Quando vi a foto da capa do livro "Macau 1937-1945: os anos da Guerra" confesso, comecei a sentir calafrio, Sr. Botas. Parece mentira, mas num relance, passou pela minha "caxola" as altas horas pequenos nadas que ouvia, naqueles tempos, dos adultos comentarem (nesse tempo), a falta de arroz, a falta de ... praticamente de tudo.
Meu pai trabalhava nos CTT e regressava as altas horas para casa. Passando pela ladeira que dava acesso à porta lateral do Hospital de Kiang Wu, muitas vezes batia com a cabeça nos pés de suicidas pendurados nos ramos das árvores ao longo dessa rua. Lembro-me de dois mendigos à porrada, porque um viu primeiro um rato morto...
O bombardeamento do hangar no Porto Exterior, combate aéreo entre dois aviões caça japoneses com dois caças americanos, na parte da tarde. Numa manhã no recreio da Escola "Central" Primária, um caça americano voava silenciosamente a pique e ao arrancar com um estrondo medonho (eu tinha +- 7 anos de idade) seguido de um roncar ensurdecedor para ganhar altitude, enquanto que outro caça também americano pela estrela branca bem à vista passava perto do primeiro. Mas graças a Deus, os funcionários públicos, com a política praticada pelo Governador Gabriel Teixeira formou aquilo que se chama Comissão, não faltou com o que comer. Se bem que às meias, mas melhor que nada. No Inverno, mendigos morriam de frio e à fome, petrificados e na posição de pedinte. Lá ia a maca e os maqueiros colocavam-os nessa mesma posição. Muitos suicidavam-se na mata da Colina da Guia...
Testemunho inédito de Mário Gomes macaense de 78 anos radicado em Portimão. A Comissão que Mário refere era a Comissão Reguladora das Importações.
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