A 8 de Fevereiro de 1924 Lucrécia Maria Borges, Gerente da Empresa Cinematográfica Macaense (ECM), solicita ao governo para lhe ser concedido "o exclusivo da exploração da indústria cinematográfica nesta colónia”.
O pedido acabaria por ser aceite e pelo “exclusivo dessa exploração no território da Colónia pelo prazo de dez anos” a ECM ficou encarregue de realizar documentários sobre Macau, “onde serão apanhados todos os assuntos mais notáveis da vida da colónia”.
Era uma pedra no charco mas não era a primeira vez que viriam a ser feitos filmes em Macau. Já em 1922 o Cinematógrafo Macau exibira “uma fita sobre Macau, destinada à Exposição do Rio de Janeiro” (...) “inteiramente feita por um amador, Sr. Antunes Amor.”
Ainda assim, dois anos depois de ser criada, a ECM viria a ter oportunidade de exibir os seus filmes. Foi em 1926 durante a primeira Feira e Exposição Industrial do território onde a ECM também rodou um filme em jeito de reportagem. Para que a rodagem decorresse da melhor forma, a ECM convidou o público a aparecer no recinto no dia 11 de Dezembro, penúltimo dia do certame, pelas 15 horas, “para que o filme possa ficar o mais movimentado possível”.
Esse filme seria visto apenas anos depois. Mas no evento seriam exibidos inúmeros filmes. Segundo o jornal A Pátria a 11 de Dezembro foi projectado - pela segunda vez no território - o filme "Os Fidalgos da Casa Mourisca", do romance de Júlio Dinis.
No dia seguinte, o último do evento, foram exibidos outros filmes numa sessão dedicada ao Governador Tamagnini Barbosa e ao Almirante Hugo de Lacerda.
O Almirante Hugo de Lacerda Castel-Branco foi Governador interino de Macau de 29 de Julho de 1926 até à chegada de Artur Tamagnini de Sousa Barbosa, o que ocorreu somente a 8 Dezembro. Por isso a exposição foi prolongada até à meia-noite de domingo dia 12. Proveniente de Hong Kong o novo governador desembarcou com a mulher e os cinco filhos no cais provisório do novo porto exterior, sendo recebido pelas autoridades civis, militares e eclesiásticas da cidade. Seguiu-se uma visita às obras do novo porto e só depois aconteceu a tomada de posse no salão nobre do Leal Senado onde foi feita a “simbólica entrega da chave de ouro por parte do Presidente da Câmara” Damião Rodrigues. Depois, seguiu para o Palácio do Governo. À noite deu-se a visita ao certame.
Ali a ECM teve oportunidade de mostrar as suas produções.
Entre os títulos apresentados estava “O Vôo Audaz das Águias Portuguesas”, sobre a chegada a Macau dos aviadores, Major Brito Pais, Capitão-tenente Sarmento Beires e o mecânico Alferes Manuel Gouveia. Partiram de Vila Nova de Mil Fontes no dia 7 de Abril de 1924 e depois de uma viagem atribulada chegaram a Macau a 25 de Junho (um dia depois do dia do território), onde foram recebidos em grande festa pela população.
O segundo filme intitulava-se “Os Funerais de um Capitalista” e o terceiro, “Comemoração do Quarto Centenário de Vasco da Gama”, uma reportagem que inclui o desfile de um cortejo na Praia Grande, na Avenida de Vasco da Gama, junto do busto do navegador, com homenagens da Colónia, das comunidades holandesa e chinesa e dos portugueses de Hong Kong, no Leal Senado, uma missa campal e vários aspectos da iluminação na cidade e no porto.
O quarto filme era sobre “O Casamento de Mr. & Mrs. Francis Young Po Nam” e o quinto, uma produção recente, “O Voo Madrid-Manila” filmado em Maio de 1926, aquando da passagem por Macau dos aviadores espanhóis Capitão Gallarza e Loriga.
O sexto filme da ECM a ser exibido foi “O Concílio Episcopal em Xangai”. O sétimo seria o documentário de propaganda sobre “As Obras do Porto de Macau”, uma reportagem sobre da cerimónia da dragagem do último metro cúbico de lodo do canal de acesso do novo Porto da Rada, ocorrida a 26 de Agosto de 1926 no Porto Exterior.
Vários selos da emissão ‘Ceres’ com sobrecarga local (Exposição/Industrial/1926)
Nota: No início do século XX existiam várias salas de cinema no território mas poucos exibiam filmes portugueses. O teatro D. Pedro V era um deles. Em Fevereiro de 1926, por exemplo, foram exibidos os filmes mudos portugueses “O Soldado desconhecido” e “A Rosa do Adro”.
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