Mapa de 1598 |
As palavras são de Francisco Carletti nos “Arrazoamentos da minha viagem à volta do mundo” e constituem porventura o primeiro relato de um tufão em Macau. O estabelecimento dos portugueses no território não tinha ainda 50 anos.
Edição alemã |
A tradução deste excerto é da autoria do prof. Edgar Knowlton Jr (1890-1978), catedrático jubilado de Línguas Europeias na Universidade de Hawai) e pode ser encontrada no livro "Macau através dos séculos", Macau, Imprensa Nacional, 1977, do padre Manuel Teixeira.
Francesco Carletti (1573-1636), era um mercador florentino, comerciante de escravos (em Cabo Verde) e viajante. Esteve em Macau de 15 de Março de 1598 a 28 de Julho de 1599, vindo do Japão, acompanhado pelo pai, António, que acabaria por morrer no território. Terá sido ele a trazer o cacau das Américas para África. Durante oito anos compilou as suas impressões da viagem à volta do mundo iniciada em Espanha em 1594. Entre 1608 e 1615 escreve o livro “Ragionamenti di Francesco Carletti Fiorentino sopra le cose da lui vedute ne´ suoi viaggi si dell´ Indie Occidentali, e Orientali Come d´altri Paesi“ editado em 1701.
Sugestão de leitura: a reedição deste livro em 1999, Voyage Autour Du Monde (1594-1606) Paris: Editions Chandeigne.
A propósito de Carletti aqui fica um excerto da autoria do padre Manuel Teixeira. O tema é porcelana chinesa.
(...) Carletti diz que porcelana branca com a borda azul é a mais preciosa que se vê ordinariamente. Por meio dos jesuítas ele comprou a melhor porcelana que podia obter. Não só em Portugal, mas também nalguns países da Europa, havia peças de porcelana. Henrique VIII da Inglaterra possuía uma malga de porcelana prateada. O imperador da Alemanha Carlos V (1500-58) possuía vários pratos com o seu monograma; seu filho, Filipe Ⅱ de Espanha (1522-96) tinha uma colecção de 3000 peças. No Museu Princesschof de Leeuwarden, Holanda, há uma peça com motivos chineses na borda e as armas do rei D. Sebastião de Portugal (1557-87), repetidas quatro vezes. O centro é decorado com a roda budista, cercada de 4 leões a brincar com uma bola. Nota-se que os oitos símbolos budistas que figuram nas porcelanas são: a roda, a concha, o guarda-sol, o dossel, o Iotus, o vaso, dois peixes e o nó sem fim; às vezes aparece também o Bodhidharma. Era tão grande a procura da porcelana que um regulamento do porto de Lisboa de 1522 permitia que um terço da carga do navio fosse porcelana. Isto significava muita porcelana. Assim, por exemplo, a carraca São Tiago, tomada pelos holandeses na costa de Santa Helena em 1602, levava alguns milhares de peças de porcelana. Parte dela pertencia ao Florentino Francisco Carletti que a comprara em Macau por intermédio dos jesuítas. Ele pôde adquirir fina porcelana azul e branca; ele confessa que os jesuítas também lhe forneceram grandes e lindas jarras que ele comprou por cerca de 165 reales espanhóis de prata. Carletti afirma um pouco exageradamente: “há tantas espécies que se poderia encher não um navio, mas uma esquadra”. Havia porcelanas só para uso do rei e estas eram decoradas a ouro; mas as mais lindas e mais comuns eram as porcelanas de azul e branco. Em 25 de Fevereiro de 1603, a carraca Santa Catarina, do comando do Cap. Sebastião Serrão, foi capturada no Estreito de Johore por Jacob Van Heemsherck com um junco de Macau, carregado de provisões para Malaca; a nau que, levava 700 pessoas, entre as quais 100 mulheres e crianças, foi levada para Amesterdão, onde a sua carga de mais de cem mil peças de porcelana foi vendida em leilão rendendo, três milhões e meio de florins. Devido a isso, a porcelana chinesa ficou sendo chamada Holanda Kraakporselein (porcelana de carraca).
Nota: O termo carraca (caracca em italiano e espanhol) carrak (em inglês) deriva do árabe caraquir (navio mercante); há ainda o termo árabe harraca (barco pequeno).
A propósito de Carletti aqui fica um excerto da autoria do padre Manuel Teixeira. O tema é porcelana chinesa.
(...) Carletti diz que porcelana branca com a borda azul é a mais preciosa que se vê ordinariamente. Por meio dos jesuítas ele comprou a melhor porcelana que podia obter. Não só em Portugal, mas também nalguns países da Europa, havia peças de porcelana. Henrique VIII da Inglaterra possuía uma malga de porcelana prateada. O imperador da Alemanha Carlos V (1500-58) possuía vários pratos com o seu monograma; seu filho, Filipe Ⅱ de Espanha (1522-96) tinha uma colecção de 3000 peças. No Museu Princesschof de Leeuwarden, Holanda, há uma peça com motivos chineses na borda e as armas do rei D. Sebastião de Portugal (1557-87), repetidas quatro vezes. O centro é decorado com a roda budista, cercada de 4 leões a brincar com uma bola. Nota-se que os oitos símbolos budistas que figuram nas porcelanas são: a roda, a concha, o guarda-sol, o dossel, o Iotus, o vaso, dois peixes e o nó sem fim; às vezes aparece também o Bodhidharma. Era tão grande a procura da porcelana que um regulamento do porto de Lisboa de 1522 permitia que um terço da carga do navio fosse porcelana. Isto significava muita porcelana. Assim, por exemplo, a carraca São Tiago, tomada pelos holandeses na costa de Santa Helena em 1602, levava alguns milhares de peças de porcelana. Parte dela pertencia ao Florentino Francisco Carletti que a comprara em Macau por intermédio dos jesuítas. Ele pôde adquirir fina porcelana azul e branca; ele confessa que os jesuítas também lhe forneceram grandes e lindas jarras que ele comprou por cerca de 165 reales espanhóis de prata. Carletti afirma um pouco exageradamente: “há tantas espécies que se poderia encher não um navio, mas uma esquadra”. Havia porcelanas só para uso do rei e estas eram decoradas a ouro; mas as mais lindas e mais comuns eram as porcelanas de azul e branco. Em 25 de Fevereiro de 1603, a carraca Santa Catarina, do comando do Cap. Sebastião Serrão, foi capturada no Estreito de Johore por Jacob Van Heemsherck com um junco de Macau, carregado de provisões para Malaca; a nau que, levava 700 pessoas, entre as quais 100 mulheres e crianças, foi levada para Amesterdão, onde a sua carga de mais de cem mil peças de porcelana foi vendida em leilão rendendo, três milhões e meio de florins. Devido a isso, a porcelana chinesa ficou sendo chamada Holanda Kraakporselein (porcelana de carraca).
Nota: O termo carraca (caracca em italiano e espanhol) carrak (em inglês) deriva do árabe caraquir (navio mercante); há ainda o termo árabe harraca (barco pequeno).
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