Feliz Ano Novo Chinês | 春节快乐 | Happy Chinese New Year
Composição gráfica de Rita Figueira Pereira
Segundo a lenda Buda marcou um encontro com todos os animais no dia de Ano Novo Chinês. Doze animais responderam ao seu apelo e Buda atribuiu um ano a cada um deles. A partir de então, Buda anunciou que as pessoas nascidas no ano de cada animal teriam alguma personalidade desse animal
Como o ciclo lunar é formado por 12 animais, significa que de 12 em 12 anos o mesmo animal se repete.
Este ano, o novo ano lunar começa a 5 de Fevereiro dando início a mais um ciclo do ano novo chinês, desta vez sob o signo do Porco. O Porco é o animal que fecha o ciclo de rotação dos 12 signos do calendário lunar chinês. Representa a inteligência e o poder de observação.
Também conhecida como Festival da Primavera, esta festividade é uma tradição com mais de 2.000 anos na China e a principal festa de reunião das famílias chinesas, que leva milhões de pessoas a percorrerem centenas e até milhares de quilómetros até à terra natal naquele que é o maior movimento migratório do mundo.
Também conhecida como Festival da Primavera, esta festividade é uma tradição com mais de 2.000 anos na China e a principal festa de reunião das famílias chinesas, que leva milhões de pessoas a percorrerem centenas e até milhares de quilómetros até à terra natal naquele que é o maior movimento migratório do mundo.
恭賀新禧
Feliz Ano Novo Lunar
Happy Chinese New Year
Feliz Ano Novo Lunar
Happy Chinese New Year
A este propósito recordo um excerto de um artigo da autoria de Ana Maria Amaro intitulado "Ano Novo Chinês: festa da primavera" que versa a festividade sob o ponto de vista antropológico. No blogue existem vários textos sobre esta tradição ao longo dos tempos. Basta clicar na etiqueta "ano novo chinês".
Resquício de um mesmo antigo culto no Império do Meio parece testemunhar a festividade do Ano Novo com todo o seu antigo ritual em grande parte já esquecido. Contudo, várias são as práticas que chegaram aos nossos dias. De entre estas são de citar a incineração do Deus da Cozinha (Chou Kuan), figura que, durante o ano, as chinesas conservadoras não deixam de venerar com incenso, velas e flores, retirando-o e queimando-o no dia 24 da 12a lua, celebração do Solstício de Inverno, que precede o advento do novo ano, altura em que tal imagem é, de novo, entronizada no seu nicho, precisamente na hora zero entre a hora do rato e a hora do boi (23-1) do un tan (). Porquê esta especial veneração do Deus da Cozinha nas celebrações do Ano Novo? Uma hipótese que avançamos é que esta divindade represente o próprio fogo que, nos lares ou antigos fornos, era preciso manter sempre aceso nos tempos arcaicos da civilização chinesa. As cerimónias do renovar do fogo, e as festividades que sublinhavam o fim da estação morta, durante a qual se interrompiam os trabalhos do campo, rematadas por festividades orgíacas em simpatia com o culto da fertilidade, segundo no-las descreve Marcel Granet, parecem apontar para uma celebração comum a todos os grupos de economia agrícola. É também de assinalar que o primeiro dia do ano era considerado na China o dia do galo - o anunciador do nascer do sol - emblema do fogo e da ressurreição, nas antigas civilizações mediterrânicas.
Nos primeiros anos da Dinastia Chau (1222 (?) - 255 AC) o Ano Novo começava na actual 12a Lua. contudo, os calendários diferiam de Estado para Estado, pelo que, procurar estabelecer-se uma cronologia, é hoje extremamente difícil. Em 104 AC foi reformado o calendário na China, mas o calendário Gregoriano do Ocidente só foi adoptado em 1912, pelo Governo da República.
Depois da reforma do ano 104 AC, o dia de Ano Novo passou a coincidir com a 1a Lua Nova depois do Sol entrar na Constelação da Águia, o que corresponde a um período situado entre os nossos dias 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro. A partir de 1912 o dia Ano Novo passou, tal como no Ocidente, a ser celebrado no dia 1 de Janeiro, mantendo-se, porém, a antiga data que o povo rural não poderia deixar de festejar, data que se transformou na actual Festa da Primavera, tal como havia acontecido na Europa com o nascimento do Entrudo.
