A propósito do centenário da Revolução de Outubro de 1911 e da subsequente implantação da República na China, que teve como primeiro presidente o Dr. Sun Yat Sen, o Instituto Internacional de Macau (IIM) promoveu várias iniciativas na forma de seminários e palestras, centradas na vida e obra daquela que é a mais prestigiada e respeitada referência política da história moderna e contemporânea da China e no papel que Macau teve na sua formação e actuação. Assim, no dia 22 de Junho 2011, organizou um colóquio intitulado “Sun Yat Sen e, a fundação da República na China e Macau”, no Palácio da Independência, sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, em Lisboa.
Dois conhecidos académicos, ambos ligados a Macau por funções aqui desempenhadas e por relevantes estudos efectuados, foram os palestrantes convidados: António Vasconcelos de Saldanha e Ming K. Chan, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa e da Universidade de Stanford (Califórnia, EUA), respectivamente.
10 de Outubro de 1966 na Casa de Sun Iat Sen |
Coube a Ming K. Chan dissertar sobre Sun Yat Sen, que assumiu formalmente as funções de primeiro presidente da China no dia 1 de Janeiro de 1912, desta feita inaugurando uma nova era da sua história milenar, com uma clara afirmação de modernidade.
Intitulada “The Luso-Macau Chinese Connections in Sun Yatsen’s Modern Chinese Revolution”, esta comunicação cobriu três tópicos fundamentais: a situação única de Macau, nos contextos geopolítico e sócio-cultural no Delta do Rio das Pérolas e na região de Guangdong-Lingnan, assim como as influências intercontinentais lusófonas que deram ao território características singulares como enclave intercultural e transnacional; a influència de Macau na vida, no pensamento e nas opções de Sun Yat Sen, como primeira janela aberta para ele ao mundo, berço de novas ideias e valioso ponto de apoio para os seus intentos revolucionários; e o impacto da revolução republicana portuguesa de 1910 na campanha pela implantação da república na China e na afirmação de um ideário democrático-social de inspiração europeia. Ming K. Chan enfatizou o papel de Macau na formação e na ascensão política de Sun Yat Sen, primeiro pela proximidade da sua terra natal e pelas visitas feitas a familiares residentes no território, pela influência ocidental e cristã que recebeu, pela actividade profissional aqui exercida, como médico, pelas relações excelentes mantidas com intelectuais e profissionais locais e pelos importantes apoios aqui recebidos. Uma referência oportuna foi feita ao processo de implantação do regime republicano em Portugal e ao estímulo que este facto político, comemorado no território, representou para o sucesso das causas revolucionárias abraçadas por Sun.
Mais do que uma cidade de matriz europeia na costa da China, Macau era um centro cultural vivo onde fervilhavam novas ideias e se desenvolviam redes de contactos, ao mesmo tempo que se mobilizavam recursos para a mudança de mentalidades e para profundas reformas sociais. Todo este ambiente foi da maior utilidade para Sun e para os movimentos que, interna e externamente, o sustentavam. Investigador do Centro de Estudos da Ásia Oriental da Universidade de Stanford e da Hoover Institution, onde dirigiu os arquivos documentais de Hong Kong, sua terra natal, Ming K. Chan obteve os três graus académicos nos EUA (Iowa - Ames, Wash - Seattle e Stanford), doutorando-se com apenas 25 anos de idade. Foi professor da Universidade de Hong Kong e professor visitante nas Universidades de Duke, California (UCLA), Mount Holyoke e El Colegio de Mexico. Esteve também ligado ao St. Anthony´s College de Oxford e às Universidades de Swathmore e Grinnell e, ao longo da última década, tem participado regularmente em seminários, conferências e estudos de instituições de ensino superior de Macau, sendo igualmente qualificado colaborador académico do IIM. É autor ou editor de 13 volumes académicos e mais de 70 artigos publicados sobre a História da China, Relações Externas Chinesas, Hong Kong e Macau. No prelo tem “China’s Macao Transforned” e “The China Factor & Hong Kong External Links”. Nasceu na povoação de Cuiheng (Tsui Hang), situada a 64 quilómetros de Macau, no distrito de Zongshan, no dia 14 de Novembro de 1866.
Instalou-se em Macau em Novembro de 1894, e, no ano seguinte, fundou a Sociedade para a Regeneração da China, constituída maioritariamente por chineses ultramarinos, para instigar o derrube da dinastia manchu. Em Agosto de 1905, numa reunião em Tóquio, viu nascer a Aliança Revolucionária, organização politicamente mais consistente e eficaz, cuja presidência assumiu. Derrubada a dinastia Qing no dia 10 de Outubro de 1911, Sun Yat Sen foi proclamado presidente da nova república, cargo que exerceu apenas até 15 de Fevereiro do mesmo ano, quando entregou as responsabilidades ao general Yuan Shikai, o qual abandonou os princípios básicos de uma democracia constitucional e enveredou pelo caminho do poder autocrático. Seguiu-se um novo período turbulento em várias regiões da China, quando vários dos mais comprometidos seguidores de Sun se refugiaram em Macau, onde tiveram o apoio do governador José Carlos da Maia e de influentes personalidades locais. No dia 23 de Junho de 1916, Sun Yat Sen escreveu uma carta de agradecimento ao governador de Macau pela protecção dada aos seus correlegionários, com os quais, numa base cada vez mais alargada, foi fortalecendo a sua frente unida nacionalista. No Congresso do Partido Nacionalista Chinês, que decorreu em Guangzhou, de 20 a 30 de Janeiro de 1924, Sun Yat Sen foi apoteoticamente aclamado como dirigente máximo, com direito a veto.
Sun Yat-sen no Kiang Wu |
Artigo da autoria de Jorge Rangel, Presidente do Instituto Internacional de Macau, publicado no JTM de 11-7-2011
Excelente blog!
ResponderEliminarPubliquei:
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