Forte D. Maria
Sendo uma colónia portuguesa, ainda que a mais longínqua e mais esquecida do “Império”, Macau, como todas as outras não podia deixar de reflectir na sua toponímia as alterações do processo histórico da Metrópole. É por isso que as conturbações revolucionárias portuguesas, com maior ou menor atraso, não deixaram de se reflectir localmente. Sendo assim compreende-se inteiramente que D. João IV, o rei restaurador de Portugal tenha ficado perpetuado numa avenida, já que foi quem concedeu a Macau o título de lealdade que figurou no Senado da Câmara como divisa até 20 de Dezembro de 1999.![]() |
Forte D. Maria |
Consumado o golpe de estado local, as novas autoridades investidas pelos cidadãos eleitores prenderam o Ouvidor Miguel de Arriaga Brun da Silveira (magistrado cujos poderes extravasavam o âmbito dos tribunais, possuindo as competências de um secretário geral do governo e juntamente com este o governador nomeado pelo poder absolutista, José Gerónimo de Castro Cabral e Albuquerque, acabando deste modo com todos os símbolos do antigo regime e libertando a cidade do poder tutelar do vice rei de Goa que se entrepunha entre Macau e sua Alteza Real.
Consumado o golpe, Macau, durante um ano singrou independente do intermediário poder de Goa e também à revelia de Lisboa, onde a situação política se alterava de um modo demasiado rápido para que o correio marítimo, que então demorava quase meio ano a chegar fornece-se atempadamente conta das mudanças que se processavam na capital do Reino.
Consumado o golpe, Macau, durante um ano singrou independente do intermediário poder de Goa e também à revelia de Lisboa, onde a situação política se alterava de um modo demasiado rápido para que o correio marítimo, que então demorava quase meio ano a chegar fornece-se atempadamente conta das mudanças que se processavam na capital do Reino.
Foi assim que a ascensão de D. Miguel e o início da guerra civil ocorreram sem que os liberais macaenses se apercebessem das mudanças. A monarquia parlamentar era proclamada. Em seguida, D. Miguel reinstalava o poder absoluto, para logo Saldanha determinar pela força das armas o constitucionalismo radical, numa sucessão demasiado rápida para que Macau se apercebesse de que afinal a constituição de 1820 tinha sido Sol de pouca dura. O território soube-o apenas quando as tropas realistas comandadas por Garcês Palha (que mais tarde governaria a colónia) desembarcaram no cais da Fortaleza do Bom Parto. Rapidamente conquistaram os fortes, prenderam a vereação municipal que governava a cidade, repondo o Ouvidor. Queimaram a Abelha da China, semanário oficial do governo liberal proclamando D.Miguel como rei “legítimo” e reinstaurando a obediência ao Vice-Rei de Goa. De todo este transe, a história registou importantes páginas, destacando nomes de um e de outro campo, mas a toponímia (severo filtro) apenas conservou o nome do Ouvidor Arriaga, como único merecedor de se destacar do olvido.
Quanto ao campo liberal quase nenhum nome ficou recordado. Apenas o cirurgião José de Almeida que escapou a tempo da reviravolta miguelista figura hoje na toponímia, ainda que não de Macau, mas de Singapura dando nome à “D`Almeida Street”.
Quanto ao campo liberal quase nenhum nome ficou recordado. Apenas o cirurgião José de Almeida que escapou a tempo da reviravolta miguelista figura hoje na toponímia, ainda que não de Macau, mas de Singapura dando nome à “D`Almeida Street”.
O presidente liberal do Senado, Paulino Barbosa, ou o redactor da Abelha da China, Frei António de S. Gonçalo de Amarante não mereceram ser recordados. No campo oposto, o antigo governador Castro e Albuquerque, bem como o bispo Chacim (que viria a governar interinamente a colónia) foram também, obliterados, como se o juízo da história pretendesse manter equilibrados os pratos da balança política dos mortais, não ajuizando entre liberais e absolutistas.

Artigo da autoria de João Guedes, Jornalista e Investigador, publicado no JTM de 7-6-2011
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