Felizmente não teve maiores consequências o incidente que se deu em Macau entre as tropas da nossa guarnição e a população chineza que enxameia na cidade. As primeiras notícias telegráficas, na sua concisão, deixavam antever acontecimentos graves. Originou esse incidente um das praças indígenas de Moçambique, ali em serviço ter na sua passagem, tropessado, sem querer, n´uma chineza que ia pela mão da mãe, levantando esta um berreiro injustificado.
Os chinezes, tomando o partido da mulher, amotinaram-se e lançaram-se ao soldado, defendendo-se este valentemente e levando um d´eles preso para a esquadra, mas, ao retirar-se d´ali, a canalha saltou em cima d´ele, deixando-o em estado tão lastimoso que teve de recolher à enfermaria do hospital. No dia seguinte declarou-se a greve geral e uma multidão enorme acumulou-se sussurrante e agitada na avenida Marginal, havendo cabecilhas que incitavam contra os portuguezes. Os manifestantes rodearam a esquadra, ocupando completamente as ruas próximas, formando barricadas e não deixando passar ninguém.
A força militar encontrava-se isolada e a gentalha ameaçava ruir sobre ela. O tenente sr. Rogério Ferreira resolveu sair d´aquela situação. Um dos amotinados lançou-se-lhe ao pescoço para o estrangular. O oficial puxou da espada, e com ela ainda feriu alguns, mas, por fim, arrancaram-lha das mãos. Não havia paciência que resistisse por mais tempo Da multidão partiram vários tiros de revolver e um soldado baqueou. Então a tropa deu uma descarga contra os manifestantes. Um bom número d´eles caiu varado de balas, ao passo que os restantes, que subiam a mais de 4.000, se puzeram em fuga, deixando na sangueira, que cobria o solo, sapatos, leques, lanternas, varapaus e bandeiras. Se não tomam esta resolução, eram todos varridos por uma metralhadora que pouco depois chegava ao local.
Os chinezes, tomando o partido da mulher, amotinaram-se e lançaram-se ao soldado, defendendo-se este valentemente e levando um d´eles preso para a esquadra, mas, ao retirar-se d´ali, a canalha saltou em cima d´ele, deixando-o em estado tão lastimoso que teve de recolher à enfermaria do hospital. No dia seguinte declarou-se a greve geral e uma multidão enorme acumulou-se sussurrante e agitada na avenida Marginal, havendo cabecilhas que incitavam contra os portuguezes. Os manifestantes rodearam a esquadra, ocupando completamente as ruas próximas, formando barricadas e não deixando passar ninguém.
A força militar encontrava-se isolada e a gentalha ameaçava ruir sobre ela. O tenente sr. Rogério Ferreira resolveu sair d´aquela situação. Um dos amotinados lançou-se-lhe ao pescoço para o estrangular. O oficial puxou da espada, e com ela ainda feriu alguns, mas, por fim, arrancaram-lha das mãos. Não havia paciência que resistisse por mais tempo Da multidão partiram vários tiros de revolver e um soldado baqueou. Então a tropa deu uma descarga contra os manifestantes. Um bom número d´eles caiu varado de balas, ao passo que os restantes, que subiam a mais de 4.000, se puzeram em fuga, deixando na sangueira, que cobria o solo, sapatos, leques, lanternas, varapaus e bandeiras. Se não tomam esta resolução, eram todos varridos por uma metralhadora que pouco depois chegava ao local.
A deserção foi tão completa que nem se importaram com os mortos.
Recolheram-nos, os nossos soldados, envolvendo-os em esteiras e
removendo-os em «camions» para o cemitério. Vinte e tantos dos fugitivos haviam-se refugiados n´uma casa em
ruínas. Foram lá descobertos empilhados sobre os outros. Quando se
sentiram descobertos saíram e puzeram-se de joelhos deante das nossas
tropas pedindo misericórdia. No esconderijo ficara só em estendido,
porque esse estava morto. O governo chinez não julgou do seu direito o intervir.
