Eça de Queirós em "Uma Campanha Alegre" (1º Volume - capítulo XVIII - A marinha e as colónias):
Houve este mês um pânico patriótico: julgou-se que íamos perder Macau! A China, segundo se afirmava, tinha intimado Portugal a evacuar aquela colónia – onde só devia reinar o rabicho. Foi acusado acremente o Governo; a Baixa pululou de alvitres; e o orgulho nacional da Rua dos Retroseiros pareceu profundamente ferido. Corria que o Sr. Carlos Bento, como outrora Caim, ouvia, a horas mortas, vozes vingativas que lhe bradavam:
- Que fizeste tu de Macau Bento?
E tanto que o Governo para nos tranquilizar, bradou dentre as colunas do Diário do Governo:
- Não, Portugueses, não, Macau ainda é vosso!
A verdade parece ser que Macau está ainda preso à metrópole – por alguns telegramas que se estão trocando entre o governador de lá, e o Governo de cá. Diríamos que está por um fio! – se tão lamentável equívoco se pudesse escrever, quando se trata do orgulho nacional e da Baixa.
As relações de Portugal com as suas colónias são originais. Elas não nos dão rendimento algum: nós não lhes damos um único melhoramento: é uma sublime luta – de abstenção. (...)
Esta obra foi publicada em dois volumes em 1890-1891. É uma coletânea de folhetins escritos por Eça de Queirós em As Farpas. São críticas à vida social e política do Portugal de então. Meramente a título de curiosidade, refiro uma das várias 'ligações' de Eça a Macau. Enquanto cônsul de Portugal em Havana (Cuba, na altura colónia espanhola), em 1872, Eça procurou melhorar a situação dos emigrantes chineses, oriundos de Macau, colocados numa situação de quase escravidão.
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