Muitas pessoas me questionam sobre a origem do nme "Macau"... São muitas as explicações e num texto intitulado "Diversos nomes de Macau" Luis G. Gomes avançou com a sua explicação com base nas fontes de que dispunha na época. Reprodução integral do artigo publicado no "Boletim do Instituto Luís de Camões", p. 57-72, na Primavera 1969.
Depois das acidentadas vicissitudes por que passaram as tentativas iniciais, persistentemente envidadas, para estabelecer o comércio com os chineses, conseguiram os portugueses, certamente mercê do bom entendimento efectuado por Leonel de Sousa com as autoridades nativas, que lhes fosse consentido estabelecer-se em Macau. Claro é, que este facto não seria exequível se não estivessem em jogo mútuos interesses de não pequena monta.
Era, então Macau, conforme o que se tem repetidamente escrito, uma insignificante aldeola de pescadores, gente de mar que tão depressa andava na labuta da sua honesta faina de minguados proventos, como se entregava ao exercício da pirataria, quando a necessidade a isso a obrigava ou lhe surgisse uma oportunidade propícia para a satisfação da sua predatória cobiça.
Macau transformou-se, todavia, num próspero burgo, assim que nela se instalaram os portugueses e a presteza com que se desenvolveu deixa atónitos quantos procuram pesquisar a sua maravilhosa história. T’ien Tsê Chan, falecido catedrático de Filosofia da Universidade de Leyden, Holanda, não obstante a sua manifesta antipatia e acintosa animosidade, adveniente do seu atávico xenofobismo, para com as actividades dos portugueses no seu país, exterioriza, contudo, o seu espanto, afirmando:
«The rise of Macao is a wonder in the modern commercial history of Eastern Asia. Within the span of a few decades, this obscure fishing village, situated at the head of Hsiang-shan promontory and the southern extremity of the estuary of the Pearl River, rose to a position which overshadowed even the port of Canton»
Era, então Macau, conforme o que se tem repetidamente escrito, uma insignificante aldeola de pescadores, gente de mar que tão depressa andava na labuta da sua honesta faina de minguados proventos, como se entregava ao exercício da pirataria, quando a necessidade a isso a obrigava ou lhe surgisse uma oportunidade propícia para a satisfação da sua predatória cobiça.
Macau transformou-se, todavia, num próspero burgo, assim que nela se instalaram os portugueses e a presteza com que se desenvolveu deixa atónitos quantos procuram pesquisar a sua maravilhosa história. T’ien Tsê Chan, falecido catedrático de Filosofia da Universidade de Leyden, Holanda, não obstante a sua manifesta antipatia e acintosa animosidade, adveniente do seu atávico xenofobismo, para com as actividades dos portugueses no seu país, exterioriza, contudo, o seu espanto, afirmando:
«The rise of Macao is a wonder in the modern commercial history of Eastern Asia. Within the span of a few decades, this obscure fishing village, situated at the head of Hsiang-shan promontory and the southern extremity of the estuary of the Pearl River, rose to a position which overshadowed even the port of Canton»
Os factores que proporcionaram tão rápida mutação foram o facto de Macau ser o único porto de abrigo contra os tufões para as naus que comerciavam com o Japão, pois as transacções com este país já tinham então alcançado grande desenvolvimento; ser a única base de apoio e de reabastecimento que existia a meio da extensíssima rota de Malaca ao Império do Sol Nascente; ter-se constituido no centro do importantíssimo escambo de produtos japoneses, trazidos pelas naus portuguesas, com as mercadorias chinesas, principalmente a seda nativa; e ser o entreposto exclusivo para a distribuição das especiarias para os diversos mercados do interior, através do porto de Cantão e para a exportação dos produtos nativos.
Macau que, durante séculos, gozou do singular privilégio de ser o único porto na China, aberto ao comércio estrangeiro, é, presentemente, conhecida pelos chineses pelo nome de Ou Mun, que significa Porta da Baia, designação esta possivelmente sugerida pelo facto do amplo recorte da sua orla oriental, que veio a denominar-se Praia Grande, ser limitado nas suas extremidades, por duas colinas, que se erguem quase a mesma altura e se enfrentam uma a outra, a da Penha, outrora denominada pelos chineses Nám-T'ói e a da Guia, que foi conhecida, por Pâk-T'ói, as quais aparentavam, bastante forçadamente, na fantasiosa imaginação do poético espírito dos chineses, as ombreiras duma porta.
Os chineses deram, porém, primitivamente, a esta pequena peninsulazinha do distrito de Hèong-Sán, hoje denominado Tchông-Sán, o nome de Hou-Kèang, ou melhor Hou-Keng, mas, com o tempo, já porque tivessem esquecido a letra com a qual representavam o som ou já por mero capricho, passaram a representar este som com um outro carácter, ficando completa-mente alterado o seu significado. Destarte o que significava Espelho do Fosso se transformou em Espelho de Ostras, possìvelmente, devido à abundância e variedade de lamelibrânquios nos inúmeros recifes que orlavam, outrora, esta língua de terra.
Num estudo crítico à obra de Tíen-Tsê Chang, o abalizado investigador e sinólogo francês Paul Pelliot diz que «Le nom chinois usuel de Macao est 澳門 Ngao-men, «Porte de la baie»; le vrai nom géographique, mais qui s'étend parfois à toute la baie, et non au seul établissement de Macao pris au sens strict, est 壕鏡 Hao-king (dans le Ming-che, 325, 9b), plus souvent écrit aujourd'hui 濠鏡澳 Hao-king-ngao ......... »
Portanto, o nome de Hou-Keng não indicava apenas o estabelecimento de Macau, mas sim toda a baia. Mas a que baía se quereriam referir os escritores chineses desses recuados tempos, a cujos escritos Pelliot fora buscar elementos para a sua afirmação?
Compulsando o Ou Mun Kei Lèok depararemos com a seguinte passagem:
«Ao investigarmos a origem do nome da baía de Hou Keang 濠鏡 (Espelho do Fosso), encontrámos, no Meng-Si 明吏 (História da Dinastia Meng) que, na parte meridional do país ...... Actualmente tal local é conhecido por Ou Mun 澳門 (Porta da Baía) ...... »
mas mais adiante
«Da colina de Fong-Tch'âi 風棲 (Ninho do Alcião), no distrito de Hèong-Sán, seguindo 120 lei (64,km32) para o sul, chega-se a Tchín-Sán e, a 20 lei (10,km72) a mais, encontra-se a baía de Hou-Keng. A uns 6 a 7 lei (3,km75), antes de se alcançar Macau, a rugosa montanha interrompe-se, formando um dique de areia semelhante a uma comprida ponte ao qual chamam de Lin-Fá-Keng (Haste de Loto). Na extremidade desta haste surge, singularmente, a chamada Lin-Fá-Sán (Colina de Loto) que ora se abaixa ora se alevanta, descrevendo ao meio uma perfeita curva de 5 a 6 lei (3,km21) de extensão com uma largura igual a metade. É a chamada Ou 澳 (Baía) que só tem um braço que liga à terra.»
