Mocidade Portuguesa em Macau
O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, celebrado a 10 de Junho, é o dia em que se assinala a morte de Luís Vaz de Camões em 1580. Durante o regime ditatorial do Estado Novo de 1933 até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, era celebrado como o Dia da Raça. A partir de 1963, o 10 de Junho tornou-se numa homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e do poder colonial. Com uma filosofia diferente, a Terceira República converteu-o no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1978. Revista The Asia Magazine de 1964
As imagens ao lado são das comemorações do 10 de Junho de 1969 no Campo Desportivo 28 de Maio.
Conceição Meireles, especialista em História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, refere que “há, de certa forma, e sem dúvida nenhuma, posições eugenistas e racistas no Estado Novo”, mas acrescenta que o conceito de raça “é um conceito ambivalente no Estado Novo”.
“Mas há também o outro lado, ou seja, aqueles que defendem que, sem o apoio local e das populações miscigenadas, dificilmente se conseguia desenvolver as regiões coloniais”, devido a “um défice demográfico grande”. “Portugal nunca conseguiu ‘exportar’ para as colónias a mesma quantidade de efectivos que antes tinham emigrado para o Brasil”, o que punha em causa o desenvolvimento das províncias ultramarinas, refere Conceição Meireles.
Que "raça" é comemorada a 10 de Junho?
“Quando se tenta exaltar o Dia da Raça, é a raça do povo português entendida de uma forma geral, global”. O que está em causa é a “originalidade” e “a capacidade dos portugueses”, explica Conceição Meireles.
“O Estado Novo sempre quis sublinhar a originalidade do povo português face aos outros povos europeus. Por alguma razão este pequeno povo tinha uma História de séculos; era dos Estados mais antigos da Europa e tinha um Império colonial que quase nenhum outro país europeu possuía”.
Esta era a “raça do povo português que tinha de ser “exaltada a todo o custo”, era a “raça no sentido do dia do povo português”, explica a historiadora. O conceito de raça no Estado Novo deve ser entendido no sentido em que significa “um povo diferente, aparentemente frágil, mas com valores que lhe permitiram grandes realizações”. No dia da Raça e de Camões “exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias”, diz.
Para Conceição Meireles, não se pode dizer que Camões e a sua obra tenham funcionado como meio propagandístico do regime de Salazar, pelo menos “não particularmente”. Mas acrescenta que “toda a História foi um instrumento ao serviço da propaganda do Estado Novo”. Ou seja, “a propaganda nacionalista do Estado Novo é verdadeiramente dominada por uma certa mitificação da História, e por uma determinada leitura da mesma”, a partir da qual o regime pretendia promover uma certa ideia daquilo que tinha sido a História de Portugal, enaltecendo determinados acontecimentos e remetendo outros para o esquecimento.
“Aos mitos da Fundação e da Restauração, o Estado Novo aliou o mito da Expansão de Portugal nos cinco cantos do mundo. E Camões era o símbolo da gesta dos Descobrimentos, da epopeia portuguesa”. Conceição Meireles explica que isto se deve sobretudo ao facto de Camões ter escrito "um clássico da literatura épica, 'Os Lusíadas'.
Na opinião de Conceição Meireles, a exaltação de determinados momentos da História de Portugal funcionou como uma espécie de sustentáculo e apoio ao regime, e era sobretudo uma forma de propaganda do mesmo. “O Estado Novo elegeu uma determinada memória colectiva da Nação”, em que o passado não podia ser esquecido. “Esse passado que o Estado Novo queria fazer lembrar aos portugueses era um passado de grandeza, quase de heróis”.
O Estado Novo procurou fazer “um apelo ao passado no sentido de legitimar o presente”. Esse era um presente “em que Portugal tem direito inalienável à sua autonomia, e essa autonomia abarca quer o território continental quer o território ultramarino”. O que interessava dar a entender externamente era que “esse património nacional era uno” e incluía “metrópole e colónias”, e, portanto, “Portugal tinha um direito inalienável e inquestionável à manutenção do seu império”, explica Meireles.
