O conde Arnoso chegou a Macau a 23 de Junho de 1887 juntamente com Tomás de Sousa Rosa, governador entre 1883 e 1886.
"Encontrar terra portuguesa, a mais de 3.600 léguas de distância da nossa querida pátria, é tamanha ventura, que os cinco dias que estivemos em Macau contarão na nossa vida como para o caminhante no deserto contam as horas de descanso passadas à sombra benfazeja das palmeiras dum oásis."
Nas "jornadas" escreve, no que a Macau diz respeito, sobre de tudo a um pouco: edifícios, jardins, modos de vida, jogo, templos, monumentos, polícia, militares, etc...
(...) "A península de Macau, cercada de ilhas, pequena como é, com a sua várzea fertilíssima e as suas seis colinas dum relevo gracioso é tudo quanto se possa imaginar de mais pitoresco" (...)
(...) "A península de Macau, cercada de ilhas, pequena como é, com a sua várzea fertilíssima e as suas seis colinas dum relevo gracioso é tudo quanto se possa imaginar de mais pitoresco" (...)
“O Palácio do Governo, comprado à família Cercal, é um vasto edifício de bela aparência. Durante algum tempo estiveram nela diversas repartições; mais tarde, durante a última administração, todas se instalaram, com grande comodidade para o serviço público, no antigo Palácio do Governo, um óptimo edifício também, e onde principalmente se admira a sala do tribunal, que era a antiga sala do trono do palácio. (…) Ao lado fica o pequeno Correio estabelecido também durante o governo de Tomás da Rosa. Até então era coisa que não havia na província! Toda a correspondência se enviava, pelo vapor da carreira, ao correio de Hong Kong”. (...)
"O Quartel de S. Francisco, no extremo da Praia Grande, mandado edificar pelo benemérito governador Coelho do Amaral, espaçoso, bem arejado, em excelentes condições, é ocupado pelo batalhão do Regimento do Ultramar destacado em Macau. Mais acima, no alto de uma pequena colina assenta o Hospital S. Januário, magnífico e elegante estabelecimento que Macau deve, entre outras muitas coisas, à larga iniciativa do conde de S. Januário".
Bernardo Pinheiro Correia de Melo, 1º conde de Arnoso (em 1895), nasceu em Guimarães em 1855 e morreu em V. N. Famalicão em 1911. Baptizado com o nome de Bernardo em memória de seu terceiro avô materno , cursou Matemáticas na Universidade de Coimbra, completando os seus estudos na Escola Politécnica e na Escola do Exército. Seguiu a carreira militar, na Arma de Engenharia. Passou à reforma no posto de General de Brigada em 1908. Entrou ao serviço do Paço como Oficial-Mor da Casa Real e Oficial às Ordens dos Reis D. Luiz I e D. Carlos I. Em 1887 foi designado para Secretário da Embaixada Extraordinária à Corte Imperial de Pequim chefiada pelo Conselheiro General Tomás Rosa tendo sido um dos subscritores do Tratado Luso-Chinês, assinado em Dezembro de 1887. Nessa longa viagem passou pelo Egipto, Singapura, Macau, Hong Kong, Xangai, Tien-Tsin, Pequim, Japão e Estados Unidos. Registou as impressões que foram publicadas em parte na "Revista de Portugal", fundada e dirigida pelo seu amigo Eça de Queirós (1889) e no livro "Jornadas pelo Mundo", editado no Porto, pela Livraria Magalhães & Moniz, em 1895. Dessa viagem pelo Oriente o Conde de Arnoso não só registou magistralmente - na opinião de alguns - a China e Macau do final do século XIXI como também trouxe várias peças de arte, incluindo porcelanas, estatuária em madeira e cabaias de seda. Porventura a cabaia mais conhecida foi a que ofereceu a Eça de Queirós e que hoje pode ser vista na Fundação como o mesmo nome. Eça escreveria "O Mandarim" em 1880. O Conde Arnoso fez ainda parte do célebre grupo "Os Vencidos da Vida."
Numa carta enviada ao seu amigo Bernardo, Eça de queirós agradece o presente. ”Recebi, há pouco, a sumptuosa “cabaia”, e foi hoje revestido com ela, risonho e grave, que provei o chá da Terra das Flores. Com certeza me trouxeste da China um presente esplêndido! Mas tenho medo, amigo, de não ser competente para dignamente usar essa nobre vestimenta de Mandarim erudito! Oh Bernardo, onde tenho eu as qualidades precisas para me poder encafuar com coerência dentro daquelas sedas literárias? Onde tenho eu o austero escrúpulo gramatical, a dogmática pureza de forma, a sólida gravidade dos conceitos, o religioso respeito da tradição, a serena e amável moral, o optimismo clássico de um bom letrado chinês, membro fecundo da Academia Imperial?. Onde tenho eu sobretudo a pança para encher aquelas pregas amplas e mandarinais?. Eu não tenho pança! Nem a mão fina, de unhas ilimitadas, para sair com graça daquelas mangas abundantes e cheias de austeridade. nada tenho para a “cabaia” magnífica! Não podendo, portanto usá-la sobre as costas magras, vou dependurá-las na minha sala…”
Muito interessante. Obrigada. Provavelmente vou citá-lo.
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