"Em 1552, achava-se no porto de Sanchoão o comerciante Jorge ÁIvares, natural de Freixo de Espada à Cinta. Como os portugueses faziam ali o seu comércio com Cantão, Álvares encomendou a Cantão algumas porcelanas com o seu nome gravado. Ainda hoje existem três garrafas piriformes de porcelana azul e branca; uma conserva-se no Victoria and Albert Museum de Londres com uma inscrição portuguesa: O MANDOU FAZER JORGE ALVARES (552), e outra chinesa: Ta Ming Nin Tsao, isto é: Feita no período de Grande Ming (Dinastia Ming) 1368-1644. Esta peça foi parar a esse Museu, via Istambul, em 1892. Isto indica que a porcelana portuguesa atingiu Constantinopla. Outra garrafa de Jorge ÁIvares foi oferecida por Antunes de Carvalho e Silva ao Museu do Caramulo, fundado pelo Dr. Abel de Lacerda; tem na base uma inscrição chinesa que diz: “Que uma infinda boa sorte acompanhe todos os teus empreendimentos”. Este pensamento não é da autoria de Álvares, pois é típicamente chinês. A terceira garrafa figura na “The Walters Art Gallery” de Baltimore."
O anterior excerto foi escrito há muito tempo pelo padre Manuel Teixeira e alguns dados já estão desactualizados. Com este post pretende-se fazer essa actualização.
Desde Outubro de 2012, a Fundação Jorge Álvares cedeu ao Museu do Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa uma das três garrafas de Jorge Álvares.
A garrafa é uma das poucas porcelanas decoradas a azul-cobalto sob o vidrado, que constituem as mais antigas encomendas personalizadas conhecidas feitas por europeus aos oleiros chineses.
Desde Outubro de 2012, a Fundação Jorge Álvares cedeu ao Museu do Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa uma das três garrafas de Jorge Álvares.
A garrafa é uma das poucas porcelanas decoradas a azul-cobalto sob o vidrado, que constituem as mais antigas encomendas personalizadas conhecidas feitas por europeus aos oleiros chineses.
Para além do exemplar agora patente no Museu do
CCCM, são conhecidos outros 6 exemplares das garrafas com a inscrição “ISTO
MANDOU FAZER JORGE ALVRZ NA//A ERA DE 1552 REINA” no Victoria and Albert Museum (Londres), no Walters Art Museum (Baltimore), no Museu do Caramulo (Fundação
Abel Lacerda), na Fundação Carmona e Costa, em Portugal, no Museu Guimet de
Arte Asiática, em Paris, e no Chehel Sotun (Ardebil Shrine Collection), em
Isfahan, no Irão.
Três dos seis exemplares estão portanto em Portugal. Este conjunto de peças é a prova da existência de um comércio clandestino entre os portugueses e os chineses, apesar do corte de relações oficiais entre os dois países no período compreendido entre 1552-1554.
Características:
Porcelana branca decorada a azul-cobalto sob o vidrado
Jingdezhen, província de Jiangxi
Dinastia Ming, marca e reinado de Jiajing (1522-1566), datada de 1552
Altura: 23,7 cm – Diâmetro do pé: 8,3 cm
Garrafa com bojo piriforme, gargalo alto, truncado, repousando sobre pequeno pé ligeiramente inclinado para o interior, de porcelana branca, executada em três tacelos, cuja junção é visível no exterior, na parte inferior do bojo. O vidrado levemente azulado reveste a totalidade da peça, à excepção da extremidade do pé, onde a sua paragem é assinalada por linha alaranjada.
A decoração, pintada em vários tons de azul-cobalto, reparte-se por vários registos separados entre si por duplo círculo. O registo central, que ocupa praticamente todo o bojo, mostra um qilin e um unicórnio com corpo de gamo mosqueado mas com um chifre (o que o aproxima do qilin) cavalgando numa paisagem, limitado por sebe, com pequenos bambus brotando de rochedos, um pinheiro com tronco contorcionado e um conjunto de bambus, que balizam o território de cada animal.