Ora, a Haste de Loto é o Istmo da Porta do Cerco e Lin-Fá-Sán, 蓮花山 a Colina de Móng-Há 望厦 Até a primeira metade do século XIX, a cidade pròpriamente dita de Macau esbarrava, no norte, contra uma muralha, que a vedava do resto da península e que fora construída após a invasão dos holandeses, para impedir a repetição de qualquer futuro ataque semelhante. Para se ir para o Campo, isto é, para as várzeas e terreno de plantio da aldeia Lông-Tín, 龍田 o local onde hoje se encontra o Campo da Caixa Escolar, e, principalmente, o terreno ocupado pela Casa de Sun Iât Sin, em frente da actual Central da Polícia de Segurança, tinha de se passar, pela Porta do Campo, que, aberta pela manhã para a entrada dos víveres vindos das localidades vizinhas e trânsito dos que saíam e entravam na cidade, se fechava às ave-marias.
Portanto, a baia, que só tem um braço que liga à terra, isto é, o Istmo da Porta do Cerco, deveria referir-se à arqueada reintrância que formava a antiga Praia da Areia Preta, apenas há quatro décadas aterrada, em consequência da conquista de terras ao mar, necessitadas pelas Obras dos Portos, no sítio onde hoje se encontram o Depósito e os Armazéns de Coca-Cola.
Macau mereceu, também, ser designada na poética chinesa, por Hói-Keng, Keng-Hói, Hói-Kók, Hou-Kóng, Lin-Ièong, Keng-U, Lin-Fá-Tou, Lin-Fá-Tchâu, Heong-Sán-Ou, Kâm-Tâu Im-Tchong, Kâm-Tâu Im-Tch’eong e por outros nomes.
No entanto, sob o nome primitivo chinês de Hou-Keng, 蠔鏡 a existência do surgidouro de Macau já era conhecida de Tomé Pires, antes da sua vinda como primeiro embaixador à China, porquanto a ele se refere o culto boticário, num relato que, em 1512-1515, escrevera a D. Manuel, acerca das exóticas terras do Oriente.
«Além do porto de quantom esta outro que se chama oquem he andadura p.º terra De tres dias E por mãr huu dia & huuã noite este he o porto dos lequjos he Dout.as nações...»
Explica ainda o Meng-Si que «na parte meridional do país, existem quatro ilhas que irrompem do mar; por entre elas corre a água de forma a constituir como que a letra sap 十 (dez), tendo sido por este motivo que se deu a este sítio o nome de Sâp-Tchi-Mun 十字門 (Porta ou barra em forma da letra sap, ou seja duma cruz). Actualmente, tal local é conhecido por Ou Mun 澳門 (Porto da Baía) e está sujeito à administração do Distrito de Hèong-Sán 香山 (Montanha Odorífera).
Conta a lenda nativa que a deusa Nèong-Má, também chamada Má-Tchou-P'ó, umas das personificações da Raínha do Céu, da mitologia chinesa, salvou, durante uma tempestade, um junco que transportava vários negociantes da província de Fuquien, que costumavam frequentar este porto, já desde a remota dinastia mongólica dos Ün.
Reconhecidos pela oportuna intervenção da miraculosa deusa dos navegantes, erigiram esses negociantes um pequeno templo, na sombria encosta do morro, plantado de frondosos baneanes ou árvores de pagode e sobranceiro ao porto, o qual ainda hoje existe, integrado num conjunto de capelas que foram aumentando, graças à devoção e gratidão dos fieis em diversas épocas, sendo conhecido entre os portugueses pelo nome de Templo da Barra, por este sítio ser designado, na toponímia local, por Barra.
Macau que, durante séculos, gozou do singular privilégio de ser o único porto na China, aberto ao comércio estrangeiro, é, presentemente, conhecida pelos chineses pelo nome de Ou Mun, que significa Porta da Baia, designação esta possivelmente sugerida pelo facto do amplo recorte da sua orla oriental, que veio a denominar-se Praia Grande, ser limitado nas suas extremidades, por duas colinas, que se erguem quase a mesma altura e se enfrentam uma a outra, a da Penha, outrora denominada pelos chineses Nám-T'ói e a da Guia, que foi conhecida, por Pâk-T'ói, as quais aparentavam, bastante forçadamente, na fantasiosa imaginação do poético espírito dos chineses, as ombreiras duma porta.
Os chineses deram, porém, primitivamente, a esta pequena peninsulazinha do distrito de Hèong-Sán, hoje denominado Tchông-Sán, o nome de Hou-Kèang, ou melhor Hou-Keng, mas, com o tempo, já porque tivessem esquecido a letra com a qual representavam o som ou já por mero capricho, passaram a representar este som com um outro carácter, ficando completa-mente alterado o seu significado. Destarte o que significava Espelho do Fosso se transformou em Espelho de Ostras, possìvelmente, devido à abundância e variedade de lamelibrânquios nos inúmeros recifes que orlavam, outrora, esta língua de terra.
Num estudo crítico à obra de Tíen-Tsê Chang, o abalizado investigador e sinólogo francês Paul Pelliot diz que «Le nom chinois usuel de Macao est 澳門 Ngao-men, «Porte de la baie»; le vrai nom géographique, mais qui s'étend parfois à toute la baie, et non au seul établissement de Macao pris au sens strict, est 壕鏡 Hao-king (dans le Ming-che, 325, 9b), plus souvent écrit aujourd'hui 濠鏡澳 Hao-king-ngao ......... »
Portanto, o nome de Hou-Keng não indicava apenas o estabelecimento de Macau, mas sim toda a baia. Mas a que baía se quereriam referir os escritores chineses desses recuados tempos, a cujos escritos Pelliot fora buscar elementos para a sua afirmação?
Compulsando o Ou Mun Kei Lèok depararemos com a seguinte passagem:
«Ao investigarmos a origem do nome da baía de Hou Keang 濠鏡 (Espelho do Fosso), encontrámos, no Meng-Si 明吏 (História da Dinastia Meng) que, na parte meridional do país ...... Actualmente tal local é conhecido por Ou Mun 澳門 (Porta da Baía) ...... »
mas mais adiante
«Da colina de Fong-Tch'âi 風棲 (Ninho do Alcião), no distrito de Hèong-Sán, seguindo 120 lei (64,km32) para o sul, chega-se a Tchín-Sán e, a 20 lei (10,km72) a mais, encontra-se a baía de Hou-Keng. A uns 6 a 7 lei (3,km75), antes de se alcançar Macau, a rugosa montanha interrompe-se, formando um dique de areia semelhante a uma comprida ponte ao qual chamam de Lin-Fá-Keng (Haste de Loto). Na extremidade desta haste surge, singularmente, a chamada Lin-Fá-Sán (Colina de Loto) que ora se abaixa ora se alevanta, descrevendo ao meio uma perfeita curva de 5 a 6 lei (3,km21) de extensão com uma largura igual a metade. É a chamada Ou 澳 (Baía) que só tem um braço que liga à terra.»
Ora, a Haste de Loto é o Istmo da Porta do Cerco e Lin-Fá-Sán, 蓮花山 a Colina de Móng-Há 望厦 Até a primeira metade do século XIX, a cidade pròpriamente dita de Macau esbarrava, no norte, contra uma muralha, que a vedava do resto da península e que fora construída após a invasão dos holandeses, para impedir a repetição de qualquer futuro ataque semelhante. Para se ir para o Campo, isto é, para as várzeas e terreno de plantio da aldeia Lông-Tín, 龍田 o local onde hoje se encontra o Campo da Caixa Escolar, e, principalmente, o terreno ocupado pela Casa de Sun Iât Sin, em frente da actual Central da Polícia de Segurança, tinha de se passar, pela Porta do Campo, que, aberta pela manhã para a entrada dos víveres vindos das localidades vizinhas e trânsito dos que saíam e entravam na cidade, se fechava às ave-marias.