Na China Imperial, segundo os Anais de Chau, o ano religioso começava na Primavera, envolvendo a sua celebração grandes cerimónias realizadas pelo Soberano, pelos Magistrados e pelo povo. Estas cerimónias constavam do culto do Céu, da Terra e dos Antepassados. As interdições impostas pela estação invernal haviam findado, recomeçando os trabalhos nos campos. O próprio Imperador sacrificava a Séong Tai (o Soberano do Alto) sendo o dia preciso ditado pelos Antepassados através da adivinhação pela carapaça da tartaruga. A vítima era um touro de pelagem ruiva e chifres pequenos que, antes, fora escolhido pelo próprio Imperador.
Quando os homens-galos (kai ian) anunciavam nesse dia o nascer do sol, o Rei, que se mantivera 10 dias em abstinência, envergava o seu traje bordado com figurações do Sol e da Lua, colocava a tiara de 12 pendentes, e num carro decorado com símbolos representando 12 chamas e Dragões, aliados ao Sol e à Lua, dirigia-se ao terrapleno circular situado a sul da capital e destinado aos sacrifícios. Ali, com grande solenidade, ao som de instrumentos musicais, procedia então à imolação do touro sagrado.
Iniciava-se deste modo a nova estação, a Primavera, e com ela o retorno aos trabalhos agrícolas. Festas orgíacas entre o povo, dispersavam os jovens pelos campos. Havia alegria e repastos abundantes. Os aldeãos pincelavam, nessa altura, as ombreiras das portas das suas casas com o sangue das vítimas imoladas, para afastarem deste modo os malefícios e atraírem as graças do Alto no Ano Novo que então começava. Com o mesmo objectivo faziam estalar, pelo fogo, colmos de bambu seco.
Tal como, no Ocidente, o Cristianismo transformou as festas pagãs, adoptando-as, também na China o Confucionismo, no século III AC, logrou transformar as antigas celebrações orgíacas em festas de coesão familiar e de veneração dos Antepassados. Assim, das antigas práticas de celebração do Ano Novo, chegaram até nós os papéis vermelhos, com ou sem dísticos congratulatórios pincelados, principalmente os 3 papéis rectangulares que se colam nos umbrais das portas das casas, a substituir, imitando-o, o sangue das vítimas imoladas e os panchões, os estalos da Índia, que atroam os ares durante três dias consecutivos, causando o gáudio das crianças e inundando o solo com o vermelho auspicioso dos seus envólucros rasgados pela pólvora, a substituir o ruído dos antigos colmos de bambu queimados. Manteve-se também, através dos séculos, a veneração do Céu e dos Antepassados, bem como a consolidação da coesão familiar e social mediante práticas rituais domésticas e nos templos.
Outro costume que vem dos antigos tempos e que em Macau tem ainda numerosos cultores, é a oferta dos lâi si, o dinheiro da sorte, envolvido em saquinhos de papel vermelho que, não ostentavam os elementos simbólicos com que hoje auspiciosamente se decoram.
Há, ainda, que referir a troca de cartões de Boas Festas com frases eruditas e/ou simbólicas formulando votos de Ano Novo próspero e feliz. Se há quem defenda que esta é uma criação europeia, difundida pelos ingleses nos meados do século XIX, a verdade é que já muito antes os letrados chineses trocavam grandes cartões vermelhos. finamente pincelados com frases auspiciosas, acompanhando os presentes que a tradição manda, ainda, que se enviem, de que se receba só uma parte e que se retribuam, dentro do arcaico complexo cultural do dom e da reciprocidade. Estes cartões evoluíram e, hibridando-se com aqueles que os ingleses introduziram mais tarde no oriente, deram as actuais formas mistas, que em Macau e em Hong Kong se mantêm, e onde os antigos valores simbólicos perduraram e são valorizados. É de notar que estes motivos simbólicos, apesar de bastante variados, correspondem geralmente às 3 felicidades mais ambicionadas: longa prole, promoção social e longa vida.
Não iremos alongar-nos descrevendo o que resta das antigas cerimónias da Abertura do Ano em Macau e dos seus manjares rituais em que se prima pela abundância, variedade e simbolismo. No entanto, há que referir que, desde a comida de abstinência aos pratos requintados que se lhe seguem, há ainda uma variegada gama de bolinholas, pevides, cogumelos, algas, rizomas e sementes de loto que, tal como as tangerinas, reproduzem por homofonia frases que são votos muito auspiciosos de Feliz Ano Novo. É que no Ano Novo todas as palavras, bem como todos os actos, devem ser cuidadosamente seleccionados. Apenas se devem pronunciar palavras fastas e assumir atitudes auspiciosas.
