Da autoria de Rafael Ávila de Azevedo, "A influência da cultura portuguesa em Macau" é uma edição de 1984 do Ministério da Educação e Instituto de Cultura e Língua Portuguesa.
Macau tem sido há séculos um ponto avançado de Irradiação da cultura do Ocidente em terras orientais. Diversos factores, porém, têm dificultado e diminuído o uso da língua portuguesa pela população da cidade, apesar de porfiados esforços empenhados nesse objectivo. Gerou-se com o andar do tempos no entanto, um dialecto crioulo de raiz portuguesa que é expressão significativa da nossa presensa histórica no velho empório quinhentista. O encontro de civilizações é ali uma realidade perene.
Ao longo de 137 páginas o autor aborda temas como o ensino das ordens religiosas (jesuítas, agostinhos, dominicanos, franciscanos e claristas), a presença de Camões em Macau, a literatura de língua portuguesa, a arquitectura portuguesa, o jornalismo, os escritores do século 19, o ensino das congregações, e a acção cultural do liceu de Macau. Em anexo inclui-se uma "antologia de autores macaenses".
Alguns excertos do livro:
(...) Entretanto funcionou em Macau uma Escola das Primeiras Letras, regida primeiramente por Alexandre António Pereira (1774-1822) e, em seguida, por Camilo de Lélis de Sousa (1804-1882). Como o seu próprio nome indicava, o currículo do estabelecimento não ia além de «ler, escrever e contar», instrução que no tempo se julgava suficiente para os Macaenses. Evidentemente, como vimos atrás, a língua portuguesa não se notabilizou pela sua pureza. Era a «língua de Macau», «língua macaísta» ou «patoá», uma espécie de crioulo, com três séculos de existência, ainda falada pelas famílias mais distintas de Macau no século passado. Como o ensino não progredisse, foi o próprio Senado, a quem Macau deveu em grande parte a sua autonomia administrativa, que se julgou com a obrigação de «promover a educação pública», alegando já o motivo político de «cimentar as instituições liberais». Para o efeito o Senado reuniu várias vezes, mas os seus esforços não foram coroados de êxito porque não se encontravam professores idóneos. Em Portugal, o ministro da Marinha e do Ultramar, Joaquim José Falcão, tinha criado em todas as possessões ultramarinas as escolas principais de instrução primária. Existia ainda uma doação do inglês James Matheson, no valor de cinco mil patacas, que o Senado deliberou aplicar nas despesas do funcionamento de um plano de educação. O Padre Jorge António Lopes da Silva (1817-1870) foi assim nomeado director e mestre da Escola Principal (1847) que, no currículo adoptado em Macau, compreendia as primeiras letras do ensino primário, o ensino de português e ainda o francês e o inglês. O Padre Jorge da Silva, dotado de predicados pedagógicos de zelo e assiduidade, conservou-se no seu cargo até 1853, sendo substituído, no ano seguinte, pelo Padre Vitorino José de Sousa Almeida que ministrava o ensino do português e do latim. Juntaram-se-lhe outros dois professores: um de primeiras letras e outro de francês e de inglês. A escola desempenhou um papel de relevo na instrução da juventude macaense pois era frequentada por mais de trezentos alunos. (...)
Nota: em breve publicarei um excerto do mesmo livro e autor relativo ao patuá.
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