Portanto, a baia, que só tem um braço que liga à terra, isto é, o Istmo da Porta do Cerco, deveria referir-se à arqueada reintrância que formava a antiga Praia da Areia Preta, apenas há quatro décadas aterrada, em consequência da conquista de terras ao mar, necessitadas pelas Obras dos Portos, no sítio onde hoje se encontram o Depósito e os Armazéns de Coca-Cola.
Macau mereceu, também, ser designada na poética chinesa, por Hói-Keng, Keng-Hói, Hói-Kók, Hou-Kóng, Lin-Ièong, Keng-U, Lin-Fá-Tou, Lin-Fá-Tchâu, Heong-Sán-Ou, Kâm-Tâu Im-Tchong, Kâm-Tâu Im-Tch’eong e por outros nomes.
No entanto, sob o nome primitivo chinês de Hou-Keng, 蠔鏡 a existência do surgidouro de Macau já era conhecida de Tomé Pires, antes da sua vinda como primeiro embaixador à China, porquanto a ele se refere o culto boticário, num relato que, em 1512-1515, escrevera a D. Manuel, acerca das exóticas terras do Oriente.
«Além do porto de quantom esta outro que se chama oquem he andadura p.º terra De tres dias E por mãr huu dia & huuã noite este he o porto dos lequjos he Dout.as nações...»
Explica ainda o Meng-Si que «na parte meridional do país, existem quatro ilhas que irrompem do mar; por entre elas corre a água de forma a constituir como que a letra sap 十 (dez), tendo sido por este motivo que se deu a este sítio o nome de Sâp-Tchi-Mun 十字門 (Porta ou barra em forma da letra sap, ou seja duma cruz). Actualmente, tal local é conhecido por Ou Mun 澳門 (Porto da Baía) e está sujeito à administração do Distrito de Hèong-Sán 香山 (Montanha Odorífera).
Conta a lenda nativa que a deusa Nèong-Má, também chamada Má-Tchou-P'ó, umas das personificações da Raínha do Céu, da mitologia chinesa, salvou, durante uma tempestade, um junco que transportava vários negociantes da província de Fuquien, que costumavam frequentar este porto, já desde a remota dinastia mongólica dos Ün.
Reconhecidos pela oportuna intervenção da miraculosa deusa dos navegantes, erigiram esses negociantes um pequeno templo, na sombria encosta do morro, plantado de frondosos baneanes ou árvores de pagode e sobranceiro ao porto, o qual ainda hoje existe, integrado num conjunto de capelas que foram aumentando, graças à devoção e gratidão dos fieis em diversas épocas, sendo conhecido entre os portugueses pelo nome de Templo da Barra, por este sítio ser designado, na toponímia local, por Barra.
A este templozinho consagrado à Deusa A-Má, nome familiar de Nèong-má, deram-lhe os chineses o nome de Ma-Kók-Miu e o local onde ele se encontra erigido ficou denominado Má-Kók.
Não se descobre, porém, qualquer documento, referência ou testemunho histórico que habilite a afirmar, de uma forma peremptória e irrefragável que esse Templo de Amá, ou Templo de Barra, já existia antes do estabelecimento dos portugueses em Macau, e, não se pode, por outro lado, dar crédito à Monografia de Macau, onde se diz que tal história teria ocorrido no reinado de Mán Lek, portanto, pelo menos, dezasseis anos após a fundação de Macau. Contudo dessa lenda, que com o tempo teceram os chineses em volta da fundação de Macau, se pode inferir que, barcos mercantes fuquinenses já frequentavam as suas águas, anteriormente à definitiva fixação dos portugueses, nesta exígua nesga de terra, não devendo, portanto, ser ela apenas constituída por umas colinas àridamente escalvadas, como se tem asseverado, visto já existir construído esse templozito que, porventura, não passaria, nessa fase primitiva, de uma tosca capela ou ermidazinha, prova da existência dum núcleo populacional, que escambaria os seus produtos agrícolas ou de pesca com os que fossem trazidos por esses mercadores fuquinenses, comércio pouco volumoso decerto, mas cujo lucro deveria, no entanto, ser suficiente para manter o interesse daqueles que a ele se dedicavam.
É mesmo possível aventar-se que os primeiros colonos de Macau fossem fuquinenses. Estes, talvez com o tempo, foram, em parte, absorvidos por chineses nativos das terreolas circunjacentes, que vieram estabelecer-se no que viria a ser a povoação de Macau, atraídos pelo comércio, e em parte obrigados a emigrar para o interior da ilha de Hèong-Sán ou Tchông-Sán, a umas dez milhas se tanto de Macau e onde se mantém vivo um dialecto derivado do fuquinense de Fuchau ou de Amoi. Esse dialecto de Sám-Hèong é absolutamente incompreensível para os chineses naturais de Macau e das regiões circunvizinhas, que veículizam as suas ideias, isto é, o que pretendem exprimir, através do dialecto cantonense.
Por outro lado, se os primeiros portugueses que frequentaram os mares da China tiveram contacto com as autoridades nativas, é possível que o dialecto pequinense por elas falado, compulsivamente, (o chamado kuán-huá 官話 (língua das autoridades), por nós conhecido por «mandarim» ou «língua mandarina», assim designada por ser, noutros tempos, a língua oficial dos mandarins, ou seja, com alguma modificação, o kuo-yü 國語 (língua nacional), hoje adoptada como língua oficial em toda a China) de algum modo influenciasse também na origem da palavra Macau. Note-se, no entanto, que uma vez que os portugueses frequentaram a costa da China até Neng-Po, antes da fundação de Macau, deviam ter contactado com chineses de diversas províncias, falando, portanto, os mais diversos linguajares do extenso litoral sínico, incluindo, certamente, o dialecto pequinense.
Ora, ao contrário de Hongkong, onde tanto na ilha de Vitória como noutras adjacentes se têm feito uma sistemática exploração arqueológica com aliciantes resultados, para melhor conhecimento da pre e proto-história da referida zona, Macau e as vizinhas ilhas de Taipa e Coloane nunca despertaram qualquer interesse da parte dos cientistas portugueses,a não ser superficiais e elementaríssimas prospecções levadas a efeito por simples curiosos.
Nunca houve, igualmente, sinólogos e historiadores com suficientes conhecimentos da língua e história nativas, que os habilitassem a envidar uma pesquisa sistemática para apuramento e esclarecimento dos múltiplos e confusos problemas que envolvem a origem do estabeleciemtno e do nome de Macau.
Entretanto, a admitir-se a hipótese de os primeiros habitantes de Macau terem sido fuquinenses e de estes terem constituído um núcleo importante da pioneira colonização de Macau, seria, então, natural que os primeiros portugueses que apareceram nas águas chinesas lidassem com esses naturais de Fuquien, bons marinheiros e mais destemidos e aventureiros que os nativos doutras províncias, retendo, assim, na sua outiva o nome má-kauk, que seria como, em fuquinense, se pronunciaria o nome má-kók, nome este com que ainda hoje se denomina, em cantonense, o sítio a que demos o nome de Barra, como já nos referimos mais atrás.
Sendo, assim, o étimo da palavra Macau teria a sua origem nestes dois elementos sónicos má-kók, pronunciados à fuquinense, isto é ma-kauk, tendo a gutural final k, caído, por exigência da nossa pronúncia, por deturpação ou por qualquer fenónemno fonético. É lícito, no entanto, perguntar-se: não existindo, então, na nossa língua finais guturais e havendo a tendência de as adoçar com a intervenção dum e final mudo, porque não diriam os primeiros portugueses que vieram à China Ma-cauque, em vez de Macau? Este assunto só pode, evidentemente, ser esclarecido por filólogos que tenham investigado como se pronunciavam ou pronunciariam, na realidade, esses sons, há quatrocentos anos.
