No dia em que é editado em Macau mais um livro de J. J. Monteiro, hoje e amanhã os posts são escritos em sua homenagem.
José Joaquim Monteiro nasceu a 10 de Fevereiro de 1913 no concelho de Tabuaço, tendo sido criado em Estarreja. Com apenas 5 anos emigrou para o Brasil na companhia da avó paterna, tendo ali permanecido até aos 11 anos, altura em que regressou a Portugal e passou a trabalhar como marceneiro.
José Joaquim Monteiro nasceu a 10 de Fevereiro de 1913 no concelho de Tabuaço, tendo sido criado em Estarreja. Com apenas 5 anos emigrou para o Brasil na companhia da avó paterna, tendo ali permanecido até aos 11 anos, altura em que regressou a Portugal e passou a trabalhar como marceneiro.
O serviço militar levou-o a Macau em Novembro de 1937. Era soldado corneteiro da Companhia de Metralhadora, no Quartel de S. Francisco. Está aqui a explicação para mais tarde vir a ser também conhecido como “poeta-soldado”.
Casou no território e em 1946 regressou a Portugal mas seria por pouco tempo. No início da década de 1950 regressa a Macau. Trabalhou na SOTA, companhia de navegação que assegurava as ligações entre Macau e Timor; na Padaria “Sortes”, ne foi contínuo no Liceu. Reformou-se em 1972.
Casou no território e em 1946 regressou a Portugal mas seria por pouco tempo. No início da década de 1950 regressa a Macau. Trabalhou na SOTA, companhia de navegação que assegurava as ligações entre Macau e Timor; na Padaria “Sortes”, ne foi contínuo no Liceu. Reformou-se em 1972.
A sua veia poética ficou registada em “A minha viagem para Macau” (1939), “Histórias dum soldado” (1940), “De volta a Macau” (1957), “Macau vista por dentro” (1983) e “Anedotas, contos e lendas” (1989). Morreu a 22 de Fevereiro de 1988 em Macau. Quatro anos antes recebeu a Medalha de Dedicação.
Eis um dos muitos poemas que escreveu:
“Em versos pobres, falhos de harmonia,
Ao sabor popular da minha musa,
Entrei num labirinto, a ver se via
A Esfinge desta China tão confusa!
Lá dei com ela, mas contou-me apenas,
Sem desvendar-me todo o seu mistério,
Aquilo que já muitas outras penas
Escreveram dum modo sério.
Por elas me guiei, sem ocultar
Dos ínclitos autor’s, aqui, os nomes,
E que são, de mais fé, a consultar,
Jaime do Inso, Rego e Luís Gomes“.
Testemunho de Jorge Rangel publicado no JTM em Fevereiro de 2011.
Ligam-me à família de J. J. Monteiro relações de amizade que vêm dos anos despreocupados da meninice. Vizinhos, no bairro de S. Lourenço, um dos mais identificados com a história e a memória da comunidade macaense, fui também colega do seu filho mais velho, Américo, na Escola Primária Oficial Pedro Nolasco da Silva e no Liceu Nacional Infante D. Henrique, dois emblemáticos estabelecimentos de ensino que nos deram sólida formação e onde nos tornámos amigos até aos dias de hoje. No velho bairro e em actividades juvenis, abundantes e diversificadas naquele tempo, pude conviver com todos os irmãos. Foi, pois, com a maior satisfação que aceitei o privilégio de escrever o prefácio do livro “Meio Século em Macau” e recordar uma figura singularíssima, dotada de excepcional talento, que foi o maior poeta popular português de Macau.
Gerações de jovens do nosso Liceu deliciaram-se com a facilidade com que J. J. Monteiro, que era ali funcionário, compunha quadras de sabor popular, com boa rima e correcta métrica. Personalidade jovial, de aparência modesta, corpo franzino e trato agradável, irradiava simpatia e a todos impressionava com a sua intuição poética, revelando, espontaneamente, a sua alma de artista.
Homem de apurada sensibilidade, de pouca instrução formal, mas bem educado na “universidade da vida”, o que ainda mais realçava o seu valor, J. J. Monteiro foi um notável exemplo de grandeza escondida na simplicidade do comportamento e no relacionamento fácil com todos, jovens e adultos, portugueses e chineses. Observador atento e sagaz, e ávido leitor de tudo quanto às suas mãos chegou sobre a História de Macau ou relacionado com os usos e costumes chineses, deixou-nos alguns livros, cuja leitura se recomenda. Alguns conheceram várias edições e, mesmo assim, rapidamente se esgotaram, podendo, porém, ser encontrados em bibliotecas e em diversos organismos públicos locais."
No primeiro dos dois volumes de “Meio Século em Macau” (editados em 2010 pelo IIM) está incluída uma nota biográfica.