O Ano Novo é traduzido também, ainda hoje, pelo arriscar da sorte no jogo, à maneira de augúrio de riqueza no ano que vai começar. Cruzam-se sorrisos de alegria entre muito ruído, aliado ao vermelhão que sai das casas e enche as ruas, espalhado pelo chão, pelo vestuário, e até pelos lábios pintados das crianças.
Neste dia, a renovação é obrigatória: nos trajes, nas casas, nas refeições, no próprio interromper do trabalho. É a renovação Cósmica espelhada na Terra. Esquecem-se as penas e os revezes. Troca-se o ano velho pela juventude do Ano Novo que é recebido com esfuziante alegria e saudado pelos votos que se permutam em cordiais saudações: Kong Hei Fat Choi, Kong Hei Fat Choi! Artigo d de Ana Maria Amaro in Revista de Cultura, nº 22 Jan./Mar. 1995, ICM, Macau.
Resquício de um mesmo antigo culto no Império do Meio parece testemunhar a festividade do Ano Novo com todo o seu antigo ritual em grande parte já esquecido. Contudo, várias são as práticas que chegaram aos nossos dias. De entre estas são de citar a incineração do Deus da Cozinha (Chou Kuan), figura que, durante o ano, as chinesas conservadoras não deixam de venerar com incenso, velas e flores, retirando-o e queimando-o no dia 24 da 12a lua, celebração do Solstício de Inverno, que precede o advento do novo ano, altura em que tal imagem é, de novo, entronizada no seu nicho, precisamente na hora zero entre a hora do rato e a hora do boi (23-1) do un tan (). Porquê esta especial veneração do Deus da Cozinha nas celebrações do Ano Novo? Uma hipótese que avançamos é que esta divindade represente o próprio fogo que, nos lares ou antigos fornos, era preciso manter sempre aceso nos tempos arcaicos da civilização chinesa. As cerimónias do renovar do fogo, e as festividades que sublinhavam o fim da estação morta, durante a qual se interrompiam os trabalhos do campo, rematadas por festividades orgíacas em simpatia com o culto da fertilidade, segundo no-las descreve Marcel Granet, parecem apontar para uma celebração comum a todos os grupos de economia agrícola. É também de assinalar que o primeiro dia do ano era considerado na China o dia do galo - o anunciador do nascer do sol - emblema do fogo e da ressurreição, nas antigas civilizações mediterrânicas.
Nos primeiros anos da Dinastia Chau (1222 (?) - 255 AC) o Ano Novo começava na actual 12a Lua. contudo, os calendários diferiam de Estado para Estado, pelo que, procurar estabelecer-se uma cronologia, é hoje extremamente difícil. Em 104 AC foi reformado o calendário na China, mas o calendário Gregoriano do Ocidente só foi adoptado em 1912, pelo Governo da República.
Depois da reforma do ano 104 AC, o dia de Ano Novo passou a coincidir com a 1a Lua Nova depois do Sol entrar na Constelação da Águia, o que corresponde a um período situado entre os nossos dias 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro. A partir de 1912 o dia Ano Novo passou, tal como no Ocidente, a ser celebrado no dia 1 de Janeiro, mantendo-se, porém, a antiga data que o povo rural não poderia deixar de festejar, data que se transformou na actual Festa da Primavera, tal como havia acontecido na Europa com o nascimento do Entrudo.
Na China Imperial, segundo os Anais de Chau, o ano religioso começava na Primavera, envolvendo a sua celebração grandes cerimónias realizadas pelo Soberano, pelos Magistrados e pelo povo. Estas cerimónias constavam do culto do Céu, da Terra e dos Antepassados. As interdições impostas pela estação invernal haviam findado, recomeçando os trabalhos nos campos. O próprio Imperador sacrificava a Séong Tai (o Soberano do Alto) sendo o dia preciso ditado pelos Antepassados através da adivinhação pela carapaça da tartaruga. A vítima era um touro de pelagem ruiva e chifres pequenos que, antes, fora escolhido pelo próprio Imperador.
Quando os homens-galos (kai ian) anunciavam nesse dia o nascer do sol, o Rei, que se mantivera 10 dias em abstinência, envergava o seu traje bordado com figurações do Sol e da Lua, colocava a tiara de 12 pendentes, e num carro decorado com símbolos representando 12 chamas e Dragões, aliados ao Sol e à Lua, dirigia-se ao terrapleno circular situado a sul da capital e destinado aos sacrifícios. Ali, com grande solenidade, ao som de instrumentos musicais, procedia então à imolação do touro sagrado.
