Nas próximas semanas dois encontros ao nível académico têm Macau como enfoque. Um realiza-se em Lisboa e outro em Macau.
Os 500 anos de presença portuguesa no Sudeste asiático servem de mote à conferência a realizar na Universidade de Macau entre os dias 30 de Outubro e 1 de Novembro. Segundo Leonor Seabra, da comissão organizadora, a conferência “Relações de Portugal com a Ásia do Sudeste: 500 anos de História” vai abordar a “presença portuguesa no Sudeste asiático, em sentido lato, do Sul da China à Índia”. Macau será abordada sob diferentes ângulos. “Alguns académicos vão reflectir sobre a política linguística, os contactos marítimos ou aspectos culturais como a música ou a literatura”, revela Leonor Seabra, em declarações ao JTM. Num balanço entre passado e presente. “Há abordagens e temáticas muito actuais. A História serve para entender o passado e planear melhor o futuro, mas, enfim, a memória dos homens é curta”. O principal objectivo da conferência passa por “lembrar e fazer um paralelo com a actualidade e chamar a atenção para estas relações tão antigas, seculares, de Portugal com tantos países”, resume a coordenadora.
(...) Lúcio Sousa, da Universidade de Évora, centrará o debate no território através do ensaio “A Misericórdia de Macau, o contrato da seda ou armação e os seguros marítimos: a criação de um sistema financeiro em Macau”. Da mesma universidade chegará Maria de Deus Manso, trazendo o tema “Missionários ou ricos mercadores? O comércio da seda entre o Japão e Macau no século XVI e XVII”.
(...) Paralelamente, são vários os participantes do território, como Custódio Martins e Dora Gago, ambos da Universidade de Macau. O primeiro vai reflectir sobre “História, histórias e políticas linguísticas de Macau”. Já a segunda andará “Pelos trilhos da memória: imagens da cultura chinesa em ‘A Quinta Essência’ de Agustina Bessa-Luís”. Da mesma Universidade, Akiko Sugujama, vai apresentar “Música no mar: algumas observações preliminares nos contactos marítimos e a cultura musical em Macau e no sudeste asiático [1800-1930]”.
Já Mário Nunes, também docente na instituição que recebe a conferência, lançará o debate sobre “Malaca em Macau através do léxico”. O ensaio “Identidades: a identidade goesa de Ângela e a ‘dama de Chandor’” vai ser apresentado por Maria Antónia Espadinha. Enquanto que Paul Spooner reflectirá sob “Uma lenta geopolítica: a missão portuguesa na Ásia no século XVI” e Raquel Magalhães andará pelos caminhos “Da crónica à ficção: impressões de Macau e do Oriente na obra de Jaime do Inso”.
Leonor Seabra trará à conferência “Os portugueses no Sião e a Feitoria de Banguecoque”, enquanto que Vicent Ho vai apresentar uma comunicação sobre “As percepções dos portugueses na China nos registos históricos chineses entre 1550 e 1840”. Já da Universidade de São José, surge o nome de Isabel Morais, com “A verdade de Sofia Agrebom: género, republicanismo e maçonaria na imprensa de Macau (1927-1929)”.
15 a 17 Outubro CCCM em Lisboa, colóquio internacional "Macau: passado e presente" |
Cinco académicos de Macau e do Continente estão ainda a preparar um ensaio comparativo sobre Macau e Malaca, antigos portos portugueses. O principal objectivo do ensaio é chamar a atenção para a necessidade de preservar a tradição marítima enquanto património cultural, explica ao JTM Francisco Vizeu Pinheiro, docente na Universidade de São José. De acordo com o arquitecto, o estudo – que ainda está a ser elaborado – “estabelece um paralelo sobre as navegações portuguesa e chinesa”.
“O meu ponto de partida é Malaca, que foi uma base marítima chinesa antes da chegada de Jorge Álvares. Malásia e Malaca não existiam como um país. É Zheng He (Cheng Ho, em cantonense) que transformou Malaca numa entidade politica autónoma”, explica Francisco Vizeu Pinheiro. O ensaio vai estabelecer uma comparação entre Afonso de Albuquerque e Zheng He.
“Verificamos que há muita coisa em comum entre a políticas marítimas chinesa e portuguesa da altura”. Foi a partir de Malaca, recorda o académico, que “Albuquerque enviou embaixadas à China, em busca de uma aliança, daí saiu Jorge Álvares”.
Em Malaca, tanto Albuquerque como Zheng He são figuras ainda lembradas, mas em Macau poucos sinais existem da forte ligação do território com o mar, nota Francisco Vizeu Pinheiro. “Os estaleiros de Lai Chi Vun seriam o sítio ideal para as pessoas verem as técnicas de construção de barcos”, sugere. Nessa zona, “deveriam estar, em tamanho real, um ou dois navios chineses ou portugueses ou até de técnicas mistas, como a lorcha”. (...)
Elaborado a partir de um artigo do JTM
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