quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Wenceslau de Moraes nasceu há 160 anos

Em Maio celebram-se os 160 anos do nascimento de Wenceslau de Moraes, um dos mais importantes autores portugueses que trataram literariamente assuntos ligados ao Oriente, em especial o Japão.
Na fotobiografia de Wenceslau de Moraes, da autoria de Daniel Pires, edição Fundação Oriente, 1993, esta imagem (da Biblioteca Central da Marinha) está na pág. 64 com a legenda “Oito oficiais em uniforme de Verão. O escritor é o último à direita”.  O livro refere detalha o percurso de Wenceslau de Moraes e as embarcações onde prestou serviço. Refere também, que o escritor passa a pertencer à Escola Naval a 4 de Fevereiro de 1879 e a 12 do mesmo mês é promovido a Segundo-Tenente e que a 16 de Novembro do mesmo ano começa a exercer na canhoneira Quanza, comandada por Carlos Maria da Silva Costa, que por certo deverá estar na imagem.

Wenceslau José de Sousa de Moraes, ou Venceslau de Morais, na ortografia moderna nasceu em Lisboa em 1854. Foi escritor e militar da Marinha Portuguesa tendo prestado serviço em Moçambique, Macau, Timor Português e no Japão.
Viajou pela primeira vez até Macau em 1885 onde se estabelece sendo imediato da capitania do Porto de Macau e professor do Liceu de Macau desde a sua fundação em 1894. Durante a sua estadia no território casa com Vong-Io-Chan (Atchan), mulher chinesa de quem teve dois filhos, e estabeleceu laços de amizade com Camilo Pessanha (veja-se os dois em Macau nas duas últimas imagens deste post).
Em 1889, no exercício das suas funções em Macau, viaja até ao Japão, país que o vai encantar e onde regressará várias vezes nos anos que se seguem. Em 1897, por exemplo, regressa na companhia do Governador de Macau, sendo recebido pelo Imperador Meiji. No ano seguinte muda-se definitivamente para o Japão, tornando-se cônsul em Kobe.
Aí volta a casar e empenha-se na criação literária. Com a morte da mulher, Ó-Yoné, renuncia ao cargo consular em 1913 (era Tenente-coronel/Capitão de fragata) e muda-se para Tokushima, terra natal daquela, e onde W. de Morais se converte ao budismo e acaba por morrer a 1 de Julho de 1929.
Macau, 1895
O resumo da sua vida foi feito pelo próprio numa carta que escreveu em Fevereiro de 1928 a um japonês que lhe tinha solicitado uma biografia... Curiosamente, não refere a passagem pelo Liceu de Macau como professor e colega de Pessanha.
"Sou português. Nasci em Lisboa no dia 30 de Maio de 1854. Estudei o curso de marinha e dediquei-me a official da marinha de guerra. Em tal qualidade fiz numerosas viagens, visitando as costas da África, da Ásia, da América, etc. Estive cerca de cinco annos na China, tendo ocasião de vir ao Japão a bordo de uma canhoneira de guerra e visitando Nagasaki, Kobe e Yokoama.
Em 1893, 1894, 1895 e 1896 voltei ao Japão, por curtas demoras, ao serviço do Governo de Macao, onde eu estava comissionado na capitania do porto de Macao. Em 1896, regressei a Macao, demorando-me por pouco tempo e voltando ao Japão (Kobe). Em 1899 fui nomeado cônsul de Portugal em Hiogo e Osaka, logar que exerci até 1913.
Em tal data, sentindo-me doente e julgando-me incapaz de exercer um cargo publico, pedi ao Governo portuguez a minha exoneração de official de marinha e de cônsul, que obtive, e retirei-me para a cidade de Tokushima, onde até agora me encontro, por me parecer logar apropriado para descançar de uma carreira trabalhosa e com saúde pouco robusta.
Devo acrescentar que, em Kobe e em Tokushima, escrevi, como mero passatempo, alguns livros sobre costumes japoneses, que foram benevolamente recebidos pelo publico de Portugal."
Placa colocada na fachada da casa onde nasceu em Lisboa
Obras: Traços do Extremo Oriente - Sião, China e Japão (Lisboa, 1895); Dai-Nippon (Lisboa, 1897); Serões no Japão (Lisboa, 1905); O Culto do Chá (Kobe, 1905); Paisagens da China e do Japão (Lisboa, 1906); O Bon-Odori em Tocushima (Lisboa, 1916); Ko-Haru (1917); Fernão Mendes Pinto no Japão (1920); Ó-Yoné e Ko-Haru (Porto, 1923); Relance da História do Japão (Porto, 1924); Os Serões no Japão (Lisboa, 1925); Os Mistérios de um Telhado; Relance da Alma Japonesa (Lisboa, 1926); Relance da Alma Japonesa (1928); Osoroshi (1933); Cartas Íntimas (1944); Notícias do Exílio Nipónico (Macau, 1994).

1 comentário:

  1. Não obstante a informação recolhida na altura da publicação deste post, recebi a informação que "a fotografia em causa não é pertença da Biblioteca Central da Marinha, mas sim da colecção privada de António Faria e Angela Camila Castelo Branco". Fica feito esclarecimento e o pedido de desculpas aos visados. JB

    ResponderEliminar