No seu estudo crítico à obra de T’ien-Tsê Chang, referindo-se aos diversos nomes de Macau, diz ainda Paul Pelliot.
Não se descobre, porém, qualquer documento, referência ou testemunho histórico que habilite a afirmar, de uma forma peremptória e irrefragável que esse Templo de Amá, ou Templo de Barra, já existia antes do estabelecimento dos portugueses em Macau, e, não se pode, por outro lado, dar crédito à Monografia de Macau, onde se diz que tal história teria ocorrido no reinado de Mán Lek, portanto, pelo menos, dezasseis anos após a fundação de Macau. Contudo dessa lenda, que com o tempo teceram os chineses em volta da fundação de Macau, se pode inferir que, barcos mercantes fuquinenses já frequentavam as suas águas, anteriormente à definitiva fixação dos portugueses, nesta exígua nesga de terra, não devendo, portanto, ser ela apenas constituída por umas colinas àridamente escalvadas, como se tem asseverado, visto já existir construído esse templozito que, porventura, não passaria, nessa fase primitiva, de uma tosca capela ou ermidazinha, prova da existência dum núcleo populacional, que escambaria os seus produtos agrícolas ou de pesca com os que fossem trazidos por esses mercadores fuquinenses, comércio pouco volumoso decerto, mas cujo lucro deveria, no entanto, ser suficiente para manter o interesse daqueles que a ele se dedicavam.
É mesmo possível aventar-se que os primeiros colonos de Macau fossem fuquinenses. Estes, talvez com o tempo, foram, em parte, absorvidos por chineses nativos das terreolas circunjacentes, que vieram estabelecer-se no que viria a ser a povoação de Macau, atraídos pelo comércio, e em parte obrigados a emigrar para o interior da ilha de Hèong-Sán ou Tchông-Sán, a umas dez milhas se tanto de Macau e onde se mantém vivo um dialecto derivado do fuquinense de Fuchau ou de Amoi. Esse dialecto de Sám-Hèong é absolutamente incompreensível para os chineses naturais de Macau e das regiões circunvizinhas, que veículizam as suas ideias, isto é, o que pretendem exprimir, através do dialecto cantonense.
Por outro lado, se os primeiros portugueses que frequentaram os mares da China tiveram contacto com as autoridades nativas, é possível que o dialecto pequinense por elas falado, compulsivamente, (o chamado kuán-huá 官話 (língua das autoridades), por nós conhecido por «mandarim» ou «língua mandarina», assim designada por ser, noutros tempos, a língua oficial dos mandarins, ou seja, com alguma modificação, o kuo-yü 國語 (língua nacional), hoje adoptada como língua oficial em toda a China) de algum modo influenciasse também na origem da palavra Macau. Note-se, no entanto, que uma vez que os portugueses frequentaram a costa da China até Neng-Po, antes da fundação de Macau, deviam ter contactado com chineses de diversas províncias, falando, portanto, os mais diversos linguajares do extenso litoral sínico, incluindo, certamente, o dialecto pequinense.
Ora, ao contrário de Hongkong, onde tanto na ilha de Vitória como noutras adjacentes se têm feito uma sistemática exploração arqueológica com aliciantes resultados, para melhor conhecimento da pre e proto-história da referida zona, Macau e as vizinhas ilhas de Taipa e Coloane nunca despertaram qualquer interesse da parte dos cientistas portugueses,a não ser superficiais e elementaríssimas prospecções levadas a efeito por simples curiosos.
Nunca houve, igualmente, sinólogos e historiadores com suficientes conhecimentos da língua e história nativas, que os habilitassem a envidar uma pesquisa sistemática para apuramento e esclarecimento dos múltiplos e confusos problemas que envolvem a origem do estabeleciemtno e do nome de Macau.
Entretanto, a admitir-se a hipótese de os primeiros habitantes de Macau terem sido fuquinenses e de estes terem constituído um núcleo importante da pioneira colonização de Macau, seria, então, natural que os primeiros portugueses que apareceram nas águas chinesas lidassem com esses naturais de Fuquien, bons marinheiros e mais destemidos e aventureiros que os nativos doutras províncias, retendo, assim, na sua outiva o nome má-kauk, que seria como, em fuquinense, se pronunciaria o nome má-kók, nome este com que ainda hoje se denomina, em cantonense, o sítio a que demos o nome de Barra, como já nos referimos mais atrás.
Sendo, assim, o étimo da palavra Macau teria a sua origem nestes dois elementos sónicos má-kók, pronunciados à fuquinense, isto é ma-kauk, tendo a gutural final k, caído, por exigência da nossa pronúncia, por deturpação ou por qualquer fenónemno fonético. É lícito, no entanto, perguntar-se: não existindo, então, na nossa língua finais guturais e havendo a tendência de as adoçar com a intervenção dum e final mudo, porque não diriam os primeiros portugueses que vieram à China Ma-cauque, em vez de Macau? Este assunto só pode, evidentemente, ser esclarecido por filólogos que tenham investigado como se pronunciavam ou pronunciariam, na realidade, esses sons, há quatrocentos anos.
No seu estudo crítico à obra de T’ien-Tsê Chang, referindo-se aos diversos nomes de Macau, diz ainda Paul Pelliot.
Le nom de «Macao» n’est pas la désignation chinoise de léndroit. Les Espagnols ont écrit longtemps «Macan» (cf. Colín Pastells), comme si la forme portugaise 'etait Macão, et on a des formes latine «Machuon» (Pfiister, Notices, 8) et italienne «Macone» (ibid., 12), aussi parfois «Amaquan», «Amacano» «Amacao» (cf. les Index de Streit, IV, 618, et V, 1095).
Efectivamente, na sua Le Historie delle Indie Orientale, Maffei, falando da distância a que fica Japão de Macau escreve:
«ma da Amacan scala de' Chini, verso Ponente, doue quasi negociano i Portoghesi, fino alla medesima Goto e vn traghetto di dugento e nouantasette leghe».
e mais adiante, falando de D. Belchior Carneiro diz:«...e finalmente per ordine del Pontefice Romano passò alla China, e quiui ad Amacan, che hoggi è scala de Portoghesi...»
Na secção de cartas desse mesmo livro, encontra-se uma de Baltazar Gago, em que informa que, tendo sido reenviado de Japão para Goa, em 27 de Outubro de 1560, num junco, fora surpreendido por uma violenta tempestade no porto de Veniaga doue sone sempre cinquecento, ò setecento Portoghesi, que acabou por atirar o barco para a ilha de Hainan, e porque este se encontrava quase desfeito sem possibilidade de demandar, novamente, o porto de Veniaga, resolveram enviar.
«vn certo Portoghesi, alla cità di Canton, e quindi ad Amacan per terra a mercanti Portoghesi, che già sérano disperati dalla saluezza nostra. Il messaggiere arriuò in Amacan il dì stesso del Natale del Signore lánno 1561 & i Portoghesi spedirono subitamente alcuni nauily per condurci là. E perche dimorammo cinque mesi nellísola Ainane, della quale poi arriuammo in trenta giorni ad Amacan».
