O “Dicionário da Imprensa de Macau do Século XIX” é o mais recente trabalho da autoria do investigador Daniel Pires. A aventura começou em 1990 e implicou a consulta de milhares de documentos em diversos arquivos portugueses e estrangeiros. Na obra, pronta a ser editada, são descritos todos os periódicos (70) que foram publicados em Macau no século XIX, incluindo, os jornais em língua inglesa.
Só para aguçar a curiosidade refiro alguns dos títulos da imprensa macaense do século XIX. O
primeiro jornal a ser publicado em Macau e escrito em português foi o "A Abelha da China” (12 de Setembro de 1822).
O primeiro jornal chinês da região, o "Jornal das Notícias de Macau"
(ou, em chinês, o Ou Mun San Man Zhi), foi publicado entre 1839 e 1840,
por Lin Zexu, um Comissário Imperial da Dinastia Qing encarregue da
destruição do ópio.
Para se ter uma ideia da profusão de títulos, apenas mais alguns exemplos: Gazeta Macaense (1824), Crónica Macaense (1835), O Macaista Imparcial (1837), O Português na China (1840), O Comercial (1841), A Aurora Macaense (1843),(...) Echo do Povo (1859), O independente (1873), O Macaense (1882) (...) A Liberdade (1890), etc...
Para se ter uma ideia da profusão de títulos, apenas mais alguns exemplos: Gazeta Macaense (1824), Crónica Macaense (1835), O Macaista Imparcial (1837), O Português na China (1840), O Comercial (1841), A Aurora Macaense (1843),(...) Echo do Povo (1859), O independente (1873), O Macaense (1882) (...) A Liberdade (1890), etc...
Em Julho de 1893, um grupo de pessoas onde se destacava Sun Yat Sen e o macaense Francisco Fernandes, criaram o Echo Macaense, um jornal escrito em chinês e português que se intitulava "semanário luso-chinez".
Um último exemplo para referir que em Fevereiro de 1897 surgiu o Jornal - o Reformador da China (em chinês, Chi Xin Bao), fundado por Kang Youwei e Liang Qichao.
De seguida, apresento um excerto da entrevista a Daniel Pires conduzida por Sandra Lobo Pimentel e publicada no JTM de 16-10-2013.
- O trabalho sobre o Dicionário da Imprensa de Macau foi iniciado em 1990. Porque demorou tanto tempo a ser finalizado?
Um dicionário de imprensa pressupõe a leitura e a análise de todos os números dos periódicos que dele constam. E são centenas de números. Além disso, as colecções dos jornais do século XIX estão frequentemente incompletas. Foi necessário portanto recorrer a múltiplos arquivos e bibliotecas, em Macau, Lisboa, Porto, Coimbra, Évora. E, mesmo assim, nem sempre se detecta tudo o que se procura porque muitos jornais se extraviaram, ou seja, pura e simplesmente não existem. Por outro lado, foi necessário, se possível, consultar os documentos manuscritos que se prendem com as relações dos directores dos jornais com o poder constituído, ou seja, o governador, o Leal Senado, o ouvidor e o juiz de direito, que tutelavam a imprensa e impunham uma censura, frequentemente muito apertada. Procurei igualmente os processos judiciais que foram instaurados aos jornalistas. A maior parte desapareceu, outros encontram-se no Arquivo Histórico Ultramarino, no Arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Arquivo Histórico de Macau.
- Como se dividiu a pesquisa?
A pesquisa teve um ponto prévio: o estudo da realidade macaense durante o século XIX (a política, a história, a religião, a arte, a cultura em geral, o quotidiano). Foi igualmente feito o estudo da história da China, da Índia Portuguesa e de Portugal, dos quais Macau dependia. Munido destes conhecimentos, estava em condições de analisar com mais rigor os periódicos que foram sendo sucessivamente publicados em Macau. O critério perfilhado foi o cronológico. Comecei por ‘A Abelha da China’, o segundo periódico do Extremo Oriente, fundado em 1822 para ser porta-voz do Leal Senado na sua pretensão de deixar de depender, política e administrativamente, do Vice-Rei da Índia, bem como do ouvidor, Miguel de Arriaga, e continuei até 1900, num total de cerca de 70 títulos. Uma novidade do ‘Dicionário da Imprensa de Macau do século XIX’ é a análise dos jornais de língua inglesa que se publicaram simultaneamente em Macau e em Cantão. São agora descritos pela primeira vez em livro. Até à Primeira Guerra do Ópio, os estrangeiros apenas podiam comerciar em Cantão durante seis meses, nos outros seis, o porto estava-lhes vedado. Os ingleses estabeleceram-se então em Macau, onde continuaram a publicação dos seus jornais, que eram fundamentais para os seus negócios porquanto apresentavam informações relevantes sobre a actividade portuária do território: tripulação dos navios, mercadorias que traziam, respectivos preços, câmbios, mercadorias que se exportavam.
- Quais foram os principais obstáculos?
A dificuldade em consultar colecções completas. Alguns jornais nem sequer existem. Como os descrevi? A partir de jornais contemporâneos que os citaram ou transcreveram, ou dos documentos da censura, que se encontram, por vezes, nos arquivos, ou ainda da correspondência e das memórias de alguns dos seus colaboradores, caso, por exemplo, do grande sinólogo Robert Morrison, falecido em Cantão e sepultado em Macau, e de Wenceslau de Moraes.
- Qual a importância que atribui a esta pesquisa sobre conteúdos da imprensa para a compreensão do passado da região?
A imprensa é uma das fontes históricas mais relevantes. É nela que melhor podemos ter acesso ao pulsar quotidiano da sociedade: o seu tecido social, político e cultural. Um livro pressupõe ampla maturação. Em contrapartida, os jornais são publicados em cima do acontecimento, no momento, têm uma dinâmica diferente. Este dicionário analisa, descreve e localiza todos os periódicos macaenses – boletins, jornais, revistas, almanaques – publicados no século XIX. O conteúdo da maior parte destes periódicos é desconhecido. A sua recuperação poderá contribuir para a reavaliação daquele século, porquanto traz à colação elementos marcantes da história de Macau.
- Qual a sua opinião sobre a importância da imprensa no passado e no presente em Macau?
O estudo do passado ilumina o presente, ajuda-nos a ponderar o futuro. Permite-nos, por outro lado, conhecer as nossas raízes, a nossa identidade.
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