“O Dia da Raça foi aproveitado também para determinadas cerimónias oficiais de propaganda e actos de regime”. O mais conhecido talvez tenha sido "a inauguração do Estádio Nacional [também conhecido por Estádio do Jamor], que ocorreu justamente a 10 de Junho de 1944", lembra.
“Mas há também o outro lado, ou seja, aqueles que defendem que, sem o apoio local e das populações miscigenadas, dificilmente se conseguia desenvolver as regiões coloniais”, devido a “um défice demográfico grande”. “Portugal nunca conseguiu ‘exportar’ para as colónias a mesma quantidade de efectivos que antes tinham emigrado para o Brasil”, o que punha em causa o desenvolvimento das províncias ultramarinas, refere Conceição Meireles.
Que "raça" é comemorada a 10 de Junho?
“Quando se tenta exaltar o Dia da Raça, é a raça do povo português entendida de uma forma geral, global”. O que está em causa é a “originalidade” e “a capacidade dos portugueses”, explica Conceição Meireles.
“O Estado Novo sempre quis sublinhar a originalidade do povo português face aos outros povos europeus. Por alguma razão este pequeno povo tinha uma História de séculos; era dos Estados mais antigos da Europa e tinha um Império colonial que quase nenhum outro país europeu possuía”.
Esta era a “raça do povo português que tinha de ser “exaltada a todo o custo”, era a “raça no sentido do dia do povo português”, explica a historiadora. O conceito de raça no Estado Novo deve ser entendido no sentido em que significa “um povo diferente, aparentemente frágil, mas com valores que lhe permitiram grandes realizações”. No dia da Raça e de Camões “exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias”, diz.
Para Conceição Meireles, não se pode dizer que Camões e a sua obra tenham funcionado como meio propagandístico do regime de Salazar, pelo menos “não particularmente”. Mas acrescenta que “toda a História foi um instrumento ao serviço da propaganda do Estado Novo”. Ou seja, “a propaganda nacionalista do Estado Novo é verdadeiramente dominada por uma certa mitificação da História, e por uma determinada leitura da mesma”, a partir da qual o regime pretendia promover uma certa ideia daquilo que tinha sido a História de Portugal, enaltecendo determinados acontecimentos e remetendo outros para o esquecimento.
“Aos mitos da Fundação e da Restauração, o Estado Novo aliou o mito da Expansão de Portugal nos cinco cantos do mundo. E Camões era o símbolo da gesta dos Descobrimentos, da epopeia portuguesa”. Conceição Meireles explica que isto se deve sobretudo ao facto de Camões ter escrito "um clássico da literatura épica, 'Os Lusíadas'.
Na opinião de Conceição Meireles, a exaltação de determinados momentos da História de Portugal funcionou como uma espécie de sustentáculo e apoio ao regime, e era sobretudo uma forma de propaganda do mesmo. “O Estado Novo elegeu uma determinada memória colectiva da Nação”, em que o passado não podia ser esquecido. “Esse passado que o Estado Novo queria fazer lembrar aos portugueses era um passado de grandeza, quase de heróis”.
O Estado Novo procurou fazer “um apelo ao passado no sentido de legitimar o presente”. Esse era um presente “em que Portugal tem direito inalienável à sua autonomia, e essa autonomia abarca quer o território continental quer o território ultramarino”. O que interessava dar a entender externamente era que “esse património nacional era uno” e incluía “metrópole e colónias”, e, portanto, “Portugal tinha um direito inalienável e inquestionável à manutenção do seu império”, explica Meireles.
“O Dia da Raça foi aproveitado também para determinadas cerimónias oficiais de propaganda e actos de regime”. O mais conhecido talvez tenha sido "a inauguração do Estádio Nacional [também conhecido por Estádio do Jamor], que ocorreu justamente a 10 de Junho de 1944", lembra.
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