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10º GP de Macau em 1963. Ted Carter com o seu Braham nº 27 numa corrida onde o vencedor foi Arsenio Laurel pela segunda vez com um Lotus (º 22).
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Em 1967 realizou-se a 14ª edição do Grande Prémio de Macau. Para os chineses, muito supersticiosos, o 4 é número de mau agoiro. Lê-se "sei" em cantonense. Se juntarmos o dez ao quatro, temos 14 (sáp sei) e uma combinação mortal. Significa qualquer coisa como “morrer de certeza”.
Após os eventos de Dezembro de 1966 e com os reflexos da revolução cultural chinesa ainda a fazerem-se sentir em Macau esta edição esteve para não se realizar devido a uma ameaça de um grupo maoista denominado “The Red-May Rebelious Combat Squad-Macao” / Esquadrão de Combate da Rebelião Maio-Vermelho-Macau.
Os guardas-vermelhos (diga-se que em Hong Kong passaram das ameaças aos actos com bomas a explodir, o que não aconteceu em Macau) e as mensagens anti-imperialistas acabaram por conseguir parte dos seus intentos e pilotos como Albert Poon hesitaram participar. Segundo relatos da época, a determinação da organização do GP, onde estava, Henrique de Senna Fernandes, em realizar as corridas ajudou a desanuviar o ambiente.

Após intensas negociações a comissão organizadora terá recebido a garantia por parte dos dirigentes comunistas chineses de Macau de que a carta-ameaça não teria efeitos no território. Assim, em vésperas do GP ter início (Novembro) os carros embarcaram de HK rumo a Macau.
Albert Poon, ex-polícia da vizinha colónia, teve mesmo uma autorização especial para andar armado. Diz-se que até ao volante do seu Brabham não dispensou a protecção de um revólver Browning de 14 disparos num coldre. Terá mesmo afirmado “levo comigo 14 destes meliantes antes que acabem comigo“.
A edição de 1967 acabou por decorrer sem incidentes externos às corridas e contou mesmo com uma grande afluência de público (cerca de 20 mil visitantes), a maioria oriundo de HK. A corrida mais importante foi disputada por 16 carros e quem chegou em primeiro foi Tony Maw com um Lotus 20.
Voltando à superstição. A verdade é que os incidentes, ou melhor, acidente, aconteceram. Nesta mesma prova o já famoso piloto filipino acabaria por morrer. Arsénio “Dodgie” Laurel colidiu contra o muro da recta da Praia Grande a alta velocidade e o carro acabou por se incendiar. Era um fórmula Lotus 41. Já reparam nas vezes que o número 4 aparece nesta história?
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No museu do GP em Macau |
Charlie Santos, há muitos anos radicado no Brasil recorda assim o piloto.

Tendo chegado ao Circuito da Guia apenas um dia antes do Grande Prémio, largou na última posição e em menos de trinta voltas (metade da corrida), ultrapassou todo mundo. Infelizmente, Arsenio Laurel, foi a primeira vítima fatal da história do Grande Prémio de Macau. A grande tragédia aconteceu nas primeiras voltas da corrida de 1967 quando o inesquecível piloto perdeu o controle do seu carro na curva do antigo Clube Náutico. Chorei muito naquela tarde cinzenta de 19 de Novembro de 1967."
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