quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Vícios no final do século 19

Introduzido na China pelos ingleses, o ópio originou duas guerras sino-britânicas (e Hong Kong), causou fortunas e desgraças durante o século 19 (e 20) e serviu de bóia de salvação à economia de Macau. Era o primeiro passo para a reputação perniciosa do território a que se juntaria o jogo e a prostituição, já para não falar do tráfico de cules.
Em 1886 (depois da segunda guerra do ópio), chineses e ingleses celebram a Convenção do Ópio, que estabelece que ambos controlam o comércio do ópio e do qual Macau já se tornara ponto de passagem desta actividade.
Em Lisboa, a 26 de Março de 1887, é assinado um protocolo preliminar entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, H. Barros Gomes, e o representante da China, J. Duncan Campbell. Na sequência deste protocolo, celebram-se em Pequim uma convenção que estabelece a cooperação portuguesa na cobrança do rendimento de ópio em Macau, em moldes próximos aos dos Ingleses em Hong-Kong.
Macau importava o produto bruto (ópio cru) da Índia que depois era preparado para exportação (ópio cozido).
Na edição de 7 de Junho de 1896 o Echo Macaense escreve que existe em Macau uma “grande fabrica de cozimento do ópio para a Australia e Califórnia, onde ha sempre centenas de mil patacas em opio cozido ou por cozer”.
O hábito estava fumar ópio estava profundamente enraizado e era amplamente aceitável na sociedade macaense. Tal como o jogo (aposta a dinheiro), fantan sobretudo, e a prostituição, esta uma actividade tolerada.
A 4 de Setembro de 1898 o jornal Echo Macaense escreve:

“Pouco affeitos á moralidade dos costumes, não ha entre os chinas passatempo nem distracção onde não entra o elemento feminino. Se ha um jantar nos culaus, ou nos restaurantes, se querem obsequiar um amigo ou mandarim e se querem discutir o projecto d'uma empresa, nada se faz, antes ou depois, sem beberetes e comezainas, com assistência das pi-pá-chais , ou cantoras que servem tambem para preparar o opio aos fumistas d'esta droga, para os servir á meza e abanalos. São costumes, na verdade, repugnantes á face da nossa civilisação. (...) O bonito é que com isso soffre muita gente, especialmente as casas de fantan, de opio, de pacapiu, os floriastas, carregadores de agua, as casas de pasto, os restaurantes e varias outras industrias. Não se podem imaginar a influencia que na China exercem os bordeis sobre o commercio” (...)
Desses temos resta em Macau a chamada Casa/Armazém do Ópio, localizada estrategicamente no Porto Interior, no cruzamento da Rua das Lorchas e da Praça de Ponte e Horta, edifício construído no final do século 19. Houve também uma fábrica/armazém da rua da Alfândega.

Sugestão de leitura: "La Colonie de Macao et la question du trafic de l'opium", de José Caeiro da Matta, Lisboa, 1940

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