quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Macau no diário Carolyn Hyde Butler

No início do século XIX Macau vive um período de prosperidade. A situação fica a dever-se sobretudo ao facto de em 1793 o governo local ter acabado com as restrições à residência de chineses na cidade. A medida permitiu a transferência dos comerciantes mais abastados do Sul da China para Macau. Há ainda que acrescentar ainda o importante papel das companhias estrangeiras que através de Macau iam a Cantão fazer negócios*. Não menos importante para este excelente clima económico, destaca-se a Carta Régia de 1810 que autorizou o comércio directo entre o Brasil e Macau.
* De acordo com as regras das autoridades chinesas os mercadores chineses podiam atracar os navios em Cantão mas era permitido residir nas ditas feitorias durante todo o ano todo, nem de levar as mulheres. É mais um forte argumento para a solidificação de Macau como entreposto comercial de excelência tendo ainda o território para oferecer o clima ameno e um ambiente social com marcas ocidentais, factos que levaram as empresas estrangeiras a instalar no território escritórios e armazéns bem como a residência dos trabalhadores e familiares durante os meses de espera para poder fazer negócios em Cantão.
Diário de Carolyn Hyde Butler- Espólio The New-York Historical Society

A nova-iorquina Carolyn Hyde Butler (1804-1892) foi uma das poucas mulheres ocidentais que acompanharam os maridos em viagem de negócios até ao Oriente em meados do século 19. Escritora de romances e livros para crianças, registou essa experiência num diário, incluindo o período da viagem a bordo do navio Roman em 1836/37. Nos meses que passou em Macau - não podia entrar na China continental - enquanto o marido negociava em Cantão observou in loco como era a vida em Macau na primeira metade do século 19. Eis um excerto.

"Entre os cerca de 50.000 habitantes de Macau, 3.700 eram europeus, incluindo 2700 mulheres esperando por seus maridos ou pais, que se encontravam no mar ou em Cantão, uns 600 eram escravos e o resto, uns 45.000, eram chineses. (...) Durante a maior parte do ano, a população ocidental de Macau era portuguesa. 
O círculo de britânicos e americanos somava uns trinta, a maioria mulheres, que pouco tinham a ver com a comunidade luso-falante, excepto através de cerimónias entre as senhoras. 
O tédio terminava em Abril, quando os mercadores terminavam com as negociações em Cantão e vinham passar o verão em Macau. (...)"



Num "mappa da população portugueza da cidade de Macao" relativo a 1835 refere-se a existência de 3520 "brancos" (1438 homens e 2082 mulheres) e 1284 "escravos". Os números eram em tudo semelhantes aos de 1822 e não incluíam freiras, frades e elementos do batalhão militar. A população chinesa rondava as 30 mil almas...

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