A obra de Maffei foi originalmente escrita em latim. Teria o tradutor da vcrsão italiana adulterado a palavra Amacau para Amacan? Ou seria, então, efectivamente, de pronúncia nasal, a última sílaba da palavra Macau? No caso afirmativo, a teoria dessa palavra provir do fuquinense Makauk seria, manifestamente, inconsistente. Teríamos, então, à falta de outra, a hipótese de tal nazalização provir do facto de se ter utilizado o vocábulo chinês kóng, que, em fuquinense se pronuncia koung ou kong derivando, assim, de Hou-Kóng 壕江 (Rio do Fossso), uma das várias designações outrora usada pelos chineses para se referirem a Macau.
Prevalece, entretanto, a opinião de que a palavra Macau deriva de A-Má-Ou 亞媽澳 posto não faltar quem propenda para a versão de o 'etimo ser A-Má-Káu 亞媽溝. De qualquer forma foi-se buscar ao nome da taumaturga Amá, a padroeira dos navegantes para, justaposto ao vocábulo chinês ou (baía) se formar a palavra Amagao ou Amangao.
No seu citado estudo crítico, Pelliot explica:
«Le «Gau Xan» de Semedo (Tch., p. 92) n' est pas clair; léxplication traditionelle par 阿媽澳 A-man-ngao remonte à Mathieu Ricci mais est phonétiquement un peu surprenante, car le ng- de notre transcription est très faible, presque inexistant, en cantonais, et les autres noms où entre ce ngao, «Namoa» ( 南澳 Nan-ngao, dans le sud du Foukien), «Keeow» ( 崎澳 K' i-ngao, au Nord de Macao), ne sont pas en faveur dún durcissement de ng en k-».
Efectivamente, a convicção desta origem da palavra Amagao ou Amangao data do tempo de Ricci e, assim, o Pe. Trigault, ao explicar como os portugueses conseguiram instalar-se nesta peninsula do sul de Hèong-Sán, diz: «...cosi moltánni traficarono infini à tãto, che dalla paura liberati li diedero nellÍsola più grande, vna poca Penisola. In quella vi era vnÍdolo,& hoggi vi se vede, che haueua nome Ama, da quello fù detto il lito Amacao, cioè golfo di Ama.
O célebre geógrafo Martin Martinius repete, também, esta versão, pois, diz:«Au mesme lieu où la ville est à present, estoit autrefois lÍdole nommée Ama. Vn havre en Chinoi sáppelle Gao, cést dé là quést venu le mot dÁmacao. Ce lieu commença déstre peuplé par les Portugais, qui s'y établirent du consentement des Chinois...»E, mais tarde, quando o frade arrábido José Jesus de Maria escreveu a sua Azia Sinica e Japonica afirmou que os portugueses.
«...Acharão logo um pagode no qual estava um idolo que elles chamavão Ama e Gao, que quer dizer na lingoa china bahia de bom surgidoiro de navios, donde se derivou o nome de Macao...»
Há quem insista que o nome de Macau deriva de Ma-Káu-Sèak 馬交石 (Rochedo do Cavalo no Coito), um penedo granítico que existia, ainda há uns quarenta e tantos anos, na Praia de Areia Preta, mas é argumento que não tem sido aceito.
Antes da definitiva adopção da palavra Macau, deparam-se, frequentemente, em velhos documentos seiscentistas, referencias à Povoação do Nome de Deus de Amacao na China, também denominada, Porto do Nome de Deos, Porta da China e Porto de Amacao até que, em 1586 o vice-rei da India, Dom Duarte de Menezes conferiu o nome oficial de Cidade do Nome de Deos na China, nome este que passou a figurar em todos os documentos oficiais.
Quanto ao nome de Amacao não resistiu, porém, ao tempo, e, bem depressa, por aférese, ficou reduzido, simplesmente, a Macau, que, nos documentos do século XVI se encontra representado de diversas formas: Amaqua, Amacao, Amacuao, Amangao, Amagao, Amaquam, Machoam, Macháo e Maquao.
Entretanto, por muito tempo perdurou a tese de a primeira referência documental ao incipiente estabelecimento se encontrar, numa carta, datada de 20 de Novembro de 1555, que o célebre viajante e aventureiro Fernão Mendes Pinto despachara deste porto, que ele designava por Amaquao, para o Pe. Baltazar Dias, Reitor do Colégio de Goa:
«Mas p q oje cheguei de lampacau, q he o porto onde estavamos, a este amaquao que he outras seis legoas mais auante...»
Afirmam os defensores desta tese que Fernão Mendes Pinto estava, nessa ocasião, em Macau, porto de escala, para a sua viagem ao Japão e que encontrava-se, igualmente, nesta recém-criada feitoria, o Pe. Melchior Nunes Barreto, preparando-se para ir a Cantão negociar a libertação dos prisioneiros portugueses capturados na acção de Tchâu-Má-Kâi, nas costas de Fuquien, existindo, ainda uma carta deste sacerdote, datada de 23 do mesmo ano e mês, mas, embora nela se encontre uma minuciosa descrição da cidade de Cantão, estranha-se, porém, que o seu autor não fizesse a mínima referência da incipiente povoação de Macau.
De entre os contraditores desta tese figuram, além de Paul Pelliot, Albert Kammerer.
Paul Pelliot afirma na sua crítica, já bastas vezes citada, ser falsa a indicação «De Macao: Março de 1555» que se encontra numa carta escrita pelo Pe. Melchior Nunes Barreto aos padres de Goa, pois este estava, na data indicada, ainda em Malaca e que o Pe. Streit, na sua Bibliot. Missionum, Vol. IV, p. 379, remete, sem qualquer observação, o leitor para uma das edições desta carta, a de Eglauer, no Die Missionsgeschichte spaeterer Zeiten, 1794, I, 277, onde se vê ser cla indubitàvelmente datada de Malaca, como é algures exigido pelo seu contexto.
Quanto à pretensa carta de Fernão Mendes Pinto, datada de Macau, 20 de Novembro de 1555, diz Pelliot que existem quatro cópias da mesma, tendo a da Biblioteca de Ajuda servido de arquétipo das três restantes. Esse arquétipo traz o seguinte título: «Anno de 1555. Copia de húa carta de (Irmão) Fernão Mendes que escriveo Malaqua (aliás Macau) ao Reitor do Collegio de Guoa de 1555 annos. 20 de Nouembro e no fim: 20 de noue'bro de 1555. Ama Cao seruo dos seruos da Co'p.ª fernão me'des. Esta carta não trata de Macau. Pinto diz que o Pe. Melchior Nunes Barreto e ele chegaram a São Choão, onde o padre disse missa, tendo os dois depois reembarcado e chegado a 3 de Agosto de 1555 a Lampachau, isto é, Lampacau, donde o padre foi duas vezes a Cantão. Assim, observa Pelliot:
«Cést évidemment de Lampacau que Pinto a écrit le 20 novembre 1555, et la mention finale d'«Ama Cuao» est une mauvaise lecture ou une correction de copiste pour Lampacau: la suscription, qui donne Malacca et Macao comme un même lieu, est sans valeur. Si Pinto avait connu Macao, il ne sén serait pas tu dans sa Peregrinação et n'y aurait pas dit que Macao návait été fondé quáprès son passage».
Sobre a carta de 23 de Novembro de 1555 do Pe. Melchior Nunes Barreto, igualmente, transcrita por Chistovam Ayres, na sua citada obra, diz o título do arquétipo arrecadado na Biblioteca de Ajuda: Copia de hua carta que escreueo o P._e M. belchior, de Macau, porto da China, aos Irmãos do collegio de Goa, escrita a 23 de Novembro de 1555, mas, no fim lê-se apenas Deste Porto da China a 23 de Noue'bro de 1555.
