Há 88 anos estavam algures nos céus dois portugueses dentro de um avião com uma rota traçada: Macau. Venha daí! Embarque nessa viagem!
A primeira ligação aérea entre Portugal e Macau iniciada a 7 de Abril de 1924 a partir de Vila Nova de Mil Fontes nasceu da primeira tentativa da viagem aérea à Madeira, que Brito Pais e Sarmento de Beires tentaram concretizar em 1920.
A primeira ligação aérea entre Portugal e Macau iniciada a 7 de Abril de 1924 a partir de Vila Nova de Mil Fontes nasceu da primeira tentativa da viagem aérea à Madeira, que Brito Pais e Sarmento de Beires tentaram concretizar em 1920.
Na esperança de poderem levar avante o sonho da travessia aérea do Atlântico Sul e constatando que o Governo português pouco interesse manifestava em relação a estes feitos, os pilotos recorreram a uma subscrição pública conseguindo uma verba para a compra de um Breguet de bombardeamento nocturno que outrora tinha servido na 1ª Guerra Mundial. Adquirido o avião Breguet 16 Bn-2 com um motor Renault de 300cv foi necessário fazer algumas alterações, nomeadamente retirar-lhe grande parte da sua carga militar e introduzir-lhe depósitos de gasolina suplementares, de forma a aumentar o seu raio de acção. O «Pátria», nome que lhe será atribuído terá como tripulantes, o Major Brito Pais, o Major Sarmento de Beires e o Mecânico Alferes Manuel Gouveia, que se juntou à tripulação em Tunes. Segundo Brito Pais a viagem tinha dois objectivos principais: A ida a Macau e não permitir que a aviação Portuguesa estagnasse. Os contratempos foram de vária ordem com condições atmosféricas bastante adversas, desde tempestades de areia, calores intensos e cartas geográficas sem rigor, o «Pátria» acaba por aterrar no deserto de Thur na Índia, totalmente danificado. Depois do sucedido, chega de Portugal, a notícia de que o Governo autoriza a compra de um novo avião. No dia 7 de Maio o «Pátria I» é substituído por um Havilland Liberty, DH9 de 400cv, comprado na Índia por 4.700 libras, baptizado com o nome de «Pátria II». Para que o «Pátria II» pudesse prosseguir viagem, Manuel Gouveia não acompanha o resto dos tripulantes por uma questão de lotação da aeronave seguindo directamente para Macau.
A viagem aproxima-se do fim e no dia 20 de Junho, o «Pátria II» deixa a Indochina rumo a Macau. Por razões de mau tempo, a tripulação viu-se forçada a fazer uma aterragem de emergência numa povoação chinesa junto a Hong Kong depois de ter sobrevoado Macau, tendo o avião ficado danificado embora sem consequências para os pilotos.
Emissão filatélica de 1999: nos 75 anos da viagem |
Uma lancha canhoneira - a "Macau" - veio de Macau até Hong Kong para levar consigo os tripulantes. No território após horas à espera a população temeu o pior quando a certa altura viu a bandeira de Portugal a meia haste no Palácio do Governo. Mas nada tinha a ver com os pilotos, mas antes um membro do corpo diplomático que morrera na China.
Sobre o mar, montanha e deserto, o Pátria percorreu 16.380km voados em 115h e 45m para chegar a Macau.
Sobre o mar, montanha e deserto, o Pátria percorreu 16.380km voados em 115h e 45m para chegar a Macau.
Ainda hoje se encontram no Clube Lusitano de Hong Kong um painel formado com partes do avião para sempre ligado a este feito da Aviação Portuguesa. Em Portugal sugiro uma visita ao Museu do Ar.
No livro de Sarmento de Beires "De Portugal a Macau: a viagem do Pátria" (há uma primeira edição de mais de 200 páginas com muitas ilustrações logo em 1925 da Seara Nova; a 2ª edição é de 1953) pode ler-se sobre Macau:
"A península minúscula em que a secular cidade portuguesa dos confins da Ásia se comprime, na desordem dos seus bairros, entre as Portas do Cerco e o mar, parece a palma da mão que a China estende ao Pacífico, como a mendigar-lhe a esmola das suas ilhas aveludadas e sombrias. A Praia Grande, avenida quase circular, faz a curva entre a chave da mão e o polegar, onde a capelinha da Guia se alcandora no topo de uma colina."
"A península minúscula em que a secular cidade portuguesa dos confins da Ásia se comprime, na desordem dos seus bairros, entre as Portas do Cerco e o mar, parece a palma da mão que a China estende ao Pacífico, como a mendigar-lhe a esmola das suas ilhas aveludadas e sombrias. A Praia Grande, avenida quase circular, faz a curva entre a chave da mão e o polegar, onde a capelinha da Guia se alcandora no topo de uma colina."
Nota: existem diversos posts relacionados com este tema pelo que sugiro utilização do campo de pesquisa. Em breve vou disponibilizar alguns recortes dos jornais portugueses da época.
Em Sesimbra, em Junho de 1924, foi fundado o clube de futebol Pátria, assim designado em homenagem aos heróicos aviadores.
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