quarta-feira, 20 de outubro de 2021

"Chapas Sínicas" de Macau na Memória do Mundo da Unesco

A documentação intitulada “Chapas Sínicas - Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886)" está entre as contribuições portuguesas para a lista da UNESCO da Memória do Mundo.
Contrato entre o pedreiro Rong Ping e o procurador de Macau, António Vicente Rosa, sobre uma empreitada para obras de reparação da parede de uma residência oficial. 
                Documento da Torre do Tombo, Lisboa

Inventário dos terrenos situados na povoação de Mong-Há e de Long Tin  - feito por Shen Xia-Ling por ordem do Governador de Macau - e que deveriam pagar impostos.
Documento da Torre do Tombo, Lisboa .

Oficialmente intituladas “Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing” e compiladas entre 1693 e 1886, as chamadas “Chapas Sínicas” são uma colecção de documentos únicos na história das relações luso-chinesas e uma das mais completas fontes históricas de Macau entre finais do século XVII e meados do século XIX.
São mais de 3600 documentos, cerca de 1500 ofícios redigidos em língua chinesa, cinco volumes de cópias traduzidas para português da correspondência trocada entre o Leal Senado e as autoridades chinesas, bem como quatro volumes de documentos diversos sobre múltiplas questões da vida quotidiana do território
Os originais estão depositados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal tendo sido editado um catálogo das mesmas em 2017.A maior parte da coleção é composta pela correspondência trocada entre os procuradores do Leal Senado e os representantes do mandarinato e do Celeste Império quer em Macau, quer na região limítrofe de Xiangshan. 
O acervo inclui ainda petições apresentadas pelas autoridades portuguesas e a resposta formulada pelas autoridades de Cantão. 
Da coleção fazem ainda parte contas, cartas, atos, contratos e documentos de índole variada que estão associados à vivência quotidiana das diferentes comunidades que aqui habitavam.


Extracto da Chapa do Mandarim Cso-tam sobre os Servidores Chinas nas Casas do Portuguezes em Macao que,, neste caso, até foi publicado num jornal local, "O Macaista Imparcial", a 20 de Setembro de 1837.
"O Mandarim Cso-tam por apelido Pom faz saber ao Sr. Procurador, que sendo evidente, que as Cazas Portuguezas em Macao quando allugão servidores Chinas, o fazem à sua vontade, sem ser por introdução de fiadores, nem por via de compradores capazes; donde procede portarem-se esses servidores sem temor, nem respeito, concebendo logo ideas sinistras, já espreitando qualquer couza para furtar, e fugir, já abusando da confiança que os ditos Portuguezes deles fazem a respeito de dinheiro, ou fazendas, cometendo faltas, e se auzentão: e quando sobem queixas do Sr. Procurador nos Mandarins, só vem apontado o nome do individuo, ou indivíduos por não se saber o seu cognome, nem o de seus Irmaons, filhos, e parentes, nem o nome dos lugares de suas moradias; (…) quando os Estrangeiros alugarem servidores Chinas, deverão estes ser inculcados por compradores. E em Macao quando não há compradores, deverá haver fiadores seguros para então se assegurarem os descuido. (...)

Outro exemplo... Uma "chapa" de resposta ao Mandarim Cso-tam sobre escavações na Penha:
“Eu o Procurador & respondendo à Chapa do Snr M. Cso-tam sobre as escavaçoens no matto da Penha, sou a dizer-lhe q. examinando eu o motivo das d.as escavaçoens , vim no conhecimt.º , de q. apenas se tem applainado o lugar onde hé prezentemt.e Semiterio de Christaons, cercando-o com pandões para evitar, q. os caens ali entrem, e revolvão as sepulturas. O que partecipo ao Snr. M. para sua intelligencia.
Macáo 28 de Janr.º de 1833 – Lima”

O Registro da Memória do Mundo da Unesco inclui um total de 427 coleções e documentos protegidos, "provenientes de todos os continentes e em vários suportes, da pedra ao celuloide e do pergaminho a gravações de som".

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