Efectivamente, na sua Le Historie delle Indie Orientale, Maffei, falando da distância a que fica Japão de Macau escreve:
«ma da Amacan scala de' Chini, verso Ponente, doue quasi negociano i Portoghesi, fino alla medesima Goto e vn traghetto di dugento e nouantasette leghe».
e mais adiante, falando de D. Belchior Carneiro diz:«...e finalmente per ordine del Pontefice Romano passò alla China, e quiui ad Amacan, che hoggi è scala de Portoghesi...»
Na secção de cartas desse mesmo livro, encontra-se uma de Baltazar Gago, em que informa que, tendo sido reenviado de Japão para Goa, em 27 de Outubro de 1560, num junco, fora surpreendido por uma violenta tempestade no porto de Veniaga doue sone sempre cinquecento, ò setecento Portoghesi, que acabou por atirar o barco para a ilha de Hainan, e porque este se encontrava quase desfeito sem possibilidade de demandar, novamente, o porto de Veniaga, resolveram enviar.
«vn certo Portoghesi, alla cità di Canton, e quindi ad Amacan per terra a mercanti Portoghesi, che già sérano disperati dalla saluezza nostra. Il messaggiere arriuò in Amacan il dì stesso del Natale del Signore lánno 1561 & i Portoghesi spedirono subitamente alcuni nauily per condurci là. E perche dimorammo cinque mesi nellísola Ainane, della quale poi arriuammo in trenta giorni ad Amacan».
A obra de Maffei foi originalmente escrita em latim. Teria o tradutor da vcrsão italiana adulterado a palavra Amacau para Amacan? Ou seria, então, efectivamente, de pronúncia nasal, a última sílaba da palavra Macau? No caso afirmativo, a teoria dessa palavra provir do fuquinense Makauk seria, manifestamente, inconsistente. Teríamos, então, à falta de outra, a hipótese de tal nazalização provir do facto de se ter utilizado o vocábulo chinês kóng, que, em fuquinense se pronuncia koung ou kong derivando, assim, de Hou-Kóng 壕江 (Rio do Fossso), uma das várias designações outrora usada pelos chineses para se referirem a Macau.
Prevalece, entretanto, a opinião de que a palavra Macau deriva de A-Má-Ou 亞媽澳 posto não faltar quem propenda para a versão de o 'etimo ser A-Má-Káu 亞媽溝. De qualquer forma foi-se buscar ao nome da taumaturga Amá, a padroeira dos navegantes para, justaposto ao vocábulo chinês ou (baía) se formar a palavra Amagao ou Amangao.
No seu citado estudo crítico, Pelliot explica:
«Le «Gau Xan» de Semedo (Tch., p. 92) n' est pas clair; léxplication traditionelle par 阿媽澳 A-man-ngao remonte à Mathieu Ricci mais est phonétiquement un peu surprenante, car le ng- de notre transcription est très faible, presque inexistant, en cantonais, et les autres noms où entre ce ngao, «Namoa» ( 南澳 Nan-ngao, dans le sud du Foukien), «Keeow» ( 崎澳 K' i-ngao, au Nord de Macao), ne sont pas en faveur dún durcissement de ng en k-».
Efectivamente, a convicção desta origem da palavra Amagao ou Amangao data do tempo de Ricci e, assim, o Pe. Trigault, ao explicar como os portugueses conseguiram instalar-se nesta peninsula do sul de Hèong-Sán, diz: «...cosi moltánni traficarono infini à tãto, che dalla paura liberati li diedero nellÍsola più grande, vna poca Penisola. In quella vi era vnÍdolo,& hoggi vi se vede, che haueua nome Ama, da quello fù detto il lito Amacao, cioè golfo di Ama.
O célebre geógrafo Martin Martinius repete, também, esta versão, pois, diz:«Au mesme lieu où la ville est à present, estoit autrefois lÍdole nommée Ama. Vn havre en Chinoi sáppelle Gao, cést dé là quést venu le mot dÁmacao. Ce lieu commença déstre peuplé par les Portugais, qui s'y établirent du consentement des Chinois...»E, mais tarde, quando o frade arrábido José Jesus de Maria escreveu a sua Azia Sinica e Japonica afirmou que os portugueses.
«...Acharão logo um pagode no qual estava um idolo que elles chamavão Ama e Gao, que quer dizer na lingoa china bahia de bom surgidoiro de navios, donde se derivou o nome de Macao...»
Há quem insista que o nome de Macau deriva de Ma-Káu-Sèak 馬交石 (Rochedo do Cavalo no Coito), um penedo granítico que existia, ainda há uns quarenta e tantos anos, na Praia de Areia Preta, mas é argumento que não tem sido aceito.
Antes da definitiva adopção da palavra Macau, deparam-se, frequentemente, em velhos documentos seiscentistas, referencias à Povoação do Nome de Deus de Amacao na China, também denominada, Porto do Nome de Deos, Porta da China e Porto de Amacao até que, em 1586 o vice-rei da India, Dom Duarte de Menezes conferiu o nome oficial de Cidade do Nome de Deos na China, nome este que passou a figurar em todos os documentos oficiais.
Quanto ao nome de Amacao não resistiu, porém, ao tempo, e, bem depressa, por aférese, ficou reduzido, simplesmente, a Macau, que, nos documentos do século XVI se encontra representado de diversas formas: Amaqua, Amacao, Amacuao, Amangao, Amagao, Amaquam, Machoam, Macháo e Maquao.
Entretanto, por muito tempo perdurou a tese de a primeira referência documental ao incipiente estabelecimento se encontrar, numa carta, datada de 20 de Novembro de 1555, que o célebre viajante e aventureiro Fernão Mendes Pinto despachara deste porto, que ele designava por Amaquao, para o Pe. Baltazar Dias, Reitor do Colégio de Goa:
«Mas p q oje cheguei de lampacau, q he o porto onde estavamos, a este amaquao que he outras seis legoas mais auante...»
Afirmam os defensores desta tese que Fernão Mendes Pinto estava, nessa ocasião, em Macau, porto de escala, para a sua viagem ao Japão e que encontrava-se, igualmente, nesta recém-criada feitoria, o Pe. Melchior Nunes Barreto, preparando-se para ir a Cantão negociar a libertação dos prisioneiros portugueses capturados na acção de Tchâu-Má-Kâi, nas costas de Fuquien, existindo, ainda uma carta deste sacerdote, datada de 23 do mesmo ano e mês, mas, embora nela se encontre uma minuciosa descrição da cidade de Cantão, estranha-se, porém, que o seu autor não fizesse a mínima referência da incipiente povoação de Macau.
De entre os contraditores desta tese figuram, além de Paul Pelliot, Albert Kammerer.
Paul Pelliot afirma na sua crítica, já bastas vezes citada, ser falsa a indicação «De Macao: Março de 1555» que se encontra numa carta escrita pelo Pe. Melchior Nunes Barreto aos padres de Goa, pois este estava, na data indicada, ainda em Malaca e que o Pe. Streit, na sua Bibliot. Missionum, Vol. IV, p. 379, remete, sem qualquer observação, o leitor para uma das edições desta carta, a de Eglauer, no Die Missionsgeschichte spaeterer Zeiten, 1794, I, 277, onde se vê ser cla indubitàvelmente datada de Malaca, como é algures exigido pelo seu contexto.
