Transcrição do capítulo do livro “Navios da Armada Portuguesa na Grande Guerra” (Academia da Marinha, 2008), da autoria do Comandante José Ferreira dos Santos.
“Construída, de aço, pelos estaleiros Yarrow, em Glasgow, foi enviada para Hong Kong, a bordo do cargueiro britânico ʻGlenlochyʼ, encaixotada. Destinava-se à província de Macau. As várias secções foram reunidas na firma Whampoa Dock, em Kowloon, por operários dos estaleiros Yarrow. Foi lançada à água no dia 7 de Julho de 1909.
Características principais:
Comprimento: 36,51 metros; Boca: 6,04 metros; Pontal: 1,54 metros; Calado máximo: 0,64 metros; Deslocamento: 135 toneladas.
Comprimento: 36,51 metros; Boca: 6,04 metros; Pontal: 1,54 metros; Calado máximo: 0,64 metros; Deslocamento: 135 toneladas.
Estava equipada com duas máquinas alternativas de vapor de tríplice expansão com a potência total de 250 cavalos indicados que lhe imprimiram nas experiências a velocidade de 11,8 nós. Tinha uma caldeira aquitubular e dois hélices trabalhando cada um em seu túnel. Estava armada com duas peças de artilharia Hotchkiss de 57 mm/40 calibres e com três metralhadoras de 6,5 mm também Hotchkiss. A guarnição era composta por dois oficiais, quatro sargentos e vinte e nove praças, sendo sete de contratação local.
No dia 19 de Julho de 1909 passou ao estado de completo armamento tendo o primeiro-tenente Joaquim Anselmo da Mata Oliveira assumido o comando naquela data. No dia 21 largou de Hong Kong para Macau. Na iminência da passagem de um tufão, a lancha-canhoneira subiu o rio e demandou um fundeadouro onde amarrou com dois ferros. No dia 19 de Outubro de 1909 o vento fez o navio garrar, quase provocando a sua perda. No dia seguinte conseguiu voltar a Macau mas com várias avarias.
Em 12 de Julho de 1910 foi a Coloane combater os piratas que detinham a posse de parte da vila. O bombardeamento empreendido pela ‘Macau’ provocou 150 baixas e a destruição de diversas casas pelo facto dos piratas não se quererem render. No dia 17 a canhoneira ‘Pátria’ (imagem ao lado) coadjuvou o bombardeamento da ‘Macau’ e ambas conseguiram, com a colaboração de forças do nosso Exército, acabar com as acções da pirataria no território de Macau.
Em Junho e Dezembro de 1913 e Junho de 1915 e Abril de 1916 foi a Hong Kong onde subiu o plano inclinado para beneficiação da carena aproveitando para efectuar outras pequenas reparações.
Em 3 de Agosto de 1913 foi a Cantão devido à alteração da ordem naquela cidade onde se verificou nutrido tiroteio, entre facções rivais, que provocou centenas de mortes. O comandante combinou com o cônsul de Portugal desembarcar uma pequena força com uma metralhadora mas não chegou a ser necessário. A ‘Macau’ estava pronta a receber mulheres e crianças mas também isso não foi preciso e em 19 de Agosto o navio largou para Macau depois de ter sido dispensado pelo cônsul. Teve a lancha-canhoneira ‘Macau’ uma vida muito longa e muito útil durante a qual desempenhou as mais variadas missões com relevância para as actividades de carácter militar e de presença naval.
Durante o auge da segunda guerra mundial, apesar de Portugal ser país neutro, era o então todo poderoso império do sol nascente quem verdadeiramente mandava em Macau, aliás era quem mandava em quase toda a Ásia. Os japoneses cometiam toda a espécie de arbitrariedades, atropelos e desmandos. Em Macau, só entrava o arroz (e outros géneros), que eles permitiam que entrasse e assim conseguiam dobrar-nos pela fome. Foi por esse processo que nos obrigaram a entregar-lhes duas boas dragas que havia em Macau.
Já há muito tempo que os nipónicos vinham cobiçando a nossa lancha-canhoneira e em 1943 a falta de arroz era tão premente que conseguiram que o Governo de Macau lhes entregasse o navio em troca de dez mil sacos de arroz, de sessenta quilogramas cada, o que perfez seiscentas toneladas de arroz no valor de um milhão de patacas.
Desse modo em 15 de Agosto de 1943 a ‘Macau’ foi integrada na armada japonesa com o nome ‘Maiko’. No final da guerra a ‘Maiko’ rendeu-se, em Cantão, à armada chinesa, que, em 1946, a rebaptizou ‘Wu Feng’. Em 1949 foi capturada pela China comunista.”
Mais imagens: http://macauantigo.blogspot.com/2009/04/nrp-macau-lancha-canhoneira-1909-1943.html
Sobre o autor do livro aqui referido
Capitão da marinha mercante, embarcado em diversos navios durante cerca de trinta anos, José Ferreira dos Santos tem dedicado muito do seu tempo à investigação histórico-naval, sendo também coleccionador de fotografias de navios. Membro da Academia de Marinha, é também membro de mérito da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, onde tem organizado dezenas de exposições de fotografias de navios, abrangendo milhares de fotos da sua colecção particular. JFS é ainda autor de dezenas de artigos publicados na Revista de Marinha e na Revista da Armada. Em 2007 recebeu a Medalha da Cruz Naval de 1ª classe.
Capitão da marinha mercante, embarcado em diversos navios durante cerca de trinta anos, José Ferreira dos Santos tem dedicado muito do seu tempo à investigação histórico-naval, sendo também coleccionador de fotografias de navios. Membro da Academia de Marinha, é também membro de mérito da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, onde tem organizado dezenas de exposições de fotografias de navios, abrangendo milhares de fotos da sua colecção particular. JFS é ainda autor de dezenas de artigos publicados na Revista de Marinha e na Revista da Armada. Em 2007 recebeu a Medalha da Cruz Naval de 1ª classe.
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