"As primeiras medidas de segurança com vista ao lento aproximar do tufão Rose, foram tomadas cercas das 12 horas, de 2a. feira, descendo o sinal 3, para dar lugar a outra de prevenção mais rigorosa, o número 8. Entretanto comentava-se que o 'Rose' nem sequer chegaria a incomodar-nos e que o aglomerado de ventos que o compunham eram de fraca intensidade. Seria um alerta de rotina, não causando apreensões de maior para toda a população em geral, apenas se registando a queda de fracos aguaceiros que causam sempre ligeiros transtornos àqueles que têm de circular pelas ruas da cidade sem a utilitária companhia dum automóvel. Cerca da meia noite, o écran da televisão e as leituras do boletim meteorológico, mostrava-nos uma mudança brusca da direcção do Rose, Macau e Hong Kong, seriam dois pontos de escala na passagem diabólica de mais um flagelo natural que periodicamente assola estas paragens.
A cidade encontrava-se adormecida, quando a ventania se fez sentir - 02.30 horas da madrugada - rajadas ciclónicas muitas delas da ordem dos 100km/hora, açoitando impiedosamente o casario, vergando e derrubando árvores de grande porte, deitando abaixo num ritmo cadenciado e alucinante, tabuletas de anúncios luminosos, frágeis taipais e tapumes. Entretanto o 'Rose' fazia a sua entrada macabra na vizinha cidade de Hong Kong, onde impiedosamente destruía tudo à sua passagem. A Cidade do Nome de Deus, seguia atentamente entre "quatro paredes", o desenrolar furioso do 'Rose'. Às 03.00 horas, a direcção do vento parecia querer mudar de direcção, seríamos poupados mais uma vez desse monstruoso fenómeno de estio, que anualmente tanta miséria causa e tantos danos provoca. O uivar do vento amainava, a manhã desapontava sombria, mas graças a Deus, nada de catastrófico haveria para relatar.
Apenas algumas árvores não resistiram à fúria dos elementos, aquelas que tombaram para o meio das ruas, impedindo a circulação do trânsito, foram prontamente retiradas pelas equipas de prevenção dos serviços municipais. A maioria das barracas de banho do porto Exterior, devido à fragilidade da construção desabaram sem consequências de maior. O mesmo não aconteceu com o parque provisório para os carros de turismo, sito à entrada da Avenida Dr. Oliveira Salazar, que abateu totalmente causando ligeiros prejuízos nas viaturas que ali se abrigavam. Outros danos de pouca monta, referem-se aos taipais e tapumes que guarneciam as áreas das futuras construções para habitação, havendo também a registar a danificação de tabuletas de anúncios luminosos. Felizmente, muito pouco em comparação com a dimensão dos ventos da morte do 'Rose'. O circuito telefónico entre Macau e Hong Kong ficou interrompido, recomeçando a funcionar às primeiras horas da tarde de ontem, dia 18."
Testemunho de António Manuel Fontes Cambeta
"No dia 16 de Agosto de 1971, na companhia da minha mulher fomos no navio Fat Shan para Hong Kong onde ao chegar nessa manhã ficámos a saber que tinha sido içado o sinal 1 de tempestades tropicais, pelo que regressámos a Macau no primeiro navio. No caso, o navio "Macau". O navio Lee Heng, um antigo barco de carreira entre Hong-Kong e Macau, afundou-se, numa zona entre Sham Shui Po e Lai Chi Kok, tendo perecido dois dos seus nove tripulantes, o mesmo não se poderá dizer do navio Fat Shan, que após ter sofrido dois abalroamentos, afundou-se ao largo da Ilha de Lantau. Da sua tripulação de 92 pessoas, só quatro sobreviveram. O navio Macau também sofreu alguns rombos, mas felizmente não causou mortes."
"No dia 16 de Agosto de 1971, na companhia da minha mulher fomos no navio Fat Shan para Hong Kong onde ao chegar nessa manhã ficámos a saber que tinha sido içado o sinal 1 de tempestades tropicais, pelo que regressámos a Macau no primeiro navio. No caso, o navio "Macau". O navio Lee Heng, um antigo barco de carreira entre Hong-Kong e Macau, afundou-se, numa zona entre Sham Shui Po e Lai Chi Kok, tendo perecido dois dos seus nove tripulantes, o mesmo não se poderá dizer do navio Fat Shan, que após ter sofrido dois abalroamentos, afundou-se ao largo da Ilha de Lantau. Da sua tripulação de 92 pessoas, só quatro sobreviveram. O navio Macau também sofreu alguns rombos, mas felizmente não causou mortes."
Typhoon "Rose" was one of the most intense and violent typhoons that have affected Hong Kong. Maximum wind speeds were only slightly lower than in Typhoon "Ruby" of 1964 and Typhoon "Wanda" of 1962 and they occurred during the night whereas both "Ruby" and "Wanda" passed in daylight. Like other tropical cyclones that approached from the south, such as Typhoon "Mary" of 1960, "Rose" caused very heavy rainfall. The strongest winds were from the east-southeast whereas in "Wanda" the strongest winds were from the north.
(...) Tragically, "Rose" was the worst typhoon for fatalities and heavy damage to property in Hong Kong since Typhoon "Wanda" in 1962. In general, heavier damage was reported in the western than in the eastern side of the Colony. Over 30 ocean-going vessels went aground or suffered collision. About 300 small craft, including 100 pleasure craft, were sunk or damaged. Three of the 14 hydrofoils on the Hong Kong - Macau run were severely damaged and a total of 6 Hong Kong & Yaumati ferries went aground while taking shelter in Kowloon Bay. In addition, the "Fat Shan", a Hong Kong - Macau Ferry, capsized and the 'Lee Hong', a laid-up ferry vessel, was sunk. The death toll from Typhoon "Rose" stood at 110 confirmed deaths. Most of the deaths occurred on board the capsized "Fat Shan". Of the 92 people on board, there were only four survivors, 73 confirmed deaths and the others were still missing and presumed dead. 286 persons were injured of whom 90 had to be hospitalized.
O Fat Shan fotografado por Carlos A. Dias junto a Macau em 1970 |
Amidst the fury of Typhoon "Rose" a fire broke out shortly after 9.00 p.m. on August 16 in a large power sub-station in Kwun Tong, Kowloon and the flames were fanned by the high winds to such an intensity that firefighters were unable to control it at times. Although the fire was put out at about 10.30 p.m. it triggered a general power failure, resulting in a blackout in Kowloon and the New Territories. Thousands of people were trapped in elevators during the power cut. There were 43 fire alarms altogether. (...)
Extract from the Observatory's Publication "Meteorological Results 1971, Part III - Tropical Cyclone Summaries" - Hong Kong Observatory
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