Quanto à pretensa carta de Fernão Mendes Pinto, datada de Macau, 20 de Novembro de 1555, diz Pelliot que existem quatro cópias da mesma, tendo a da Biblioteca de Ajuda servido de arquétipo das três restantes. Esse arquétipo traz o seguinte título: «Anno de 1555. Copia de húa carta de (Irmão) Fernão Mendes que escriveo Malaqua (aliás Macau) ao Reitor do Collegio de Guoa de 1555 annos. 20 de Nouembro e no fim: 20 de noue'bro de 1555. Ama Cao seruo dos seruos da Co'p.ª fernão me'des. Esta carta não trata de Macau. Pinto diz que o Pe. Melchior Nunes Barreto e ele chegaram a São Choão, onde o padre disse missa, tendo os dois depois reembarcado e chegado a 3 de Agosto de 1555 a Lampachau, isto é, Lampacau, donde o padre foi duas vezes a Cantão. Assim, observa Pelliot:
«Cést évidemment de Lampacau que Pinto a écrit le 20 novembre 1555, et la mention finale d'«Ama Cuao» est une mauvaise lecture ou une correction de copiste pour Lampacau: la suscription, qui donne Malacca et Macao comme un même lieu, est sans valeur. Si Pinto avait connu Macao, il ne sén serait pas tu dans sa Peregrinação et n'y aurait pas dit que Macao návait été fondé quáprès son passage».
Sobre a carta de 23 de Novembro de 1555 do Pe. Melchior Nunes Barreto, igualmente, transcrita por Chistovam Ayres, na sua citada obra, diz o título do arquétipo arrecadado na Biblioteca de Ajuda: Copia de hua carta que escreueo o P._e M. belchior, de Macau, porto da China, aos Irmãos do collegio de Goa, escrita a 23 de Novembro de 1555, mas, no fim lê-se apenas Deste Porto da China a 23 de Noue'bro de 1555.
Esta carta, como muito bem opina Pelliot, não podia ter sido escrita em Cantão, porquanto vê-se, no texto, que o Pe. Melchior Nunes Barreto afirma que «Duas vezes depois de aqui chegar fui a cantam e de cada húa estiue la un mes».
Evidentemente que aqui da frase depois de aqui chegar permite inferir que se referia a Lampacau ou a Macau e foi num destes dois sítios que redigira a carta e também dum deles que seguiu, duas vezes, para Cantão.
O Padre Melchior Nunes Barreto afirma, no entanto, taxativamente, que esteve em Lampacau, numa outra carta que tem por título Treslado de húa carta do Padre Mestre Melchior p.ª os Padres e irmãos da Comp.ª de Europa, escripta em Cochim a dez de Janeiro de 1558.
«Eu lhes escreui no anno de 1555 no mes de desembro de Lampacham porto da China que esta desoito legoas da cidade de Cantam onde invernej aqle anno....Estando e' lampacão me forão cartas dos padres da India, e' q' me escreuião q' era necessario tornarme o mais sedo q' podesse ser p.ª a India ..... Como assentamos de inuernar e' atapacão esperãdo mocão pera Japão.
Remata, então, Pelliot a sua argumentação da seguinte forma:
«Si de plus nous rappelons que Pinto, qui dit quón passa l'hiver à Lampacau, était le compagnon de voyage du P. Barreto, et sans même rechercher si la prétendue lettre de décembre 1555 que le P. Barreto rappelle à deux ans de distance nést pas celle du 23 novembre, on conclura que le port de Chine dóù celle-ci a été écrite ne peut être également que Lampacau; la suscription qui fait intervenir Macao est due à un compilateur qui ne connaissait plus, comme lieu de résidence des Portugais en Chine, que Macao.
Evidentemente que aqui da frase depois de aqui chegar permite inferir que se referia a Lampacau ou a Macau e foi num destes dois sítios que redigira a carta e também dum deles que seguiu, duas vezes, para Cantão.
O Padre Melchior Nunes Barreto afirma, no entanto, taxativamente, que esteve em Lampacau, numa outra carta que tem por título Treslado de húa carta do Padre Mestre Melchior p.ª os Padres e irmãos da Comp.ª de Europa, escripta em Cochim a dez de Janeiro de 1558.
«Eu lhes escreui no anno de 1555 no mes de desembro de Lampacham porto da China que esta desoito legoas da cidade de Cantam onde invernej aqle anno....Estando e' lampacão me forão cartas dos padres da India, e' q' me escreuião q' era necessario tornarme o mais sedo q' podesse ser p.ª a India ..... Como assentamos de inuernar e' atapacão esperãdo mocão pera Japão.
Remata, então, Pelliot a sua argumentação da seguinte forma:
«Si de plus nous rappelons que Pinto, qui dit quón passa l'hiver à Lampacau, était le compagnon de voyage du P. Barreto, et sans même rechercher si la prétendue lettre de décembre 1555 que le P. Barreto rappelle à deux ans de distance nést pas celle du 23 novembre, on conclura que le port de Chine dóù celle-ci a été écrite ne peut être également que Lampacau; la suscription qui fait intervenir Macao est due à un compilateur qui ne connaissait plus, comme lieu de résidence des Portugais en Chine, que Macao.
Mas Carlos Sanz, no prefácio da «Primera Historia de China de Bernardino de Escalante», informa, no entanto, que «El 23 de noviembre de 1555, encontrándose em Macao, puerto de China, el padre Melchior Núñez (Belchior Núñez Barreto), provincial que era de la Compañia de Jesús, escribió una carta a sus hermanos de la India y de Europa, en la que se contiene extensa información de la China, que nosostros encontramos publicada por primera vez y también en castellano, en la edición que lleva por título:
Copia de las cartas que los padres y hermanos de la Compañia de Jesús que andan en el Japón, escriuieron a los de la misma Compañia, de la India y Europa...Empressas en Coimbra por Juan Alvarez & Juan de Baerra (sic.), año 1564-1565.
En las páginas 123-144 figura la carta del P. M. Melchior Núñez Barreto, fechada el 21 (?) de noviembre de 1555 (Macao), con la información de China.
Teria, então esta tradução em espanhol sido feita também sobre uma cópia da supracitada carta do Pe. Melchior Barreto, em que o copista trocara a palavra Lampacau por Macau, encontrando-se portanto, o autor da carta em Lampacau e não em Macau, como quiseram Pelliot e Kammerer?
Este último, o falecido lusógrafo Albert Kammerer, que foi embaixador de França, no Rio de Janeiro, em Tóquio, no Cairo e em Ankara, referindo-se à carta de 20 de Novembro de 1555 de Fernão Mendes Pinto concorda que houve erro do copista ao escrever a palavra Macau, no título dessa carta, opinando que este fora induzido a cometer tal deslize pelo facto de Macau ser, nessa ocasião, pràticamente, a única escala ou base portuguesa na China. William R. Usellis, por sua vez, entende que o argumento de Pelliot e Kammerer não colhe, sendo pura especulação, tanto mais que nenhum deles chegou a ver o original desse documento, o que não acontece com J. M. Braga, motivo por que se deve aceitar o depoimento deste investigador.
Copia de las cartas que los padres y hermanos de la Compañia de Jesús que andan en el Japón, escriuieron a los de la misma Compañia, de la India y Europa...Empressas en Coimbra por Juan Alvarez & Juan de Baerra (sic.), año 1564-1565.
En las páginas 123-144 figura la carta del P. M. Melchior Núñez Barreto, fechada el 21 (?) de noviembre de 1555 (Macao), con la información de China.