Artigo publicado na revista Ilustração Portuguesa, nº 860 de 12 de Agosto de 1922 com o título "Os Tumultos de Macau". Na verdade, foram incidentes graves iniciados em Maio desse ano e que se prolongaram até 8 de Junho, embora o estado de sítio vigorasse até ao final desse mês. Mais de 60 associações profissionais foram encerradas. No artigo não se menciona mas registaram-se cerca de 30 mortes. As fotografias são da autoria de Barbosa Pires (chefe da Secção de Propaganda das Obras do Porto de Macau).
Sugestão de leitura adicional neste post com o relato dos acontecimentos por Jaime do Inso.
Na Cronologia da História de Macau da Prof. Beatriz Basto da Silva pode ler-se a 1 de Maio de 1922:
"As associações operárias de Macau promovem uma manifestação. Os ânimos opondo patrão e o operário estão exaltados e, como é comum nesta circunstâncias, as manifestações multiplicam-se. Um incidente entre um soldado moçambicano e uma prostituta chinesa, a 28 de Maio, desencadeia um tiroteio grave, que conduz a troca de explicações entre o Governo de Macau e a autoridade de Cantão, levando ao castigo de militares envolvidos bem como à retirada de Macau do contingente de forças africanas."
A 29 de Maio de 1922 é proclamado mais uma vez o estado de sítio em todo o território. Dá-se o cerco à esquadra de Ship-Seng e acontece uma resposta policial. São mandadas encerrar todas as associações de classes profissionais não autorizadas pelo governo. Muita da população chinesa abandona o território.
A 30 de Maio são convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentarem-se no Quartel do Corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para o serviço do Governo. Edital nº 2 do 2º suplemento ao Boletim Oficial nº 21. Só a firmeza da resposta do Governador, Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos às autoridades de Cantão evitou crise maior. A 5 de Junho a situação é considerada calma e normal.
1922 ficará para a história do território como o "ano da greve". Na sequência destes eventos a 8 de Outubro desse ano chega a Macau o General Gomes da Costa, acompanhado do seu filho Carlos Nunes Gomes da Costa, como Secretário, e o tenente Salgueiro Rego, seu ajudante de campo, para inspeccionar os serviços militares de Macau. Aliás, a inspecção será feita a todos os territórios do Oriente (vai tb a Shangai) e Gomes da Costa só regressará a Portugal em 1924.
A 28 de Maio de 1926 dirige o golpe militar que instala a ditadura em Portugal.
Nesta foto de 1915 é curioso notar que no topo da fachada do edifício da Santa Casa pode ver-se o busto do fundador: D. Belchior Carneiro |
A 29 de Maio de 1922 é proclamado mais uma vez o estado de sítio em todo o território. Dá-se o cerco à esquadra de Ship-Seng e acontece uma resposta policial. São mandadas encerrar todas as associações de classes profissionais não autorizadas pelo governo. Muita da população chinesa abandona o território.
A 30 de Maio são convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentarem-se no Quartel do Corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para o serviço do Governo. Edital nº 2 do 2º suplemento ao Boletim Oficial nº 21. Só a firmeza da resposta do Governador, Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos às autoridades de Cantão evitou crise maior. A 5 de Junho a situação é considerada calma e normal.
1922 ficará para a história do território como o "ano da greve". Na sequência destes eventos a 8 de Outubro desse ano chega a Macau o General Gomes da Costa, acompanhado do seu filho Carlos Nunes Gomes da Costa, como Secretário, e o tenente Salgueiro Rego, seu ajudante de campo, para inspeccionar os serviços militares de Macau. Aliás, a inspecção será feita a todos os territórios do Oriente (vai tb a Shangai) e Gomes da Costa só regressará a Portugal em 1924.
A 28 de Maio de 1926 dirige o golpe militar que instala a ditadura em Portugal.
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