“Nesta então Colónia de Macau, passou no exame do primeiro curso das escolas regimentais, onde se distinguiu, aquando do exame final da então 4ª classe, na réplica a uma pergunta rasteira do examinador acerca do motivo que teria levado D. Afonso Henriques ao Brasil, com a resposta interrogativa se não teria sido o mesmo motivo que teria levado D. Sancho I à Índia. Aqui enamorou-se das suas gentes e dos seus encantos, colaborou em revistas e jornais locais, nomeadamente a revista Religião e Pátria e os jornais A Voz de Macau e O Clarim, com os seus escritos, tendo-se celebrizado na poesia e nas charadas da sua autoria. Organizou e participou em récitas, nos Teatros Vitória, Capitol e D. Pedro V, no salão-teatro da Companhia de Metralhadoras no Quartel de S. Francisco, no Clube de Sargentos e no Instituto Salesiano da Imaculada Conceição, em benefício dos refugiados portugueses de Hong Kong e Xangai. Aqui ainda deu à estampa os livros da sua autoria, Minha Viagem para Macau, em 1939, a A História de um Soldado, em 1940. E aqui também constituiu família. Sempre como militar, e dados os seus dotes poéticos, ficou conhecido, em Macau, como o soldado-poeta. Terminada a Guerra, com a gangrena contraída no braço esquerdo e uma osteomielite, com ameaça de amputação do mesmo, embarcou, com a sua mulher e dois filhos, para Portugal Continental, em Janeiro de 1946, onde se submeteu a uma intervenção cirúrgica com sucesso, sem perda do braço, acabando por se licenciar do serviço militar. Ficou, inicialmente, alojado na Colónia da FNAT, na Caparica, e mais tarde, com o subsídio do Socorro Social, arrendou uma habitação. A dificuldade de se empregar levou a que desse expressão a um seu velho sonho de trabalhar por conta própria, acabando por conseguir uma licença camarária de venda ambulante, vendendo fruta, molhos de alhos, objectos vários, tais como, candeeiros, calendários, pentes, atacadores, e ainda cautelas. Foi também, a dado momento, engraxador de rua em rua. A crise económica que se vivia no pós Guerra, com elevada taxa de desemprego, aliada à grande saudade de Macau, despertou-lhe o desejo de retorno. Em 1951, com a ajuda obtida de uma benemérita do então Ministério das Colónias, conseguiu o patrocínio das passagens de regresso a Macau, para si e toda a família, já então alargada com mais 3 filhas, nascidas em Lisboa. Chegado a Macau, em Junho de 1951, começou por se empregar na chamada SOTA, uma companhia de navegação em Macau e Timor, depois na padaria Sortes, e, finalmente, a partir de Dezembro desse mesmo ano, como contínuo do Liceu Nacional Infante D. Henrique, onde permaneceu até à sua aposentação, em 1972. Dois anos depois da sua chegada a Macau é reeditado o seu livro História de um Soldado, com mais 2 reedições em 1963 e 1983 e, em 1957, publica o seu 3.º livro de poesia De Volta a Macau, também reeditado em 1983. Nesse ano de 1983, a reedição das obras citadas é acompanhada da publicação do seu 4.º livro, a que deu o nome de Macau Vista por Dentro, obra esta já concluída vinte anos atrás, porém não editada por falta de patrocínio, e que exigira uma actualização porque versava sobre a toponímia de Macau, além dos usos e costumes locais.
Em 1972, foi terrivelmente abalado pelo choque da perda da sua esposa, uma morte inesperada, porque precoce, e demasiado dolorosa. A poesia foi sempre o refúgio para as mágoas e pesares da sua vida. Manteve-se, assim, fiel às suas musas, cantando, através dos seus poemas, os encantos mil da Cidade do Santo Nome de Deus. Não obstante o abalo causado por esta sua irreparável perda, e, vivendo na companhia dos seus filhos, procurou sublimar a sua dor alimentando a alma com a poesia que ia transpondo para o papel. Dada a simplicidade, como sempre foi a sua vida, pouco bastava para o satisfazer, manifestando enorme alegria com um simples passeio a pé ou no carro de um dos seus filhos, pela cidade e ilhas, e a visita regular à campa da sua amada. Morreu, em Macau, a 22 de Fevereiro de 1988, o soldado-poeta, um homem que, ao longo da vida, sempre se revelou humilde, íntegro e sensível às vítimas do infortúnio. Além de ter deixado, em eterna saudade, os seus 6 filhos e 12 netos, deixou mais obras manuscritas, uma das quais dada à estampa um ano após o seu adeus, intitulada Anedotas, Contos e Lendas, editada em 1989, que, imediatamente, ficou esgotada. Os seus restos mortais jazem, actualmente, no Cemitério de Carnide, em Lisboa, unidos na mesma gaveta, aos restos mortais da sua saudosa companheira da vida.”
Em 1972, foi terrivelmente abalado pelo choque da perda da sua esposa, uma morte inesperada, porque precoce, e demasiado dolorosa. A poesia foi sempre o refúgio para as mágoas e pesares da sua vida. Manteve-se, assim, fiel às suas musas, cantando, através dos seus poemas, os encantos mil da Cidade do Santo Nome de Deus. Não obstante o abalo causado por esta sua irreparável perda, e, vivendo na companhia dos seus filhos, procurou sublimar a sua dor alimentando a alma com a poesia que ia transpondo para o papel. Dada a simplicidade, como sempre foi a sua vida, pouco bastava para o satisfazer, manifestando enorme alegria com um simples passeio a pé ou no carro de um dos seus filhos, pela cidade e ilhas, e a visita regular à campa da sua amada. Morreu, em Macau, a 22 de Fevereiro de 1988, o soldado-poeta, um homem que, ao longo da vida, sempre se revelou humilde, íntegro e sensível às vítimas do infortúnio. Além de ter deixado, em eterna saudade, os seus 6 filhos e 12 netos, deixou mais obras manuscritas, uma das quais dada à estampa um ano após o seu adeus, intitulada Anedotas, Contos e Lendas, editada em 1989, que, imediatamente, ficou esgotada. Os seus restos mortais jazem, actualmente, no Cemitério de Carnide, em Lisboa, unidos na mesma gaveta, aos restos mortais da sua saudosa companheira da vida.”
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