quinta-feira, 1 de maio de 2014

Wenceslau de Moraes: autobiografia

Corria o ano de 1928, um ano antes de morrer, quando Wenceslau de Moraes escreve, a pedido de um japonês, a sua biografia de uma forma muito resumida. Tão resumida que não refere, por exemplo, a sua experiência como professor no Liceu de Macau criado em 1893.
«Sou português. Nasci em Lisboa (capital do país) no dia 30 de Maio de 1854. Estudei o curso de marinha e dediquei-me a oficial da marinha de guerra. Em tal qualidade fiz numerosas viagens, visitando as costas de África, da Ásia, da América. Estive cerca de cinco anos na China, tendo ocasião de vir ao Japão a bordo de uma canhoneira de guerra e visitando Nagasaqui, Kobe e Yokohama. Em 1893,1894, 1895 e 1896, voltei ao Japão, por curtas demoras, ao serviço do Governo de Macau, onde eu então estava comissionado na capitania do porto de Macau. Em 1896, regressei a Macau, demorando-me por pouco tempo e voltando ao Japão (Kobe). Em 1899 fui nomeado cônsul de Portugal em Hiogo e Osaka, lugar que exerci até 1913.
Em tal data, sentindo-me doente e julgando-me incapaz de exercer um
 cargo público, pedi ao Governo português a minha exoneração de oficial de marinha e de cônsul, que obtive, e retirei-me para a cidade de Tokushima, onde até agora me encontro, por me parecer lugar apropriado para descansar de uma carreira trabalhadora e com saúde pouco robusta. Devo acrescentar que, em Kobe e em Tokushima, escrevi, como mero passatempo, alguns livros sobre costumes japoneses, que foram benevolamente recebidos pelo público de Portugal.»

Vem este post a propósito da obra de Wenceslau de Moraes “Paisagens da China e do Japão” pela editora Livros de Bordo em Portugal e dos 160 anos do nascimento de W.M.
Paisagens da China e do Japão é o terceiro livro de Wenceslau de Moraes. Escrito quando Wenceslau de Moraes já vivia no Japão, a obra junta contos e crónicas literárias inspiradas na realidade chinesa e japonesa do final do século XIX e início do XX. Resultado de uma observação muito atenta dos hábitos mas também da cultura tradicional dos dois países, Paisagens da China e do Japão foi pela primeira vez publicado em livro em Portugal no ano de 1906. Uma edição que, contudo, não agradou ao autor e que terá levado mais de quatro anos até estar finalizada. Novamente editado em 1938 numa segunda edição póstuma, este livro, nos últimos 76 anos, apenas foi publicado em Macau no ano 2007. A presente reedição pela Livros de Bordo quis recuperar esta obra de Wenceslau de Moraes, seguindo a versão da segunda edição e mantendo o mais possível o formato de letra original, assim como a disposição dos textos e das gravuras.
Esta reedição tem uma introdução de Pedro Barreiros, da Associação Wenceslau de Moraes, onde se descreve o lento processo da publicação da primeira edição, citando excertos de cartas pessoais escritas pelo próprio Wenceslau de Moraes. Num ano em que se comemoram os 160 anos do nascimento do escritor, a Livros de Bordo quis trazer Paisagens da China e do Japão de novo ao formato de livro em papel. Não se tratando de uma obra que surge para assinalar datas, pretendeu dar-se de novo vida a umas Paisagens durante muito tempo, de certa forma, esquecidas.
 

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