ataque apoplético que o deixou meio paralítico. Morreu em Junho de 1754.
Bom dia João,
ResponderEliminarrealmente há muitas vidas esquecidas que merecem ser recordadas e não ser esquecidas como acontece na maioria das vezes com os comerciantes portugueses dessas terras longínquas
abraço
Angela