A copa do pinheiro e as extremidades dos bambus foram abruptamente cortadas pelo registo seguinte, a inscrição portuguesa, em posição invertida, distribuída por duas linhas: “ISTO MANDOU FAZER JORGE ALVRZ N//A ERA DE 1552 REINA”. A legenda está, em todos os exemplares conhecidos, incompleta, pois acaba bruscamente em REINA, uma palavra não terminada, cortando o final da frase e o sentido da inscrição que, como observou Luís Keil, poderia ser REINANDO EM PORTUGAL EL REI D. JOÃO III.
Três dos seis exemplares estão portanto em Portugal. Este conjunto de peças é a prova da existência de um comércio clandestino entre os portugueses e os chineses, apesar do corte de relações oficiais entre os dois países no período compreendido entre 1552-1554.
Características:
Porcelana branca decorada a azul-cobalto sob o vidrado
Jingdezhen, província de Jiangxi
Dinastia Ming, marca e reinado de Jiajing (1522-1566), datada de 1552
Altura: 23,7 cm – Diâmetro do pé: 8,3 cm
Garrafa com bojo piriforme, gargalo alto, truncado, repousando sobre pequeno pé ligeiramente inclinado para o interior, de porcelana branca, executada em três tacelos, cuja junção é visível no exterior, na parte inferior do bojo. O vidrado levemente azulado reveste a totalidade da peça, à excepção da extremidade do pé, onde a sua paragem é assinalada por linha alaranjada.
A decoração, pintada em vários tons de azul-cobalto, reparte-se por vários registos separados entre si por duplo círculo. O registo central, que ocupa praticamente todo o bojo, mostra um qilin e um unicórnio com corpo de gamo mosqueado mas com um chifre (o que o aproxima do qilin) cavalgando numa paisagem, limitado por sebe, com pequenos bambus brotando de rochedos, um pinheiro com tronco contorcionado e um conjunto de bambus, que balizam o território de cada animal.
A copa do pinheiro e as extremidades dos bambus foram abruptamente cortadas pelo registo seguinte, a inscrição portuguesa, em posição invertida, distribuída por duas linhas: “ISTO MANDOU FAZER JORGE ALVRZ N//A ERA DE 1552 REINA”. A legenda está, em todos os exemplares conhecidos, incompleta, pois acaba bruscamente em REINA, uma palavra não terminada, cortando o final da frase e o sentido da inscrição que, como observou Luís Keil, poderia ser REINANDO EM PORTUGAL EL REI D. JOÃO III.
No gargalo, duas bandas: uma decorada com quatro
cabeças de ruyi ligadas por motivo vegetalista e outra com motivos
geométricos formando losangos, típicas de meados do século XVI. O pé é realçado
por círculo azul. A base apresenta a marca em seis caracteres, dispostos em duas
colunas de três caracteres: da Ming Jia jing nian zao (feito no período
Jiajing da grande dinastia Ming), inscrita num duplo círculo.
O gargalo, que deveria ser em forma de trombeta, conforme duas das nove garrafas com a mesma inscrição conhecidas, as únicas com gargalo original, está incompleto e remata com aplicação de prata com decoração floral de influência otomana.
O gargalo, que deveria ser em forma de trombeta, conforme duas das nove garrafas com a mesma inscrição conhecidas, as únicas com gargalo original, está incompleto e remata com aplicação de prata com decoração floral de influência otomana.
Sugestão de leitura adicional: “Garrafas Chinesas de Jorge Álvares”, por Luís Reis Santos, in “Belas Artes”, Revista e Boletim da Academia Nacional de Belas Artes, 2a. serie, n°. 18, Lisboa, 1962
Nota: descrição técnica da peça e imagens retiradas de catálogo do CCCM
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