Vista da Praia Grande em 1844 junto ao fortim de S. Pedro. |
Jules Alphonse Eugène Itier (1802-1877), geólogo e funcionário da alfândega francesa, foi nomeado em 1843 chefe da missão comercial na China, Índia e Oceânia. Chegou a Macau a 13 de Agosto de 1844 e, como fotógrafo amador, registou a cerimónia de assinatura do tratado sino-francês (Tratado de Whampoa, em 24 de Outubro de 1844) e fotografou a cidade, as ruas do Bazar, a Praia Grande, o Porto Interior, o templo de A-Má, etc. Eram os primórdios do que hoje conhecemos por fotografia mas que em rigor se denominavam daguerreótipos, um processo fotográfico feito sem uma imagem negativa inventado por Louis Daguerre em 1837.
Legenda original de 1844: Eglise et fort de la pointe San Francisco a Macao. |
13 août: L'ancre tombe, nous sommes devant Macao et, à quatre encablures de nous, se balance la frégate la Cléopâtre, montée par le commandant Cécille.
18 et 19 octobre: J'ai consacré ces deux journées à prendre au daguerréotype les points de vue les plus remarquables de Macao; les passans se sont prêtés de la meilleure grâce du monde à toutes mes exigences et plusieurs Chinois ont consenti à poser; mais il fallait leur montrer l'intérieur de l'instrument, ainsi que l'objet reflété sur le verre dépoli; c'étaient alors des exclamations de surprise, et des rires qui n'avaient point de terme.
28 octobre: J'ai employé ma journée à prendre au daguerréotype les divers points de vue qu'offrent Macao et ses environs; les quais de Praja-Grande, la grande pagode, le port intérieur, les rues du Bazar m'ont offert d'intéressants sujets. Aujourd'hui encore j'ai trouvé des Chinois complaisants qui consentaient à former des groupes immobiles, à la condition de voir d'abord l'image reflétée sur le verre dépoli ; leur étonnement n'avait, d'ailleurs, rien de bien profond, c'était plutôt cette vague curiosité qu'éprouvent les enfants à la vue d'un objet nouveau c'est qu'il est bien des sujets qui n'étonnent que les savants, que les esprits méditatifs, et les phénomènes du daguerréotype sont dans cette catégorie.
Excertos de Journal d'un voyage en Chine en 1843, 1844, 1845, 1846, Volume 1 (de um total de 3 editados em Paris 1848)
Legenda original: Porte de la Grande Pagode de la ville chinoise à Macao |
Born in Paris and schooled in France, Alphonse-Eugène-Jules Itier began his professional life working in the Customs Service. He became active in scientific circles in the 1830s and 40s and thus learned about the invention of the daguerreotype early on. From 1842 to 1843, Itier traveled to Senegal and Guiana in Africa and Guadaloupe in the West Indies. He carried daguerreotype equipment, presumably making photographs there. Appointed chief of a commercial mission to China from 1843 to 1846, he also traveled to the East Indies and the Pacific Islands, where he again made daguerreotypes during his leisure time. Returning by way of Borneo, Manila, and Egypt, he settled in France, retiring from the Custom Service in 1857. Itier continued to photograph until his death at age seventy-five.
Alphonse Eugène Jules Itier (1802–1877), geólogo, funcionário superior da alfândega francesa e fotógrafo amador francês é considerado o autor das primeiras fotografias de Macau e da China. Chegou a Macau a 13 de Agosto de 1844 a propósito da assinatura do tratado entre a França e a China, que decorreu a 24 de Outubro desse ano a bordo do vapor Archimède, em Whampoa. Um ano antes Itier tinha sido nomeado director da Comissão de Comércio francesa na China, Índia e Oceania e é nessa condição que se desloca a Cantão e Macau. Como membro da delegação francesa vem negociar o tratado de paz “por dez mil anos” com a China. Aliado ao seu gosto pela fotografia acaba por registar um momento e as paisagens.
O diplomata-fotógrafo regista essa actividade no seu diário de viagem, afirmando que os chineses nas ruas de Macau são prestáveis, posam para si e exclamam a sua surpresa ao verem a sua imagem nas chapas de cobre no interior da câmara escura (daguerreótipo). Até esta altura só havia pinturas e ilustrações.
No jornal HM de 19 Agosto 2009 um pequeno texto (julgo que da autoria de Rogério Miguel Puiga) explica o que Itier mais deixou escrito.
"No registo de viagem descreve ainda o pagode da Barra, a Casa Branca do mandarim, a Taipa e a viagem para Cantão. Em 6 de Setembro, o viajante descreve a localização geográfica da península de Macau, uma coluna de granito que avança mar dentro, formando, de um lado, o Porto Interior, do outro, a baía da Praia Grande.
O diplomata-fotógrafo regista essa actividade no seu diário de viagem, afirmando que os chineses nas ruas de Macau são prestáveis, posam para si e exclamam a sua surpresa ao verem a sua imagem nas chapas de cobre no interior da câmara escura (daguerreótipo). Até esta altura só havia pinturas e ilustrações.
Vista de Macau no final do séc. 19 |
"No registo de viagem descreve ainda o pagode da Barra, a Casa Branca do mandarim, a Taipa e a viagem para Cantão. Em 6 de Setembro, o viajante descreve a localização geográfica da península de Macau, uma coluna de granito que avança mar dentro, formando, de um lado, o Porto Interior, do outro, a baía da Praia Grande.
O texto resume a História do estabelecimento dos portugueses no território e descreve os bairros europeu e chinês, nomeadamente as casas europeias. As casas chinesas são estreitas, rasas e com um pequeno pátio interior, parecendo que as culturas sínica e lusa em Macau não se misturam. O viajante percorre o bairro chinês com dois padres lazaristas e compara o mesmo a muitas outras localidades da China, listando restaurantes, cambistas, casas de jogo, lojas, ateliers de ourives e jogos como o da mora. No dia 15 de Setembro, Itier visita a ilha da Taipa, descrita como um porto, dependência do estabelecimento e ponto de escala do contrabando de ópio. Em 1 de Outubro o autor refere a chegada do comissário imperial Ky-ing e da sua comitiva a Macau dois dias antes, confessando, em 18 e 19 desse mês, que registara as imagens mais notáveis da cidade no daguerreótipo e que os transeuntes acedem, com simpatia, às suas exigências. No dia 24, o viajante volta a fotografar o comissário chinês e a embaixada francesa e recebe pedidos de diversos nativos, fotografando, cinco dias depois, vistas de Macau, nomeadamente as ruas do bazar chinês, perante chineses espantados. Itier torna-se assim, à semelhança de Felice Beato, John Thompson, Ernest Wilson e John Hinton, um dos primeiros fotógrafos ocidentais a registar imagens da China, tendo os seus daguerreótipos sido expostos no enclave, em Junho de 1990 e recentemente."
Nota: no museu francês da fotografia podem ser vista uma exposição sobre a vida e obra e Jules Itier onde, claro, as imagens captadas em Macau têm especial destaque.
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