segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

"Exposicion Ibero-Americana 1929-1930: Sevilla"




Há 90 anos, em 1929 tinha início a Exposição Ibero-Americana em Sevilha, Espanha (9 de Maio 1929 a 21 Junho 1930) numa área equivalente a 124 campos de futebol de que ficou até hoje, por exemplo, a Plaza de Espanha. 
A representação de Macau ficou ao lado da de Portugal, cujo pavilhão é hoje o consulado de Portugal em Sevilha e foi na altura um dos maiores do evento (ver planta localização em baixo). Tinha por exemplo, uma estátua de Camões, que hoje pode ser vista em Cascais. Já os painéis de azulejos de Mário Reis estão no Chafariz da Junqueira
Para o certame foi criada uma comissão que dirigiu os trabalhos relativos à presença de Macau cujo pavilhão teve como fachada uma réplica do Templo da Barra. Em 1931 Jaime do Inso era um dos entusiastas da ideia do pavilhão vir para Lisboa para albergar um museu de "artigos do Oriente".
Num artigo publicado naquele ano no Boletim da Agência Geral das Colónias ficamos a saber como foi organizada a participação e como era o pavilhão (nº 26) que ocupou 200m2 num total de 350 m2, contíguo ao Pavilhão de Portugal, localizado na avenida com o mesmo nome.

Curiosidade: A 31 de Maio de 1928 o comissário-geral da exposição portuguesa de Sevilha, Manuel Silveira e Castro, solicitou ao director do Museu Nacional de Machado de Castro (Coimbra) que a colecção de arte chinesa de Camilo Pessanha fosse emprestada para integrar o Pavilhão de Macau. Cerca de quatro anos mais tarde, quando os caixotes que continham a colecção foram abertos, verificou-se que faltavam seis peças, não se sabendo se o seu desaparecimento ocorreu em Espanha ou no transporte entre Macau e Lisboa.
Pavilhão de Portugal e entrada do Pavilhão de Macau em Sevilha, 1929-1930
Como o pavilhão só ficou pronto em Setembro de 1929 (depois de inaugurado o certame) o mesmo só foi inaugurado a 1 de Outubro com a presença do governador T. Barbosa.

“Quando houve conhecimento no Oriente de que Portugal tencionava fazer-se representar condignamente no grande certame de Sevilha, logo Macau pensou que era azado momento para demonstrar àqueles que caluniam os nossos processos coloniais quais os recursos de que dispunha a antiga feitoria, mercê do seu progresso constante, iniludível.
O Sr. comandante Jaime do Inso tratou do assunto na imprensa, e, numa grande reunião presidida pelo governador Sr. Tamagnini Barbosa, assentou-se que a Colónia se faria representar com um pequeno pavilhão independente, nomeando-se para a comissão executiva dessa representação, o engenheiro Sr. Carlos Alves, o capitão Sr. Jacinto de Moura e o Sr. Dr. Felix Horta, que ficou encarregado de traçar o projecto do pavilhão.
Em nova reunião, a que concorrem muitos e dos mais graduados comerciantes e industriais chineses, mostrando notável entusiasmo pela Exposição, foi aprovado e projecto do pavilhão e logo se abriu o crédito necessário para a iniciação dos trabalhos. O pavilhão, como as nossas gravuras indicam, tem a arquitectura de um pagode, sendo os seus detalhes buscados nos mais lindos templos budistas de Macau.
Na porta principal do da Barra, ou Ma-Kok- Miu, de enorme devoção dos navegantes, com o seu barco estilizado a encimá-la, se moldou a porta principal do Pavilhão de Macau, colónia fundada por marinheiros portugueses e pelo seu esforço e dedicação mantida. Os pagodes de Mong-Há, o de Lin-Fon-Miu, e outros pequeninos e belos, espalhados na Colónia, forneceram os motivos decorativos do Pavilhão que, fronteiro ao palácio Joanino, na Avenida de Portugal, se ergue gracioso como um sonho do Oriente e orgulhoso como uma página de história nacional. (…)

Baptizada como "Porta da Felicidade"


O pavilhão de Macau não é porém, apenas a evocação dum passado de ouro ou a manifestação artística duma colónia. É sobretudo a afirmação da sua vitalidade.
Nos seus Stands, decorados a azul celeste e ouro, os tecidos, as águas gasosas, as artes gráficas, os bordados, os artigos de bambú, de joalharia, e de ferro, a sua cal, os seus cimentos e os seus mosaicos, as indústrias de conservas, de artigos de cobre, de cortume, a papeleira, os frutos cristalizados e os secos, o mobiliário, o fabrico de tabacos, de pivetes, vidros e a formidável riqueza da sua pesca atestam o desenvolvimento colossal da mais pequena e querida colónia portuguesa.”
Entre os vários livros criados para o efeito destaco este (imagem da capa ao lado)...
com o 'cunho' do governador Artur Tamagnini Barbosa (1926-30) que escreve:
“À generosidade de amigos, deve Macau gentís apreciações, coleccionadas no album destinado a correr mundo no intuíto de atraír a êste pequeno cantinho português as atenções dos que visitam o extrêmo-oriente. É um louvável esfôrço de propaganda só possível com tão honroso e interessante concurso. Como Governador da Colónia, ao escrever a primeira página, reservo-a para testemunho de intimo reconhecimento.”

"Monografias, artigos, mapas, gráficos estatísticos coligidos para a representação da Colónia de Macau na Exposição Portuguesa de Sevilha."
150 pág.
Tipografia N. T. Fernandes, Macau, 1929 
No livro estão ainda incluídos artigos da autoria de Bella Sidney Woolf, J. da Costa Nunes (Bispo de Macau), Jayme do Inso (Os Pagodes de Macau) e padre A. da Silva Rego.
No Guia Oficial estão incluídas as empresas e instituições da delegação de Macau bem como no Catálogo Geral da Representação de Macau. Entre elas incluem-se Hip Cheong (Vinhos Chineses), Tac Heng Chan (cereais e legumes), Po Man Lau (livraria), Vo Hong (mobiliário), Chan Cheong (cordoaria), Kiu Heng (bordados), Tai San (tecidos), Chun Hing (pivetes), Lan Mau (chá), Iec Vo Long (espelhos), In Chan (louça), S.M. Bachoo (mobiliário), etc...





O Pavilhão de Macau, uma réplica do Templo da Barra, fascinaram o público que visitou o certame, bem como a imprensa espanhola da época que fez abundantes referências elogiosas à representação macaense. A inauguração ocorreu durante a denominada Semana de Portugal onde se incluía a celebração do 5 de Outubro (implantação da República).








1 comentário:

  1. muito interessante :) esses pavilhões das exposições internacionais ou universais têm algo para contar !
    lembro-me do caso do pavilhão de Carlos Lopes em Lisboa e da sua viagem (Wikipedia):
    O edifício, idealizado pelos arquitetos Guilherme e Carlos Rebello de Andrade e Alfredo Assunção Santos, foi primeiramente construído no Brasil em 1922 para a Grande Exposição Internacional do Rio de Janeiro.
    Mais tarde seria reconstruído em Lisboa, e chamado Palácio das Exposições. A sua abertura deu-se em 3 de Outubro de 1932 com a Grande Exposição Industrial Portuguesa.

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