Oficial da Marinha Portuguesa - chegou à patente de comandante - Álvaro Cardoso de Melo Machado (Moçambique 1883 - Lisboa 1970) foi nomeado governador interino de Macau em Dezembro de 1910. Tinha apenas 27 anos e foi o mais novo de sempre a ocupar o cargo onde se manteve até 1913, sendo exonerado a seu pedido em Março.
Era então tenente quando em 1911 fundou em Macau o primeiro grupo de escoteiros em território português, inspirado no que já existia em Hong Kong. "- Como eu era governador de Macau, protegia muito os rapazes. Pessoa que ali caía eu dizia-lhe logo: - Você tem de me ajudar nos Escoteiros! – Arranjei-lhes material e barracas e outras coisas". Com a colaboração da filha do comissário da alfândega chinesa, foram constituídas duas patrulhas de escoteiras e duas de escoteiros.
Regressado a Lisboa em 1913, Melo Machado empenha-se na formação de um grupo de escoteiros na capital, que viria a ser o 2º Grupo da Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP), e fundou ainda a Associação dos Escoteiros de Portugal, a mais antiga colectividade juvenil portuguesa activa, da qual foi o primeiro Escoteiro-chefe-geral.
Em Maio de 1933, quando já era administrador delegado na Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, foi nomeado para formar a Comissão de Defesa do Porto do Lobito. Em 1936, foi eleito para o posto de secretário geral da Direcção da Sociedade de Geografia de Lisboa, e, em 1955, passou a fazer parte do Conselho Directivo da Gazeta dos Caminhos de Ferro.
Primeiro grupo de escoteiros de Macau
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Foi agraciado em 1919, com o grau de Cavaleiro, em 1920 como Comendador da Ordem Militar de Avis; em 1926, grau de Cavaleiro da Academia Francesa, atribuído pelo Governo Francês, e em 1938, foi distinguido com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo.
Chegou a Macau pela primeira vez como oficial do cruzador D. Amélia, no Extremo Oriente (1906-1909). Era um republican dos sets costados e pertencia à maçonaria. Em 1909 ainda como 2º tenente, é ajudante de campo do governador Eduardo Marques (monárquico convicto), sendo secretário-geral interino em 1910, até ao momento em que é nomeado governador interino de Macau, a 17 de Dezembro de 1910, na sequência da queda do regime monárquico em Portugal.
Publicou vários trabalhos sobre a telegrafia sem fios, tendo proferido várias palestras no Grémio Militar e um relatório sobre a sua administração, como governador de Macau, que serviria de base à obra “Coisas de Macau”. Publicado em Portugal, em 1913, o livro é considerado um manifesto crítico sobre a forma como Portugal administrava Macau.
Excerto:
"(...) Está-se na avenida da praia grande, a curva naturalmente graciosa como poucas, que a bordo se avistou. A rua é larga; de um lado contornada por uma muralha contínua, onde as ondas vêm bater salpicando as árvores desenvolvidas e frondosas que a acompanham, e do outro por uma longa fila de casario onde se destacam a residência do Governador, o edifício das repartições públicas e algumas casas de arquitectura chinesa.(...) A cidade tem aqui um aspecto muito diferente. Acabou a aglomeração de gente e desapareceram as lojas e os toldos sujos; apenas alguns peões passam descuidadamente, um ou outro vendedor circula procurando atrair as atenções dos moradores ocultos e os jerinkshas particulares, puxados a dois culis em trajos coloridos, rodam silenciosamente e ligeiros no leito macio da avenida plana (...)"
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