“E como era Macau, à sua chegada? « Era uma aldeia portuguesa ao lado de um aldeia chinesa. Havia apenas uma taberna portuguesa, pertencente a um transmontano chamado Rocha, casado com uma japonesa,. Era muito meu amigo. Um dia suicidou-se. O resto estava tudo nas mãos dos chineses» Ou seja, como conta, os portugueses ocupavam as repartições públicas e com isso se bastavam. Todo o comércio pertencia aos chineses – «Era uma harmonia perfeita»
As piores memórias são as do tempo da Guerra. Macau não escapou aos seus reflexos e a fome não poupou muitos. Depois, veio a Revolução Cultural e os excessos. Conta «Estava na Igreja de S. Lourenço e recebo um telefonema dizendo que o Leal Senado estava a ser invadido e destruída a sua documentação. Corri para lá e já estava tudo cá fora, atirado pelas janelas. Comecei a apanhar os papéis, quando apareceu uma viatura com ordem para carregar e queimar os arquivos. O quê? Queimar 300 anos de história de Macau? Falei com o governador Nobre de Carvalho e ele deu-me autoridade para me opor a esse desígnio. Fiquei durante três dias a apanhar a papelada toda. Dois terços dos arquivos foram salvos». mas os comunistas seguidores de Mao «dominavam a cidade – era perigosos andar na rua» Foi contemporâneo de Pessanha e de Wenceslau de Morais. (…) De Pessanha, diz que lhe admirava o talento, mas não o carácter. Guarda dele uma imagem bem pouca abonatória. De Morais, evoca a sua frustração por não ter sido promovido a comandante da capitania dos portos de Macau – «Furioso, foi ao Japão e não voltou mais». (…)
Esteve a um passo de embarcar para Timor, estudou, por isso, o dialecto tétum, mas a hierarquia mudou de intenções e continuou em Macau. «Se tivesse ido, hoje estava fuzilado». Em contrapartida, passou 15 anos em Singapura, entre 1947-1962 e sentiu que o padre era procurado para resolver todos os assuntos que afligiam os paroquianos. …”Excerto do livro Macau: diário sem dias. Editorial, Lisboa, 1999, de Dinis de Abreu
As piores memórias são as do tempo da Guerra. Macau não escapou aos seus reflexos e a fome não poupou muitos. Depois, veio a Revolução Cultural e os excessos. Conta «Estava na Igreja de S. Lourenço e recebo um telefonema dizendo que o Leal Senado estava a ser invadido e destruída a sua documentação. Corri para lá e já estava tudo cá fora, atirado pelas janelas. Comecei a apanhar os papéis, quando apareceu uma viatura com ordem para carregar e queimar os arquivos. O quê? Queimar 300 anos de história de Macau? Falei com o governador Nobre de Carvalho e ele deu-me autoridade para me opor a esse desígnio. Fiquei durante três dias a apanhar a papelada toda. Dois terços dos arquivos foram salvos». mas os comunistas seguidores de Mao «dominavam a cidade – era perigosos andar na rua» Foi contemporâneo de Pessanha e de Wenceslau de Morais. (…) De Pessanha, diz que lhe admirava o talento, mas não o carácter. Guarda dele uma imagem bem pouca abonatória. De Morais, evoca a sua frustração por não ter sido promovido a comandante da capitania dos portos de Macau – «Furioso, foi ao Japão e não voltou mais». (…)
Esteve a um passo de embarcar para Timor, estudou, por isso, o dialecto tétum, mas a hierarquia mudou de intenções e continuou em Macau. «Se tivesse ido, hoje estava fuzilado». Em contrapartida, passou 15 anos em Singapura, entre 1947-1962 e sentiu que o padre era procurado para resolver todos os assuntos que afligiam os paroquianos. …”Excerto do livro Macau: diário sem dias. Editorial, Lisboa, 1999, de Dinis de Abreu
Entrevista efectuada em 1999 tinha Monsenhor Manuel Teixeira 87 anos
"Macau: diário sem dias" é o testemunho dos últimos dias da administração portuguesa.
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