Com data de 1837 e embora assinado não conseguiu identificar o autor esta aquarela do Templo da Barra tem como títutlo - escrito à mão - "Continuation of Joss House, Inner Harbor, Macao". O mesmo remete para Harriet Low (1809-1877) norte-americana que viveu em Macau de 1829 a 1833 e dexou testemunho da sua vida num diário.
O diário de Harriet Low começa em 24 de Maio de 1829, o dia em que deixou a casa dos pais em Salem (Massachusetts, EUA), com rumo a Macau, onde chegou a 29 de Setembro do mesmo ano. Escreveu nele regularmente, quase diariamente. O Diário acaba poucas horas antes da sua chegada a Nova Iorque, em 21 de Setembro de 1834. O título dado ao diário por Harriet é Luzes e sombras da vida em Macau de uma mulher solteira em viagem.
A 3 de Março de 1831 escreve:
"Recebemos ordens do Governador de Macau para sairmos daqui. Diz que recebeu ordens da corte de Lisboa. Ora isto é de tal forma contra o tratado das nações que as razões não se percebem. Diz que não usará a força para nos mandar embora, mas posso dizer-te que não é muito agradável ser ameaçado de ser enviado de um sítio para o outro. [...] As pessoas dizem que o governo de Macau é português apenas nominalmente, e não acredito que haja muito perigo em sermos mandados para casa. Logo após a nossa chegada, o Tio apresentou-se a sua Excelência, como é costume, informando-o sobre a casa que tínhamos alugado, e o Governador disse-lhe que tinha de pedir licença à corte de Lisboa ou de Goa para podermos ficar. Escreveu para Lisboa, mas muito provavelmente demorará três anos até a resposta vir, e nessa altura, suponho, estaremos de partida de qualquer maneira. E é tudo no que diz respeito a ordens, que não nos incomodam muito"
Um dia antes, a 2 de Março de 1831, Harriet refere-se a uma passeio e à "joss house":
"We were gobe about three hours. Visited the Joss House wich is situated in the most picturesque manner on the declivity of a high hill, in among a great deal of shrubbery and some fine trees. It is a sweet spot. The river runs before it at a little distance, and at one side at no great distance is a fine fall of water."
"Joss House" é a expressão inglesa antiga que significa "Templo Chinês"... e é uma anglicização da palavra portuguesa Deus, god em inglês... "Casa de Deus".
Para Harriet a zona da Barra era "um local calmo e bastante aprazível" onde o "o rio corre a uma pequena distância" e onde ainda existe "uma boa queda de água."
"We were gobe about three hours. Visited the Joss House wich is situated in the most picturesque manner on the declivity of a high hill, in among a great deal of shrubbery and some fine trees. It is a sweet spot. The river runs before it at a little distance, and at one side at no great distance is a fine fall of water."
"Joss House" é a expressão inglesa antiga que significa "Templo Chinês"... e é uma anglicização da palavra portuguesa Deus, god em inglês... "Casa de Deus".
Para Harriet a zona da Barra era "um local calmo e bastante aprazível" onde o "o rio corre a uma pequena distância" e onde ainda existe "uma boa queda de água."
"Macao From Penha Hill- Macau visto do Monte da Penha", em 1854 de William Heine.
Diário de Harriet Low, 30 Setembro 1829, um dia depois de chegar a Macau:
"Macao from the sea looks beautiful, with some most romantic spots. We arrived there about ten o’clock, took sedan chairs and went to our house, which we liked the looks of very much. The streets of Macao are narrow and irregular, but we have a garden in which I anticipate much pleasure."
"Macau visto do mar do mar é lindo, com alguns locais bastante românticos. Chegámos por volta das dez horas e fomos levadas de cadeirinha até à nossa casa cuja aparência gostámos muito. As ruas de Macau são estreitas e irregulares, mas temos um jardim em que antecipo vir a ter muito prazer."
Pintura a guache atribuída a Lam Qua. Praia Grande vista do norte. Ca. 1850
Harriet era filha do comerciante Seth Low. In 1829 os tios William Henry e Abigail mudaram-se para Macau e Harriet foi com eles. William ia gerir os negócios da empresa norte-americana Russel & Company em Cantão, a cerca de 100 kms de distância de Macau, mas onde os estrangeiros só podiam estar alguns meses por ano e onde não era permitida a presença de mulheres. Harriet acabou por ir acompanhada da tia e estiveram em Cantão três semanas até serem descobertas pelas autridades locais que ameaçaram terminar as relações comerciais com o marido (e a empresa) se não saíssem de Cantão. Em Macau viveram numa casa (já demolida) no Largo da Sé.
Sugestão de leitura: My mother's journal: a young lady's diary of five years spent in Manila, Macao, and the Cape of Good Hope from 1829-1834.
Editado em 1900 pela filha de Harriet, Katharine Hillard.
Nota: George Cinnhery, que pintou o retrato de Harriet (em baixo), também deixou vários registos do templo de A-Ma. Em cima, um deles.
O diário de Harriet Low chegou a ser editado como um livro? Não consigo encontrar muitas informações sobre isso, e por ser brasileira não tenho acesso. Esse blog é incrível, sempre encontro informações valiosas de Macau aqui. Abraços!
ResponderEliminarOlá Andressa. Existem várias edições: "My mother's journal: a young lady's diary of five years spent in Manila, Macao, and the Cape of Good Hope from 1829-1834." Editado em 1900 pela filha de Harriet, Katharine Hillard.
ResponderEliminar"Everything in Style: Harriet Low's Macau", de Rosemarie Lamas. Ediçã 2006.
Sugiro ainda o post: http://macauantigo.blogspot.com/2009/06/harriet-low-1809-1877-1-parte.html