A profusão de sinais e símbolos em Macau é de tal ordem que alguns têm uma história que passa despercebida à maioria das pessoas. Refiro-me por exemplo ao símbolo das casas de penhor que tem traços que se assemelham à figura do morcego. Neste caso, de asas abertas, tendo por baixo uma moeda. Em muitos casos o fundo é de cor vermelha e as letras douradas.
O morcego é um animal que chupa/absorve sangue. Está assim explicada a razão pela qual o símbolo/figura do morcego está associado a estes espaços. Chamar a si o dinheiro, a fortuna, a prosperidade. Uma prosperidade que também pode ser entendida como destinada aos clientes pois só assim poderão regressar para retirar o bem penhorado.Agora proponho que visualizem a entrada principal do velhinho hotel Lisboa. Notam alguma relação com o que acabei de dizer?
Pois é, para além de ser vista nas casas de penhores a figura do morcego está bem patente nos traços arquitectónicos do edifício. E não é a despropósito. Na tradição oral do território diz-se que nos primeiros tempos do casino (década 1970) a maioria da população chinesa não entrava pela porta principal do hotel por causa disso. Mas claro que também aqui a simbologia reparte-se entre quem a exibe e quem a usufrui. Nenhum negócio prospera com clientes sem dinheiro...
A este propósito refira-se ainda o efeito 'gaiola' que sobressai do desenho do edifício cuja 'função' simbólica não é mais do que 'fechar' os clientes depois de os convidar a entrar.
Mas a figura do morcego também pode ser vista nos templos chineses. No livro "Pagodes de Macau" o Padre Manuel Teixeira explica o significado da imagem do morcego nesses locais. "O morcego é o símbolo da graça, ventura e felicidade. A razão é engenhosa: o morcego em chinês chama-se fôk su; ora o vocábulo fôk é homófono de fôk, felicidade; em virtude desta homofonia, o morcego veio a ser o símbolo da felicidade".
Curiosidades da milenar cultura chinesa tão rica em simbolismos que tem seguidores em termos de significado na Polónia e em alguns países árabes. Ainda assim, excepções face à interpretação generalizada no mundo ocidental onde a figura do morcego foi associada desde a Idade Média ao medo e ao terror (e aos vampiros) uma vez que os morcegos habitam em cavernas escuras. No México, Irlanda ou costa do Marfim, por exemplo, o morcego está associado à imagem da morte.
Na África Ocidental é considerado um animal sagrado. Em alguns países asiáticos o morcego fez parte durante muito tempo dos hábitos alimentares, mas nos últimos anos essa prática tem vindo a cair em desuso.
Nota: publicado no JTM a 15.5.2014
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