Teria, então esta tradução em espanhol sido feita também sobre uma cópia da supracitada carta do Pe. Melchior Barreto, em que o copista trocara a palavra Lampacau por Macau, encontrando-se portanto, o autor da carta em Lampacau e não em Macau, como quiseram Pelliot e Kammerer?
Este último, o falecido lusógrafo Albert Kammerer, que foi embaixador de França, no Rio de Janeiro, em Tóquio, no Cairo e em Ankara, referindo-se à carta de 20 de Novembro de 1555 de Fernão Mendes Pinto concorda que houve erro do copista ao escrever a palavra Macau, no título dessa carta, opinando que este fora induzido a cometer tal deslize pelo facto de Macau ser, nessa ocasião, pràticamente, a única escala ou base portuguesa na China. William R. Usellis, por sua vez, entende que o argumento de Pelliot e Kammerer não colhe, sendo pura especulação, tanto mais que nenhum deles chegou a ver o original desse documento, o que não acontece com J. M. Braga, motivo por que se deve aceitar o depoimento deste investigador.
Verifica-se, entretanto, que nesse longínquo século XVI existiam duas localidades na Ásia Meridional com o mesmo nome de Macau, pois, António Nunes, na sua obra O Livro dos Pesos, Medidas e Moedas, concluída, em 1554 portanto, três anos antes da convencionada data da fundação de Macau, menciona várias medidas usadas numa localidade também chamada Macau, que não são chinesas, mas usadas em Pegu, na Birmânia actual.
O célebre Ramusio também se referiu, em 1568, a esse Macau de Pegu, na seguinte passagem:
«Si fa commodamente il viaggio sino a Macao distante da Pegu dodeci miglia, e qui si sbarca» E em Hakluyt, datado de 1587 lê-se «From Lirion we went to Macao, which is a pretie towne...»
Na fundação de Macau deveria, ao que parece, ter participado um presbítero secular de nome Gregório Gonçalves, pois, dizia este, numa carta escrita em 1570 a Don Juan de Borja, embaixador de Espanha em Portugal que, no ano em que Leonel de Sousa concluiu o seu acordo com os chineses (1552-1554) tinha-se deixado ficar em terra e construíra uma igreja de palha. Tanto ele como os seus poucos conversos chineses foram presos pelas autoridades até ao ano seguinte, em que retornaram ao mesmo sítio, onde construíram nova igreja e os portugueses algumas casas. Doze anos depois, já estava fundado um grande estabelecimento, pelos portugueses, numa ponta do continente chamada Macau com três igrejas, um hospital e uma Casa de Misericórdia e uma população de cinco mil almas cristãs.
Em 26 de Dezembro de 1562, isto é, na ocasião em que o cardeal D. Henrique recebia das mãos de D. Caterina o governo do reino de Portugal, o jesuíta italiane padre João Baptista do Monte, escrevia de «Maquao», onde se encontrava de passagem na sua viagem para o Japão:
«O numero dos Portuguezes q aguora estão em esta terra serão perto de oito ce'tos. Antes q nos uiessemos a esta terra uiuião muy desacostumadam.te e louado seia N. S. parece depois q o Padre pregua e confessamos emendaremse muito»
Um ano depois, isto é, em 1 de Dezembro de 1563, o padre Manuel Teixeira, afirmava, numa carta sua, escrita também do porto de «Amaquao», onde igualmente se encontrava com outros padres, idênticamente à espera de barco para seguirem para o Japão, que eram de
«oitocentos, ou novecentos Portuguezes q neste porto estão e de diuersos portos a elle corre'»
O padre Francisco de Souza, descrevendo, no Oriente Conquistado, a procisssão de Páscoa de 1564, na povoação de Macau, diz que nesse tempo a colónia «que acabava de nascer era uma feitoria comercial, contando apenas 900 portugueses, mas um grande número de chineses, indios e escravos pretos (malaios)»
Finalmente, a fenomenal rapidez com que esta pequena urbe se desenvolveu é testemunhada ainda pela seguinte passagem do Livro das Cidades:
«E foy em breue tempo crecendo esta pouoação demaneira, que tem hoje passante de dous mil vezinhos, auendo menos de vinte annos, que se começou a pouoar dos Portugueses, por dantes os não consentirem os Chi'js na terra, nem a outros estrangeiros alguús, e irá sempre pollo discurso do tempo augmentandosse cada vez mais, por ser esta Ilha hua escala geral de todas as mercadorias, que da India vaõ para a China, e Iapão, e outras partes daquelle Oriente, e dellas vem para a India»
O célebre Ramusio também se referiu, em 1568, a esse Macau de Pegu, na seguinte passagem:
«Si fa commodamente il viaggio sino a Macao distante da Pegu dodeci miglia, e qui si sbarca» E em Hakluyt, datado de 1587 lê-se «From Lirion we went to Macao, which is a pretie towne...»
Na fundação de Macau deveria, ao que parece, ter participado um presbítero secular de nome Gregório Gonçalves, pois, dizia este, numa carta escrita em 1570 a Don Juan de Borja, embaixador de Espanha em Portugal que, no ano em que Leonel de Sousa concluiu o seu acordo com os chineses (1552-1554) tinha-se deixado ficar em terra e construíra uma igreja de palha. Tanto ele como os seus poucos conversos chineses foram presos pelas autoridades até ao ano seguinte, em que retornaram ao mesmo sítio, onde construíram nova igreja e os portugueses algumas casas. Doze anos depois, já estava fundado um grande estabelecimento, pelos portugueses, numa ponta do continente chamada Macau com três igrejas, um hospital e uma Casa de Misericórdia e uma população de cinco mil almas cristãs.
Em 26 de Dezembro de 1562, isto é, na ocasião em que o cardeal D. Henrique recebia das mãos de D. Caterina o governo do reino de Portugal, o jesuíta italiane padre João Baptista do Monte, escrevia de «Maquao», onde se encontrava de passagem na sua viagem para o Japão:
«O numero dos Portuguezes q aguora estão em esta terra serão perto de oito ce'tos. Antes q nos uiessemos a esta terra uiuião muy desacostumadam.te e louado seia N. S. parece depois q o Padre pregua e confessamos emendaremse muito»
Um ano depois, isto é, em 1 de Dezembro de 1563, o padre Manuel Teixeira, afirmava, numa carta sua, escrita também do porto de «Amaquao», onde igualmente se encontrava com outros padres, idênticamente à espera de barco para seguirem para o Japão, que eram de
«oitocentos, ou novecentos Portuguezes q neste porto estão e de diuersos portos a elle corre'»
O padre Francisco de Souza, descrevendo, no Oriente Conquistado, a procisssão de Páscoa de 1564, na povoação de Macau, diz que nesse tempo a colónia «que acabava de nascer era uma feitoria comercial, contando apenas 900 portugueses, mas um grande número de chineses, indios e escravos pretos (malaios)»
Finalmente, a fenomenal rapidez com que esta pequena urbe se desenvolveu é testemunhada ainda pela seguinte passagem do Livro das Cidades:
«E foy em breue tempo crecendo esta pouoação demaneira, que tem hoje passante de dous mil vezinhos, auendo menos de vinte annos, que se começou a pouoar dos Portugueses, por dantes os não consentirem os Chi'js na terra, nem a outros estrangeiros alguús, e irá sempre pollo discurso do tempo augmentandosse cada vez mais, por ser esta Ilha hua escala geral de todas as mercadorias, que da India vaõ para a China, e Iapão, e outras partes daquelle Oriente, e dellas vem para a India»
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