quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A sepultura de S. Francisco Xavier

"IHS. Aqui foi sepultado S. Francisco Xavier da Companhia de Jesus. Apóstolo do Oriente. Este padrão se levantou no anno 1639." "O padrão tem de altura 6 covados chinas pouco mais ou menos. De largura dois, de grossura 4 pontos." 
Foi mandado erguer pelo padre Gaspar de Amaral com "lettras sínicas e portuguezas" segundo explica o padre Francisco António Cardim no livro de 1894 "Batalhas da Companhia de Jesus", na ilha de Shangchuan (perto de Macau) à época conhecida por Sanchoam/Sanchoão.
Para se perceber a origem do nome é preciso recuar a 1557, quando António de Santa Fé, o catequista chinês que assistiu à morte de Xavier, chamou à ilha, pela primeira vez, Sanchoão. 
De facto trata-se de um pequeno arquipélago composto por três ilhas... Ora em chinês (cantonense) Sam significa três e Choa quer dizer ilhas.
S. Francisco Xavier morreu a 5 de Dezembro de 1552 sendo enterrado num caixão de madeira de acordo com as práticas chinesas. Dois meses e meio depois foi transportado para Malaca. Em Dezembro de 1553 foi transportado para Goa. Colocado no caixão de prata ficou o seu corpo exposto à veneração dos fiéis a partir de 1624 na capela de S. Francisco de Borja. Actualmente o túmulo está na igreja do Bom Jesus de Goa.
Foi beatificado, com o nome Francisco de Xavier pelo Papa Paulo V a 25 de Outubro de 1619 e canonizado pelo Papa Gregório XV a 12 de Março de 1622, em simultâneo com Inácio de Loyola. A 14 de Dezembro de 1927 o Papa Pio XI proclamou Francisco Xavier, juntamente com Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeiro universal das missões. 
A veneração do seu túmulo começou logo após a morte. Testemunhos de 1556 garantem que o seu corpo - não obstante o corpo ter sido coberto de cal viva para acelerar o processo de decomposição logo após a morte - se apresentava incorrupto e de bom odor vertendo constantemente sangue e água fresca.

A partir de Macau foram feitas várias romagens anuais à ilha. Na publicação "Archivo Pittoresco, semanario illustrado, Vol VIII, 8º ano, nº 24, 1865" pode ler-se:
 "Era pela meia noite do dia 19 de novembro de 1864, quando o vapor Hankow, levando a bordo cento e trinta romeiros, pouco mais ou menos, no meio dos signaes da mais expansiva alegria, sulcava as aguas da hahia de Macau, e dobrando a ponta de Ka-hó, se dirigia á desejada ilha de Sanchoão. (...) Ao desembarcar encontrámos um china, o qual, perguntado se sabia da sepultura de um santo europeo ahi enterrado, havia 300 annos, respondeu-nos que existia, a pouca distancia do logar onde estavamos, uma sepultura que tinha uma lapida com uma inscripção européa. Offereceu-se-lhe uma remuneração, se elle quizesse mostrar aquelle sitio, ao que promptamente annuiu. Depois de andar alguns minutos pela praia, chegamos ás faldas de um oiteiro sobranceiro ao mar, do lado de N. E., que fecha d'aquelle lado a bahia. Subimos pela encosta, e a uma altura de 40 a 50 metros acima da praia, parou o nosso guia, e indicou-nos um logar, a pequena distancia, onde se divisava, por entre pandóes (certas cannas ou plantas), uma lapida. Ahi corremos logo, e vimos que essa pedra era o padrão levantado em 1639, pelos jesuitas, em memoria de S. Francisco Xavier. Imaginem qual não seria a nossa alegria quando tivemos a certeza de ter encontrado a sepultura do santo!... O padrão estava quasi em posição vertical. Na parte dianteira, por ser mais exposta á intemperie do tempo, apenas podémos decifrar a data em china, emquanto que, no reverso do padrão, a inscripção em portuguez era perfeitamente legivel. (...)
Há ainda registo de uma lápide em mármore mandada fazer pelo padre Rondina em 1864.
Na ilha de Shangchuan foi construída uma pequena capela no local onde S. Francisco Xavier morreu - desenhada por Achille-Antoine Hermitte em 1869. Também foi construída uma estátua. Nesse ano, foi ali colocada a chamada Cruz dos Macaenses com a seguinte inscrição:“Em cima, verticalmente, dois caracteres chineses (?) ilegíveis, com a ideia talvez de “dedicaram”. Frontalmente: “S. P. Francisco Xaverio” e, na vertical mais longua, de alto para baixo: “macaenses die 3 de anno 1869”.
Capela de S. Francisco Xavier e casa do sacristão, na ilha de Shangchuan.
Década 1930. Espólio Monsenhor Manuel Teixeira

Imagem do século XX

Sugestão de leitura: “Xavier em Sanchoão. A Ilha de Sanchoão ontem e hoje." 

Macau, 1994, de Benjamim Videira Pires.
São Francisco Xavier (1506-1552) foi um jesuíta que ficou conhecido como o “Apóstolo do Oriente” devido ao seu papel como missionário no Oriente.
Nasceu em Navarra a 7 de Abril de 1506 e na juventude conviveu com Santo Inácio de Loyola com quem viria a funda a Companhia de Jesus.
Frequentou a Universidade de Paris onde se tornou mestre em artes e posteriormente estudou teologia. Foi ordenado sacerdote em Veneza em 1537.
A pedido de D. João III que solicitara aos jesuítas o envio de missionários para o Oriente foi para Portugal onde chegou em 1540.
Parte para a Índia nesse ano chegando a Goa em 1542. Em 1547 está em Malaca quando se encontro com Fernão Mendes Pinto que regressava do Japão. Em 1549 parte para o Japão passando por Macau e Cantão.
Chegou à costa do Japão a 27 de Julho de 1549 sendo autorizado a desembarcar a 5 de Agosto em Kagoshima, um porto da ilha de Kyushu.
Em 1552, quando negociava com as autoridades chinesas uma entrada na China para acções de missionação foi atacado de febres e morreu.
Curiosidades:
- No Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, está uma efígie de S. Francisco Xavier.
- Na ilha de Coloane (Macau) existe uma capela dedicada a S. Francisco Xavier. Construída em 1928, é dedicado ao padroeiro dos missionários e um dos padroeiros da Diocese de Macau. No interior, encontra-se uma imagem do Santo e uma pintura que representa a versão chinesa da Virgem Maria com o Menino Jesus. Chegou a albergar relíquias de S. Francisco Xavier (um osso do úmero do braço direito num relicário de prata) e ossadas de mártires portugueses e japoneses mortos em Nagasáqui, durante as perseguições no ano de 1597, e de mártires vietnamitas do séc.XIX. Este osso destinava-se originalmente ao Japão mas as perseguições religiosas fizeram com que estivesse muitos anos guardado na igreja Mater Dei (vulgo S. Paulo) em Macau. Actualmente está na igreja de S. José (imagem abaixo) existindo ainda outros materiais no Museu de Arte-Sacra de Macau.

2 comentários:

  1. Dois meses "e meses" depois foi transportado para Malaca.

    Não quererá dizer: Dois meses e meio depois?

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