Iniciava-se deste modo a nova estação, a Primavera, e com ela o retorno aos trabalhos agrícolas. Festas orgíacas entre o povo, dispersavam os jovens pelos campos. Havia alegria e repastos abundantes. Os aldeãos pincelavam, nessa altura, as ombreiras das portas das suas casas com o sangue das vítimas imoladas, para afastarem deste modo os malefícios e atraírem as graças do Alto no Ano Novo que então começava. Com o mesmo objectivo faziam estalar, pelo fogo, colmos de bambu seco.
Tal como, no Ocidente, o Cristianismo transformou as festas pagãs, adoptando-as, também na China o Confucionismo, no século III AC, logrou transformar as antigas celebrações orgíacas em festas de coesão familiar e de veneração dos Antepassados. Assim, das antigas práticas de celebração do Ano Novo, chegaram até nós os papéis vermelhos, com ou sem dísticos congratulatórios pincelados, principalmente os 3 papéis rectangulares que se colam nos umbrais das portas das casas, a substituir, imitando-o, o sangue das vítimas imoladas e os panchões, os estalos da Índia, que atroam os ares durante três dias consecutivos, causando o gáudio das crianças e inundando o solo com o vermelho auspicioso dos seus envólucros rasgados pela pólvora, a substituir o ruído dos antigos colmos de bambu queimados. Manteve-se também, através dos séculos, a veneração do Céu e dos Antepassados, bem como a consolidação da coesão familiar e social mediante práticas rituais domésticas e nos templos.
Outro costume que vem dos antigos tempos e que em Macau tem ainda numerosos cultores, é a oferta dos lâi si, o dinheiro da sorte, envolvido em saquinhos de papel vermelho que, não ostentavam os elementos simbólicos com que hoje auspiciosamente se decoram.
Há, ainda, que referir a troca de cartões de Boas Festas com frases eruditas e/ou simbólicas formulando votos de Ano Novo próspero e feliz. Se há quem defenda que esta é uma criação europeia, difundida pelos ingleses nos meados do século XIX, a verdade é que já muito antes os letrados chineses trocavam grandes cartões vermelhos. finamente pincelados com frases auspiciosas, acompanhando os presentes que a tradição manda, ainda, que se enviem, de que se receba só uma parte e que se retribuam, dentro do arcaico complexo cultural do dom e da reciprocidade. Estes cartões evoluíram e, hibridando-se com aqueles que os ingleses introduziram mais tarde no oriente, deram as actuais formas mistas, que em Macau e em Hong Kong se mantêm, e onde os antigos valores simbólicos perduraram e são valorizados. É de notar que estes motivos simbólicos, apesar de bastante variados, correspondem geralmente às 3 felicidades mais ambicionadas: longa prole, promoção social e longa vida.
Não iremos alongar-nos descrevendo o que resta das antigas cerimónias da Abertura do Ano em Macau e dos seus manjares rituais em que se prima pela abundância, variedade e simbolismo. No entanto, há que referir que, desde a comida de abstinência aos pratos requintados que se lhe seguem, há ainda uma variegada gama de bolinholas, pevides, cogumelos, algas, rizomas e sementes de loto que, tal como as tangerinas, reproduzem por homofonia frases que são votos muito auspiciosos de Feliz Ano Novo. É que no Ano Novo todas as palavras, bem como todos os actos, devem ser cuidadosamente seleccionados. Apenas se devem pronunciar palavras fastas e assumir atitudes auspiciosas.
O Ano Novo é traduzido também, ainda hoje, pelo arriscar da sorte no jogo, à maneira de augúrio de riqueza no ano que vai começar. Cruzam-se sorrisos de alegria entre muito ruído, aliado ao vermelhão que sai das casas e enche as ruas, espalhado pelo chão, pelo vestuário, e até pelos lábios pintados das crianças.
Neste dia, a renovação é obrigatória: nos trajes, nas casas, nas refeições, no próprio interromper do trabalho. É a renovação Cósmica espelhada na Terra. Esquecem-se as penas e os revezes. Troca-se o ano velho pela juventude do Ano Novo que é recebido com esfuziante alegria e saudado pelos votos que se permutam em cordiais saudações: Kong Hei Fat Choi, Kong Hei Fat Choi! Artigo d de Ana Maria Amaro in Revista de Cultura, nº 22 Jan./Mar. 1995, ICM, Macau.
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